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‘Quarta revolução industrial’: Como o Brasil pode se preparar para a economia do futuro

A edição deste ano do Fórum Econômico Mundial, em curso em Davos, na Suíça, tem como tema central a chamada “Quarta Revolução Industrial”. Estudos apontam que Brasil precisa investir mais em educação e tecnologia Image copyright Thinkstock  Essa realidade, que já começamos a experimentar no dia a dia, significa uma economia com forte presença de tecnologias digitais, mobilidade e conectividade de pessoas, na qual as diferenças entre homens e máquinas se dissolvem e cujo valor central é a informação. Mas, será que o Brasil está preparado para essa nova revolução? Segundo especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o país se saiu bem na redução de desigualdade social na última década, mas precisa investir mais em educação e inovação para obter ganhos em produtividade e geração de empregos nesta nova economia. “O grande desafio à frente é manter os avanços sociais e estimular o aumento da produtividade”, afirmou Alicia Bárcena, secretária-executiva da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), órgão ligado à ONU.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “Novos pactos sociais” são importantes para que esse momento de rompimento econômico transforme-se em oportunidades, avalia. “É necessário construir novas alianças que transpassem partidos políticos e viabilizem condições para a criação de um novo ciclo de investimento”, disse Bárcena. “Integrar mercados regionais em tecnologias-chave, por exemplo com a criação de um mercado digital comum, e o incentivo a cadeias regionais de tecnologias e produtos verdes.” O Brasil tem elevado o investimento direto em educação. No período compreendido entre a virada do milênio e 2013, o total cumulativo investido por estudante ao longo da vida acadêmica, do jardim de infância à universidade, passou de R$ 106 mil para R$ 162 mil. O aumento de mais de 50% tem base em dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), vinculado ao Ministério da Educação. “Quarta Revolução Industrial” é tema do Fórum Econômico Mundial, em curso na Suíça – Image copyright EPA Ainda assim, o Brasil permanece abaixo da média dos países ricos, conforme retrata o Pisa, ranking internacional que avalia a qualificação de estudantes do mundo todo. No levantamento de 2012 foi observado que quase metade dos alunos não apresenta competências básicas de leitura. Além disso, outra análise da mesma organização, mas de 2015, estimou que os estudantes brasileiros são muito fracos na capacidade de navegar sites e compreender leituras na internet, ficando à frente apenas da Colômbia e dos Emirados Árabes em um ranking com 31 países. Inovação digital As três revoluções industriais anteriores tiveram início nos países desenvolvidos, chegando com atraso ao Brasil. A primeira foi a iniciada no fim do século 18, quando água e vapor foram utilizados para mover máquinas na Inglaterra. A segunda veio do emprego de energia elétrica na produção em massa de bens de consumo. A terceira é a do uso da informática, iniciada em meados do século passado. A revolução atual, aliás, segue na esteira dessa anterior: é caracterizada por sua natureza hiperconectada, em tempo real, por causa da internet. Além das mudanças nos