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Economia: BG-Shell dá primeiros passos para aprovação brasileira

O plano da Shell de £ 47 bilhões (US$ 73,83 bilhões) para se tornar o maior produtor de gás do mundo deu um novo passo rumo à realidade depois que a gigante do petróleo apresentou oficialmente sua aquisição do BG Group com reguladores brasileiros da concorrência, segundo matéria do jornal britânico The Telegraph. O segundo maior acordo de petróleo e gás registrado em todos os tempos ainda exige a aprovação de alguns reguladores em todo o mundo. Fontes já assinalaram que possíveis obstáculos poderiam vir do Ministro do Comércio (Mofcom) da China famoso por sua falta de transparência, e a entidade reforçada do Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), assim como reguladores europeus. As companhias indicaram que esperam que o acordo seja fechado no primeiro trimestre de 2016. O Brasil é visto como país chave para os interesses da Shell no BG com o presidente Ben van Beurden comentando que o grupo ampliado estaria produzindo 550.000 barris por dia do Brasil pelo fim desta década – quatro vezes mais do que a atual produção da Shell. Van Beurden também chamou o Brasil “a área mais empolgante no mundo para a indústria do petróleo”. Entretanto, o acordo também vai fazer da Shell o maior detentor estrangeiro do petróleo brasileiro, suscitando preocupações sobre o nível de análise que a aquisição do BG vai enfrentar dos reguladores de São Paulo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Wood Mackenzie, a consultoria de indústria, afirmou que em dez anos o Brasil será o maior país no portfólio combinado do grupo. Apesar disso, fontes afirmaram que acreditam que não há uma preocupação significativa com a concorrência e insistiram que eles não precisam oferecer remédios. Como resultado da confiança da Shell em um processo acelerado de aprovação entende-se que as duas empresas já tenham entrado em um acordo com os reguladores no dia 17 de junho. Uma fonte do Cade confirmou a apresentação. O Brasil responde apenas por 10% das operações da Shell e a gigante do petróleo tem direitos de perfuração apenas no Campo de Libra, enquanto a BG tem direitos de perfuração nos campos de petróleo de Lara, Sapinhoá, Lapa e Lula (que antes se chamava Tupi). Barbara Rosenberg, do BMA, escritório de advocacia com sede em São Paulo, afirmou que o cronograma regulatório brasileiro poderia chegar a 330 dias em extremas circunstâncias mas o tempo médio para a liberação desde as mudanças nas leis brasileiras de concorrência tem sido de 31 dias. Depois de reuniões nos últimos dois meses com autoridades de Bruxelas entende-se que o BG e a Shell estão planejando to se encontrar com a Comissão Européia antes do verão europeu, quando a maioria da comitiva de Bruxelas saem para tirar férias. Está subentendido que as partes vão pressionar por uma Fase 1, de liberação inicial, de 30 dias. A Shell e o BG ainda devem apresentar à Mofcom embora se mantenha confiante de que o acordo será aprovado devido aos grandes mercados mundiais. Entretanto, a expectativa é de que autoridades chinesas analisem um domínio no mercado de gás. “O BG é um grande fornecedor de gás para a China e o Mofcom deverá ficar preocupada com o impacto nas importações da LNG para a China e vai analisar o portfólio combinado da Shell na China”, disse Anna Howell, sócia na Herbert Smith Freehills. A aquisição da Xstrata pela Glencore levou um ano para ser aprovada pelo Mofcom e exigiu que uma mina de cobre fosse vendida a um comprador chinês. Na semana passada o acordo gigante recebeu sua primeira aprovação regulatória da Comissão Federal de Comércio dos EUA.\ Jornal do Brasil

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Petróleo: Produção no Brasil em 2014 supera projeção do Goldman Sachs

Neste ano, produção nos quatro primeiros meses é o dobro de 15 anos atrás para o período A produção de petróleo no Brasil em 2014 superou em 24 mil barris por dia a projeção feita pelo grupo financeiro Goldman Sachs em relatório publicado no mês de outubro. Dados consolidados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) indicam produção média de 2,254 milhões de barris por dia (bpd) no ano passado, enquanto em 2015, de acordo com números do Boletim Mensal de Produção atualizados em 1º de junho, a produção nacional nos quatro primeiros meses já é o dobro de 15 anos atrás para o período. O relatório publicado pela instituição financeira em outubro do ano passado previa um aumento de 206 mil bpd da produção nacional de petróleo em 2014 mas, oito meses depois, resultados da ANP mostram que a oferta saltou de 2,023 milhões em 2013 para 2,254 milhões no ano passado, um aumento de 230 mil bpd (11%) entre os dois anos. À época da publicação, o relatório destacava que a produção “frustrante” entre os segundos trimestres de 2012 e 2013 por conta da queda da oferta da Bacia de Campos e um início lento na extração do Pré-sal estava ficando para trás.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Produção da Petrobras no pré-sal atinge novos recordes em maio Nesta sexta-feira (12), segundo informações da Petrobras, a extração no Pré-sal bateu recordes, alcançando a marca de 726 mil bpd e aumento de 1,6% em relação ao mês de abril, que teve números correspondentes a 715 mil bpd. Abril encerrou o melhor quadrimestre da história da produção de petróleo no país, dobrando os números conquistados 15 anos atrás, quando a produção média para o primeiro quadrimestre foi de 1,166 milhão de bpd, contra números de 2,427 milhões de bpd em 2015. Com crescimentos mensais, o Pré-sal tem aumentado sua participação na produção nacional. Entre janeiro e abril deste ano houve queda na oferta, passando de uma média de 2,469 milhões para 2,394 milhões de bpd, o que também impulsionou o aumento do percentual de participação do Pré-sal nesses números, subindo de 27% para 29%. Mesmo pessimista, relatório projetou cotação maior para o preço do barril Mesmo fazendo as projeções mais pessimistas entre as instituições financeiras para os preços do petróleo, o Goldman destacou que o cenário ruim não seria uma ameaça à sustentabilidade de projetos na Bacia de Santos, uma das que que fazem parte do conglomerado do Pré-sal, por conta de seu baixo custo de manutenção. O relatório diminuiu a previsão para a cotação do Brent no primeiro trimestre de 2015 de US$ 100 para US$ 85 por barril, entretanto, a queda foi maior ainda, com média de US$ 60 no período. Apesar de a cotação do barril de petróleo seguir movimento de queda, os custos de produção também têm decaído, segundo informações do site da Petrobras. No segundo trimestre de 2014 (período com dados mais antigos disponíveis), os custos de produção incluindo a participação governamental estavam em US$ 32,60. Já no primeiro trimestre de 2015, este valor diminuiu, para US$ 20,05. Jornal do Brasil

