Mallarmé – Versos na tarde – 25/12/2016

Angústia
Mallarmé¹

Não vim domar teu corpo esta noite, ó cadela
Que encerras os pecados de um povo, ou cavar
Em teus cabelos torpes a triste procela
No incurável fastio em meu beijo a vazar:

Busco em teu leito o sono atroz sem devaneios
Pairando sob ignotas telas do remorso,
E que possas gozar após negros enleios,
Tu que acima do nada sabes mais que os mortos:

Pois o Vício, a roer minha nata nobreza,
Tal como a ti marcou-me de esterilidade,
Mas enquanto teu seio de pedra é cidade.

De um coração que crime algum fere com presas,
Pálido, fujo, nulo, envolto em meu sudário,
Com medo de morrer pois durmo solitário.

¹Étienne Mallarmé
* Paris, França – 18 de Março de 1842
+ Valvins, França – 09 de Setembro de 1898
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Stéphane Mallarmé, cujo verdadeiro nome era Étienne Mallarmé, poeta e crítico literário francês.

Mallarmé começou a publicar seus poemas na revista “Parnaso Contemporâneo”, editada na capital francesa na década de 1860, quando ele se mudou para o interior da França com o objetivo de ensinar inglês nas escolas da região. Dos 21 aos 28 anos o poeta viveu com a família em três cidades: Tournon, Besançon (terra de Victor Hugo) e Avignon. Anos depois, Mallarmé conheceu os poetas Rimbaud e Paul Verlaine.

Mallarmé se utilizava dos símbolos para expressar a verdade através da sugestão, mais que da narração. Sua poesia e sua prosa se caracterizam pela musicalidade, a experimentação gramatical e um pensamento refinado e repleto de alusões que pude resultar em um texto às vezes obscuro. Seus poemas mais conhecidos são L’APRÉS-MIDI D’UN FAUNE (1876), que inspirou a música Prélude à l’après-midi d’un Faune do compositor francês Claude Debussy, e Herodias (1869).

Outras obras importantes de Mallarmé são a antología Verso e prosa (1893) e o volume de ensaios em prosa Divagações (1897). Mallarmé destacou-se por uma literatura,em que se mostra ao mesmo tempo lúcida e obscura. É por isso considerado um poeta difícil e hermético. Em suas famosas tertúlias literárias, em sua casa, em París, na rue de Rome, reunia-se a elite intelectual da época para sessões de leitura e conversas sobre arte e literatura. Entre os convidados, André Gide e Oscar Wilde.

Seus comentários críticos sobre literatura, arte e música estimularam enormemente aos escritores simbolistas franceses, assim como aos artistas e compositores da escola impressionista, que ao final do século XIX desenvolveram uma arte espontânea em oposição ao formalismo da composição. No livro (projeto e idéias publicadas em 1956). Mallarmé pretende atribuir ao poeta a missão de escrever a obra que, por ser a explicação órfica da terra, submeterá ao domínio do espírito humano o azar, símbolo da imperfeição desse espírito.

Um jogo de dados jamais abolirá o azar (1897), é um longo poema de versos livres e tipografia revolucionária que constitui a declaração trágica da impossibilidade de atingir o estabelecido no livro. Também escreveu penetrantes artigos sobre a moda feminina de seu tempo. Mallarmé desempenhou um papel fundamental na evolução da literatura no século XX, especialmente nas tendências futurista e dadaístas. Está entre os precursores da poesia concreta ao lado de Guillaume Apollinaire (1880-1918) e o escritor americano Ezra Pound (1885-1972).

Mallarmé morreu sem ter chegado a concluir a grande obra de sua vida. A Grande Obra, com letra maiúscula, é um projeto que ele revela em cartas, em correspondências a amigos. Três anos antes de sua morte ele escreve ainda um poema falando deste sonho, de constituir uma Grande Obra, no sentido quase que alquímico da palavra. Um livro em vários volumes que totalizasse o mistério órfico da terra.

Mallarmé morreu angustiado sem atingir seu objetivo, mas deixou admiradores em todo o mundo e suas obras continuam a ser reeditadas, mais de 100 anos após a sua morte. A Grande Obra, para ele, seria um livro com a estrutura de uma obra arquitetônica, ligada numa espécie de sintonia com o universo”.

A “Grande Obra” que Mallarmé sonhava, no entanto, não significava reunir todos os seus escritos, mas escrever uma nova obra o que para a sua grande frustração, morreu sem realizar. Um dia antes de morrer, Mallarmé pressentiu a chegada da morte. Pediu à mulher Marie e à filha Geneviève que queimassem todos os seus escritos, como fizeram Franz Kafka e o poeta Virgílio. Ele morreu asfixiado no dia seguinte. Mas, felizmente, elas não cumpriram o desejo dele.

L’Après-midi d’un faune, 1876;
Le Vathek de Bekford, 1876;
Petite philologie, les mots anglais, 1878;
Les Dieux antiques, 1879;
Album de vers et de prose, 1887 ;
Pages, 1891 ;
Oxford, Cambridge, la musique et les lettres, 1895 ;
Divagations, 1897;
Un coup de dés jamais n’abolira le hasard, 1897 ;
Poésies, 1899;
Vers de circonstance, 1920;
Igitur, 1925;
Contes indiens, 1927.
Traduções Realizadas:
Le Corbeau de Edgar Allan Poe, 1875;
L’Étoile des Fées de W. C. Elphinstone Hope, 1881;
Poèmes de Edgar Allan Poe, 1888;
Ten O’Clock de James. A. M. Whistler, 1888.

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