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Impensável e indizível

Nossa consciência e o livre arbítrio rejeitam embargos a qualquer opção. O instinto de sobrevivência, porém, nos aconselha a evitar a utilização abusiva de certas alternativas, que com a repetição perdem o caráter nefasto e acabam por se tornar possíveis, até palatáveis. A frequência torna tudo barato, banal, admissível, natural. Suicídio e guerra, por exemplo, são soluções extremas, inapeláveis e incogitáveis. O mesmo com relação a golpes de estado. Não existem suicídios aceitáveis, a não ser em casos de doenças terminais, nem guerras justas. O golpe de estado é a ruptura da ordem constitucional, é o caos. O regime democrático admite tanto a duplicação como a interrupção de mandatos – desde que sancionadas por maiorias ou seus representantes legítimos. Nas últimas seis décadas, este observador anotou duas crises político-militares em que a paranoia, a radicalização e a reverberação desrespeitaram a imperiosa quarentena a ser imposta ao recurso do golpe. Em Novembro de 1955 e Março de 1964 as menções a golpe eram tantas e tão intensas que desgraçadamente acabaram por se auto confirmar e materializar. Em ambas como golpe preventivo, pretexto tão aberrante e estúpido como o golpe de estado sem pretexto.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Nas crises pós-ditadura — a atual é uma delas — felizmente evaporou-se o ingrediente militar, afugentado o fantasma de quartelada. Mesmo assim, mantêm-se outras assombrações igualmente aterrorizantes. A facilidade e a irresponsabilidade com que é aventada a interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff é um desrespeito à República e suas instituições. Acusados estão os presidentes das duas casas do Parlamento, portanto o comando do Legislativo. Isso é grave, gravíssimo, sobretudo porque ambos se servem ilegitimamente de uma amalucada reforma constitucional para distrair a sociedade com uma enxurrada de emendas desconexas, deletérias, impróprias e contraditórias. Hipótese maldita Contra a chefia do Executivo — o Governo — correm suposições, rumores, fofocas, nenhuma evidência. A tentativa de confundi-las é viciosa. Tal como a histeria do principal partido governista tentando desqualificar a imperiosa missão oposicionista com o infamante estigma de golpismo. Espremidos entre o dever de reportar os incríveis desdobramentos da Operação Lava Jato e a ansiedade que domina grande parte da sociedade com o teor das suas revelações, jornais e jornalistas são facilmente levados a vulgarizar um desfecho extremo que conviria tirar de circulação para não suscitar recorrências e imitações. O país dos golpes — incruentos ou justificados – desapareceu, não existe mais. Todos os golpes se parecem — são cruéis, injustificados. Mesmo como figura de retórica. Se o sistema político não consegue contornar impasses com a esperada agilidade, em algum momento aparecerão as condições e, sobretudo as lideranças, capazes de superá-los. Golpe é uma hipótese maldita – para não ser aventada nem mencionada. Alberto Dines/Observatório da Imprensa

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Eduardo Cunha: Folha assume oposição contra o melífluo

