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Por que impeachment pode ser ‘bênção disfarçada’ para PT

O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, um capítulo amargo na história do Partido dos Trabalhadores depois de 13 anos no poder, poderia servir como uma espécie de “bênção disfarçada” para a legenda. Para filósofo, ‘estrago para o PT seria muito maior sem o impeachment, pois correria o risco de ficar infinitamente mais impopular permanecendo no poder em meio a um cenário de crise econômica’ – Image copyright AFP Especialistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que a percepção de que o processo tem contradições, em especial a presença do polêmico presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, no comando da votação autorizando o início do processo de impeachment, oferece ao PT a chance de explorar uma imagem de “vítima” – ainda que condicionada a um arrefecimento da Operação Lava Jato nas investigações de denúncias envolvendo o partido e de acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O impeachment acaba sendo o resultado mais confortável para o PT. Tira Dilma de cena e praticamente coloca Lula em campanha, reforçado pela imagem de que houve abusos no processo”, acredita Rodrigo Nunes, professor de filosofia política da PUC-Rio. “O partido, claro, tem problemas, incluindo possíveis dissidências. Mas o estrago para o PT seria muito maior sem o impeachment, pois correria o risco de ficar infinitamente mais impopular permanecendo no poder em meio a um cenário de crise econômica.” Autocrítica A ideia de que um governo Michel Temer também terá problemas de popularidade, a começar pelas pesquisas mostrando rejeição ao vice de Dilma, passando pela provável adoção de medidas impopulares para tentar estabilizar a econômica, também reforça o argumento de que a volta brusca à oposição poderá ser benéfica para o PT. Eventual retorno ‘brusco’ à oposição daria tempo ao partido para eleições municipais – Image copyright Reuters “Possivelmente, é melhor para o PT virar oposição agora”, diz a jornalista britânica Jan Rocha, autora de uma “biografia” do partido em inglês. “O PMDB vai ter dificuldades para governar, até porque também tem rejeição popular.” “As pessoas se sentem traídas pelo PT, mas não estão se bandeando para o PMDB. Isso não quer dizer que o PT não tenha um enorme desafio pela frente, é preciso que isso fique bem claro, mesmo agora que pesquisas mostrem Lula liderando intenções de voto para 2018.” Embora o PT hoje corra o risco de uma derrota eleitoral contundente nas eleições municipais, analistas acreditam que o partido ganhou tempo para tentar fazer o que Alfredo Saad-Filho, professor do Departamento de Estudos em Desenvolvimento da Universidade de Londres, chama de autocrítica. “O impeachment tira pressões do PT e é uma possibilidade bastante plausível que a liderança do partido buscará o discurso de que o PT sofreu uma injustiça. Porém, como parte do processo de rearticulação de sua base de apoio, é muito mais sólido que o partido avalie o que deu errado em sua administração. Se o PT não fizer isso, corre o risco de perder sua relevância.” Especialistas acham que ex-presidente ainda exerce grande influência sobre PT, mas não são unânimes em avaliar se isso é bom ou ruim para o partido. Image copyright AFP Fator Lula E como fica o fator Lula no processo de reorganização do partido? Os especialistas concordam que o ex-presidente ainda exerce grande influência sobre o PT, mas não são unânimes em avaliar se isso é bom ou ruim para o partido. Para Jan Rocha, Lula “é valioso para o PT e é inteligente. Ele pode se reinventar, e as pesquisas mostram que mesmo as acusações contra ele não o impediram de voltar a ser uma figura nacional”. “O partido não pode ignorar isso, mas é preciso fazer algo mais do que se colocar no papel de vítima. Será necessária uma mensagem positiva.” Saad-Filho vê Lula como a maior liderança política no Brasil, mas também como um problema para o PT. “No que diz respeito ao surgimento de outras lideranças no partido, Lula foi desastroso, porque hoje não tem substituto.” “Ele não está ficando mais jovem e, mesmo que volte à presidência, não pode esperar que tenha o mesmo sucesso (do primeiro mandato). A longo prazo, a presença de Lula é limitante tanto para o PT quando para a esquerda brasileira”. Já Rodrigo Nunes vê em Lula uma chance de sobrevida para o partido: “É possível que a legenda sobreviva como algo sustentado pelo carisma de Lula e inspirado pelo imaginário varguista”, explica o professor, referindo-se à volta de Getúlio Vargas à Presidência, em 1951, após ter sido deposto em 1945. Fernando Duarte/BBC Brasil em Londres

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Brasil não tem oposição coesa para aproveitar fraqueza de Dilma, diz filósofo