sistemas de produção e consumo e amplo uso de inteligência artificial, ela também traz o desenvolvimento de energias verdes. Com o fim da diferenciação entre homens e máquinas, uma nova quebra do modelo de cadeias produtivas e as interações comerciais em que consumidores atuam como produtores, mais de 7 milhões de empregos serão perdidos, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial. Energias verdes, como a eólica produzida por essas turbinas em PE, fazem parte da nova revolução – Image copyright Alusio Moreira I SEI Como o Brasil poderia se preparar para esse momento? “Idealmente, deveria implementar políticas de fortes incentivos que nivelem por cima, não apenas na área de formação e capacitação de trabalhadores para o uso de novas tecnologias, mas priorizando também investimentos em pesquisa e desenvolvimento para que o país não se torne um mero consumidor de tecnologias”, sugere a Vanessa Boana Fuchs, pesquisadora do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de St. Gallen, na Suíça. Uma pesquisa realizada pela consultoria Accenture estima que a participação da economia digital no PIB do Brasil saltará dos atuais 21,3% para 24,3% em 2020 e valerá US$ 446 bilhões (R$ 1,83 trilhão). O mesmo estudo aponta que o país precisa manter os níveis atuais de educação e expandir investimentos em novas tecnologias e na geração de uma cultura digital para acelerar ainda mais o progresso. Se o Brasil aplicar recursos ativamente nessas áreas, a consultoria prevê que o segmento econômico poderá movimentar outros US$ 120 bilhões (R$ 494 bilhões) além do previsto. Neste mês, a presidente Dilma Rousseff sancionou Marco Legal da Ciência e Tecnologia, novo parâmetro legislativo que promete reduzir a burocracia, facilitando investimentos em pesquisa e ciência nas iniciativas pública e privada. Além disso, o governo anunciou edital de financiamento de R$ 200 milhões para pesquisa e desenvolvimento. Professor de economia e direito da Universidade de St. Gallen, Peter Sester afirma que o Brasil deveria estar investindo mais e ter aproveitado melhor a riqueza gerada pela exportação de commodities, cujo preço agora está em baixa no mercado internacional. “O Brasil não utilizou a renda extra em tributos e royalties de minério de ferro e outras commodities durante o superciclo para investir consequentemente em infraestrutura, educação, pesquisa e desenvolvimento, ou ao menos fazendo um fundo de reserva para quando o ciclo passasse.” Brasil perdeu a chance de aplicar recursos de commodities em educação, diz especialista – Image copyright Pedro Ribas ANPr Para Sester, a “ineficiência foi subsidiada com o dinheiro dos contribuintes”, criticando subsídios estatais a determinados setores. No auge do ciclo, o PIB brasileiro chegou a registrar crescimento de 7,5% em 2010. A previsão do Fundo Monetário Internacional para este ano é de retração de 3,5% na economia. Ameaças Bárcena vê três ameaças no horizonte da quarta revolução industrial: o aumento da desigualdade, as mudanças climáticas e a tendência recessiva das economias. Desafios, afirma, que podem ser solucionados com investimento estatal e políticas públicas ativas. “Políticas fiscais expansionistas podem ajudar a evitar tendências recessivas e recuperar empregos (…). Acesso universal a educação e saúde encorajam demanda agregada