Agora? Por quê? Quem criou Mateus que o crie! Esse elemento nocivo está na câmara não é pelo fato de se evangélico, ele lá está pelo dinheiro que correu e pela enganação que ele os ditos pastores usaram com os crédulos catequizados com ajuda, subliminar, da própria chamada grande mídia. Ele é parte do crescente contingente de falsos evangélicos que usam a bíblia para se eleger, e eleitores alienados à igreja votando neles. O criador se voltando contra a própria criatura. José Mesquita <==Orson Welles em Cidadão Kane Num duríssimo editorial, a Folha de S. Paulo, da família Frias, protesta contra condução da Câmara dos Deputados por Eduardo Cunha (PMDB-RJ); “Nos tempos de Eduardo Cunha, mais do que nunca a bancada evangélica se associa à bancada da bala para impor um modelo de sociedade mais repressivo, mais intolerante, mais preconceituoso do que tem sido a tradição brasileira”, diz o texto; jornal também critica a forma como se faz a reforma política; “o cidadão assiste a tudo sem sentir que foi consultado”; na era Cunha, Câmara se transforma em “picadeiro pseudorreligioso”, diz a Folha. Prática rara na Folha de S. Paulo, o editorial de página inteira foi utilizado neste domingo para que o jornal explicitasse sua posição contra o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No texto Submissão, a Folha, conduzida por Otávio Frias Filho, bate duro no parlamentar fluminense. “O ativismo legislativo que se iniciou com a gestão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos Deputados, e que Renan Calheiros (PMDB-AL) não deixou de seguir no Senado, possui o aspecto louvável de recuperar para o Parlamento um padrão de atuação e de debate por muito tempo sufocado”, diz o texto. “Essa aparência de progresso institucional se acompanha, porém, dos mais visíveis sintomas de reacionarismo político, prepotência pessoal e intimidação ideológica.”[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “Nos tempos de Eduardo Cunha, mais do que nunca a bancada evangélica se associa à bancada da bala para impor um modelo de sociedade mais repressivo, mais intolerante, mais preconceituoso do que tem sido a tradição constitucional brasileira”, avança a Folha. O jornal também questiona a forma como se tem feito a reforma política. “Eduardo Cunha atropelou as próprias instâncias institucionais ao impor ideias como a do distritão na pauta de votações”, diz o texto. “A toque de caixa, questões intrincadas como a do financiamento às campanhas eleitorais sofreram apreciações seguidas, e nada comprova mais a precipitação do processo do que o fato de que, em cerca de 24 horas, inverteram-se os resultados do plenário.” Numa frase que resume o circo, a Folha afirma que o “cidadão assiste a tudo sem sentir que foi consultado”. Qual é o resultado disso? “No meio dessa febre decisória, há espaço para que o Legislativo comece a transformar-se numa espécie de picadeiro pseudorreligioso, onde se encenam orações e onde se reprime, com gás pimenta, quem protesta contra leis penais duras e sabidamente ineficazes”, diz o texto. “Os inquisidores da irmandade evangélica, os demagogos da bala e da tortura avançam sobre a ordem democrática e sobre a cultura liberal do Estado; que, diante deles, não prevaleça a submissão.” 247

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Pasadena: mais um factoide para se estudar na faculdade

Professores de jornalismo de todo o Brasil! Eis mais um caso para apresentar a seus alunos, sobre factoides políticos do jornalismo brasileiro.   O Estadão publicou matéria dizendo o seguinte: É manipulação em vários níveis. Reparem no verbo “indica”. Não há informação nenhuma dizendo que a reunião entre Paulo Roberto Costa, então um diretor importante da Petrobrás (funcionário há décadas na estatal, diga-se de passagem, e que recebeu várias promoções na era FHC), e o presidente Lula tratou da refinaria de Pasadena. Por isso, o verbo usado é “indicar”. “Indicar”, no dicionário do jornalismo verdadeiro, significa exatamente o contrário: “não indica”. Porque no jornalismo verdadeiro não existe mulher “meio grávida”. Ou existem fatos ou não. Lula negou que a reunião tivesse sido sobre Pasadena. Essa é a única informação concreta. Olha só este parágrafo do Estadão, que modelo maravilhoso de manipulação babaca: “Conforme o documento obtido pelo Estado, o encontro entre Lula e Costa se deu em 31 de janeiro daquele ano, no Palácio do Planalto, exatos 31 dias antes de o Conselho de Administração da Petrobrás, na época chefiado pela então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, dar aval à aquisição de 50% da refinaria.”