Com todos os acontecimentos ocorridos na última semana, as condições para o impeachment da presidente Dilma Rousseff se ampliam. Porém, não há uma oposição coesa que possa se aproveitar desse momento de fraqueza do PT e do governo. Para filósofo, Dilma está em um momento de grande fraqueza Image copyright AP Essa é a opinião do professor de ética e filosofia da Unicamp Roberto Romano, especialista em política. Doutor em filosofia pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, de Paris, e pós-doutor pela Unicamp, Romano vê a ação realizada pela Polícia Federal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como resultado do “imenso ego” do líder petista. Segundo ele, o que é preciso temer agora é o risco de acirramento das disputas nas ruas. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] BBC Brasil – Como o senhor avalia a sexta-feira? Roberto Romano – Foi certamente um dia inédito. Mas não foi um dia histórico. Quando muito, foi histérico. O que vimos foi o caminhar de uma ação institucional contra um líder importantíssimo. Um ex-presidente que saiu do poder com 80% de aprovação popular. Lula foi levado coercitivamente para depor na última sexta-feira. Image copyright AFP BBC Brasil – Na opinião do senhor, a ação foi exagerada? Roberto Romano – Não. Mas houve uma aceleração de um processo que poderia ser feito com mais tranquilidade. BBC Brasil – E ao que se deve essa aceleração? Roberto Romano – Houve uma situação de um ego enorme do presidente Lula, que se sentiu desrespeitado por ter sido convocado para depor e foi desafiando as instituições. Mas ainda é preciso investigar o grau das provas que vão integrar o processo. O que vimos hoje foi mais um resultado desse imenso ego. BBC Brasil – O como Lula sai depois da condução coercitiva para depor? Roberto Romano – Lula sai muito enfraquecido. É claro que ele segue sendo uma liderança importantíssima. Mas é alguém que chegou a 80% de aprovação e hoje está no cenário em que está (20% da intenção de votos e 49% de rejeição, segundo pesquisa do Datafolha divulgada em fevereiro). Com esse episódio, vai perder ainda mais popularidade. Além da casa do ex-presidente, PF também fez operação em locais como o Instituto Lula – Image copyright Reuters BBC Brasil – E qual o impacto no Partido dos Trabalhadores? Roberto Romano – O PT está pagando por um de seus maiores erros. Não podemos esquecer que o maior problema aqui é o relacionamento simbiótico entre Lula e o partido. Esse foi um erro estratégico do PT, porque as lideranças regionais foram podadas. Se hoje essas lideranças existissem, que fossem quatro ou cinco pessoas, Lula estaria numa situação mais confortável. Mas ele está sozinho. Outro erro foi o PT se distanciar da sua base e abandonar a militância, dando preferência as alianças políticas. Se quiser retomar o seu ímpeto político, o PT precisa rememorar sua história e retomar isso. BBC Brasil – Com os desdobramentos desta sexta-feira, como ficam as chances de impeachment da presidente Dilma Rousseff? Roberto Romano – Agora (com a condução coerciva de Lula), as condições para o impeachment se ampliam. Mas é preciso lembrar que o Brasil não tem uma oposição coesa, capaz de fazer frente ao governo, para aproveitar esse momento de fraqueza da presidente. O que temos hoje são vários líderes oposicionistas, mas cada um com um interesse próprio. O PMDB teria essa capacidade de coesão em momentos de crise, mas para isso precisaria passar por uma acomodação interna. Leia também: Cunha vira réu no STF: o que deve acontecer agora? Filósofo teme acirramento da disputa nas ruas – Image copyright Reuters BBC Brasil – No cenário atual, há riscos de radicalização? Roberto Romano – Eu não acredito em “venezuelização” do país, até porque o PT não tem o controle total do Estado e nem uma grande hegemonia, como os chavistas. Mas tenho receio do que pode acontecer em termos de protestos e enfrentamentos de rua, já que não temos um sistema nacional de segurança eficiente. Com a polícia truculenta que temos, o que pode acontecer na Avenida Paulista com milhares de lulistas e oposicionistas? Não há como descartar a possibilidade de violência e até mortes. Vivemos em um país em que não há governabilidade. BBC Brasil – Como assim? Roberto Romano – Estamos vivendo uma crise do Estado brasileiro. Porque o nosso Estado segue moldes do século 19. É claro que temos crises semelhantes em muitos outros países. Mas a máquina do Estado brasileiro é totalmente ultrapassada, com privilégios de foro e outros fatores que só acontecem no Brasil. Mariana Della Barba/BBC

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Eleições 2018 – Bandeira de Mello: “Lula vai ganhar a próxima eleição”

Para jurista, condução coercitiva de ex-presidente foi absurda e ilegal. Para ele, o mandado foi absurdo, ilegal, e correspondeu a uma tentativa de ferir a imagem de Lula. No entanto, o episódio o fortalece, garante o jurista. O jurista Celso Antônio Bandeira de Mello, em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil, criticou a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada na última sexta-feira (4), pela 24ª fase da Operação Lava Jato. “O tiro saiu pela culatra. Quiseram humilhar o Lula e não conseguiram. Ele vai percorrer o país, intensificar a militância política, e ganhar a próxima eleição. Ou eles conseguem impedi-lo de se candidatar ou ele ganha a eleição”, afirma Bandeira de Mello. Ele aponta a ilegalidade na condução coercitiva do ex-presidente: “Você levar uma pessoa sob condução forçada, que não se recusou a depor, é uma injuridicidade. As pessoas responsáveis por isso mereceriam uma punição exemplar, ser excluídos da magistratura”, cobra.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Para o jurista, “Lula sempre foi condescendente com os adversários”, nunca retaliando ninguém. “Acho que se ele continuar leniente em relação aos adversários ele vai se dar mal. Ele deve tomar as atitudes que já deveria ter tomado há muito tempo”. Bandeira de Mello criticou ainda a imprensa brasileira, monopolizada em sua opinião: “Não há liberdade de imprensa. Não existe liberdade de imprensa se quatro ou cinco empresas dominam a informação pública. Não há uma expressão da verdade, mas de interesse. Deve-se disciplinar as empresas deste setor, regulamentando-as. Alguém que tem jornal não deve ter televisão”. O jurista diz não entender como “o governo financia os que atacam a ele”. “Por que financiar os adversários? Se deixar de financiar vão à míngua e morrem”, referindo-se a grandes veículos de comunicação. Thomas  Badofszky/Jornal do Brasil

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Odebrecht, Lula e uma campanha de US$ 50 mi: as peças do ‘quebra-cabeça’ de João Santana em Angola