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Quando teremos carros movidos a energia solar?

Recebo a notícia: “Alunos do MIT desenharam um protótipo de carro solar”. Honestamente, não é nada que faça meu coração parar. Afinal, essas mesmas palavras vêm aparecendo em informes para a imprensa pelo menos uma vez por semana na última década. Protótipo do SERVe indiano vai às ruas para ser testado Mas o texto que me chegou no começo de maio pareceu um pouco mais interessante. Isso porque esse MIT não é o famoso Instituto de Tecnologia de Massachusetts, de onde saem alguns dos maiores gênios do mundo, mas sim um MIT em Manipal, no sudoeste da Índia. E quanto mais eu lia, mais a história parecia intrigante. O protótipo se chama SERVe, sigla para Solar Electric Road Vehicle (“Veículo rodoviário elétrico solar”) e é o resultado de um projeto conjunto do Instituto de Tecnologia de Manipal (MIT, na sigla em inglês), da Universidade de Manipal e da Tata Power Solar, a maior empresa de energia solar da Índia. A Tata é também parte do mesmo conglomerado que possui a Jaguar Land Rover e outros negócios na área de transportes, apesar de essas empresas não estarem envolvidas nesse projeto específico.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Aspecto estranho, mas eficiente Apesar da aparência estranha, o SERVe tem autonomia de 145 quilômetros e pesa 600 quilos O carro parece com algo que teria saído da prancheta futurista de algum desenhista em 1985, mas é mais um modelo “de prova de conceito” do que um carro conceito. E por isso podemos perdoar sua aparência. Os painéis solares que cobrem o teto fazem parte de um desenho curvilíneo feito sob medida pela Tata Solar e que mantém razoavelmente a aerodinâmica do carro. A bateria e o sistema de alimentação são controlados por um Raspberry Pi (computador de placa única popular entre um nicho de programadores), e a carroceria é feita de plástico reforçado com fibra de vidro aplicado sobre uma estrutura de aço. Pesando pouco menos de 600 quilos, incluindo as baterias de Li-ion, o carro de dois lugares pode percorrer até 145 quilômetros com sua carga completa. Sua velocidade máxima é 60 km por hora e sua velocidade normal de cruzeiro é metade disso – devagar mas sem forçar muito a transmissão. Possível comercialização Carro foi desenvolvido com apoio da Tata Solar, do grupo dono da Jaguar Land Rover Em outras palavras: a Tata ainda não vai colocar o logotipo da Jaguar no carro. Mas o que torna esse projeto interessante é que, ao contrário dos alunos do outro MIT e de centenas de outras universidades, os estudantes indianos não estão tentando construir um veículo solar mais rápido ou com mais autonomia, nem usaram uma tecnologia impossível. Eles estão tentando montar um carro solar que não só funciona como também pode ser comercialmente viável. Quando esse problema estiver solucionado, é possível que ninguém segure o carro solar.

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Lucro de Refinaria de Pasadena deixa TCU em posição desconfortável: o negócio é um sucesso!

