Arquivo

Drones, jornalismo e os peitos da Kate Midleton

Os peitos de Kate e o futuro do jornalismo: aviões de controle remoto Kate Middleton tem uns peitinhos pequenos, clarinhos, simpáticos. Sem grande personalidade. Não impressionam pela aerodinâmica, volume, coloração ou “empinância”. Kate é uma inglesa jovem, magrinha e atlética. Suas “mamicas” não causariam sensação numa praia qualquer da França, onde o topless é praticamente norma, tanto de mocinhas como de velhinhas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Na Europa, é difícil praia onde não se vê uns peitos de fora, e em algumas os mamilos expostos preponderam. A gente acostuma. Depois de uns 15 minutos, o brasileiro mais tarado já se esqueceu do topless, e está reparando mais é nas partes de baixo, enormes, tampando o traseiro todo. Cadê aquelas bundinhas bronzeadas e torneadas a la carioca? Fora o choque de ver os peitões caídos e cheios de veias das vovós. Como Kate resolveu se casar com o herdeiro do trono da Inglaterra, não faz como boa parte das moças da sua idade. Não faz topless na praia. Mas de férias no sul da França, em companhia do marido, tirou a parte de cima pra curtir o sol e a piscina. William nem tchuns. Imagino que aprecie ver a mulher pelada, mas não é exatamente novidade. Um fotógrafo capturou as imagens a distância. Tentou vender para os jornais ingleses. Se recusaram. Sabiam que vinha bala. Vendeu para uma revistinha francesa. Processo à vista. Vão perder uma fortuna. Kate é figura pública, mas estava em espaço privado. Não tem volta: as fotos caíram na internet. Também não tem importância: amanhã teremos esquecido. Mas a história tem outras implicações. Vai lá ver, depois volta. A revista colocou umas legendas bem temperadas. Tenta elevar a temperatura do conteúdo. Veja as fotos sensuais do príncipe William e Kate! Veja a futura rainha da Inglaterra, como ela nunca mais será vista! Bem, o casal aparece sozinho na piscina. Podiam ter dado uns amassos, ou quem sabe algo mais, por que não? Férias é pra essas coisas… Mas as fotos são totalmente casalzinho, William besuntando a mulher de filtro solar, os dois papeando, erotismo zero. Comentando o caso, o colunista do jornal britânico Telegraph Willard Foxton levanta o principal ponto do caso. Essa não será a última vez que veremos as “peitolas” de Kate, ou as escapadas de Harry, ou outros famosos e poderosos aparecendo como não queriam. Porque todo celular é uma câmera faz tempo. Agora eles são ótimas câmeras, com capacidade de zoom, de controlar a luz e de focar, que antigamente só fotógrafos profissionais tinham à disposição. Ontem mesmo, a Apple mostrou ao mundo o novo iPhone, que vem com uma câmera de oito megapixels. Tem mais, diz o colunista. Tem drones. Sabe o que é? Aviõezinhos de controle remoto, contendo câmeras. Drone journalism: a utilização de drones para captação de fotos, vídeos, dados. Foxton cita o Team Blacksheep, uma equipe de hobbistas americanos, que criaram seus próprios drones em garagens. E o caso do vídeo feito na Polônia por um drone, registrando um quebra-quebra. Olha o bicho pegando em Varsóvia. A conclusão dele: daqui para frente, ninguém está a salvo de ter sua vida registrada, exposta e comercializada. A minha: não há legislação que segure a onda. O texto completo está aqui. Eu vinha procurando uma chance de tocar nesse assunto, e chegou. Drone journalism vem sendo saudado como o futuro do jornalismo por publicações como Wired e Fast Company. O assunto já tem um ano, pelo menos. Já existem ONGs dedicadas ao jornalismo drone. Um centro de drone journalism na Universidade de Nebraska recebeu um prêmio da Knight Foundation, instituição americana dedicada à inovação no jornalismo. Tá pegando. Drone journalism tem uma série de vantagens. Dá para cobrir esportes, shows e tal. Mas também desastres naturais, revoluções, abusos policiais, e muitas outras coisas. Um drone baratinho custa US$ 6 mil dólares, os mais sofisticados dez vezes mais. Os preços estão caindo. Em Moscou, protestos na última eleição de Putin foram registrados por um drone. Os cupinchas do presidente tentaram abater o helicopterozinho a bala, mas não conseguiram. As fotos são incríveis. Dão um peso enorme ao protesto. Drones são ótimos porque permitem a gente comum cobrir o que as grandes empresas de comunicação muitas vezes preferem ignorar, ou manipular. Veja as fotos de Moscou e comprove. Há questões de legislação. Países diferentes têm regras diferentes sobre a utilização de drones, ou nenhuma. Nos EUA, o FAA, órgão público que regulamenta a aviação, tem até 2015 para propor novas regras para seu uso. É certo que os drones serão liberados. Eles têm muitas utilizações potenciais, e não só no jornalismo. Podem ser combinados com GPS. Podem ter algum nível de inteligência artificial. Podem revolucionar a meteorologia, o controle de tráfego, a guerra, a segurança. Também podem servir para a manutenção de um estado policial, ou para desintegrar nossos conceitos de privacidade. Quer comprar um drone? Esses robokopters parecem bem legais. Veja aqui. Os drones vão longe. Até onde? Não faço ideia. Sei que as Kates e todos os famosos e importantes terão que se acostumar com o fato de que não terão mais vida privada. E sei que os drones são poderosos demais para ficar na mão dos poderosos. Os abusos virão. Mas abusos também há na imprensa e na internet, como provam os peitinhos da princesa. E como a imprensa e a internet, os drones dão poder a nós, os plebeus. Viva a revolução! AndreForestier/R7