O depoimento à Polícia Federal (PF) da publicitária Mônica Moura – mulher e sócia de João Santana, principal marqueteiro do PT – voltou a pôr em evidência a atuação do casal na campanha à reeleição do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, em 2012 e os laços do publicitário com a construtora Odebrecht. Moura disse à PF na quinta-feira que a campanha em Angola custou US$ 50 milhões. Detida com Santana na terça-feira na Operação Lava Jato – que investiga denúncias de corrupção envolvendo políticos, construtoras e a Petrobras -, Moura disse à PF na quinta-feira que a campanha em Angola custou US$ 50 milhões, dos quais US$ 20 milhões teriam sido recebidos por “contratos de gaveta”, não declarados.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Segundo Moura, os US$ 50 milhões englobavam uma pré-campanha, a campanha e uma consultoria para os pronunciamentos do presidente angolano, no poder desde 1979. Odebrecht está presente em cinco dos seis países onde Santana trabalhou como marqueteiro – Image copyright Reuters Santana, que também depôs nesta quinta-feira, confirmou ter recebido US$ 50 milhões pela campanha em Angola e atribuiu o valor ao “custo extremamente alto do país”, causados por problemas de infraestrutura e riscos envolvendo “conflitos étnicos”, entre outros fatores. Pelo câmbio de 2012, a eleição em Angola rendeu cerca de R$ 100 milhões a Santana. No Brasil, país sete vezes maior que Angola, o publicitário recebeu R$ 70 milhões pela campanha à reeleição de Dilma Rousseff, segundo assessores do PT. Santana levou a Angola uma equipe com cerca de 75 brasileiros, muitos dos quais permaneceram no país por ao menos seis meses. A equipe se hospedou em dois dos hotéis mais caros da capital, Luanda – o HCTA (à época com diárias de US$ 575 para quartos individuais) e o Alvalade (US$ 407) -, e usou aviões em várias viagens pelo interior do país. O valor que agora Santana diz ter recebido pelos serviços em Angola difere do que ele apresentou em maio de 2015, quando a Lava Jato investigava se ele havia transferido US$ 16 milhões do país para o Brasil para quitar dívidas de campanha do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), em 2012. Santana levou a Angola uma equipe com cerca de 75 brasileiros Na época, Santana afirmou que a campanha em Angola havia custado US$ 20 milhões e que ele pagara US$ 6,29 milhões em impostos para enviar o dinheiro legalmente ao Brasil. O publicitário negou que o dinheiro tenha sido usado na campanha de Haddad. No depoimento na quinta, Moura disse acreditar que o casal tenha recebido no exterior entre US$ 3 milhões e US$ 4 milhões da Odebrecht por campanhas realizadas fora do Brasil. A Odebrecht tem presença expressiva em cinco dos seis países onde Santana já trabalhou como marqueteiro: Argentina, Venezuela, República Dominicana, Panamá e Angola. Em Angola, a companhia é a maior empregadora privada do país, com negócios nos setores de supermercados, construção civil, agronegócio e diamantes, entre outros. Em 2012, ao fazer uma reportagem em Angola sobre a participação de João Santana na eleição local, a BBC Brasil ouviu de pessoas próximas à cúpula do MPLA, o partido do presidente angolano, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi decisivo para a sua escolha como chefe da campanha. Lula esteve no país em junho de 2011, quando se reuniu no mesmo dia com o presidente angolano e com o então presidente da Odebrecht, Emílio Odebrecht. Naquela viagem, paga pela Odebrecht, Lula ainda visitou uma obra da empresa e discursou a parlamentares e estudantes. Em nota à BBC Brasil, o Instituto Lula afirmou que “o ex-presidente Lula não intermedeia contratações”. Pagamentos de lobista Mônica Moura confirmou ter recebido US$ 4,5 milhões do engenheiro Zwi Skornicki No depoimento de quinta, Mônica Moura confirmou ter recebido US$ 4,5 milhões do engenheiro Zwi Skornicki, que teria lhe sido indicado por “uma mulher responsável pela área financeira da campanha presidencial de Angola”, não nomeada. Skornicki foi preso preventivamente na segunda-feira, acusado de envolvimento nos desvios na Petrobras. Moura afirmou ainda que a campanha de Santana pela reeleição de Hugo Chávez na Venezuela em 2012 custou cerca de US$ 35 milhões e que grande parte do valor não foi declarada. Ela disse que, ao enfrentar dificuldades para receber pagamentos pela campanha, foi orientada a procurar o então executivo da Odebrecht Fernando Migliaccio, que teria lhe ajudado a solucionar o problema. Em nota, a Odebrecht disse desconhecer “as tratativas mencionadas por Mônica Moura e João Santana em seus depoimentos”. Em seu depoimento, Santana negou ter qualquer relação comercial com a empresa e disse que Moura é quem cuida da contabilidade da agência. Ele disse ter estado com o presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, uma só vez num “evento social”, e que no exterior só teve contato com funcionários da empresa para o “acesso a obras e apoio logístico”. A BBC Brasil questionou à Odebrecht se a empresa teve algum envolvimento com as campanhas de Santana no exterior, mas a empresa não respondeu. A BBC Brasil questionou os advogados de João Santana e Mônica Moura sobre a participação da Odebrecht e do ex-presidente Lula em negociações sobre campanhas no exterior, mas não obteve resposta. O MPLA tampouco respondeu perguntas sobre o processo de escolha do marqueteiro, mas afirmou que “Angola não tem nenhum problema com o senhor João Santana”. João Fellet/BBC Brasil

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Impeachment levaria um ano e meio, quase todo mandato de Dilma