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Governos que enganam a si mesmos

O problema endêmico da quantificação e manipulação estatística de dados nas economias centralizadas. Funcionários sabem que seus empregos (e às vezes suas vidas) dependem de atingir essas metas e, assim, os números são alterados (Foto: Wikimedia) No final da década de 1980, Mikhail Gorbachev tentou corajosamente recuperar a economia da antiga União Soviética, bastante deteriorada em comparação com a situação econômica dos países ocidentais. Mas como Robert Service revelou em seu livro The End of the Cold War: 1985-1991, nem mesmo Gorbachev percebeu o estado tão crítico da economia soviética. Service teve acesso aos registros das reuniões do Politburo. A partir da leitura desses documentos ficou evidente que os números oficiais das despesas com defesa em proporção ao PIB haviam sido subestimados. Em geral, as estatísticas não eram confiáveis.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Em determinada ocasião, os negociantes de armas soviéticos tentaram fazer um acordo com Ronald Reagan e descobriram constrangidos que não sabiam quantos mísseis nucleares o país tinha. Esse problema é endêmico em  países com economias centralizadas. Os governos estabelecem metas no seu escalão superior; os burocratas e funcionários do partido sabem que seus empregos (e às vezes suas vidas) dependem de atingir essas metas e, assim, os números são alterados para cumpri-las. Além disso, quase sempre as metas estão erradas. No final da década de 1980, a maioria dos países ocidentais substituiu a economia baseada na produção industrial por uma concentração maior no setor de serviços, mas a antiga União Soviética continuou obcecada com a produção de ferro e aço. O colapso dos preços da energia expôs os problemas reais da economia. Gorbachev não estava disposto a dar ajuda financeira aos países comunistas do Leste Europeu,  nem para seu mérito eterno, de fazer uma intervenção militar para apoiá-los. Por fim, os cidadãos desses países conseguiram depor seus governantes. A Argentina e a Venezuela são exemplos recentes da manipulação de dados econômicos. No caso da Argentina, o governo Kirchner alterou sistematicamente os índices da inflação. A Venezuela, um país com grandes reservas de petróleo, administrou tão mal a economia que agora enfrenta um enorme déficit orçamentário, uma inflação galopante e a falta de produtos básicos de consumo nas prateleiras dos supermercados. E os que tentaram mostrar os números reais foram acusados de ajudar os especuladores estrangeiros. The Economist-Self-deluding governments

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Tropeço da China pode abalar o mundo?