Leia mais »

Fake News – A mentira como matéria prima

É fácil perceber o desastre resultante da associação entre a incapacidade de distinguir notícia falsa e a proliferação em escala planetária de noticiário mentiroso, criado com a finalidade de alavancar o ganho pessoal dos donos de sites por meio do reforço a convicções ideológicas e/ou religiosas fundamentalistas. Tal fato ocorre de forma vertiginosa e devastadora em toda parte onde chega sinal de internet. A resultante desse coquetel é uma mistura de desinformação, preconceito, intolerância, incompetência para a escolha consciente e incapacidade de autodeterminação. Ou seja, o contrário das bases para o bom funcionamento do sistema democrático.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Pesquisa da Universidade de Stanford, realizada com 7.804 estudantes americanos dos ensinos fundamental, médio e superior, concluiu que é “lamentável” a capacidade dos jovens de processar corretamente informações divulgadas nas redes sociais. Sam Wineburg, que conduziu o estudo, afirmou: “Muita gente acredita que os jovens, bem ambientados nas mídias sociais, têm perspicácia para compreender o que leem. Nosso trabalho mostra que o oposto disso é verdadeiro.” Num dos testes, os estudantes deveriam analisar uma publicação com a foto de uma flor supostamente modificada pela radiação da usina de Fukushima, atingida pelo tsunami de 2011. A publicação não trazia fonte ou indício de que a foto havia sido tirada perto da usina nem evidência de que a flor havia sido modificada pela radiação. Ainda assim, 40% acreditaram na veracidade por achar que havia informação suficiente para lhe dar crédito. Matéria do Washington Post revela que Paris Swade e Danny Gold, donos de um site direitista radical de notícias falsas, orgulham-se – sim, orgulham-se!, sem qualquer sinal de remorso – de praticar “imprensa marrom”. Até os nomes que os dois usam são falsos. Para ganhar caminhões de dinheiro precisam de um laptop e de um sofá para escrever e acompanhar a viralização dos posts. Na última eleição, todos os candidatos republicanos investiram grana preta no site deles. O ex-garçom Paris Swade não diz quanto ganha. Mas admite que teria de ralar cinco anos pilotando uma bandeja para conseguir ganhar o que embolsou em apenas seis meses afagando o ego da extrema-direita com notícias inventadas. Onde de descrédito Em sua primeira “matéria”, inventou que, segundo uma fonte anônima, um cientista da Coreia do Norte fugira do país com dados sobre experiências com humanos. Na falta de uma imagem mais “real”, achou a foto de uma massa de carne e postou: “Coreia do Norte: experimentos em humanos”. Em dez minutos ganhou U$120,00. Nunca mais parou de mentir. Nem de ganhar carradas de dinheiro. Os dois não são religiosos, mas como isso funciona, pedem que Deus abençoe Trump. E tome notícia falsa como: “Segredos que envolvem o nascimento de Obama revelados. Cartas do pai dele revelam algo de sinistro!” O fenômeno é avassalador e se espalha sem qualquer controle ou contraponto. Afinal, a internet é terra de ninguém. Não se sujeita a qualquer regulação. Antes que os arautos da censura se apresentem, é bom deixar claro que é assim que deve continuar! Com a onda de descrédito que assola a imprensa de mercado (por culpa dela própria e pela falsa noção de que é possível substituir informação confiável por memes irresponsáveis da internet), fica fácil concluir que a situação beira perigosamente o abismo. Tanto o estudo de Stanford quanto a matéria do Washington Post se referem ao público norte-americano. Mas o Brasil poderia ter sido o cenário e o resultado seria o mesmo. Ou pior. Se o leitor chegou até aqui, com certeza vai querer deste articulista alguma sugestão de como se pode sair deste imbróglio. A resposta está na ponta da língua, nem precisa esperar: não sei. Por Paulo José Cunha, jornalista e professor