Com a divulgação, pela Petrobras, de seu relatório especial sobre a Refinaria de Pasadena, a população brasileira, que vinha sendo contaminada com informações agourentas sobre o negócio realizado, é informada de que o lucro líquido da estatal com ela neste 1º semestre de 2014 foi de US$ 73 milhões, isto é, R$ 160 milhões. Isso quer dizer que Pasadena pode pagar em menos de dois anos os R$ 700 milhões de prejuízo calculados pelo relator José Jorge, do TCU, e com sobra! Com isso, o relator José Jorge, que no governo Fernando Henrique ocupou o ministério da Energia, fica em posição desconfortável, já que até agora ninguém havia se lembrado de lhe cobrar o prejuízo, à sua época, de US$ 1,5 bilhão pelo afundamento da plataforma P-36, pois afinal desastres acontecem e há que se ter compreensão para tais fatos. Abaixo, para o conhecimento de vocês, o post publicado no blog da Petrobras. Conheça o histórico da aquisição de Pasadena Visão noturna da Refinaria de Pasadena (2007) Pasadena é um complexo de refino e comercialização, localizado no Texas, às margens de importante via navegável, fazendo parte de um centro refinador de 2 milhões de barris por dia e exportador de derivados para o mercado norte americano. A refinaria está em plena atividade, tem capacidade de refino de 100 mil barris por dia e, no momento, opera de forma rentável com petróleo leve disponível nos Estados Unidos a partir do crescimento da produção local de óleo não convencional (tight oil).[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] À época da aquisição dos 50% iniciais, em 2006, o negócio foi considerado potencialmente bom e atendia aos pressupostos do Plano Estratégico da Petrobras, contemplando os investimentos a serem feitos para que a Refinaria passasse a processar petróleo pesado da Petrobras, mediante a implementação de projeto de ‘’Revamp” na refinaria. Mas, com a crise econômica nos EUA a partir de 2008 e consequente queda na demanda de derivados, as margens de refino caíram significativamente. Além disso, o preço do petróleo que tinha também se reduzido a partir de agosto de 2008 e em 2009, voltou a se elevar de 2010 em diante, não deixando margens para operar a refinaria de forma lucrativa. Nesse quadro, as condições financeiras e econômicas dos negócios no segmento do refino tornaram-se críticas em todo o mundo no pós-crise de 2008. Assim, por conta de uma crise econômica mundial, um negócio potencialmente bom transformou-se em um empreendimento com baixo retorno, o que levou inclusive ao reconhecimento contábil de perdas de US$ 530 milhões, as quais podem ser revertidas no futuro. Em 2007, houve desentendimentos entre os sócios a respeito do projeto de “Revamp”, ou seja, sobre os investimentos a serem feitos para que a Refinaria passasse a processar petróleo pesado da Petrobras. Outros dois fatores impactaram profundamente o negócio. A descoberta de vastas reservas de petróleo no pré-sal em 2007 e o acentuado crescimento da demanda de derivados no mercado brasileiro, recomendaram a prioridade de investimentos no segmento de exploração e produção de óleo e na expansão do refino no Brasil. Dessa forma os investimentos previstos para adaptar a refinaria de Pasadena para processar óleos pesados brasileiros (mais barato) perderam a prioridade, não só por causa da falta de rentabilidade decorrente da crise mundial como também pela melhor oportunidade para processar esses óleos no Brasil. Entenda a cronologia do empreendimento: 1999 – 2004: Expansão do refino no exterior Desde 1999, a Petrobras tinha o objetivo de expandir o refino no exterior. Crescia o potencial de produção de petróleo no Brasil, mas o mercado de derivados estava estagnado e não havia capacidade de refino para o volume de óleo pesado descoberto. O óleo pesado é mais denso e exige refinarias mais complexas, para que dê origem a produtos mais leves e valorizados. Ele era exportado, por exemplo, para os EUA com elevado deságio por ser pesado. A aquisição de refinarias e sua adaptação para processar o óleo Marlim (pesado) no exterior permitiriam, portanto, agregar valor ao óleo pesado, entregando derivados valorizados localmente. Esse posicionamento foi formulado em 1999 (Visão 2010) e confirmado em 2004 (Visão 2015) no Plano Estratégico da empresa. 2004: Astra compra Pasadena da empresa Crown Em 2004, a empresa Astra assinou contratos com a empresa Crown para aquisição de Pasadena. Conforme apuramos, o valor desembolsado pela Astra, antes da venda para a Petrobras, foi estimado em US$ 360 milhões (equivocadamente circula informação que o custo para Astra teria sido somente US$ 42,5 milhões).   2005 – 2006: Astra oferece parceria em Pasadena à Petrobras Após mapeamento que apontava efetiva oportunidade de operação no Golfo do México e oferta da Astra propondo parceria, iniciamos a avaliação da Refinaria de Pasadena: • Era um complexo localizado em um importante “hub” (centro) de movimentação de petróleo e derivados, em um mercado que crescia; • Apresentava preço atrativo, já que Pasadena era uma refinaria de óleo leve. Por não ser ainda adaptada para processamento de óleo pesado, custava bem mais barato do que outras refinarias já adaptadas; • Tinha o diferencial de contar com licenças e espaço físico (terreno) necessários para ser transformada em uma refinaria maior e capaz de processar óleo pesado Marlim, para o que Petrobras e o sócio investiriam na remodelação da unidade (“Revamp”); • Contava com acesso a um grande parque de armazenamento de petróleo e derivados e com contratos de comercialização e de acesso à infraestrutura para escoamento de derivados; • Dominava, ainda, conhecimentos para operar no mercado norte-americano, por meio da companhia de “trading”, uma empresa de comercialização de petróleo e derivados; • Astra não era especialista em refino e vira na associação com a Petrobras uma oportunidade para juntas crescerem no mercado. A Petrobras analisara várias outras oportunidades, e chegou a fazer ofertas em outras refinarias americanas, sem sucesso. Em Pasadena, as negociações tiveram êxito. A parceria da Petrobras com a Astra unia competências em refino com competências na comercialização local, incluindo uma carteira de clientes para toda a produção da Refinaria de Pasadena. Contava, ainda, com escoamento garantido para os derivados e acesso

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Economia: Negócios com China reduzem influência dos EUA na América Latina

