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Shakespeare – Versos na tarde – 30/12/2016

Soneto 35 William Shakespeare¹ Não chores mais o erro cometido; Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho; O sol no eclipse é sol obscurecido; Na flor também o inseto faz seu ninho; Erram todos, eu mesmo errei já tanto, Que te sobram razões de compensar Com essas faltas minhas tudo quanto Não terás tu somente a resgatar; Os sentidos traíram-te, e meu senso De parte adversa é mais teu defensor, Se contra mim te escuso, e me convenço Na batalha do ódio com o amor: Vítima e cúmplice do criminoso, Dou-me ao ladrão amado e amoroso. ¹William Shakespeare * Stratford-Avon, Inglaterra – 23 Abril 1564 + Londres, Inglaterra – 23 Abril 1616 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Renato Russo – Versos na tarde – 29/12/2016

Por Enquanto Renato Russo¹ Mudaram as estações e nada mudou Mas eu sei que alguma coisa aconteceu Está tudo assim tão diferente Se lembra quando a gente Chegou um dia a acreditar Que tudo era pra sempre Sem saber Que o prá sempre, sempre acaba. Mas nada vai conseguir mudar o que ficou Quando penso em alguém Só penso em você E aí então estamos bem. Mesmo com tantos motivos Pra deixar tudo como está E nem desistir, nem tentar Agora tanto faz Estamos indo de volta pra casa ¹Renato Manfredini Júnior * Rio de Janeiro, RJ – 27 de Março de 1960 + Rio de Janeiro, RJ – 11 de Outubro de 1996 Cantor, compositor e músico, criador da Banda Legião Urbana [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Cláudio Manoel da Costa – Versos na tarde – 28/12/2016

Soneto Cláudio Manoel da Costa¹ Para cantar de amor tenros cuidados, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento; Ouvi pois o meu fúnebre lamento; Se é, que de compaixão sois animados: Já vós vistes, que aos ecos magoados Do trácio Orfeu parava o mesmo vento; Da lira de Anfião ao doce acento Se viram os rochedos abalados. Bem sei, que de outros gênios o Destino, Para cingir de Apoio a verde rama, Lhes influiu na lira estro divino: O canto, pois, que a minha voz derrama, Porque ao menos o entoa um peregrino, Se faz digno entre vós também de fama. ¹ Cláudio Manoel da Costa * Mariana, MG – 05 Junho 1729 + Ouro Preto,MG – 04 Julho 1789 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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W.H. Auden – Versos na tarde – 26/12/2016

Blues Fúnebres W.H. Auden¹ Que parem os relógios, cale o telefone, jogue-se ao cão um osso e que não ladre mais, que emudeça o piano e que o tambor sancione a vinda do caixão com seu cortejo atrás. Que os aviões, gemendo acima em alvoroço, escrevam contra o céu o anúncio: ele morreu. Que as pombas guardem luto – um laço no pescoço – e os guardas usem finas luvas cor-de-breu. Era meu norte, sul, meu leste, oeste, enquanto viveu, meus dias úteis, meu fim-de-semana, meu meio-dia, meia-noite, fala e canto; quem julgue o amor eterno, como eu fiz, se engana. É hora de apagar estrelas – são molestas – guardar a lua, desmontar o sol brilhante, de despejar o mar, jogar fora as florestas, pois nada mais há de dar certo doravante. ¹W.H. Auden * York, Inglaterra – 1907 + Viena, Áustria – 1973 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] O poema acima, traduzido pelo poeta e escritor Nelson Ascher, foi extraído do livro “Poesia Alheia – 124 poemas traduzidos”, Editora Imago – Rio de Janeiro (RJ), 1998, pág. 129. Esses versos foram ditos por John Hannah no filme “Quatro casamentos e um funeral”.

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Mallarmé – Versos na tarde – 25/12/2016

Angústia Mallarmé¹ Não vim domar teu corpo esta noite, ó cadela Que encerras os pecados de um povo, ou cavar Em teus cabelos torpes a triste procela No incurável fastio em meu beijo a vazar: Busco em teu leito o sono atroz sem devaneios Pairando sob ignotas telas do remorso, E que possas gozar após negros enleios, Tu que acima do nada sabes mais que os mortos: Pois o Vício, a roer minha nata nobreza, Tal como a ti marcou-me de esterilidade, Mas enquanto teu seio de pedra é cidade. De um coração que crime algum fere com presas, Pálido, fujo, nulo, envolto em meu sudário, Com medo de morrer pois durmo solitário. ¹Étienne Mallarmé * Paris, França – 18 de Março de 1842 + Valvins, França – 09 de Setembro de 1898 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Francisco Carvalho – Versos na tarde – 24/12/2016

Lição de espaço Francisco Carvalho¹ O homem no espaço é a sombra de Sísifo. O espectro da esfinge A vertigem do tísico. O homem no espaço é a pedra no vértice. A folha que tomba no vórtice. ¹Francisco Carvalho * Russas, CE. – 11 de Junho de 1927 +Fortaleza,CE.  04 de Março de 2013 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] “É preciso reconhecer que a poesia é hoje um teatro sem platéia. Uma ribalta às moscas.” Aos 77 anos, cinqüenta dedicados ao fazer poético, o poeta cearense Francisco Carvalho lança a antologia Memórias do Espantalho, reunião de poemas escolhidos de 19 livros dos 29 publicados. Apesar de ter vencido a 1ª Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, com o livro Quadrante Solar (1982) e de obter o prêmio da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, com Girassóis de Barro (1997), o poeta da cidade de Russas é praticamente um desconhecido.