Leia mais »

Grande Mídia: pode-se viver sem ela?

Há controvérsias! Se você se dedicar a um estudo apurado verá que a “grande mídia” replica e amplia o que é notícia/opinião no Twitter, principalmente. Não conto as vezes nas quais esse ninguém, que sou eu, publico coisas no Twitter, e até no FB, que noticiosos das TVs só darão no noticiário noturno.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Colunas de jornais não se dão nem ao trabalho de disfarçarem o Ctrl C/ Ctrl V, inclusive nas colunas do portais da “grande mídia”. Para efeito de pesquisas pessoais, já estive, discretamente, em diversos estúdios de rádios, aqui, alhures – estrangeiros inclusive – e constatei que os noticiaristas trabalham com monitores conectados no Twitter, FB e em determinados blogs. É raro o material internacional que a “grande mídia publique”, que não tenha sido “chupado” de portais como o https://www.rt.com/ e do http://www.breitbart.com/ Esses e outros portais não são “oposição”. Eles não são cooptados pelos mandos dos Bilderbergs e cia. Esse donos da “grande mídia”, por exemplo, determinando para as agências de noticias que controlam – CNN,BBC,AP,CBS,Estado,Globo,NHK,Msnbc, ABC,FoxNews,Bloomberg,FP…e tais – que não sejam divulgadas notícias sobre estupros cometidos por imigrantes na UE. Os dois portais que citei acima, não obedecem essa pauta, e publicam os fatos.

Leia mais »