Conversar com o historiador e cientista político Luiz Felipe de Alencastro é entender um pouco mais o Brasil a partir de uma perspectiva exterior. Luiz Filipe de Alencastro, professor da FGV e emérito da Sorbonne. Conversar com o historiador e cientista político Luiz Felipe de Alencastro é entender um pouco mais o Brasil a partir de uma perspectiva exterior. Ele avalia a ascensão e o declínio do país no cenário internacional nos últimos anos e propõe comparações entre as crises daqui e da Europa. Professor emérito da Universidade de Paris Sorbonne, o historiador fez praticamente toda sua carreira na França, para onde mudou-se ainda durante a ditadura militar brasileira. Hoje dá aulas na Faculdade Getúlio Vargas, em São Paulo, e ainda orienta doutorandos da Sorbonne. Com uma formação ampla, aborda temas da história brasileira até política econômica e internacional. Em entrevista ao EL PAÍS reflete sobre o Brasil e o cenário político atual. Pergunta. O Brasil começou a década como um dos atores que mais atraíam atenção no cenário global, essa impressão era um exagero? Resposta. Eu passei muito tempo fora do Brasil, sou de uma época em que presidente brasileiro no exterior era vaiado. Não à toa, eram os militares. A situação externa brasileira só foi melhorar com o FHC, mas só mudou com o Lula. A nomeação de José Graziano na direção da FAO[Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura] e de Roberto Azevêdo na direção da OMC[Organização Mundial do Comércio] são exemplos claros da política externa exitosa dos anos Lula. A diplomacia brasileira passou a ter um papel muito significativo, o ministro Celso Amorim teve um papel importante no G20, em várias outras iniciativas de política internacional e expandiu os horizontes do Brasil no mundo. Hoje, temos mais embaixadas na África do que na América Latina, o que acabou sendo fundamental para a eleição de Azevêdo, que, apoiado pelas delegações africanas, venceu o candidato mexicano apoiado pelos EUA. Desse ponto de vista, a empolgação dentro e fora do Brasil não era uma ficção. Aquela capa da The Economist, em que o Cristo Redentor aparecia sendo lançado como um foguete, era um exagero do ponto de vista econômico, mas não do geopolítico. P. E o que fez o país perder essa relevância? Só as crises econômicas e políticas explicam? R. Com a Dilma, o Brasil voltou à mediocridade que sempre reinou no campo da política externa. Ela sempre foi extremamente provinciana e voltou a ser. Um exemplo caro disso é que durante as eleições, por exemplo, não se debate sobre política externa. Só entram, de maneira indireta, questões sobre chavismo,Venezuela, Cuba. Isso não é debate. Aí também tem o fato de que Dilma nunca se interessou pela questão exterior, não toma iniciativas internacionais importantes. Hoje a gente esqueceu os nomes dos ministros do exterior, são pessoas que não têm relevo e isso vai de par com a perda de um encanto e relevância brasileira. P. 2015 foi talvez o ano mais duro politicamente dos últimos tempos. Qual é seu prognóstico daqui para frente? “No Brasil as comparações com casos do exterior não são bem feitas. A Lava Jato é abertamente inspirada na Mani Pulite, mas essa operação foi problemática” R. A questão do impeachment, que pautou grande parte das discussões,ficou bastante improvável no Congresso depois da decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). E, por outro lado, no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se tudo acontecer como quer a oposição, o processo levaria no mínimo um ano e meio, o que nos jogaria praticamente para o fim do Governo Dilma. Invalidar um mandato de alguém que está na reta final seria um despropósito. Desse ponto de vista, estamos em um momento de esgotamento da ofensiva contra o Governo e também do assédio ao Governo. P. E não é a primeira vez que a via do TSE é testada pela oposição… R. É verdade. Logo no início de 2015, o PSDB pediu a recontagem de votos. Ela foi feita e, no final, eles deram uma declaração de que não conseguiram chegar a nenhuma conclusão. Esse fato com certeza vai pesar em qualquer decisão futura do Tribunal. Além disso, é importante dizer uma coisa. Muito se falou sobre a margem apertada com que Dilma venceu as eleições de 2014 e isso não é verdade. 3,5 milhões de votos a mais é muita coisa. As vantagens sempre são mínimas nas democracias e dá pra dizer que nunca mais um presidente vai ser eleito com tranquilidade no Brasil, as posições já estão muito cristalizadas. Na França, o único exemplo factível de comparação, por ter uma eleição presidencial de dois turnos, a diferença entre Hollande e Sarkozy foi pequena também. Isso é normal. P. E como você avalia o papel da Justiça nessa crise política? R. No Brasil as comparações com casos do exterior não são bem feitas. A Lava Jato é abertamente inspirada na Mani Pulite [que investigou casos de corrupção e resultou no fim de partidos políticos na Itália], mas essa operação foi problemática. Um dos resultados foi que Berlusconi acabou primeiro-ministro e, se caiu depois, não foi pelas mãos da operação, mas por causa de uma intervenção da União Europeia. Aqui no Brasil, não existe nenhuma instância suprarregional que poderia intervir ou reavaliar decisões. É o mesmo caso do julgamento do mensalão. Lá não houve uma possibilidade de recall, ou seja, os julgados não puderam recorrer a uma segunda instância, o que é básico em países com democracia consolidada. Primeiro porque foram julgados direto noSTF, segundo porque não podiam recorrer a nenhuma instância supranacional, como há, na Europa, a corte de Luxemburgo. Eu sou bem cioso em relação à presunção da inocência e acho a coerção por prisão que tem havido algo escandaloso. P. De qualquer jeito, a crise continua aí. O que vai tirar a política da inércia? R. É importante dizer que nós estamos em uma situação grave, mas que, quando olho para fora, vejo outros países com ainda mais problemas. Velhos Estados, como Espanha e França, convivem com

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Roberto Carlos é que está certo: esse (panaca) cara sou eu