Quando uma grande economia entra em crise, o resto do mundo sente as consequências. No caso da China, elas podem ser gigantescas. Está óbvio que a economia chinesa enfrenta sérios problemas. O contágio global gerado por crises em economias importantes sempre acaba sendo pior do que o anunciado. No caso da China, esse problema ganha proporções gigantescas. Está óbvio que a economia chinesa enfrenta sérios problemas.O quão grande eles são é difícil dizer, já que as estatísticas oficiais da China não são tão confiáveis. A fonte dos problemas financeiros da China é o modelo econômico adotado pelo país, que envolve poupanças muito altas e baixo consumo. Este modelo só era sustentável enquanto o país crescia a um ritmo acelerado, o que gerava um alto investimento, estimulado pela ampla oferta de trabalhadores rurais mal remunerados. Esse modelo entrou em choque e a China, agora, enfrenta o desafio de realizar a transição de uma economia de crescimento eufórico para moderado, sem cair em recessão. Esse processo pode ter sérias implicações para o resto do mundo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] George Soros chegou a comparar o cenário com a crise global de 2008, em um fórum econômico realizado esta semana, no Sri Lanka. “A China enfrenta um grande problema estrutural. Eu diria que equivale a uma crise. Quando analiso o mercado financeiro, vejo um grande desafio que me lembra a crise que tivemos em 2008”, disse Soros. Há duas possibilidades. A primeira é que o impacto das agruras chinesas será gerenciável. A China é uma grande economia que responde por um quarto da manufatura mundial e gasta mais de US$ 2 trilhões anuais em importação de bens e serviços. É claro que tudo que ocorre lá afeta os demais países, mas o mundo é grande, com um PIB de US$ 60 trilhões anuais, excluindo a China. Porém, a ameaça está nas ligações financeiras da China com os demais países, o que pode acabar tornando os problemas do país em uma crise global. O ciclo de negócios entre os países é mais sincronizado do que deveria. Além disso, as crises têm o poder de contaminar o mercado financeiro mundial. Boas ou más notícias em uma grande economia afetam o humor de outra. A grande preocupação é que a China exporte sua crise, fazendo o gasto com investimentos nos EUA, Europa e nos países emergentes despencar. Nenhum país está pronto para lidar com isso. A maior aposta é que a China entre em crise, mas exporte apenas uma turbulência suportável para o resto do mundo. A expectativa é que essa aposta se confirme, já que nenhuma economia do mundo tem um plano B para lidar com o contrário. Fontes: Bloomberg-George Soros Sees Crisis in Global Markets That Echoes 2008 The New York Times-When China Stumbles

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Economia: Em sete anos, PIB do Brasil cresceu mais que o de potências e países do Brics

Aumento de 22% superou EUA e Alemanha, além de países como África do Sul e Rússia Mesmo com as crises internacionais e o baixo preço do petróleo que persiste desde os últimos meses de 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teve uma alta de 22,63% entre o período de 2007 e 2014, batendo tanto potências econômicas como Estados Unidos (8,15%) e Alemanha (4,99%), quanto países do Brics, como África do Sul (14,6%) e Rússia (11,4%), segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Resultado de políticas de investimentos constantes, principalmente após o estouro da bolha financeira de 2008 que causou grave crise em países do mundo todo, o PIB Real do país saltou de R$ 1,018 trilhão em 2007 para R$ 1,248 trilhão no ano de 2014, enquanto potências como França, Japão e Reino Unido registraram aumento de menos de 4% de seus PIB’s em suas respectivas moedas locais.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A medição usando o PIB Real, que elimina a distorção produzida pela variação dos preços causada pela inflação e indica o valor real de crescimento da economia é mais segura para medir o aumento (ou diminuição) da produção real de um país do que se fosse usado seu PIB nominal, que desconsidera os aumentos de preço por conta da inflação. Segundo dados do FMI, o Brasil foi o segundo país com maior crescimento de seu PIB Real no período, perdendo apenas para a China (aumento de 80,13%), em um grupo que reúne potências econômicas mundiais como Estados Unidos (8,15%), Alemanha (4,99%) e Reino Unido (3,68%), que ocupam as posições seguintes à do Brasil, enquanto França (2,21%) e Japão (0,64) completam os que tiveram crescimento positivo. As outras duas nações estudadas, que completam o grupo de nove países, tiveram diminuição de sua produção, por enfrentarem grave crise financeira. São elas: Espanha (-4,97%) e Portugal (-7,33%). No recorte de países de mercado emergente, o Brasil é o terceiro com maior crescimento, perdendo apenas para a China e a Índia (59,52%), estando à frente de África do Sul (14,6%), enquanto a lanterna Rússia teve crescimento de apenas 11,4%. Os dados levam em conta a produção em moeda local de cada país, eliminando assim possíveis variações cambiais em relação ao dólar. Fonte: Jornal do Brasil