A fixação dos “Likes” e a sustentabilidade da notícia digital

A solidão deixou de ser problema. Por Taís Teixeira¹ Os relacionamentos afetivos na era das redes sociais mudam a concepção romântica que reduzia a felicidade a uma necessidade intransigente de ter alguém presente o tempo todo. O tempo sozinho passa a ser valorizado e ganha a companhia das redes sociais, que tornam suportável a distância física pelo envolvimento/entretenimento ativo que proporcionam às pessoas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Nesse contexto em vias de transformação contínua, a produção de conteúdo assume uma posição fundamental para atrair esse público, que desenvolve uma relação de intimidade com a sua vida virtual. As fontes de informação são diversificadas e com várias procedências. O jornalista perde parte do seu protagonismo como produtor de conteúdo num ambiente que dá voz e vez a outros formatos, gêneros, linguagens, formações e influências. O universo digital tornou possível o surgimento de novas referências com a ampliação da pluralidade discursiva, o que remete a uma reflexão sobre o posicionamento do jornalismo na polissemia das redes sociais. Outro ponto percebido é a qualidade desse conteúdo, que dá forma a diferentes elaborações oriundas de fontes dispersas. A ação do comando “compartilhar” para esse novo usuário parece ser mais interessante do que conhecer a fonte de informação, o que demonstra uma característica que dispensa ou não atribui relevância à origem que do fato. Dessa forma, frases como “Eu vi no Facebook, alguém compartilhou no Facebook…” começam a fazer parte dos diálogos, o que nos faz pensar sobre o lugar das fontes fidedignas nas redes sociais. Essa conjuntura sistêmica ,que integra as redes sociais e todos que fazem parte dela, dividem um domínio coletivo de conteúdo, onde abastecem, interagem e são fontes, ou seja, ocupam simultaneamente mais um lugar dentro do campo. Observando por essa ótica, o jornalista, a notícia, a qualidade e a credibilidade do que se acessa, como fica? A instantaneidade no fluxo de noticias As mídias e as redes sociais são resultado dos usos e apropriações que foram se configurando na Internet. A tecnologia reverberou e assumiu técnicas de relacionamento, controle de tráfego de informações, métricas para mapear o perfil do consumidor para que marcas possam conhecer melhor o seu cliente. Essas ferramentas são usadas para mensurar ações do marketing digital. Porém, essa aproximação de relacionamento não deve ficar restrita somente às estratégias desse setor. No jornalismo, a evolução da qualidade de conteúdo deve ser proporcional ao avanço de tecnologias para suprir esses novos espaços, o que significa outras possibilidades de desempenho profissional. Com essa nova plataforma de interação do usuário, que permite com que cada um seja o seu próprio editor ,assim como personalize o momento de busca, podendo interromper e retomar a qualquer momento, reforça a individualidade e a instantaneidade como valores possíveis da notícia digital. Talvez esteja nesse atributo a possibilidade de verificar um viés da sustentabilidade da notícia digital, ou seja, a instantaneidade é a base da sustentabilidade da notícia digital, pois ao acionar uma rápida reprodução no fluxo digital torna a instantaneidade um conceito central da notícia digital. Essa conjuntura exige do jornalista uma revisão na sua performance profissional para que possa compreender melhor o ambiente digital, o que as pessoas buscam e como se comportam nessa realidade que é recente. A “explosão” de informações nas redes sociais desencadeia o desejo do compartilhamento dos títulos das notícias, onde muitas vezes, ao abrir o link, percebemos que o conteúdo da matéria não corresponde à chamada. Esse modelo de relação com o conteúdo indica que o usuário nem sempre confere o que compartilha e que a origem do fato perde importância diante do desejo de expressão para o seu grupo. O número de “likes” determina a aprovação de uma experiência ou pensamento individual compartilhado para os amigos da sua rede, o que nos faz pensar que a qualidade do conteúdo, noticioso ou não, no caso, interessa-nos o noticioso, apresenta outros valores que ultrapassam a função de informar com qualidade e credibilidade. Todos querem ter curtidas, querem repercutir o que postam. É a compulsão por “likes”. Este é o momento de o jornalismo repensar sobre como produzir conteúdo de qualidade nas redes sociais para atrair esse consumidor ativo e questionador. O jornalismo perdeu parte do seu protagonismo com as redes sociais e precisa passar por uma reestruturação que evidencie ao usuário a relevância de acessar um conteúdo produzido por jornalistas, resgatando, inclusive, o valor da profissão, que acaba sendo colocado em cheque diante de tanta disponibilidade discursiva. A qualidade e a credibilidade são valores que estão no ethos do jornalismo, mas que parecem estar se esvaziando no ambiente digital. Os jornalistas independentes, assim como as empresas de jornalismo, precisam se autoavaliar e se reposicionar nas redes sociais, onde disputam com novas lideranças e perspectivas. A notícia digital está na forma de postagem. A instantaneidade alicerça a sustentabilidade da notícia digital uma vez que a sua força e velocidade de expansão por um canal, logo após o acontecimento de um fato, destaca essa habilidade da construção noticiosa digital. Mas a instantaneidade isolada é vazia e caminha para a nulidade. A qualidade do conteúdo, da notícia digital é fundamental para manter a instantaneidade como um valor sólido da notícia digital, que não banalize a a maior vantagem, que é, justamente, a capacidade de proliferação. A qualidade e a instantaneidade se cruzam e constroem a dicotomia da sustentabilidade da notícia digital e transformam rapidamente a “alma” desse processo, com novidades e modificações que tentam acompanhar o ritmo da vida nas redes sociais. *** Taís Teixeira é jornalista e com mestrado em Comunicação e Informação

Leia mais »

Trump, a mídia e como manter você dentro da bolha

A grande mídia em geral, e a Globo News em particular, manipularam e distorceram a postagem do Trump no Twitter, em resposta ao falar meloso da atriz “esquerdista de boutique”. Traduzir “flunky” como “amante” é de uma desonestidade intelectual nojenta. O mais primário estudante de inglês, sabe que no texto do Trump ele não chama a atriz de “amante” da Hilária, mas de servil ou com muito esforço de “lacaia”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] É necessário um fenomenal contorcionismo lingüístico para fazer esse tipo grotesco de tradução. A mídia também irrita-se com o Trump, porque em vez de dar entrevistas aos barões da informação, ele usa o Twitter. Então pau no Trumpete.