O panaca. Já vou começar o texto esclarecendo que o “panaca” em questão não é o Lula, não é a Dilma, não é o PT, não é o José Dirceu, nem ninguém ligado a Operação Lava-Jato. Panaca é na verdade, como me lembrou o sr. Beraldo — meu leitor desde sempre –, esse humilde escrevinhador que vos escreve há mais de 12 anos, que achava que algum grito dado durante esse tempo poderia despertar algum desavisado de que estavam dilapidando, acabando com o nosso país. Que achou que em algum momento o país ia se aprumar e tomar seu rumo. Ia tomar tenência. Mas pensando bem talvez ele tenha razão. Devo ser realmente um panaca em pensar que num país onde um ex-presidente que não tem como estar limpo — e aqui não cabe interpretações –, mesmo que se banhasse com creolina, mas se acha honesto acima de qualquer pessoa desse país e se arriscar não poupa nem o Papa, ou num país onde a atual presidente é capaz de enaltecer a mandioca e falar em estocar vento, e o pior não reconhecer em nenhum momento que errou na mão, no braço, no corpo inteiro da condução de nossa nação mesmo vendo na sua cara todos os indícios que nos levaram a estar onde estamos hoje: no limbo; fosse em algum momento ser o país ideal para se viver, para educar meus filhos e viver feliz para sempre.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Roberto Carlos é que está certo: esse (panaca) cara sou eu. Sou panaca por achar absurdo que pessoas mesmo que ainda suspeitas estejam na presidência de Senado e Câmara e outra que até ficou à frente da presidência do país. Fora a que está hoje no comando da nação e que não tem como estar totalmente limpa nessa história apurada na Lava-Jato. Mas lembrem-se, sou eu o panaca. Tudo bem que pesquisas apontam para números que o pessoal do PT pode até tentar negar como sendo verdadeiros, ou irão falar que essa pesquisa foi feita e encomendada pela ala da oposição, ou seja, não devem ser levadas muito a sério. Mas números são números e os números, por exemplo, apontam que a opção pelo PT caiu de 28% em 2002 para espantosos 6% agora em 2016 e, segundo essa pesquisa, o PT é apontado por 71% como mais corrupto do que os demais. Outros números dizem que 25% dos entrevistados consideram Lula um político honesto. Em 2005, no auge do escândalo do mensalão, 49% pensavam assim. Mas para 68% Lula não tem mais moral para falar de ética, ante 57% no mensalão. Na avaliação de 67%, ele é tão corrupto quanto outros políticos. No mensalão, 49% compartilhavam a mesma opinião. E oito em cada dez entrevistados (82%) consideram que o PT não tem mais moral para falar de ética. Apenas 15% afirmam que o PT ainda é um partido honesto contra 25% em 2005. Mas eu ainda continuo sendo o panaca. Panaca suficiente para não acreditar que o ex-presidente Lula é realmente um santo homem e que essa história do tríplex é tudo ilusão, é tudo um golpe para mais uma vez macular a imagem de Lula. Afinal, ele já explicou tudo, né? Que Marisa Leticia, sua esposa, é quem tinha comprado uma cota, mas que desistiu do negócio, mesmo tendo recebido as chaves do apartamento e de ter participado de uma reunião de condomínio. Vai ver ela não gostou de algum vizinho que devia ser simpatizante do PSDB. Só um panaca como eu e com a mente suja como a minha é que pode pensar que esse tríplex com 297 m² e com vista para o mar, avaliado a preço de hoje, entre R$ 1,5 milhão e R$ 1,8 milhão, e que está em nome da OAS, que sofreu reformas encomendadas por Lula custando à construtora quase R$ 800 mil, fora outros R$ 400 mil com mobília e eletrodomésticos, sem lembrar que a obra e reformas forma acompanhadas de perto por Lula e Marisa que sempre estavam por lá. Se não fossem quem fossem poderiam passar como peões de obra tranquilamente. E mais panaca ainda se pensar que o tríplex, as reformas, os eletrodomésticos seriam uma forma que a OAS encontrou de pagar, ou melhor, retribuir favores prestados a ela por Lula no período em que era presidente. Só que Lula continua dizendo que o apartamento nunca foi dele. Então tá! É Beraldo, você está coberto de razão de me chamar de panaca, pois só um pode ver pecado, ou alguma coisa errada em achar que frequentar um sítio como se troca de cueca pode ter alguma coisa escusa por trás. Ainda mais sendo o sítio de propriedade de amigos da família, sendo um deles sócio de Fábio Luís, filho de Lula. E tirando um pouco o foco em Lula só para vocês não acharem que sou um panaca qualquer e sim um panaca com PhD em panaquice, que acha absurdo que José Dirceu tenha, como ele mesmo falou, um “irrisório” salário de R$ 120 mil mensais para dar consultoria a empresas que por acaso são investigadas pela Operação Lava-Jato. E claro, só um panaca mesmo acreditaria que ele está rico com uma fortuna avaliada em R$ 40 milhões, mas segundo Zé Dirceu, não é nada disso. Foi a empresa dele que faturou isso, mas que 85% são despesas. Então tá! E como um panaca como eu iria deixar de lado o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que disse que o processo de impeachment contra a presidente Dilma foi desencadeado somente por vingança de Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Como não concordar com o ministro Zé Cardozo? Só mesmo sendo panaca. Afinal, a presidente Dilma é um anjo e não fez nada de errado. Se for uma mentirinha que ela tenha contado em campanha, qual o problema? Quem é que nunca mentiu na vida? E me diz se não precisa ser um panaca para ver alguma coisa estranha, errada, na criação do cargo de

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Lula a Alckmin: Seria mais proveitoso explicar desvios no metrô e na merenda

Alckmin declarou que ” Lula é o retrato do PT, partido envolvido em corrupção” O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu às críticas do governador de São Paulo (PSDB), Geraldo Alckmin, neste sábado (30). O tucano havia destacado mais cedo que “Lula é o retrato do PT, partido envolvido em corrupção”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “Seria mais proveitoso para a população de São Paulo se a imprensa perguntasse e o governador explicasse os desvios nas obras do metrô e na merenda escolar, a violência contra os estudantes e os números maquiados de homicídios no estado, ao invés de tentar desviar a atenção para um apartamento que não é e nunca foi de Lula”, disse a assessoria de imprensa do Instituto Lula por meio de nota. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, também criticou a declaração de Alckmin, e sugeriu que em vez de atacar Lula Alckmin cuide do seu governo, “que está tirando comida da boca das crianças”. Alckmin declarou em entrevista que ” Lula é o retrato do PT, partido envolvido em corrupção, sem compromisso com as questões de natureza ética, sem limites”. O governador ainda se disse “triste” com as recentes denúncias que tentam envolver o nome do ex-presidente Lula. “É muito triste o que nós estamos vendo, e o que a sociedade espera é que seja apurado com rigor e que se faça justiça”, disse o tucano. JB

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Explicações de Lula sobre triplex não têm nexo