Os acordos fechados durante a visita do premiê chinês, Li Keqiang, à América Latina nesta semana elevam a um novo patamar a presença da China na região e reduzem o poder dos Estados Unidos para influenciar políticas em países latino-americanos, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil. Premiê chinês, Li Keqiang, começou pelo Brasil sua visita a países da América Latina Li iniciou na segunda-feira um giro de oito dias pelo Brasil, Colômbia, Peru e Chile. Nesta terça, após reunião com a presidente Dilma Rousseff em Brasília, os dois líderes fecharam 37 acordos em várias áreas, entre as quais infraestrutura, energia e mineração. Segundo o governo brasileiro, os acertos envolvem gastos de mais de US$ 53 bilhões (R$ 160 bilhões). O principal investimento anunciado é uma ferrovia que ligará a região Centro-Oeste ao Pacífico, atravessando o Peru. A obra facilitaria a venda de produtos brasileiros para a China, hoje feita a partir de portos no Atlântico, mas deve enfrentar a resistência de ambientalistas e grupos indígenas por cruzar um longo trecho da Floresta Amazônica.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Leia mais: A polêmica ferrovia que a China quer construir na América do Sul Leia mais: Lava Jato abre espaço para investimento chinês no Brasil Outro acordo firmado entre a Caixa Econômica e o Banco Industrial e Comercial da China criará um fundo de US$ 50 bilhões (R$ 152 bilhões) para financiar projetos de infraestrutura no Brasil, cerca de cinco vezes o valor da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Espera-se que Li anuncie novos investimentos até o fim de sua viagem, no dia 26. Em janeiro, o presidente chinês, Xi Jinping, autoridade máxima do país, disse que Pequim investiria US$ 250 bilhões (R$ 759 bilhões) na América Latina na próxima década. Além de ampliar a influência de Pequim na região, analistas avaliam que as ações também buscam amortecer os efeitos da desaceleração da economia chinesa, que força suas empresas a buscar lucros no exterior. Ofensiva de imagem Acordos anunciados entre governos brasileiros e chinês somam mais de US$ 53 milhões Para Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, a China tenta com a visita “desfazer o argumento de que vem para explorar o continente e criar uma relação de dependência” com países latino-americanos. Uma das principais críticas à China na América Latina é a assimetria em suas trocas comerciais com a região. Os chineses compram principalmente matérias-primas de países latino-americanas, mas lhes vendem produtos industrializados, com maior valor agregado. Ao diversificar seus laços com países latino-americanos para além do comércio e investir em áreas como infraestrutura, diz Stuenkel, a China reforça o discurso de que não busca apenas o benefício próprio na relação, mas integrar a América Latina à economia global. “São ações que vão tornar a China um ator político e econômico na região por muitas décadas, e depois disso será impossível cortá-la da equação”. Leia mais: Cinco lições à América Latina do maior ranking global de educação Para Stephan Mothe, analista da Euromonitor International baseado no Rio de Janeiro, a crescente participação chinesa na América Latina reduz a influência dos Estados Unidos na região. Ele diz que, ao passar a contar com financiamentos de bancos estatais chineses, os países latino-americanos se tornam menos dependentes de organizações mundiais que operam na órbita de Washington, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Os Estados Unidos passam a ter menos alavancagem para pressionar esses países a adotar as políticas que eles queiram”, afirma Mothe, que morou na China por quatro anos. Margaret Myers, diretora do programa de China e América Latina do Inter-American Dialogue, em Washington, diz que os chineses oferecem à América Latina e outras regiões um modelo alternativo aos financiamentos dos Estados Unidos e de órgãos mundiais tradicionais. Leia mais: Por que a desaceleração da China importa para o mundo Nos últimos anos, muitos países emergentes têm recorrido a empréstimos chineses em vez de se engajar em lentas e complexas negociações com bancos multilaterais e países desenvolvidos, que costumam fazer uma série de exigências para liberar seus recursos. Já críticos ao modelo chinês dizem que os empréstimos de Pequim são mais sujeitos a desvios e ignoram boas práticas ambientais e trabalhistas. A oferta global de crédito chinês deverá aumentar ainda mais nos próximos anos, quando começarem a operar o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que a China gerenciará com seus parceiros nos Brics (Brasil, Índia, Rússia e África do Sul), e o Banco Asiático de Infraestrutura e Investimento (BAII), capitaneado por Pequim. Flexibilidade ideológica Premiê chinês também se encontrou com o presidente do Senado, Renan Calheiros Analistas destacam outro aspecto da visita do premiê chinês. Em seu giro, ele deixará de lado aliados mais próximos de Pequim, como Venezuela, Argentina, Cuba e Nicarágua, e viajará a países com governos considerados mais moderados e identificados com os Estados Unidos. Para Stuenkel, da FGV, a decisão busca mostrar que a China “consegue trabalhar com todos os lados” no continente. Jaseon Marczak, vice-diretor do Adrienne Arsht Latin America Center do Atlantic Council, em Washington, lembra que três dos quatro países visitados por Li (Chile, Colômbia e Peru) integram a Aliança do Pacífico, bloco econômico lançado em 2012 e focado no comércio com a Ásia. Leia mais: Petróleo e Cuba ajudam EUA a retomar protagonismo na América Latina Os três países também integram as discussões para a criação da Parceria Trans-Pacífica (PTT), inciativa econômica liderada pelos Estados Unidos e que exclui a China. Para Marczak, ao visitar Colômbia, Chile e Peru, o premiê chinês fortalece a posição de Pequim nesses países e no Pacífico latino-americano, contrapondo-se a eventuais riscos da PTT aos interesses chineses. Mothe, da Euromonitor International, diz que os movimentos de Pequim na América Latina também são uma resposta às ações americanas na vizinhança chinesa. “É como se eles dissessem: se vocês não respeitarem o nosso quintal, não respeitaremos o seu”. Já Stuenkel, da FGV, avalia que a China por ora não tem interesse em desafiar os Estados Unidos e fará