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Quem quer o fim do Brasil?

Combate à corrupção deve ser entendido como meio de sanar nossas grandes empresas, públicas e privadas, não de inviabilizá-las como instrumentos estratégicos PEDRO REVILLION/PALÁCIO PIRATINI/FOTOS PÚBLICAS É esse país – que em 11 anos aumentou sua economia em 400%, passou de devedor a credor do FMI e quarto maior credor individual externo dos Estados Unidos, que duplicou a safra agrícola, que reduziu a menos de 5% o desemprego – que malucos estão dizendo que irá “quebrar” em 2015 Já há alguns meses, e mais especialmente na época da campanha eleitoral, grassam na internet mensagens com o título genérico de “O Fim do Brasil”, defendendo a estapafúrdia tese de que a nação vai quebrar nos próximos meses, que o desemprego vai aumentar, que o país voltou, do ponto de vista macroeconômico, a 1994 etc. etc. – em discursos irracionais, superficiais, boçais e inexatos. Na análise econômica, mais do que a onda de terrorismo antinacional em curso, amplamente disseminada pela boataria rasteira de botequim, o que interessa são os números e os fatos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Segundo dados do Banco Mundial, o PIB do Brasil passou, em 11 anos, de US$ 504 bilhões em 2002, para US$ 2,2 trilhões em 2013. Nosso Produto Interno Bruto cresceu, portanto, em dólares, mais de 400% em dez anos, performance ultrapassada por pouquíssimas nações do mundo. Para se ter ideia, o México, tão “cantado e decantado” pelos adeptos do terrorismo antinacional, não chegou a duplicar de PIB no período, passando de US$ 741 bilhões em 2002 para US$ 1,2 trilhão em 2013; os Estados Unidos o fizeram em menos de 80%, de pouco mais de US$ 10 trilhões para quase US$ 18 trilhões. Em 11 anos, passamos de 0,5% do tamanho da economia norte-americana para quase 15%. Devíamos US$ 40 bilhões ao FMI, e hoje temos mais de US$ 370 bilhões em reservas internacionais. Nossa dívida líquida pública, que era de 60% há 12 anos, está em 33%. A externa fechou em 21% do PIB, em 2013, quando ela era de 41,8% em 2002. E não adianta falar que a dívida interna aumentou para pagar que devíamos lá fora, porque, como vimos, a dívida líquida caiu, com relação ao PIB, quase 50% nos últimos anos. Em valores nominais, as vendas nos supermercados cresceram quase 9% no ano passado, segundo a Abras, associação do setor, e as do varejo, em 4,7%. O comércio está vendendo pouco? O eletrônico – as pessoas preferem cada vez mais pesquisar o que irão comprar e receber suas mercadorias sem sair de casa – cresceu 22% no ano passado, para quase US$ 18 bilhões, ou mais de R$ 50 bilhões, e o país entrou na lista dos dez maiores mercados do mundo em vendas pela internet. Segundo o Perfil de Endividamento das Famílias Brasileiras divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o ano de 2014 fechou com uma redução do percentual de famílias endividadas na comparação com o ano anterior, de 62,5%, para 61,9%, e a porcentagem de famílias com dívidas ou contas em atraso, caiu de 21,2%, em 2013, para 19,4%, em 2014 (menor patamar desde 2010). A proporção de famílias sem condições de pagar dívidas em atraso também diminuiu, de 6,9% para 6,3%. É esse país – que aumentou o tamanho de sua economia em 400%, cortou suas dívidas pela metade, deixou de ser devedor para ser credor do Fundo Monetário Internacional e quarto maior credor individual externo dos Estados Unidos, que duplicou a safra agrícola e triplicou a produção de automóveis em 11 anos, que reduziu a menos de 6% o desemprego e que, segundo consultorias estrangeiras, aumentou seu número de milionários de 130 mil em 2007 para 230 mil no ano passado, principalmente nas novas fronteiras agrícolas do Norte e do Centro-Oeste – que malucos estão dizendo que irá “quebrar” em 2015. E se o excesso de números é monótono, basta o leitor observar a movimentação nas praças de alimentação dos shoppings, nos bares, cinemas, postos de gasolina, restaurantes e supermercados; ou as praias, de norte a sul, lotadas nas férias. E este é o retrato de um país que vai quebrar nos próximos meses? O Brasil não vai acabar em 2015. Mas se nada for feito para desmitificar a campanha antinacional em curso, poderemos, sim, assistir ao “fim do Brasil” como o conhecemos. A queda das ações da Petrobras e de empresas como a Vale, devido à baixa do preço do petróleo e das commodities, e também de grandes empresas ligadas, direta e indiretamente, ao setor de gás e de petróleo, devido às investigações sobre corrupção na maior empresa brasileira, poderá diminuir ainda mais o valor de empresas estratégicas nacionais, levando, não à quebra dessas empresas, mas à sua compra, a preço de “bacia das almas”, por investidores e grandes grupos estrangeiros – incluídos alguns de controle estatal – que, há muito, estão esperando para aumentar sua presença no país e na área de influência de nossas grandes empresas, que se estende pela América do Sul e a América Latina. Fosse outro o momento, e o Brasil poderia – como está fazendo a Rússia – reforçar sua presença em setores-chave da economia, como são a energia e a mineração, para comprar, com dinheiro do tesouro, a preço muito barato, ações da Petrobras e da própria Vale. Com isso, além de fazer um grande negócio – as ações da Petrobras já estão voltando a se valorizar –, o governo brasileiro poderia, também, contribuir, com a recuperação da Bolsa de Valores. Essa alternativa, no entanto, não pode sequer ser aventada, em um início de mandato em que o governo se encontra pressionado, praticamente acuado, pelas forças neoliberais que movem – aproveitando os problemas da Petrobras – cerrada campanha contra tudo que seja estatal ou de viés nacionalista. Com isso, o país corre o risco de passar, com a entrada desenfreada de grandes grupos estrangeiros na Bolsa por meio da compra de ações de empresas brasileiras com direito a voto, e a

