A solidão deixou de ser problema.
Por Taís Teixeira¹
Os relacionamentos afetivos na era das redes sociais mudam a concepção romântica que reduzia a felicidade a uma necessidade intransigente de ter alguém presente o tempo todo. O tempo sozinho passa a ser valorizado e ganha a companhia das redes sociais, que tornam suportável a distância física pelo envolvimento/entretenimento ativo que proporcionam às pessoas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]
Nesse contexto em vias de transformação contínua, a produção de conteúdo assume uma posição fundamental para atrair esse público, que desenvolve uma relação de intimidade com a sua vida virtual. As fontes de informação são diversificadas e com várias procedências. O jornalista perde parte do seu protagonismo como produtor de conteúdo num ambiente que dá voz e vez a outros formatos, gêneros, linguagens, formações e influências.
O universo digital tornou possível o surgimento de novas referências com a ampliação da pluralidade discursiva, o que remete a uma reflexão sobre o posicionamento do jornalismo na polissemia das redes sociais. Outro ponto percebido é a qualidade desse conteúdo, que dá forma a diferentes elaborações oriundas de fontes dispersas. A ação do comando “compartilhar” para esse novo usuário parece ser mais interessante do que conhecer a fonte de informação, o que demonstra uma característica que dispensa ou não atribui relevância à origem que do fato.
Dessa forma, frases como “Eu vi no Facebook, alguém compartilhou no Facebook…” começam a fazer parte dos diálogos, o que nos faz pensar sobre o lugar das fontes fidedignas nas redes sociais. Essa conjuntura sistêmica ,que integra as redes sociais e todos que fazem parte dela, dividem um domínio coletivo de conteúdo, onde abastecem, interagem e são fontes, ou seja, ocupam simultaneamente mais um lugar dentro do campo. Observando por essa ótica, o jornalista, a notícia, a qualidade e a credibilidade do que se acessa, como fica?
A instantaneidade no fluxo de noticias
As mídias e as redes sociais são resultado dos usos e apropriações que foram se configurando na Internet. A tecnologia reverberou e assumiu técnicas de relacionamento, controle de tráfego de informações, métricas para mapear o perfil do consumidor para que marcas possam conhecer melhor o seu cliente. Essas ferramentas são usadas para mensurar ações do marketing digital. Porém, essa aproximação de relacionamento não deve ficar restrita somente às estratégias desse setor.
No jornalismo, a evolução da qualidade de conteúdo deve ser proporcional ao avanço de tecnologias para suprir esses novos espaços, o que significa outras possibilidades de desempenho profissional. Com essa nova plataforma de interação do usuário, que permite com que cada um seja o seu próprio editor ,assim como personalize o momento de busca, podendo interromper e retomar a qualquer momento, reforça a individualidade e a instantaneidade como valores possíveis da notícia digital.
Talvez esteja nesse atributo a possibilidade de verificar um viés da sustentabilidade da notícia digital, ou seja, a instantaneidade é a base da sustentabilidade da notícia digital, pois ao acionar uma rápida reprodução no fluxo digital torna a instantaneidade um conceito central da notícia digital.
Essa conjuntura exige do jornalista uma revisão na sua performance profissional para que possa compreender melhor o ambiente digital, o que as pessoas buscam e como se comportam nessa realidade que é recente. A “explosão” de informações nas redes sociais desencadeia o desejo do compartilhamento dos títulos das notícias, onde muitas vezes, ao abrir o link, percebemos que o conteúdo da matéria não corresponde à chamada.
Esse modelo de relação com o conteúdo indica que o usuário nem sempre confere o que compartilha e que a origem do fato perde importância diante do desejo de expressão para o seu grupo. O número de “likes” determina a aprovação de uma experiência ou pensamento individual compartilhado para os amigos da sua rede, o que nos faz pensar que a qualidade do conteúdo, noticioso ou não, no caso, interessa-nos o noticioso, apresenta outros valores que ultrapassam a função de informar com qualidade e credibilidade. Todos querem ter curtidas, querem repercutir o que postam. É a compulsão por “likes”.
Este é o momento de o jornalismo repensar sobre como produzir conteúdo de qualidade nas redes sociais para atrair esse consumidor ativo e questionador. O jornalismo perdeu parte do seu protagonismo com as redes sociais e precisa passar por uma reestruturação que evidencie ao usuário a relevância de acessar um conteúdo produzido por jornalistas, resgatando, inclusive, o valor da profissão, que acaba sendo colocado em cheque diante de tanta disponibilidade discursiva.
A qualidade e a credibilidade são valores que estão no ethos do jornalismo, mas que parecem estar se esvaziando no ambiente digital. Os jornalistas independentes, assim como as empresas de jornalismo, precisam se autoavaliar e se reposicionar nas redes sociais, onde disputam com novas lideranças e perspectivas.
A notícia digital está na forma de postagem. A instantaneidade alicerça a sustentabilidade da notícia digital uma vez que a sua força e velocidade de expansão por um canal, logo após o acontecimento de um fato, destaca essa habilidade da construção noticiosa digital. Mas a instantaneidade isolada é vazia e caminha para a nulidade.
A qualidade do conteúdo, da notícia digital é fundamental para manter a instantaneidade como um valor sólido da notícia digital, que não banalize a a maior vantagem, que é, justamente, a capacidade de proliferação. A qualidade e a instantaneidade se cruzam e constroem a dicotomia da sustentabilidade da notícia digital e transformam rapidamente a “alma” desse processo, com novidades e modificações que tentam acompanhar o ritmo da vida nas redes sociais.
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Taís Teixeira é jornalista e com mestrado em Comunicação e Informação