Leia mais »

Geopolítica da América Latina e grande mídia

Nas últimas décadas a América Latina presenciou uma grande ascensão de governos com tendências políticas à esquerda. Por Francisco Fernandes Ladeira ¹ Embora em escalas diferentes, estes mandatários romperam com alguns paradigmas neoliberais, incrementaram políticas sociais, fomentaram uma maior participação estatal em setores estratégicos da economia e colocaram em prática medidas que visavam a minimizar a histórica concentração dos meios de comunicação de massa no subcontinente. Em 2007, Hugo Chávez não renovou a concessão da RCTV alegando que a emissora, ao privilegiar negócios privados em detrimento de prestar informações de interesse público, não cumpria as funções destinadas aos canais de televisão, conforme o previsto na constituição venezuelana. Durante seu mandato também houve grande incentivo para a criação de rádios comunitárias.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] No primeiro governo de Lula, a maioria das outorgas radiofônicas (63,68%) foi concedida para rádios comunitárias. O ex-presidente também ampliou de 499 para 8.094 o número de veículos que recebem publicidade estatal, diminuindo assim os lucros dos grandes empresários da mídia. Por sua vez, Cristina Kirchner promulgou a chamada Ley de Medios, medida que pregava o fim do monopólio de grandes grupos de comunicação argentinos ao restringir a porcentagem de mercado que poderiam dominar e quantos canais poderiam deter, além de incentivar veículos independentes. Seguindo essa tendência, países como Equador e Uruguai também reformaram suas legislações de comunicação nos últimos anos. Tais mudanças coincidiram com os mandatos de Rafael Correa e Pepe Mujica. No âmbito internacional, esses governos de esquerda privilegiaram as relações diplomáticas e econômicas com seus vizinhos continentais ou com outros países subdesenvolvidos em detrimento das históricas alianças com as nações desenvolvidas, sobretudo os Estados Unidos. Entretanto, conforme o colocado pela professora Margareth Steinberger, a América Latina ainda constrói práticas sócio-informativas a partir de um imaginário colonialista. As informações que as nações do subcontinente recebem sobre os países vizinhos não são geradas diretamente por eles, mas por agências de notícias sediadas nos países desenvolvidos. Diante dessa realidade, governos latino-americanos que tenham posturas contrárias aos interesses das grandes potências mundiais ou representem obstáculos para a expansão capitalista tendem a ser representados de maneira negativa na mídia. No documentário Ao Sul da Fronteira, o cineasta Oliver Stone demonstra como a grande imprensa dos Estados Unidos retrata os governantes de esquerda latino-americanos a partir de visões desrespeitosas e levianas, representando Hugo Chávez e Evo Morales como tiranos que perseguem opositores, apoiam narcotraficantes e concedem abrigo a células de organizações terroristas internacionais. Além do mais, estes veículos de comunicação recorrem constantemente a práticas cômicas para difundir clichês e generalizações que ridicularizam hábitos e costumes das populações da América Latina. De maneira geral, conclui Stone, as maiores redes de notícia estadunidenses seguem as orientações da política externa da Casa Branca e dividem o mundo em “amigos” (líderes que fazem o que os Estados Unidos querem que eles façam) e “inimigos” (líderes que tendem a discordar de Washington). Um espaço público privatizado pela mídia Seguindo essa linha noticiosa, os discursos da imprensa brasileira sobre os governos de esquerda latino-americanos são marcados por palavras de forte carga semântica negativa como “populismo”, “caudilhismo”, “ditadura”, “demagogia” e “assistencialismo”. Desde a primeira eleição de Hugo Chávez para a presidência da Venezuela, em 1998, há uma ostensiva campanha midiática com o objetivo de deturpar a imagem do líder bolivariano. Conforme constatou Angelo Adami em um trabalho de graduação em Comunicação Social, mesmo Chávez sendo eleito e reeleito em eleições democráticas, avalizadas por observadores internacionais, dentro das normas constitucionais e com a garantia de direito a voto para todos os cidadãos maiores de idade indistintamente, a revista Veja construiu a imagem do ex-presidente venezuelano como um ditador que representava grande ameaça para a estabilidade política da América do Sul. Após a deposição parlamentar do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, em junho de 2012, Arnaldo Jabor teceu um comentário extremamente preconceituoso sobre os presidentes latino-americanos com tendências políticas à esquerda. Na fala do articulista da Rede Globo, a Bolívia de Evo Morales é uma “república cocalera”, Lula dava dinheiro para o Paraguai, Cristina Kirchner se destaca por usar botox e o próprio Lugo foi “acusado” de “proteger os sem-terra paraguaios”. Não obstante, a concentração dos meios de comunicação de massa latino-americanos em propriedade de poucos grupos não representa apenas a reprodução de ideologias colonialistas, mas, conforme a história recente tem demonstrado, também consiste em grande ameaça aos preceitos democráticos, pois, em ocasiões pontuais, influentes grupos midiáticos contribuíram ativamente para a deposição de governos com tendências políticas à esquerda. Lembrando as palavras da blogueira Cynara Menezes: “A mídia tem sido o braço pseudo-democrático dos golpes brancos que vêm ocorrendo na América do Sul ao longo da última década. Como não consegue ganhar eleições, a direita se alia aos principais jornais e emissoras de TV e apela a soluções jurídicas, quando não diretamente para a força bruta, para chegar ao poder.” Portanto, como nosso imaginário social latino-americano tornou-se um espaço público privatizado pela mídia, articulado a partir das categorias da linguagem jornalística, um novo espaço de resistência subcontinental depende, intrinsecamente, de um esforço coletivo para “desmidiatizar o pensamento”. Para isso, torna-se necessário solapar qualquer forma de “coronelismo midiático” e promover uma completa democratização dos meios de comunicação de massa para permitir que os diferentes setores sociais da América Latina construam representações sociais próprias e tenham voz para divulgar suas demandas e reivindicações. Uma democracia verdadeira requer, sobretudo, uma mídia que não seja mera reprodutora do status quo, mas que contemple a grande pluralidade de espectros ideológicos. ¹Francisco Fernandes Ladeira é mestrando em Geografia