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A taxa de juro natural e a Amazônia

O Brasil está com sinais vitais razoáveis, mas tem de aumentar o emprego e a poupança e gerir melhor o setor público. Antonio Delfim Netto ¹ | VALOR A mais óbvia razão pela qual os economistas não foram capazes de antecipar a tragédia que se preparava no mercado financeiro internacional, e que se concretizou em 2008, talvez resida no fato que a Teoria Macroeconômica e a Teoria da Economia Financeira foram separadas, a ponto de se ignorarem, contrariamente ao sugerido por Keynes e Fisher. James Tobin chamou a atenção para isso em meados dos anos 80 do século passado. Uma provocação curiosa a respeito dessa questão. Aquela separação não encontrou eco na conflagrada economia marxista (Hilferding, Luxemburgo, etc.). Marx, aliás, já advertira que “quando há um colapso total do crédito, nada mais conta, só o pagamento em moeda…e que legislações bancárias como a de 1844-45 (na Inglaterra) podem intensificar a crise monetária. Profeticamente, acrescentou, “nenhuma legislação bancária pode eliminar a crise”, como mais um século depois estamos aprendendo… O Brasil está vivendo um momento interessante depois de ter superado muito bem a crise. Há, entretanto, uma dúvida ampla, geral e irrestrita sobre: 1) a natureza do processo inflacionário que atinge, em grau maior ou menor, todos os países do mundo e 2) as consequências no longo prazo da supervalorização do Real que está destruindo a sofisticada indústria nacional. Todo processo inflacionário se explica por uma combinação variável de três causas: 1) um desequilíbrio persistente entre a oferta e a demanda global de bens e serviços; 2) uma desancoragem (por múltiplas razões, inclusive a anterior) da “expectativa” inflacionária, e 3) um “choque de oferta” interno ou externo. No caso brasileiro é preciso incluir a indexação ainda generalizada que sobrou como resíduo do bem-sucedido Plano Real e para cuja eliminação se fez muito pouco (de fato, acrescentou-se mais veneno) nos últimos oito anos. “Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de legítima defesa.” No regime de câmbio flutuante, quando o choque externo é um grande aumento das relações de troca, ele é “filtrado” por uma valorização da taxa de câmbio. O cabo de guerra estabelecido entre os “falcões” e o governo parece estar amainando, com o reconhecimento que o ajuste dos juros pelo Banco Central (BC) será suficientemente prolongado para promover a convergência da taxa de inflação para o centro da meta de 2012. Aparentemente isto está sendo conseguido: a taxa de juros real produzida pela Selic (que importa mais para o custo da dívida pública) tem sido elevada moderadamente, mas a taxa de juros real do setor privado que controla o consumo e boa parte dos investimentos (não privilegiado por programas especiais), tem se elevado mais fortemente. Este ano a despesa com juros da dívida pública deve beirar a R$ 180 bilhões, uma respeitável Bolsa-Rentista. A comunicação do Banco Central deve ser dirigida à sociedade e não apenas ao sistema financeiro. No fundo, os seus clientes são os cidadãos comuns que só podem ser informados por meio da mídia. São eles (e não apenas os analistas financeiros) que lhe conferem credibilidade. É fundamental para o sucesso da política econômica a informação preventiva, rápida, transparente e honesta do Banco Central, para contrarrestar a natural diversidade de opiniões. Há muitos anos os economistas reconheceram as estreitas relações que existem entre o movimento de capitais, os regimes da taxa de câmbio e a autonomia monetária de cada país. Teorizando sobre situações limites: 1) liberdade absoluta ou controle absoluto dos movimentos de capitais nas relações externas; 2) taxa de câmbio absolutamente flutuante ou taxa de câmbio absolutamente fixa; 3) liberdade absoluta ou constrangimento absoluto para que a política monetária atenda às condições econômicas domésticas e estabilize a economia; e 4) adicionando a hipótese que os agentes são absolutamente racionais e exploram qualquer oportunidade de lucro que possa ser apropriado pela livre arbitragem, demonstra-se, logicamente, que a política econômica de um país não pode satisfazer, simultaneamente, mais do que duas, das três primeiras condições expostas acima. Essa construção lógica constitui o já velho e famoso trilema que condiciona o exercício da política econômica. “A ascensão social da última década produz um desequilíbrio entre a demanda e a oferta.” Em outras palavras, ela pode incorporar quatro situações resumidas a seguir: 1) Liberdade de movimento de capitais e câmbio fixo. Nessa circunstância, o país não pode ter uma política monetária que cuide dos seus interesses internos. Para que haja equilíbrio no longo prazo, a sua taxa de inflação deve ser igual à externa e a taxa real de juros deve ser igual à do “resto do mundo”. Se a taxa de juros interna for maior do que a externa, a acumulação de reservas produzida pela entrada de capital precisa ser neutralizada com o aumento crescente da dívida pública (e do seu custo) e, no limite, será monetizada, criando as condições para a emergência de um processo inflacionário; 2) Controle do movimento de capitais e câmbio fixo. Nesse caso há plena liberdade para a política monetária perseguir os interesses internos do país. Nestas circunstâncias, a taxa de câmbio fixo deve ser o preço relativo que equilibra o valor do fluxo dos bens e serviços exportados com os importados. Se a taxa de inflação gerada pela política monetária autônoma for sistematicamente maior do que a do mundo, a taxa real de câmbio sofre uma lenta valorização e, mais dia, menos dia, acumula-se um déficit em conta corrente. Este regime induz a política monetária a perseguir uma taxa de inflação parecida com a do “resto do mundo”. Trata-se do sistema construído originalmente no Acordo de Bretton Woods que foi erodido pela dominança abusiva do dólar como unidade de conta internacional e moeda reserva. 3) Liberdade de movimento de capitais e câmbio flutuante. Nesse caso a política monetária precisa manter a taxa real de juros interna igual à externa para construir o equilíbrio de longo prazo. Para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio ele deve manter também sua taxa de inflação parecida com a de