A deflagração da 22ª fase da Lava Jato deixou Lula irritado. Em nota, ele reclamou da “tentativa de envolver seu nome em atos ilícitos.” O problema é simples de resolver. Se não quiser ser importunado, basta que o ex-presidente demonstre que não é o dono do triplex número 164 A, do edifício Solaris, no Guarujá. Sua assessoria já tentou várias vezes desvincular Lula do imóvel. Mas falta às explicações oficiais algo essencial: nexo. Batizada de Triplo X, a nova fase da Lava Jato apura a suspeita de que a empreiteira OAS usou apartamentos do agora célebre edifício do Guarujá para camuflar o pagamento de propinas extraídas da Petrobras. Entre eles o triplex que Lula diz não possuir. Vão abaixo as perguntas que o morubixaba do PT já poderia ter respondido:[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] 1. Por que a assessoria de Lula admitiu que ele era o dono do triplex do Guarujá em dezembro de 2014? Em notícia veiculada no dia 7 daquele mês, o repórter Germano Oliveira informou: a Bancoop, Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo, que deixara cerca de 3 mil pessoas na mão por causa de fraudes atribuídas ao seu ex-presidente, João Vaccari Neto, entregara a Lula o triplex do Guarujá. Com a falência da cooperativa, a OAS assumira as obras. O edifício ficara pronto em dezembro de 2013. Mas o apartamento de Lula recebera um trato especial. Coisa fina. Antes unidos apenas por uma escada interna, os três andares foram atravessados por um elevador privativo. O piso ganhou revestimento de porcelanato. E a cobertura foi equipada com um ‘espaço gourmet’, ao lado da piscina. Ouvida nessa época, a assessoria de Lula declarou: “O ex-presidente informou que o imóvel, adquirido ainda na planta, e pago em prestações ao longo de anos, consta na sua declaração pública de bens como candidato em 2006.” Candidato à reeleição naquele ano, o então presidente Lula de fato havia informado à Justiça Eleitoral que repassara à Bancoop R$ 47.695,38, uma cifra que não ornava com o valor de um triplex. 2. Por que a assessoria de Lula mudou a versão sobre a posse do triplex cinco dias depois de reconhecer que o imóvel pertencia a Lula? Sob os efeitos da repercussão negativa da notícia segundo a qual Lula tornara-se o feliz proprietário de um triplex à beira mar, na praia de Astúrias, uma das mais elitizadas do litoral paulista, o Instituto Lula divulgou, em 12 de dezembro de 2014, uma “nota sobre o suposto apartamento de Lula no Guarujá.” Primeiro, o texto cuidou de retirar a encrenca dos ombros de Lula. Anotou que foi a mulher dele, Marisa Letícia, quem “adquiriu, em 2005, uma cota de participação da Bancoop, quitada em 2010, referente a um apartamento.” A previsão de entrega era 2007. Em 2009, com as obras ainda inacabadas, os cooperados “decidiram transferir a conclusão do empreedimento à OAS.” O prédio ficou pronto em 2013. Os cooperados puderam optar entre pedir o dinheiro de volta ou escolher um apartamento. “À época, dona Marisa não optou por nenhuma destas alternativas”, escreveu o Instituto Lula. “Como este processo está sendo finalizado, ela agora avalia se optará pelo ressarcimento do montante pago ou pela aquisição de algum apartamento, caso ainda haja unidades disponíveis.” Nessa versão, a família Lula da Silva estava em cima do muro. 3. Por que a mulher de Lula pegou as chaves de um apartamento que dizia não lhe pertencer? Em 17 de dezembro de 2015, cinco dias depois da nota em que o Instituto Lula alegara que Marisa Letícia ainda hesitava entre requerer o dinheiro investido na Bancoop ou escolher um apartamento no edifício Solaris, moradores do prédio informaram ao repórter Germano Oliveira que a mulher de Lula apanhara as chaves do triplex número 164 A havia mais de seis meses, em 5 de junho. “Todos pegamos as chaves no dia 5 de junho, inclusive dona Marisa”, disse, por exemplo, Lenir de Almeida Marques, mulher de Heitor Gushiken, primo do amigo de Lula e ex-ministro Luiz Gushiken, morto em 2013. 4. Por que Marisa Letícia demorou seis anos para decidir se queria ou não o apartamento do Guarujá? Só em 8 de novembro de 2015 veio à luz a notíciasobre a decisão da mulher de Lula acerca do apartamento do edifício Solaris. Nessa data, o repórter Flávio Ferreira informou que Marisa desistira do triplex. Os assessores de Lula esclareceram que ela acionaria seus advogados para reinvindicar a devolução do dinheiro que aplicara no empreendimento. Considerando-se que a OAS assumira as obras do edifício Solaris em 2009, a ex-primeira dama levou arrastados seis anos para decidir. Cooperados menos ilustres tiveram de decidir na lata, sob pena de perder o direito de exercer a opção de compra. 5. Por que Lula e sua mulher não divulgam os documentos da transação imobiliária e de sua rescisão? Afora a declaração à Justiça Eleitoral, em que Lula informara o pagamento de R$ 47.695,38 à Bancoop até aquela data, não há documentos disponíveis sobre a transação imobiliária e seu distrato. Nenhum contrato, nenhuma rescisão. Nada de recibos. O Instituto Lula informou que Marisa realizou desembolsos até 2010. Quanto pagou? Isso ninguém informa. Tampouco veio à luz uma petição qualquer na qual os advogados da família Lula da Silva reivindiquem a devolução do numerário. 6. Por que Lula, Marisa e Lulinha, primogênito do casal, inspecionaram as obras de reforma do triplex? Inquérito conduzido pelo Ministério Público de São Paulo, sem vinculação com a Lava Jato, revelou indícios de que o triplex do Guarujá integra o patrimônio oculto do casal Lula e Marisa. Eles seriam os proprietários escondidos atrás da logomarca da OAS. Ouviram-se no inquérito uma dezena de testemunhas. Chama-se Armando Dagre Magri uma das testemunhas. É dono da Talento Construtora. Contou à Promotoria que a OAS contratou sua empresa para reformar o triplex número 164 A. Orçou a obra em R$ 777 mil. Realizou o serviço entre abril e setembro de 2014. Não esteve com Lula. Mas avistou-se com Marisa. Estava reunido no apartamento com um representante