[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Exatos 31 dias… O que significa “exatos 31 dias”? E se fossem 32 dias, ou 27 dias, ou 54 dias? O que o fato de serem “exatos 31 dias” prova? Nada. Mas a expressão “exatos 31 dias” dá a impressão, e esse é o objetivo, de que a reunião entre Costa e Lula só podia ser sobre Pasadena, como se a Petrobrás não tivesse centenas de outros assuntos mais importantes a serem tratados. Estamos ainda no primeiro nível da manipulação. A Folha repercute a matéria, perdendo os escrúpulos. O verbo indicar é esquecido e lá vamos nós. Agora a coisa virou certeza. Parece brincadeira de telefone sem fio. A “auditoria” apenas tinha mencionado reunião entre Costa e o presidente, não havia falado sobre o que discutiram.  A Petrobrás, naqueles anos, estava fazendo as mudanças que resultariam na descoberta do pré-sal. Havia vários assuntos a serem discutidos com Paulo Roberto Costa e Gabrielli. Pasadena era a menor das preocupações da Petrobrás naquele ano. Essa é a manipulação em segundo nível. O terceiro nível da manipulação, que para mim é a pior de todas, vem do próprio relatório do TCU, um órgão profundamente politizado, que apontou um “prejuízo” de mais de 700 milhões de dólares na refinaria de Pasadena. Esse prejuízo foi meio que forçado pela pressão da mídia, que tratou, desde o início, a refinaria de Pasadena como uma “sucata velha” e a sua compra como uma coisa completamente inútil. Onde já se viu, a Petrobrás adquirir uma refinaria nos EUA? Na era FHC, a Petrobrás vendia suas refinarias para os EUA! Isso é o certo a fazer, na mentalidade colonizada de nossa mídia! Comprar refinarias? Aumentar o patrimônio da Petrobrás? Expandir seus negócios? Isso é crime! Esse prejuízo é uma manipulação, porque a refinaria está aí, dando lucro. A própria Folha, na época do escândalo, enviou uma repórter à Pasadena e descobriu isso. A matéria foi publicada no site, mas não no jornal impresso e nunca teve repercussão em outras mídias. Trecho da matéria publicada na Folha: “(…) a Pasadena Refining System Inc. (PRSI) teve, nos dois últimos anos, seu melhor desempenho desde 2005, operando com uma boa margem. Em 2013, o grupo de refinarias do qual ela faz parte teve uma média de 95% de aproveitamento. Consultada, a Petrobras diz que a refinaria “opera em plena capacidade –de 100 mil barris/dia– com resultado positivo”. O momento favorável é explicado pelo boom de produção do óleo não convencional leve, conhecido como tight oil, no golfo do México. Incrustada num “cinturão” de refinarias localizado às margens do Houston Ship Channel, canal por onde circula grande parte da produção do golfo, a Pasadena Refining System se beneficiou da grande oferta de óleo leve, de boa qualidade e –por enquanto– barato nos EUA.” *** Pois é, o petróleo continua barato nos EUA… Como é possível apontar o “prejuízo” pela compra de uma refinaria alguns anos depois da operação, sem antes aguardar que ela dê resultados, e sem avaliar a sua importância estratégica? Pasadena é um caso emblemático de manipulação, e que engolfou até mesmo a Dilma, que entrou no jogo da mídia, ao dar aquela declaração desastrada, de que “desconhecia os aspectos prejudiciais do negócio”. Não tinha  “aspecto prejudicial” nenhum. As cláusulas eram comuns e explicáveis pelo fato de que o interessado na compra era a Petrobrás, não a Astra. Com o fim do embargo econômico de Cuba, o porto de Mariel (construído pelo Brasil em Cuba), o novo canal do Panamá na China, as descobertas de petróleo no Golfo do México, a produção de petróleo de xisto no Texas, a refinaria de Pasadena passa a ser um ativo estratégico da Petrobrás, porque está situada no coração de tudo. Todas as pipelines que abastecem os Estados Unidos de gasolina e diesel se encontram em Pasadena. A mídia omite as informações. Parece que a Petrobrás comprou uma fábrica velha de reciclagem de papel na Sibéria. Não, Pasadena é uma refinaria situada no lugar mais nobre do mundo do petróleo, às margens do canal de Houston, Texas. por:Miguel do Rosário