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Petróleo e Cuba ajudam EUA a retomar protagonismo na América Latina

Três meses após assumir a Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama afirmou, em sua primeira Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, que inauguraria um novo capítulo nas relações entre seu país e a América Latina. Presidentes posam para foto na Cúpula das Américas (EPA) Seis anos depois e encerrada no sábado a primeira edição da cúpula com a presença de Cuba, no Panamá, ele parece mais próximo de cumprir o objetivo, segundo analistas e diplomatas. Eles afirmam que a reaproximação entre Washington e Havana, que culminou no sábado na primeira reunião entre os presidentes americano e cubano em mais de meio século, esfriou uma das principais contendas entre os Estados Unidos e nações latino-americanas. Na mesma semana, a Casa Branca ainda consolidou acordos que fortalecem sua posição na América Central e no Caribe e, ao anunciar a visita de Dilma Rousseff a Washington em 30 de junho, afastou a crise com a segunda maior economia das Américas, o Brasil. Embora avaliem que Obama mereça créditos pelos feitos, especialistas afirmam que seus gestos foram facilitados por mudanças no cenário econômico das Américas: enquanto o Brasil e a Venezuela enfrentam problemas na economia e reduzem suas operações na vizinhança, os Estados Unidos voltam a crescer e ganham mais tração para atuar na região. Leia mais: Em reunião histórica, Obama e Raúl Castro trocam afagos Efeitos em cadeia Presidente do Inter-American Dialogue, um centro de pesquisas e debates em Washington, Michael Shifter diz que a retomada do diálogo entre Cuba e os Estados Unidos ajudará a melhorar as relações do governo americano com a maior parte da América Latina. “Por décadas, a questão cubana foi bastante problemática, causando muito desgaste nos assuntos interamericanos”, diz Shifter, que acompanhou o evento no Panamá. Especulava-se que Obama pudesse anunciar na cúpula a retirada de Cuba da lista americana de Estados patrocinadores do terrorismo, o que não ocorreu. Mesmo assim, os afagos trocados entre o americano e o líder cubano, Raúl Castro, ao longo do encontro sinalizam que os dois estão empenhados em aproximar seus países. Shifter afirma, porém, que a mudança na política americana para Cuba “não significa que a relação de Washington com a região será livre de tensões e desconfiança”. “Suspeitas e ressentimentos antigos não desaparecem da noite para o dia”. Leia mais: O que Che Guevara diria sobre a reaproximação EUA-Cuba Na cúpula, muitos líderes esquerdistas – entre os quais Nicolás Maduro (Venezuela), Rafael Correa (Equador) e Daniel Ortega (Nicarágua) – celebraram a presença de Cuba no evento, mas fizeram duros discursos contra os Estados Unidos, destacando seu histórico de intervenções na região. O maior alvo das críticas – endossadas inclusive por líderes mais moderados, como Dilma e Juan Manuel Santos (Colômbia) – foram as sanções que Washington aplicou no mês passado a sete autoridades venezuelanas. Segundo o governo americano, os funcionários sancionados violaram direitos humanos. Shifter diz que criticar os Estados Unidos em eventos como esse ainda rende dividendos políticos a líderes latino-americanos, e que o tema venezuelano mostra que ainda há muitas diferenças entre Washington e a América Latina. Ele diz acreditar, no entanto, que o acerto com Cuba deve ajudar a diminuir essas diferenças. Queda no petróleo Analistas avaliam que os ganhos americanos na vizinhança também refletem a queda nos preços do petróleo e seus impactos na Venezuela, um dos seus maiores desafetos na região. Dona das maiores reservas petrolíferas do mundo e valendo-se dos altos preços da matéria-prima na última década, Caracas forjou uma aliança com vizinhos caribenhos, entre os quais Cuba, baseada na venda subsidiada do bem. Em 2013, essa aliança – batizada de Petrocaribe – se associou à Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), bloco fundado uma década antes pelo então presidente venezuelano Hugo Chávez e que se tornara o principal bastião antiamericano da região. A drástica queda no preço do petróleo nos últimos dez meses, porém, afetou a assistência venezuelana aos vizinhos e fragilizou a lealdade deles ao projeto político de Caracas, diz Ted Piccone, analista da Brookings Institution, em Washington. Em artigo publicado em fevereiro, ele diz que a crise na Venezuela facilitou a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos ao forçar Havana a buscar alternativas à sua aliança econômica com Caracas. A Venezuela vende a Cuba cerca de 100 mil barris de petróleo ao dia por preços preferenciais. Segundo um relatório do Banco Barclays, o colapso econômico na Venezuela também tem afetado o envio de petróleo subsidiado a outras nações caribenhas. Atentos ao cenário, os Estados Unidos mexem suas peças. Em janeiro, o vice-presidente americano recebeu líderes caribenhos em Washington para discutir segurança energética. E na véspera da cúpula no Panamá, Obama anunciou na Jamaica programas para financiar e transferir tecnologias em energia limpa e reduzir a dependência por combustíveis fósseis entre países da região. Além de minar a “diplomacia petroleira” de Caracas, a iniciativa se alinha com uma das principais bandeiras do presidente americano: a necessidade de combater as mudanças climáticas e privilegiar fontes de energia limpa. Leia mais: Favorita entre democratas, Hillary anuncia pré-candidatura à Presidência dos EUA Acredita-se ainda que o fraco desempenho da economia brasileira nos últimos anos e a desaceleração na China tenha facilitado a superação das diferenças entre Brasília e Washington, causadas pelas denúncias de que Dilma fora espionada pela agência de segurança americana. O episódio fez com que ela cancelasse uma visita que faria aos Estados Unidos em 2013, agora reagendada para o fim de junho. Entre empresários brasileiros, vinham crescendo as cobranças para que o país se voltasse aos Estados Unidos para voltar a crescer. O governo brasileiro chegou a condicionar a remarcação da visita a um pedido de desculpas da Casa Branca, mas acabou cedendo na posição. Mudanças demográficas Segundo um diplomata brasileiro nos Estados Unidos, a mudança da política americana para a região reflete ainda mudanças demográficas no país. Há 50 anos, havia poucos milhões de hispânicos ou latinos nos Estados Unidos. Por causa da imigração e de taxas de natalidade acima da média, o grupo hoje soma 57