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Dilma deseja atropelar Cunha no quintal do rival

Arma-se na Câmara um novo embate entre Eduardo Cunha e Dilma Rousseff. Instigada pelos operadores políticos do Planalto, Dilma trabalha com a ideia de que é possível atropelar Cunha dentro do quintal dele, a bancada de deputados federais do PMDB. Isso seria feito por meio da recondução de Leonardo Picciani ao posto de líder da legenda na Câmara, derrotando Hugo Motta, um soldado da infantaria de Cunha. A última vez que Dilma executou um lance semelhante foi logo depois de sua reeleição para o Planalto. Naquela época, inebriada pela vitória magra que impusera ao tucano Aécio Neves, a presidente avaliara que conseguiria atravessar no caminho de Cunha a candidatura do petista Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara. Seu governo foi à luta. E tomou uma surra que deu a Cunha uma dimensão que ele não precisava ter.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Agora, Dilma mede forças com um Cunha debilitado pela sangria da Lava Jato. Atropelando-o, passará o trator sobre uma cassação esperando para acontecer. Se levar uma nova coça, a presidente empurrará para dentro da comissão da Câmara incumbida de analisar o impeachment oito peemedebistas que querem colocar uma corda em volta do seu pescoço. Vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer observa o balé de elefantes à distância. Evita entrar na briga. A caminho da convenção nacional que definirá em março se ele continua ou não no comando do partido, Temer cuida para não ser atropelado como um transeunte inadvertido. Nesta sexta-feira (22), Temer recebeu no seu escritório de São Paulo a visita de Hugo Motta (PB). O candidato de Eduardo Cunha já havia conversado com Temer na terça, em Brasília. Dissera que cogitava lançar-se na disputa pela liderança da bancada. Na nova visita, avisou que já está em campanha. Também nesta sexta, Temer recebeu um telefonema do deputado mineiro Leonardo Quintão. Ele também se dizia candidato a líder. Mas decidiu abdicar de sua postulação para apoiar Picciani, o preferido de Dilma. O mineiro Quintão disse que exigira do carioca Picciani o apoio do diretório do PMDB do Rio à reeleição de Temer na convenção de março. Temer acionou seu timbre de veludo para dizer a Quintão que ele deveria fazer o que lhe parecesse mais adequado. Sem, no entanto, vincular seu gesto à convenção de março. “Minha situação está consolidada. Resolvam a questão da bancada entre vocês, buscando o consenso. Não precisa vincular uma coisa à outra. Isso pode até atrapalhar. Não vamos misturar as coisas.” O apoio de Quintão a Picciani foi selado num encontro na cidade mineira de Juiz de Fora. Quintão telefonou novamente para Temer. Repassou o celular a Picciani, que voltou a atrelar a novidade ao apoio do PMDB do Rio à permanência de Temer no comando partidário. Temer reiterou: “Não precisa fazer isso. A questão da convenção está consolidada. Já tenho a maioria dos diretórios estaduais comigo.” A despeito dos apelos, Quintão informou aos repórteres que migrou para Picciani em combinação com Temer. Que apressou-se em desmenti-lo. O apoio de Quintão a Picciani surprendeu o partido. Um dizia cobras e lagartos do outro. Em dezembro, Quintão havia destituído Picciani da liderança por meio de um abaixo-assinado endossado pela maioria dos deputados do PMDB. Respondeu pela liderança por poucos dias. Uma nova lista de assinaturas devolveu a poltrona de líder a Picciani. “Levando-se em conta o que o Quintão falava do Picciani nas conversas que tinha com a gente, tenho certeza de que, no voto secreto, ele vai acabar votando no Hugo Motta”, ironizou o deputado baiano Lúcio Vieira Lima. Lúcio insinua que “milhões de razões” devem ter estimulado Quintão a se associar ao candidato de Dilma. “Ainda desconheço as razões dele. Mas não tenho dúvida de que foram milhões de razões.” Autorizado por Dilma, o ministro petista Ricardo Berzoini, coordenador político do Planalto, sondara o deputado Mauro Lopes, um peemedebista de Minas, para ocupar o posto de ministro da Aviação Civil. O apoio da bancada de Minas à permanência de Picciani na liderança é pré-condição para a efetivação da transação fisiológica. “Com ministério ou sem ministério, a bancada de Minas não vai inteira para Picciani”, desdenha Lúcio Vieira Lima. “O voto é secreto. Não creio que Quintão tenha mudado de posição por conta de oferta de ministério para Minas. Fico imaginando o que é que pode ter causado a mudança de opinião de uma pessoa que, no mês passado, recolheu assinaturas para destituir o desafeto, que agora virou aliado. Foram acertos pesados.” Hugo Motta conversou durante a semana com dois ministros palacianos do PT: o coordenador político Berzoini e Edinho Silva (Comunicação Social da Presidência). Segundo contou aos colegas, o deputado aconselhou os ministros a manterem o Planalto fora da briga do PMDB. Recordou a surra de Cunha em Chinaglia. E avisou: se o governo acha que Picciani vai prevalecer, que aposte nele. Mas não venha depois cobrar lealdade do PMDB se perder a aposta. O que há de mais dramático em toda essa encrenca é sua desconexão com os temas que inquietam o país. Às voltas com a recessão, a inflação e o desemprego, o brasileiro enxerga no elenco envolvido na disputa pela liderança do PMDB o inócuo com carro oficial, o beco-sem-saída com PhD em fisiologismo. blog Josias de Souza

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Eleições 2018: PT se ‘autoassassinou’ e governo está em fase terminal, diz ex-ministro de Lula