Leia mais »

Tecnologia e Mídia Digital: Será que a verdade ainda importa?

Numa manhã de segunda-feira de setembro do ano passado, a Grã-Bretanha acordou com uma notícia depravada. Ilustração de Sebastien Thimbault/The Guardian O foco deste texto é a política inglesa, mas trocando personagens e situações bem que poderia ser o Brasil. * O primeiro-ministro, David Cameron, havia cometido um “ato obsceno com a cabeça de um porco morto”, segundo o jornal Daily Mail. Um famoso contemporâneo seu na Universidade de Oxford afirma que Cameron participou de uma revoltante cerimônia de iniciação, num evento da Piers Gaveston, envolvendo um porco morto. Piers Gaveston é o nome de um turbulenta sociedade estudantil que promove jantares; segundo os autores da matéria, sua fonte foi um atual parlamentar que disse ter visto provas fotográficas: “Sua extraordinária sugestão é a de que o futuro primeiro-ministro teria introduzido uma parte privada de sua anatomia no animal.”[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A matéria, extraída de uma nova biografia de David Cameron, deflagrou um delírio imediato. Era asqueroso, era uma grande oportunidade de humilhar um primeiro-ministro elitista e muita gente achou que era verdade por ser Cameron um ex-sócio do infame Bullingdon Club, também elitista. Em poucos minutos, as hashtags #Piggate e #Hameron disparavam no Twitter e até Nicola Sturgeon [atual primeira-ministra escocesa] disse que as acusações estavam “divertindo o país inteiro”, enquanto Paddy Ashdown [político e ex-diplomata] brincou dizendo que Cameron estava “monopolizando as manchetes”. Inicialmente, a BBC recusou-se a mencionar as acusações e a residência do primeiro-ministro informou que não iria “dignificar” a matéria dando uma resposta – mas pouco tempo depois teve que divulgar um desmentido. Portanto, um homem poderoso foi sexualmente desonrado, de uma forma que nada tinha a ver com suas ideias políticas e de uma maneira à qual ele nunca poderia responder. E daí? Ele tinha que aguentar. Depois, após um dia inteiro de alegria online, aconteceu algo espantoso. Isabel Oakeshott, a jornalista do Daily Mail coautora da biografia com Lord Ashcroft, um empresário bilionário, foi à televisão e reconheceu que nem sabia se aquele enorme e escandaloso furo era verdadeiro. Ao responder a pressões para fornecer provas da denúncia assombrosa, Isabel Oakeshott reconheceu que não tinha nenhuma. “Não conseguimos chegar ao fundo das denúncias daquela fonte”, disse ela no programa Channel 4 News. “Portanto, nos limitamos a divulgar a descrição que a fonte nos deu… Não dissemos que acreditamos que seja verdade.” Em outras palavras, não havia provas de que o primeiro-ministro do Reino Unido tivesse, no passado, “introduzido uma parte privada de sua anatomia” na boca de um porco morto – uma matéria que foi divulgada em dúzias de jornais e repetida em milhões de tweets e atualizações no Facebook e que provavelmente até hoje muitas pessoas acreditam ser verdadeira. Isabel Oakeshott até foi mais longe ao tentar livrar-se de qualquer responsabilidade jornalística: “Cabe a outras pessoas decidirem se dão ou não credibilidade à história”, concluiu ela. É claro que esta não foi a primeira