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Adriana Versiani – Versos na tarde – 21/12/2016

Poema Adriana Versiani ¹ hoje sonhei ser segredo, seu segredo, algo distante de mim. aquilo que mora no pulmão do maestro, enquanto pausa, enquanto lembra, enquanto espera o som. sonhei ser antes da pintura da nave, antes da tinta ou das mãos, antes da ideia. sonhei ser segredo, seu segredo. ¹ Adriana Versiani Ouro Preto, MG. 1963 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Publicou os livros de poesia A física dos Beatles (2005); Conto dos dias (2007); o e-book Explicação do Fato (2008 | clique aqui e leia) e Livro de papel (2009). Integrou o Grupo Dazibao de Divinópolis/Belo Horizonte. Foi coorganizadora da Coleção Poesia Orbital e do Jornal Inferno. Fez parte do conselho editorial da Revista de Literatura Ato. É editora do Jornal DEZFACES. Escreve o blogue A Página do Livro.

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Nicolau Sião – Versos na tarde – 20/12/2016

Relíquia Nicolau Sião ¹ (ao Le Clézio, c/ o velho abraço) Onde está o silêncio onde jaz o silêncio? Não neste braço sujo cortado Não neste tapete espesso neste bloco de apontamentos onde se cruzam insultos rimas Não no pequeno perímetro das veias – afinal tudo tudo entre nuvens de carbono semelhantes a um bafo de camponês sobre a neve onde se esmagavam insectos e excrementos de lobo O primo velho outrora mo ensinara num mês adolescente. Onde em que ilha de desolação sufocado incerto esse silêncio soberano onde jaz cerzido por traços de faca de pedra Não não o barulho de um passo que caminha para a beleza dum rosto saindo de um vazadouro para a lama musgosa da margem Brilhante como celofane O silencio que respira Sim o silêncio morno de quem procura o vazio ou de quem busca uma cor imersa na carne recordada da mão faminta de muitos negrumes alheios O silêncio que se recolhe que se desdobra que nos relembra de momentos e perdas O silêncio que permutamos O silêncio para além da luz entre os olhos de uma fera morta. ¹ Nicolau Sião * Monforte do Alentejo, Portugal – 1946 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Poeta, pintor, publicista e ator/declamador. Publicou Os Objectos Inquietantes, Flauta de Pan, Assembleia Geral e Os Olhares Perdidos (poesia), Passagem de Nível e O desejo dança na poeira do tempo (teatro). Editada pela paulistana Ed. Escrituras/IPLB saíu no Brasil a antologia de poesia e pintura Olhares perdidos, organizada por Floriano Martins. Em Moçambique, pela mão de António Cabrita, publicou O armário de Midas e está programado Poemas dos quatro cantos(poesia). Tem para sair As Vozes Ausentes (prosa diversa), Nigredo/Albedo – o livro das translações, Cantos do deserto, Escrita e o seu contrário (poesia), As estrelas sobre a casa(teatro), Em nós o céu (policial). Traduziu Vestígios, de Gérard Calandre e Fungos de Yuggoth, de H. P. Lovecraft (publicado por Black Sun). É membro honorário da Confraria dos Vinhos de Felgueiras. A Ass. Port. Escritores atribuiu-lhe em 92 o Prémio Revelação/Poesia. Vive em Atalaião, agregado populacional a nordeste de Portalegre. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Luis Dolhnikoff – Versos na tarde – 18/12/2016