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Espaço marítimo brasileiro é vulnerável

A vulnerabilidade do mar brasileiro é, atualmente, o eixo da inquietação dos militares, embora não admitam o fato publicamente. No entanto, as Forças Armadas reconhecem, em apresentações internas, que a defesa dos espaços marítimos brasileiros, incluindo a área do pré-sal, é um desafio abissal. Segundo reportagem de Chico Otávio do jornal O GLOBO, além da conhecida defasagem tecnológica, cenários não afastam a possibilidade de questionamentos futuros sobre a soberania nacional nos campos mais remotos de exploração oceânica de petróleo. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Petróleo: Falência anunciada

A atual queda dos preços do petróleo, atribuída em boa parte ao gás de xisto, está inserida em um movimento mais amplo de início do fim do atual ciclo de alta das commodities, o qual incluiria ainda o minério de ferro, as commodities agrícolas e até o ouro? Mesmo que os EUA comecem a exportar gás natural liquefeito (GNL) para a Europa, ainda se trata de uma questão em aberto, devido aos custos dessa operação e ao volume do excedente exportador americano no médio prazo. Em 2007, foi constituído nos Estados Unidos um empreendimento chamado “Energy Future Holdings”, destinado à compra no Texas de termelétricas a carvão. Seus controladores investiram US$ 8 bilhões do próprio bolso e fizeram dívida de outros US$ 37 bilhões na maior operação de compra alavancada da história dos EUA. O banco de investimento Goldman Sachs e o investidor Warren Buffett (através da holding Berkshire Hathaway), entre outros nomes famosos, investiram no negócio, tendo somente Buffett emprestado US$ 2 bilhões à EFH. Em 29 de abril de 2014, a EFH entrou com pedido de falência na Justiça americana. O preço da estabilidade A causa da falência foi a queda dos preços do gás natural nos EUA, a partir de 2008, com a revolução do “shale gas” (em português, “gás de xisto”), o que tornou as termelétricas a carvão da EFH economicamente não rentáveis. Buffett recebeu US$ 837 milhões de juros da dívida e depois a revendeu por US$ 259 milhões em 2012, tendo tido prejuízo bruto de cerca de US$ 900 milhões. Nem Warren Buffett, conhecido por apostar em bons negócios no longo prazo, previu o alcance da revolução, já em andamento em 2007, do gás (e petróleo) de xisto nos EUA, a qual fez o preço do gás para geração elétrica cair para menos da metade naquele país entre 2008 e 2014 e, mais recentemente, tem feito despencar os preços internacionais do petróleo. Segundo a Agência Internacional de Energia, os EUA já ultrapassaram Arábia Saudita e Rússia como primeiro produtor mundial de hidrocarbonetos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Nova realidade Há uma série de mudanças em curso no mundo diante dessa nova realidade. Primeiro, a queda dos preços do petróleo ameaça o desenvolvimento e a lucratividade de projetos de exploração de alto custo, como no Ártico e no pré-sal brasileiro. Segundo, a redução do custo da energia nos EUA, em conjunto com o aumento do salário médio na China e outros países asiáticos com grande oferta de mão-de-obra barata nas duas últimas décadas, está provocando uma realocação da produção industrial com destino aos EUA, sobretudo de plantas intensivas em consumo de energia, como a produção de alumínio. Os países da UE, por sua vez, parecem não estar aproveitando essa tendência, por terem investido talvez demais em fontes limpas de energia cujo custo começa a se mostrar não competitivo. Ainda em consequência da queda dos preços do petróleo, governos de países altamente dependentes da renda petrolífera, como Venezuela e Argélia, poderão ter problemas à frente na hora de fechar suas contas orçamentárias. Por fim, há uma mudança geopolítica em curso, com os EUA cada vez menos dependentes do petróleo do Oriente Médio, o que tende a reduzir a importância da região no tabuleiro político internacional. Quanto à redução da dependência europeia em relação ao gás russo, mesmo que os EUA comecem a exportar gás natural liquefeito (GNL) para a Europa, ainda se trata de uma questão em aberto, devido aos custos dessa operação e ao volume do excedente exportador americano no médio prazo. Perdas com sanções se somam à queda do preço do petróleo Já a questão da reprodução do “boom” do gás de xisto em outros países, apesar de, do ponto de vista geológico, isso ser possível, na prática é uma tarefa com variáveis desafiadoras. Com a tecnologia existente hoje nos EUA, há reservas de gás de xisto em grande volume na China, Argentina, Argélia, Rússia, Canadá, Brasil e outros países. Fenômeno a ser repetido? Mas boa parte dos analistas considera a revolução do “shale” nos EUA não só um fenômeno geológico ou tecnológico, mas também institucional, pelas seguintes razões: a) existência de grande número de empresas de petróleo independentes de pequeno e médio porte, responsáveis por cerca da metade da produção total do país; b) abundância de água (o que não ocorre, por exemplo, na China); c) existência de uma indústria financeira capaz de bancar os riscos da exploração do gás de xisto; d) nos EUA, os recursos do subsolo pertencem aos proprietários da terra, diferentemente, por exemplo, do Brasil, onde pertencem à União; e) regime fiscal altamente flexível e atrativo. Além disso, há nos EUA quase 6 milhões do poços de petróleo já perfurados, enquanto no Brasil não chegam a 30 mil. O subsolo americano, sobretudo nas áreas de maior ocorrência do gás de xisto (Dakota do Norte e Texas), já é ampla e detalhadamente conhecido, o que torna o sucesso exploratório do gás de xisto muito alto e compatível com o rápido declínio da produtividade média dos poços. Some-se a isso uma extensa rede de gasodutos já implantada nos EUA, em contraste com, por exemplo, a reduzida rede do Brasil. Para se ter uma ideia do atual frenesi exploratório nos EUA, só em outubro último foram lá perfurados cerca de 9.500 poços, enquanto no Brasil, no ano de 2013, esse número foi de 140. A comparação que fizemos foi com o Brasil, mas poderia ser com a Argentina, que possui ampla reserva de gás de xisto no campo de Vaca Muerta. Os investimentos necessários à viabilização do mesmo serão certamente muito maiores, em termos de capital inicial (Capex), para não falar dos custos operacionais (Opex), do que em Dakota do Norte e no Texas. Daí a conta a fazer sobre a viabilidade do projeto tem que ser muito diferente da feita nos EUA, isso valendo também para as bacias do Solimões, do Amazonas e do Paraná, onde, no Brasil, estima-se haver significativo volume recuperável de gás de xisto. Clique para ver