vez que denúncias extravagantes foram publicadas com base em provas frágeis, mas a defesa foi extraordinariamente desavergonhada. Parecia que os jornalistas já não tinham que acreditar que suas matérias fossem verdadeiras e, aparentemente, não tivessem que fornecer provas. Ao invés disso, a decisão caberia ao leitor – que nem sabe a identidade da fonte. Mas, com base em quê? Instinto visceral, intuição, disposição? A campanha contra os imigrantes Será que a verdade ainda importa? Nove meses depois de ter acordado dando risadinhas sobre hipotéticas intimidades de David Cameron com um porco, a Grã-Bretanha levantou-se, às 8 horas da manhã de 24 de junho, com a imagem muito concreta do primeiro-ministro, em frente à sua residência oficial, anunciando sua renúncia. “A população britânica votou pela saída da União Europeia e sua vontade deve ser respeitada”, declarou Cameron. “Não foi uma decisão tomada de maneira leviana. Muitas coisas foram ditas, por muitas e distintas organizações, sobre o significado desta decisão. Portanto, não devem haver dúvidas sobre o resultado.” Mas o que logo se tornaria claro é que dúvidas eram o que não faltava. Ao final de uma campanha que dominou o noticiário durante meses, subitamente era óbvio que o lado vencedor não tinha projeto algum para como e quando o Reino Unido sairia da UE – enquanto as falsas denúncias que levaram a campanha pela saída da UE a ser vitoriosa desmoronavam. Às 6:31 da manhã de 24 de junho, pouco mais de uma hora depois que o resultado do referendo se tornou conhecido, o líder do Partido Independente (Ukip), Nigel Farage, reconheceu que um Reino Unido pós-Brexit não teria 350 milhões de libras [R$ 1,5 bilhão] por semana para aplicar no National Health Service [o equivalente ao INSS] – uma denúncia-chave dos que propunham a saída da UE e que, inclusive, estava inscrita no ônibus da campanha. Algumas horas mais tarde, Daniel Hannan, político do Partido Conservador, declarou que o fluxo de imigração provavelmente não seria reduzido – outra denúncia-chave. É claro que não foi a primeira vez que políticos faltaram às promessas que haviam feito, mas talvez tenha sido a primeira vez que na manhã seguinte à vitória reconheceram que as promessas sempre haviam sido falsas. Esta foi a primeira eleição importante na era da política pós-verdade:a apática campanha a favor de ficar na UE tentou contrapor fatos às fantasias, mas logo percebeu que a circulação do fato havia sido profundamente falsificada. Os fatos inquietantes dos que defendiam ficar na UE e os especialistas preocupados foram descartados como “Projeto Medo” – e rapidamente neutralizados por “fatos” opostos: se 99 especialistas diziam que a economia iria desmoronar e alguém discordava, a BBC dizia-nos que cada lado tinha uma visão diferente da situação. (Este é um erro catastrófico que acaba ocultando a verdade e reflete como algumas pessoas divulgam as mudanças climáticas.) Michael Gove declarou no programa Sky News que “as pessoas deste país já se cansaram de especialistas”.Também comparou 10 economistas vencedores do Prêmio Nobel que assinaram uma carta aberta contra a saída da UE aos cientistas nazistas fiéis a Hitler. Durante meses, a imprensa eurocética