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Facebook e o futuro da Imprensa

Deus e o diabo na terra da mídia Os artigos instantâneos, recurso lançado pelo Facebook, podem representar uma grande oportunidade para a mídia. Entretanto muitos temem que, ao adotar a novidade, os veículos de comunicação estejam abraçando o diabo. Para quem não sabe do que se trata, a nova funcionalidade da rede de Mark Zuckerberg permite que os veículos publiquem seu conteúdo efetivamente nas suas linhas do tempo, ao invés de criar posts que remetam aos conteúdos em seus sites. Pode parecer uma sutileza tola, mas não é: a experiência do usuário com o conteúdo começa já na linha do tempo. Ao clicar no post, o conteúdo é aberto diretamente no Facebook, e não no site do veículo, de uma maneira muito mais rápida. Além disso, a plataforma oferece recursos editoriais interessantes, que podem tornar a experiência ainda mais envolvente. Como o recurso por enquanto está disponível apenas no aplicativo do Facebook para iPhone, você pode ver como ele funciona no vídeo abaixo, do TechCrunch: O conteúdo publicado no novo formato não ganhará nenhuma relevância adicional, portanto a chance de aparecer no seu feed de notícias será a mesma de qualquer outro post do mesmo veículo. Em compensação, por ser mais envolvente, em tese ele será muito mais compartilhado pelos próprios usuários, aumentando consideravelmente sua audiência.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Como os veículos ficarão com toda a receita dos anúncios que venderem para os artigos instantâneos (se o Facebook vender, ele fica com 30%), é uma maneira interessante de monetizar o conteúdo promovido na rede, algo de que os veículos de comunicação sempre reclamam por não ter bons resultados. Parece bacana, não é? Então qual é o problema? Há alguns pontos importantes a se considerar. Primeiramente, ao colocar o conteúdo efetivamente dentro do Facebook, o veículo de comunicação deve entender que o indivíduo não mais consumirá tal conteúdo em seu site ou aplicativo. Receita e audiência podem ser mantidos (e até ampliados) pelo compartilhamento de números com o Facebook, mas é um fato que o usuário estará fora do “ambiente” do veículo, o que pode limitar sua capacidade de incentivar o indivíduo a consumir mais conteúdo ou outros produtos da casa. Outro medo é que, ao adotar as novidades, os veículos estejam alimentando um monstro que depois os engolirá. O Facebook hoje já é mais relevante na vida das pessoas que qualquer veículo de comunicação. Mas, apesar de ser um canal de distribuição formidável (para alguns grandes veículos, chega a responder por um terço de sua audiência), ele não produz nenhum conteúdo. Se começarem a publicar diretamente no Facebook, por mais que o material esteja dentro das páginas dos veículos, há um temor de que o usuário diga, cada vez mais, “vi no Facebook” ao invés de “vi no Estadão”, por exemplo. E, nesse caso, quem será o “dono” do conteúdo? Por fim, mas não menos importante, hoje o modelo de negócios oferecido é francamente favorável aos veículos. Mas qual é a garantia que, lá na frente, quando a mídia estiver despejando toneladas de “artigos instantâneos”, o Facebook não mude as regras do jogo, tornando-o (muito) mais interessante para si? Fazendo um paralelo com jornais e revistas, é como se todos os caminhões da cidade decidissem cobrar o dobro para entregar os impressos. Noiva cobiçada Apesar de tudo isso, alguns dos principais nomes da mídia abraçaram a novidade em seu lançamento: The New York Times, National Geographic, BuzzFeed, NBC News, The Atlantic, The Guardian, BBC News, Spiegel Online e Bild. Alguns deles, veículos com muita estrada, já têm boas iniciativas online, como The Guardian e The New York Times. E há também o BuzzFeed, digno representante da mídia nativamente digital e que já tem íntima relação com o Facebook. É muita gente boa abraçando o diabo! Será que os truques do Coisa-Ruim enganaram todos eles? Quero crer que não. Qualquer um poderia dizer: “se o negócio ficar ruim depois, o veículo pode simplesmente abandonar o formato”. Isso é verdade. Mas talvez o Facebook já terá se transformado do jacaré atual em um tiranossauro. E pular fora de seus domínios poderia eventualmente diminuir ainda mais a relevância de qualquer veículo. Nesse jogo de xadrez, o novo recurso foi uma jogada de mestre de Zuckerberg. Agora é a vez dos veículos jogarem. Talvez o Facebook nunca use esses “lances do mal” descrito acima. Talvez os “artigos instantâneos” não cheguem a fazer sucesso com os usuários. Quem sabe? Isso é tudo especulação afinal. O que é certo é que os veículos batem cabeça há 20 anos na mídia digital, sem conseguir criar um modelo realmente vencedor que garanta a sua continuidade. Pelo contrário: continuamos vendo veículos, alguns centenários, fechando suas portas. E o culpado por isso não é o Facebook, o Google ou, em um sentido mais amplo, a Internet. Os culpados são os próprios veículos, que parecem ter esquecido como ser relevantes para seu público. Estão tão preocupados com sua minguante receita publicitária, que não dão tanta importância para ele, sua razão de existir. A maioria dos veículos que hoje agonizam nasceram nos séculos 19 e 20 para atender a comunidade onde estavam, um grupo social ou um ideal. Cresceram fieis a isso. Mas acabaram se tornando máquinas muito bem azeitadas de fazer dinheiro, que já não vinha tanto de seu público, e sim da publicidade. Não estou condenando a publicidade de forma alguma, mas isso só funcionou (e funcionou por muitas décadas) enquanto esse público não tivesse algo com o que se sentisse mais bem representado. Isso aconteceu com o fortalecimento da mídia digital. Para desgraça dos veículos, seus concorrentes deixaram de ser os outros veículos, uma batalha que eles conheciam, para ser qualquer site ou aplicativo que lhes roube o tempo que seu antigo público lhes dedicava. Com o declínio da audiência, a publicidade arrumou as malas e os deixou. Parte da relevância perdida pode estar no conteúdo, que muitas vezes já não atenda mais às expectativas das pessoas, e até mesmo ao alinhamento político e econômico dos

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Donos de jornais são mais nocivos que a ditadura