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País começa a se tornar exportador de Petróleo

As exportações de petróleo do Brasil superaram as importações do produto feitas pelo país no primeiro bimestre de 2015, enquanto as compras externas de combustíveis e lubrificantes caíram ante 2014 em meio a preços menores, informou a Secretaria de Comércio Exterior nesta segunda feira, 2. Aumento da produção, puxado pelo pré-sal, traz resultado surpreendente para o Brasil no momento em que a Petrobras é atacada por todos os lados; dados da Secretaria de Comércio Exterior divulgados nesta segunda-feira, 2, mostram que as exportações de petróleo do Brasil superaram as importações no primeiro bimestre de 2015; exportações de petróleo somaram US$ 1,865 bilhão em janeiro e fevereiro do ano; montante representa alta de 5,3% na média diária, quando comparado ao mesmo período de 2014; sob o comando de Aldemir Bendine, Petrobras começa a mostrar indicadores positivos. As exportações de petróleo somaram 1,865 bilhão de dólares nos dois primeiros meses do ano, alta de 5,3 por cento na média diária, quando comparado ao mesmo período de 2014. Já as importações da commodity somaram 1,083 bilhão de dólares no mesmo período, queda de 56,9 por cento na média diária em relação a janeiro e fevereiro do ano passado.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O movimento acontece em um momento em que a Petrobras aumentou a produção de petróleo no país, que somou 2,192 milhões de barris de óleo em janeiro, alta de 14 por cento ante o mesmo mês do ano passado. Outras petroleiras, especialmente as estrangeiras que atuam no país, também estão elevando a produção consideravelmente. Quando se considera a importação de derivados, o valor total das importações do setor ainda supera a exportação. O Brasil não é um exportador relevante de combustíveis. QUEDA NO PREÇO As importações de combustíveis e lubrificantes pelo Brasil (incluindo petróleo) somaram 4,841 bilhões de dólares em janeiro e fevereiro de 2015, queda de 24,4 por cento na média diária em relação ao mesmo período de 2014. Isso numa situação em que os preços do petróleo e derivados em patamares inferiores aos praticados no início do ano passado afetam a base comparativa. “No grupo dos combustíveis e lubrificantes, a retração [dos valores de importações] ocorreu principalmente pela diminuição dos preços e das quantidades embarcadas de petróleo, gás natural, carvão, óleos combustíveis, naftas e gasolina”, afirmou a secretaria de comércio exterior em nota. Por Marta Nogueira

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O petróleo despenca, e a Arábia Saudita sorri