Não deu Luis Dolhnikoff ¹ Não deu a revolução não deu em nada a poesia não deu em nada a televisão não deu em nada o rock´n roll não deu em nada cair na estrada não deu em nada matar o papa não deu em nada encher a cara não deu em nada encarar a ressaca não deu em nada atravessar os mares não deu em nada descobrir a américa não deu em nada ir até a lua não deu em nada tentar a acupuntura não deu em nada o fim da pintura não deu em nada começar de novo não deu em nada comprar outro carro não deu em nada assinar a tv a cabo não deu em nada saber onde o mundo acaba não deu em nada a luta armada não deu em nada a cultura de massa não deu em nada o cinema francês não deu em nada o novo romance não deu em nada a esperança perdida não deu em nada a luta de classe não deu em nada o sol da tarde não deu em nada o primeiro amor não deu em nada a última safra não deu em nada afiar a faca não deu em nada não morrer cedo não deu em nada acordar tarde não deu em nada tratar as cáries não deu em nada tentar a sorte não deu em nada mais um dia ameno não deu em nada ter mais um filho não deu em nada trabalhar menos não deu em nada ter mais dinheiro não deu em nada a internet não deu em nada o novo sabor de sorvete não deu em nada estar conectado não deu em nada viver isolado não deu em nada percorrer a cidade não deu em nada cuidar da casa não deu em nada passear pela praia não deu em nada tirar o sapato não deu em nada esquecer o passado não deu em nada saber do holocausto não deu em nada o fim do espetáculo não deu em nada o novo formato não deu em nada o cinema 3d não deu em nada o lance de dados não deu em nada a mudança de hábitos não deu em nada a reforma política não deu em nada o fim do socialismo não deu em nada o tropicalismo não deu em nada morar em copacabana não deu em nada a revolução cubana não deu em nada a bossa-nova não deu em nada a velha guarda não deu em nada a cerveja em lata não deu em nada o welfare state não deu em nada a sopa em pacote não deu em nada chegar ao polo norte não deu em nada a arte pop não deu em nada chorar pelos mortos não deu em nada abrir mais estradas não deu em nada a nova dieta não deu em nada vacinar contra a gripe não em nada o verão em recife não deu em nada assistir mais um filme não deu em nada fundar uma ong não deu em nada criar a onu não deu em nada fazer a américa não deu em nada desfazer o império não deu em nada o fim da história não deu em nada o fim da metafísica não deu em nada a queda da bastilha não deu em nada o casamento da filha não deu em nada o novo esporte não deu em nada o medo da morte não deu em nada ter dado tudo certo não deu em nada a terra prometida não deu em nada a palavra divina não deu em nada saldar a dívida não deu em nada o fim da infância não deu em nada a alegria a alegria não deu em nada a esperança e a glória não deu em nada cuidar das feridas não deu em nada o jantar em família não deu em nada sair de casa não deu em nada a noite passada não deu em nada iluminar a cidade não deu em nada voltar mais tarde não deu em nada esperar pelo messias não deu em nada a nova profecia não deu em nada a morte do verso não deu em nada o nascimento do filho não deu em nada chorar sozinho não deu em nada adotar o budismo não deu em nada fazer exercícios não deu em nada a morte de deus não deu em nada o fim da razão não deu em nada a nova medicação não deu em nada mais uma eleição não deu em nada a boa educação não deu em nada o fim da madrugada não deu em nada a aldeia global não deu em nada comer mais salada não deu em nada a paz mundial não deu em nada a lágrima amarga não deu em nada o beijo da mulher amada não deu em nada o orgasmo quando acaba não deu em nada a queda do muro não deu em nada o tiro no escuro não deu em nada lançar um livro não deu em nada tentar o suicídio não deu em nada haver sobrevivido ¹ Luis Dolhnikoff * São Paulo, SP.- 1961 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Luis Dolhnikoff  iniciou sua carreira literária com o livro de poemas Impreciso emigrar (SP, Massao Ohno, 1979). Depois de um intervalo no qual cursou medicina e letras na USP, retornou com Pãnico (SP, Expressão, 1986, com apresentação de Paulo Leminski). Em 1987, participa da fundação da editora paulistana Olavobrás, pela qual publicaria Impressões digitais(1990), e Microcosmo (1992), ambos de poemas, além da coletânea de contos Os homens de ferro (1991). Publicou poemas em Atlas Almanak 88 (SP, Kraft, organização Arnaldo Antunes), na página de arte e culturaMusa paradisiaca (Curitiba, A Gazeta do Povo, 1997, edição de Josely Vianna Baptista e Francisco Faria), na revistaMedusa (Curitiba, 2000), na revista Tsé=tsé 7/8 – número especial com 30 poetas brasileiros contemporâneos (Buenos Aires, 2000), na antologia de poesia brasileira contemporânea Moradas provisorias (in Hipnerotomaquia, Ciudad de Mexico, Aldus, 2001, organização Josely Vianna Baptista) e na revista Cult (SP, set. 2002,

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Jorge de Lima – Versos na tarde – 17/12/2016

O primeiro dos quatorze Jorge de Lima ¹ Há muita gente eu sei que não gosta de versos, Porque… não sei… talvez… porque não queira; Daí uma asserção de críticos diversos: Morrerá no Porvir a poesia inteira. Eu me esteio a mim mesmo em pontos controversos: A Ciência julgada austera e sobranceira Pousa no fictício os pedestais emersos Que sustêm uma bíblia eterna e verdadeira. Vêde: a Química conta as moléculas; dita A Mecânica as leia tendo por base a inércia; Outros mundos além a Astronomia habita… Se mesmo o positivo é sonho e controvérsia Nem Porvir, nem ninguém, cousa alguma desliga A Ciência que sonha e o verso que investiga. ¹ Jorge de Lima * União dos Palmares, AL. – Abril de 1895 + Rio de Janeiro, RJ. – Novembro de 1953 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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