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Leitura e capacidade de interpretação

Há uma relação direta entre a habilidade de ler e interpretar um texto e a capacidade de pensar, julgar e agir com verdadeira autonomia. A estrutura da linguagem é a estrutura do pensamento – e a estrutura do pensamento é a estrutura da linguagem. A linguagem não é simplesmente um meio ou uma ferramenta do pensamento: ela é a própria condição para que se possa pensar. * * * A raiz da catástrofe civilizacional brasileira está aí: a cada ano tornam-se mais raros os brasileiros capazes de ler e interpretar adequadamente um texto um pouco mais complexo. A nossa competência hermenêutica decai geração a geração – até o ponto em que muitos jovens de nosso tempo revelam-se simplesmente incapazes de perceber o domínio do discurso indireto, simbólico, plurívoco. * * * A perda da competência hermenêutica é desastrosa: quem não lê bem não consegue raciocinar logicamente, não percebe os pressupostos ocultos dos argumentos, não se protege intelectualmente contra os chavões. Isto é: o mau leitor tem os seus afetos seqüestrados pela propaganda, as suas opiniões direcionadas pela mídia, as suas emoções incendiadas por palavras de ordem. A pessoa alfabetizada, porém iletrada, acredita ser livre: ela compreende o discurso direto contido em frases e parágrafos simples; todavia, dificilmente percebe os campos de sentido nos quais o discurso se assenta – e toma por algo intuitivamente evidente o que não passa de propaganda cuidadosamente elaborada. Assim, a pessoa iletrada age em função de gatilhos lingüísticos sob a forma de chavões, slogans, palavras de ordem, frases de efeito, lacrações, sinalizações de virtude. Esses gatilhos condicionam-lhe a vontade, envenenam-lhe o pensamento e estabelecem limites restritos para o seu julgamento crítico. O problema é que não podemos perceber a nossa própria insuficiência hermenêutica: no campo da interpretação não somos capazes de perceber onde estão as nossas próprias deficiências – porque somente as enxergamos quando por fim as superamos. Sim, é inacreditável, amigos: conheço quem repita palavras de ordem e frases feitas – e de acordo com elas paute as suas ações – sem suspeitar, por um único instante, da sua transmutação num autômato falante, num boneco de ventríloquo cujo discurso, seqüestrado por ideologias, determina o seu juízo e as suas decisões. Quem não sabe ler bem não sabe pensar bem; o seu pensamento acaba por ser estabelecido e orientado por outrem. Um povo iletrado é um povo condenado à servidão – a uma servidão que não se reconhece como tal, a uma servidão tomada como a mais completa liberdade, a uma servidão que se apresenta como uma obrigação da consciência ética. * * * A tarefa mais urgente da civilização brasileira, a meta fundamental de toda a nossa organização educacional, o assunto das mais importantes discussões políticas de nosso tempo, deveria ser o pleno letramento dos brasileiros. Mas a quem intessa que superemos a nossa crise civilizacional? Ou: se cada um de nós não tomar a responsabilidade pela sua própria formação literária, jamais seremos capazes de ler e interpretar os livros e o mundo, de ler e interpretar a História e as nossas circunstâncias – e jamais escaparemos do papel de bobos-alegres do mundo, para sempre jogando futebol sobre as terras mais ricas do planeta.

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Japão – Educação

Hoje o Japão formaliza seu NOVO SISTEMA EDUCACIONAL. O antigo sistema educacional japonês já era muito bom, mas este é tão revolucionário que treina as crianças como “Cidadãos do Mundo”, não como japoneses. Um esquema piloto revolucionário chamado “Brave Change” (Futoji no henko), baseado nos programas educacionais Erasmus, Grundtvig, Monnet, Ashoka e Comenius, está sendo testado no Japão. Trata-se de uma mudança conceitual. Eles entenderão e aceitarão culturas diferentes e seus horizontes serão globais, não nacionais, e o programa de 12 anos é baseado nesses conceitos: – Zero matérias de preenchimento. – Zero lição de casa. – E tem apenas 5 matérias, que são: 1. Aritmética comercial. As operações básicas e o uso de calculadoras financeiras.   2. Leitura. Começam com o livro de escolha de cada criança e terminam com a leitura de um livro por semana.   3. Educação cívica. Isso é entendido como respeito total à lei, valores civis, ética, respeito às regras de convivência e tolerância, altruísmo e respeito à ecologia e ao meio ambiente. 4. Conhecimento de informática. Escritório, Internet, redes sociais e negócios on-line. 5. Idiomas. 4 ou 5 alfabetos, culturas e religiões, incluindo japonês, latim, inglês, alemão, chinês e árabe; com visitas de intercâmbio social às famílias de cada país durante o verão. Qual será o resultado desse programa? Jovens que, aos 18 anos, falam 4 idiomas, conhecem 4 culturas e 4 alfabetos. – São especialistas em usar seus computadores e telefones celulares como ferramentas de trabalho. – Eles leem 52 livros por ano. – Respeitam a lei, a ecologia e a convivência. – Conhecem a aritmética comercial e as finanças por dentro e por fora. Nossos filhos competirão com eles! E quem são nossos filhos? – Crianças que sabem mais do que as fofocas do show business da moda, que sabem e conhecem os nomes e as vidas de artistas famosos, mas nada sobre história, literatura ou matemática, entre outros? – Crianças que só falam mais ou menos português, que têm uma ortografia terrível, que odeiam ler livros, que não sabem fazer contas, que são especialistas em “trapacear” durante as provas e que desrespeitam as regras aos olhos dos pais e educadores. – Crianças que passam mais tempo assistindo e aprendendo as besteiras da Internet, da televisão ou dos jogos e ídolos do “futebol” do que estudando ou lendo, quase sem entender o que leem e, portanto, acreditam que um jogador de futebol é superior a um cientista. – Crianças que são os chamados homo-videos, porque não são socializadas adequadamente, mas são estupidificadas, zumbis. São estupidificados, zumbis do iPhone e Android, tablets, skate, facebook, Instagram, chats; onde só falam das mesmas estupidezes que listamos antes ou com jogos de computador, em um claro isolamento que conhecemos como autismo cibernético e que atenta contra a liberdade, a educação, contra sua autoestima, autonomia, contra o respeito aos pais ou aos outros, contra o meio ambiente, a solidariedade, a cultura, e promove um egoísmo alarmante deixando uma sociedade cega. Acho que temos muito trabalho a fazer.

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Nas escolas, retrato de um país empobrecido

Com crianças sem merenda, férias escolares expõem drama das famílias pobres. Reportagem revela: em SP, pais têm de escolher entre pagar contas ou alimentar os filhos. Desnutrição grave já atinge 207 mil crianças de zero a cinco anos.

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