O governo de Riad perde com a queda de preços, mas celebra instabilidade no Irã e teste à nova indústria petrolífera norte-americana  Salman bin Abdulaziz Al-Saud, o príncipe-herdeiro do trono saudita, em evento na terça-feira 6. A família real depende do petróleo, mas por enquanto está disposta a encarar a queda. Na terça-feira 6, o preço do petróleo nos mercados de Londres e Nova York, referências para o resto do mundo, ficou abaixo dos 52 dólares, menor valor desde 2009. A brusca queda recente, de 55% desde a metade de 2014, é resultado de uma oferta elevada, marcada por picos de produção na Rússia, no Iraque e nos Estados Unidos, e demanda comprimida pela lentidão das economias de China, Japão e países europeus. O cenário deveria provocar preocupação na Arábia Saudita, maior exportadora e dona da maior capacidade de produção de petróleo do mundo, mas a monarquia se mostra tranquila. A queda de preços é ruim para o governo saudita, mas pior para seu maior inimigo, o Irã, e serve para testar a força da crescente produção norte-americana, que causa apreensão em Riad por minimizar a dependência que Washington tem do petróleo saudita. Em 21 de dezembro, em reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) na Áustria, a Arábia Saudita revelou sua serenidade com o tombo do preço do petróleo. Sem conseguir um acordo com países de fora do cartel, como a Rússia e o México, a Opep decidiu não reduzir suas metas de produção, o que faria a cotação do barril crescer. A opção pela regulação do preço a partir da lógica do mercado foi um afastamento da tradição da Opep, comandada pelos sauditas. Ao longo das últimas quatro décadas, o cartel petrolífero tirou e injetou barris no mercado sempre que os preços escaparam aos limites desejados, para cima ou para baixo. Desta vez, sem a mesma capacidade de influenciar o mercado, os sauditas aceitaram pagar para ver até onde a queda vai. O governo de Riad nega estar conspirando para prejudicar determinadas nações, mas parece óbvio que a família real observa o resultado de sua aposta com a expectativa de obter dividendos políticos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Não há dúvidas de que o petróleo em baixa prejudica a Arábia Saudita. A economia do país é pouco diversificada e muito dependente do setor petrolífero, responsável por 85% das exportações e 50% do PIB. Entre 2014 e 2015, a receita do petróleo deve cair 88%, sendo responsável por um déficit de 39 bilhões de dólares no orçamento saudita, o maior da história, o que acarretará cortes de gastos públicos e, possivelmente, alguma instabilidade política. Ainda assim, a Arábia Saudita pode suportar o baque – além de reservas monetárias de 750 bilhões de dólares, o País tem o menor custo de produção de petróleo no mundo, de cerca de cinco dólares por barril. Se cortasse sua produção sem uma combinação prévia com países de fora da Opep e promovesse a elevação do preço do petróleo, a Arábia Saudita poderia perder cotas de mercado. Foi isso o que ocorreu nos anos 1980, quando o barril foi vendido a menos de 10 dólares e os sauditas perderam clientes ao cortar sua própria produção, enquanto outros países mantiveram-na, vendendo seu petróleo por um preço mais baixo. Em um cenário de disputa por mercado, a Arábia Saudita poderia perder espaço para aliados, como os Emirados Árabes Unidos e o Kuwait, mas também para países que vê como rivais. Um deles é a Rússia, que segue apoiando o ditador sírio Bashar al-Assad, o qual os sauditas tentam derrubar. Outro é o Irã, visto como o maior inimigo da Arábia Saudita. Além de apoiar Assad, o regime iraniano, visto como ameaça existencial, contrapõe os interesses sauditas em quase todos os pontos nevrálgicos do Oriente Médio. O Irã como alvo A queda atual do preço do petróleo atinge duramente as ambições de Teerã em um momento sensível. No próximo dia 15, negociadores iranianos vão se encontrar novamente com emissários de Alemanha, China, EUA, França, Reino Unido e Rússia para tentar chegar a um acordo sobre o programa nuclear. A Arábia Saudita jamais apoiou o diálogo com o Irã – ao contrário, o país árabe faz lobby para que os Estados Unidos resolvam a questão por meios militares, bombardeando as instalações nucleares iranianas para “cortar a cabeça da cobra”. Sem condições de direcionar a política externa dos EUA, a Arábia Saudita trabalha para desestabilizar o Irã. O ímpeto pelo acordo nuclear é comandado por Hassan Rouhani, presidente do Irã. Rouhani trava uma batalha interna com setores linha-dura, contrários ao diálogo com os EUA, e tem vendido a ideia de que a solução para os graves problemas econômicos do país é o acordo nuclear e o fim das sanções impostas por EUA e Europa. Para manter o impulso pelo diálogo, Rouhani precisa de apoio popular e este depende significativamente da situação da economia. Após um acerto provisório com as potências em novembro de 2013, algumas sanções contra o Irã foram aliviadas. Isso facilitou a recuperação econômica do país, marcada pela reversão da recessão e pelo fim da alta da inflação, mas a diminuição do lucro do petróleo provocará um duro impacto nas contas iranianas. Metade das receitas do país é oriunda do setor petrolífero, e Teerã precisaria, segundo o FMI, de um barril cotado a 136 dólares para ter um orçamento balanceado. Com o petróleo vendido perto dos 50 dólares, as dificuldades serão tremendas. Por isso, a partir de março, entrará em vigor no Irã um orçamento bastante austero, com aumento de impostos e redução de subsídios para alimentos e combustível. São medidas impopulares, que podem erodir o apoio a Rouhani e dificultar o diálogo, exatamente o que os sauditas desejam. Os EUA como alvo Além de ver o sofrimento do Irã, a Arábia Saudita espera obter um segundo dividendo político-econômico com a brusca queda do preço do petróleo: testar a resiliência da produção norte-americana do petróleo de folhelho (shale oil, em inglês), uma rocha sedimentar que é explorada por meio

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