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PIB nordestino deve crescer 5% este ano e ficar acima da média nacional

Puxada por uma onda de investimentos, a economia da região Nordeste deve continuar crescendo acima da média nacional nos próximos anos. Estimativas divulgadas ontem pela consultoria pernambucana Datamétrica, especializada em economia nordestina, apontam para expansão de 5,06% no Produto Interno Bruto (PIB) da região em 2011, contra 4% esperados para o Brasil como um todo. Para 2012, a projeção é de alta de 5,03% no Nordeste, ante uma média nacional de 4,3%. O crescimento da renda e do consumo das famílias, ao lado de pesados investimentos, sobretudo na construção civil, continuam sendo os principais combustíveis para a expansão maior da região neste ano. Porém, a contínua valorização do real ante o dólar surge como novo personagem. Sócio da Datamétrica, o economista Alexandre Rands explica que o câmbio valorizado tem incentivado, e muito, as importações de máquinas e equipamentos, indústria que está quase toda concentrada no Sudeste. “Em tempos de investimento elevado, o Sudeste sempre teve o diferencial de abrigar a indústria de máquinas e equipamentos. Quando se começa a importar no volume em que está sendo feito, esse diferencial já não é tão sentido”, afirmou Rands. Segundo ele, o Nordeste também sofre menos com a queda no valor das exportações, já que a região vende majoritariamente commodities para o exterior.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Segundo a Datamétrica, o crescimento do Nordeste neste ano continuará sendo puxado por Pernambuco (6,14%), Ceará (5,26%)e Bahia (5,22%), Estados mais populosos e com a economia mais desenvolvida da região. “É normal que essa onda de investimentos que chega ao Nordeste traga empresas interessadas em se instalarem nos maiores mercados consumidores”, avalia. No caso de Pernambuco, a expansão será puxada pelos investimentos no Complexo Portuário de Suape, que recebe simultaneamente obras para a construção de refinaria, petroquímica, estaleiros e, em breve, siderúrgica e montadora de automóveis. O Estado da Bahia tem novos projetos na área de energia e a promessa de uma boa safra agrícola, assim como o Ceará, que também deve continuar crescendo nos setores de vestuário e alimentos. “Além disso, os três Estados tiveram os governadores reeleitos. Essa continuidade costuma ser positiva para a economia”, lembrou Rands. Para 2012, no entanto, a expectativa é de queda na diferença entre o crescimento do Nordeste e a média nacional. De acordo com a Datamétrica, é esperado para o ano que vem um afrouxamento da política monetária, que deve resultar em expansão do consumo de bens duráveis. Quando isso ocorre, avaliou Rands, o Sudeste tende a demonstrar sua força. Murillo Camarotto/VALOR