Há pouco mais de dez anos, o senador Cristovam Buarque deixou o PT após uma série de desgastes que levaram à sua demissão, por telefone, do cargo de ministro da Educação e no embalo da eclosão do escândalo do mensalão – ele foi um dos integrantes que não concordaram com a resposta dada pelo partido e pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva às irregularidades reveladas à época.  Para Cristovam Buarque, é preciso discutir que governo o Brasil terá – com ou sem Dilma Hoje, ensaia um novo desembarque, desta vez do PDT, que, nas palavras de Cristovam, “não existe” como partido, pois virou um “puxadinho do PT” controlado pelo ex-ministro Carlos Lupi que já colocou como candidato à próxima corrida presidencial um nome escolhido por Lula – Ciro Gomes – para “preencher o vazio” caso o petismo não se recupere a tempo de 2018.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Segundo o senador, “o PT se autoassassinou” ao desconsiderar a meritocracia na nomeação de cargos e não pensar um projeto de longo prazo para o país. Diz ainda que o “fracasso” da gestão Dilma Rousseff se deve principalmente a erros cometidos pela presidente em seu governo, que está em “fase terminal”. Aos 71 anos, o ex-governador do Distrito Federal e ex-reitor da UnB (Universidade de Brasília) defende, porém, que se pense menos no resultado do pedido de impeachment da presidente, e mais em que governo o país terá após o processo – com ou sem Dilma. Confira trechos da entrevista à BBC Brasil, feita por telefone. BBC Brasil – A ex-senadora Marina Silva defendeu ao jornal Folha de S.Pauloque se agilize o processo contra a presidente Dilma Rousseff no TSE (Dilma e seu vice, Michel Temer, podem ter o mandato cassado se o Tribunal Superior Eleitoral entender que a chapa cometeu irregularidades na campanha), em detrimento ao pedido de impeachment em curso no Congresso. Como vê isso? Cristovam Buarque – Para mim, o importante não é saber como isso termina, mas como começa o próximo momento. O chamado day after (dia seguinte). Acho que lamentavelmente a Marina não trabalha com o day after. Estou menos preocupado com se isso vai terminar com a continuação da Dilma, o impeachment ou a cassação. Teremos o dia seguinte com o Temer em um governo de unidade nacional? Ou com a Dilma, com um governo de coalizão nacional? Se houver a cassação, a eleição em 90 dias vai permitir a construção dessa coalizão com um projeto alternativo? Essa é a minha preocupação. Leia também: Crise política derruba Brasil para sua pior posição em ranking de qualidade democrática A presidente Dilma Rousseff enfrentará processo de impeachment neste ano Image copyright Ag. Brasil BBC Brasil – Qual seria o cenário ideal? Cristovam Buarque – Hoje, e nós dissemos isso a ela em agosto, a melhor alternativa seria a Dilma, mas com um governo que não fosse da Dilma. Ela sendo a “Itamar” dela própria. No que consiste isso: ela dizer que não é mais do PT, nem de qualquer outro partido, a não ser do “Partido do Brasil”. Dizer que precisa da oposição e de todos para governar, compor um ministério de unidade e com um programa de unidade, no qual a estabilidade monetária seja objetivo imediato, desde que não sacrifique conquistas sociais nem investimentos em infraestrutura. Definindo quem vai se sacrificar para que o Brasil seja reorientado e como vamos atravessar os três anos até a próxima eleição. Seria a continuidade do governo Dilma sem Dilma, uma espécie de presidente sem ser chefe de governo, com um “primeiro-ministro” – entre aspas, não precisa de parlamentarismo para isso. O Itamar (Franco, ex-presidente) conseguiu: o Fernando Henrique (Cardoso) foi o primeiro-ministro. Isso seria o ideal. Mas não vejo na Dilma condições para isso. Tanto que nós, um grupo de senadores, fomos até ela em agosto, levamos um documento, propusemos isso, dissemos que estávamos dispostos a apoiá-la. Ela ouviu com seriedade, carinho, nos dedicou muito tempo, mas não aconteceu nada. Perdeu a chance. BBC Brasil – Na sua visão, por que o governo chegou a esse ponto? Quem tem mais culpa, Dilma ou o PT? Cristovam Buarque – Acho que a grande culpa é do PT. O PT se autoassassinou. Há uma diferença entre autoassassinato e suicídio: suicídio é um gesto consciente, em que existe até uma dignidade; o autoassassinato nem é consciente nem carrega dignidade. O PT se autoassassinou por recusar o mérito nos seus dirigentes: nomeava ministro, vice-ministro, subministro, diretores apenas por interesses imediatistas, corporativos. Se autoassassinou por não pensar o médio e longo prazo do Brasil, por ficar prisioneiro da próxima eleição, por abrir mão das reformas necessárias que poderia ter feito, sobretudo com a grande liderança que era Lula. Agora, a Dilma colaborou. Ela poderia ter se “independizado” do PT, mas continuou dependente dele, e com isso destruiu seu governo. BBC Brasil – Como vê o papel do seu partido, o PDT, na base aliada? Cristovam Buarque – O PDT, como partido, não existe: é uma associação, um clube de militantes sob o comando absoluto do Carlos Lupi. Em 2007, ele assumiu o Ministério do Trabalho. De lá para cá, continua sempre junto ao governo em troca de ministério e isso destruiu o PDT como partido, fez dele o que o Pedro Taques (ex-senador e atual governador do Mato Grosso) chamava de “puxadinho do PT”. E a situação é essa, ao ponto de hoje ele ter colocado um candidato a presidente escolhido pelo Lula, o Ciro Gomes, cujo papel é preencher o vazio que haverá se o PT e o Lula não se recuperarem do impacto. BBC Brasil – Do impacto da Operação Lava Jato? Cristovam Buarque – Da Lava Jato e do fracasso do governo Dilma. E é um erro achar que esse fracasso decorre da Lava Jato. Do ponto de vista ético, sim, mas também dos erros que ela cometeu na condução do governo. Se fosse a Lava Jato sem inflação, com a economia crescendo, seria diferente: apenas o PT carregaria

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