Leia mais »

10 estratégias de manipulação em massa utilizadas diariamente contra você

Quanto mais disperso o ratinho, mais facilmente cai na ratoeira. Noam Chomsky é um linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito acadêmico como “o pai da linguística moderna“, também é uma das mais renomadas figuras no campo da filosofia analítica. “Em um estado totalitário não se importa com o que as pessoas pensam, desde que o governo possa controlá-la pela força usando cassetetes.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Mas quando você não pode controlar as pessoas pela força, você tem que controlar o que as pessoas pensam, e a maneira típica de fazer isso é através da propaganda (fabricação de consentimento, criação de ilusões necessárias), marginalizando o público em geral ou reduzindo-a a alguma forma de apatia” (Chomsky, N., 1993) Inspirado nas idéias de Noam Chomsky, o francês Sylvain Timsit elaborou a lista das “10 estratégias mais comuns de manipulação em massa através dos meios de comunicação de massa“ Sylvain Timsit elenca estratégias utilizadas diariamente há dezenas de anos paramanobrar massas, criar um senso comum e conseguir fazer a população agir conforme interesses de uma pequena elite mundial. Qualquer semelhança com a situação atual do Brasil não é mera coincidência, os grandes meios de comunicação sempre estiveram alinhados com essas elites e praticamincansavelmente várias dessas estratégias para manipular diariamente as massas, até chegar um momento que você realmente crê que o pensamento é seu. 1. A Estratégia da Distração O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio, ou inundação de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir o público de interessar-se por conhecimentos essenciais, nas áreas da ciência, economia, psicologia, neurobiologia e cibernética. Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais. 2. Criar problemas e depois oferecer soluções Este método também é chamado “problema-reação-solução“. Se cria um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja aceitar. Por exemplo: Deixar que se desenvolva ou que se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas desfavoráveis à liberdade. Ou também: Criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos. (qualquer semelhança com a atual situação do Brasil não é mera coincidência). 3. A estratégia da gradualidade Para fazer que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradualmente, a conta-gotas, por anos consecutivos. Foi dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas, neoliberalismo por exemplo, foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990. Estratégia também utilizada por Hitler e por vários líderes comunistas.  E comumente utilizada pelas grandes meios de comunicação. 4. A estratégia de diferir Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como “dolorosa e necessária“, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Depois, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “amanhã tudo irá melhorar” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegue o momento. 5. Dirigir-se ao público como crianças A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse uma criança de pouca idade ou um deficiente mental. Quanto mais se tenta enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se alguém se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como as de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade.” 6. Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e finalmente no sentido crítico dos indivíduos. Por outro lado, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou injetar ideias, desejos, medos e temores, compulsões ou induzir comportamentos. 7. Manter o público na ignorância e na mediocridade Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores e as classes sociais superiores seja e permaneça impossível de ser revertida por estas classes mais baixas. 8. Estimular o público a ser complacente com a mediocridade Promover ao público a crer que é moda o ato de ser estúpido, vulgar e inculto. Introduzir a idéia de que quem argumenta demais e pensa demais é chato e mau humorado, que lhe falta humor de sorrir das mazelas da vida. Assim as pessoas vivem superficialmente, sem se aprofundar em nada e sempre ter uma piadinha para se safar do aprofundamento necessário a questões maiores. A idéia é tornar qualquer aprofundamento como sendo desnecessário. Pois qualqueraprofundamento sério e lúcido sobre um assunto pode derrubar sistemas criados para enganar a multidão. 9. Reforçar a auto-culpabilidade Fazer com que o indivíduo acredite que somente ele é culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, no lugar de se rebelar contra o sistema econômico, o indivíduo se auto desvaloriza e se culpa, o que gera

Leia mais »