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Dilma Rousseff, ano I

Um ano de governo, Dilma está na praia e o Brasil virou a sexta economia do mundo. Sandro Vaia ¹ Vamos comemorar? Vamos, mas com cuidado e um pouco de zelo. Dilma na praia não tem nada demais. Chefes de Estado merecem e precisam tirar férias. Vão dizer que é mesquinharia reclamar dos 650 mil reais usados para reformar a casa da base naval de Aratu onde ela está passando as férias, mas nas repúblicas é assim: a oposição reclama de tudo e é para prevenir-se disso e evitar esse falatório que a maioria dos chefes de Estado, cautelosamente, costuma passar as férias às suas próprias custas. (Aliás, essas chiadeiras não acontecem apenas nas repúblicas. Os espanhóis descobriram agora que sua família real custa 8 milhões e 800 mil euros por ano e os quase 22% de desempregados do país não devem ter gostado muito da notícia.Ainda mais sabendo que o genro do rei andava se metendo em negócios suspeitos). O que tivemos de inesquecível nesse primeiro ano do governo Dilma, além da ascensão do país ao posto de sexta economia do mundo (que os desmancha-prazeres querem atribuir à inflação e ao real valorizado) e à substituição de sete ministros, seis dos quais abatidos por suspeitas do que a Chefe chama de “malfeitos”? [ad#Retangulos – Anuncios – Esquerda]Saindo da ressaca de uma farra fiscal de ano eleitoral que fez o País crescer 7,5% , voltamos aos parâmetros usuais, que limitam as fronteiras do nosso crescimento ao padrão dos 3 a 4% ao ano. É mais do que a Europa e EUA em crise, o que seria um consolo se esse número não estivesse abaixo da média de crescimento dos países emergentes, que é com quem devemos nos comparar. A área econômica do governo tratou apenas de administrar o varejo, aplicando medidas pontuais para evitar a desaceleração da economia , reduzindo impostos sobre alguns itens de consumo e anunciando medidas protecionistas para alguns setores da indústria, correndo o risco de premiar a ineficiência e castigar o consumidor. Na área política, mesmo enfrentando a menor oposição que um governo teve desde a redemocratização, não foi capaz de se livrar da armadilha da chantagem de uma base aliada construída não sobre compromissos programáticos, mas sobre as bases fisiológicas do loteamento das áreas da administração pública. Chegar a sexta economia do mundo e provavelmente a quinta dentro de uns cinco anos, como prevê o ministro Mantega, terá um significado apenas simbólico se isso não vier acompanhado de uma revolução estrutural que retire o país de um melancólico 84º lugar no Indice de Desenvolvimento Humano. Crescer porque os outros estão encolhendo não é um grande mérito. O Reino Unido tem menos de um terço de nossa população e o PIB que conta, aquele que é medido por habitante, ainda é 3 vezes maior do que o brasileiro.Ser a sexta economia do mundo com 56% dos domicílios não ligados à rede de esgotos não chega a ser motivo de orgulho. Em seu primeiro ano, Dilma impôs um estilo mais sóbrio e recatado do que aquele do seu antecessor.Será bom para todos se nos próximos 3 anos ela trocar de vez o triunfalismo oco pelo trabalho de construir um país que seja o sexto do mundo de verdade. ¹ Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br

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Delfim Netto: em 2010 Brasil crescerá 4%

Ex-ministro da Fazenda, o economista Delfim Netto afirma que é “irrelevante” o marco da recessão técnica, configurada pelos dois trimestres seguidos de contração. Para ele, o país sairá com facilidade do atual quadro, que poderia ter sido melhor se o BC tivesse instrumentos para garantir o financiamento às exportações e a rolagem da dívida privada. FOLHA – Essa discussão sobre a recessão técnica é relevante? DELFIM NETTO – Essa discussão é completamente irrelevante. Como toda convenção, não significa mais do que isso: duas quedas continuadas e sucessivas do PIB. O importante é que tivemos uma queda generalizada. É uma situação que já passou, mas que foi bastante ruim. FOLHA – Qual a sua avaliação? DELFIM – É uma situação um pouco menos ruim do que se supunha. Os pessimistas esperavam 3%, e os otimistas, 1,5%. Acredito que no segundo trimestre tenha recuperado um pouquinho, mas você terá ainda notícias ruins. FOLHA – Por que todos erraram? DELFIM – Tudo isso é palpite. Ontem o mercado apostava em [PIB de] menos 3,5%. Leva à conclusão de que o mercado não sabe nada. FOLHA – Como sairemos da atual recessão? DELFIM – Vamos supor que não tenhamos crescido no segundo trimestre em relação ao primeiro -que o PIB fique constante; no terceiro trimestre, que cresça 1%, e, no quarto trimestre, mais 1%. Quando chegar ao final do ano, já está com crescimento próximo do positivo. De alguma forma, a política monetária terá algum efeito. Os investimentos do governo também estarão maturando. Quando estivermos nos aproximando do segundo semestre de 2010, vamos estar rodando entre 3,5% a 4%. Não é preciso um esforço gigantesco. Se isso acontecer, a eleição será com o Brasil a 3,8%, 4%, o que não é mau. Estamos fazendo o que pode ser feito no Brasil. Se comparar o esforço brasileiro com o chinês é uma piada. Folha de São Paulo – Toni Sciarreta

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