Já que falamos aqui dos jornalistas cooptados por Lula para o seu exército vermelho da comunicação chapa-branca, nada mais natural do que comentar também sobre os patrões da imprensa, vassalos que vivem a soldo do governo desde que o Brasil é república. Quem resumiu muito bem o caráter dos donos de jornais nas últimas década foi o escritor Graciliano Ramos lá pelos anos de 1950, quando era revisor do Correio da Manhã, no Rio, um dos jornais mais influentes do país à época. Avesso a bajulações, sisudo, conciso, amargo e cortante, como se mostra em seus textos literários, Mestre Graça foi convidado por Paulo Bitencourt, o dono do jornal, para fazer uma saudação em nome dos empregados numa data festiva do periódico. Graciliano relutou. Dizia modestamente não ter o dom da oratória. Paulo, porém, insistiu que o alagoano falasse para a plateia que se aglomerava no local da festança aos gritos de “fala”, “fala”, “fala”…, quando o autor de Vidas Secas, profundamente encabulado pelo apupo, interrompeu a animação e iniciou suas primeiras palavras: – “Paulo, de todos os patrões que já tive, você é o menos filho da puta que conheço…” O discurso lacônico do Mestre Graça pode ser a síntese do que o povo brasileiro pensa dos seus empresários da mídia. A história da imprensa no Brasil mostra, pelos menos nas últimas décadas, que alguns donos de jornais foram mais perversos e danosos ao povo brasileiro do que mesmo os tiranos que em momentos diversos ocuparam o poder no país.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Veja alguns exemplos: Carlos Lacerda, na Tribuna da Imprensa, espinafrou Getúlio Vargas até levá-lo ao suicídio, enquanto Samuel Wainer o defendia na Ultima Hora, jornal criado com dinheiro do BB facilitado por Vargas; Assis Chateaubriand, criador dos Diários Associados, achacava empresários e governo para manter o seu poderio de comunicação, como revela Fernando Morais no “Chatô, o Rei do Brasil”; os Frias, do grupo Folha de S. Paulo, mantinham Notícias Populares para empregar policiais da repressão; O Estado de S. Paulo defendeu em seus editoriais a tomada do poder pelo regime militar; e o Roberto Marinho, o mais astuto de todos eles, aliou-se à ditadura para expandir seu império. Como se vê, cada grupo sempre defendeu interesses próprios. Como a televisão, como força popular e de persuasão, ainda engatinhava, os jornais deram as cartas durante muito tempo com a palavra final da verdade. Enquanto um grupo atacava determinado governo, outro defendia para se abastecer das verbas publicitárias e das benesses do submundo oferecidas tanto por governos militares como civis. Dono de jornal nunca teve ideologia nem partido. Ele se movimenta pela conta bancária. Seu interesse, ao contrário do que pensam os ingênuos, nunca foi o de defender os interesses do povo e nem o de estar ao seu lado, mas expandir seus impérios de comunicação para formar um poder paralelo, como fazem até hoje, em proporções menores, os grupos que dominam a comunicação no país. Imprensa independente é balela. A mais independente de todos os tempos, os jornais alternativos editados durante a ditadura, desapareceu com ela. O conteúdo que vendia, a contestação ao regime, acabou. Com o fim do militarismo, a pauta desses jornais se esgotou e eles começaram a ficar iguais à imprensa convencional e, por causa disso, sucumbiram, deixaram de ser alternativos. Mas não devemos confundir imprensa com liberdade de imprensa. Esta deve ser defendida com unhas e dentes contra todas as tentativas de silenciá-la por governos déspotas ou pela esquerda festiva. A imprensa escrita, a do Gutemberg, infelizmente está com os dias contados com o surgimento da globalização que digitaliza a notícia em tempo real. Essa nova geração não quer sujar as mãos com tinta, como faz diariamente o pequeno contingente de velhos e saudosos leitores de jornais. Mas a imprensa brasileira – pelos menos os três grupos mais importantes desse segmento – procura caminhos alternativos ao do papel impresso. E não se engane, durante muito tempo essas organizações ainda vão mandar no país, mexendo no tabuleiro do poder ao seu bel-prazer. E nós, os mortais, ainda seremos manipulados por elas por várias décadas.

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Aliança de empresas de comunicação com o Facebook gera ansiedade e esperança

A aliança de nove meios de comunicação com o Facebook para publicar conteúdo diretamente na rede social está gerando ansiedade e esperança no setor, que procura ampliar sua audiência, mas teme perder protagonismo com a distribuição de notícias fora de suas plataformas. Entre os envolvidos na parceria estão o jornal americano “The New York Times“, a emissora “NBC” e o jornal britânico “The Guardian“, que começaram a publicar nesta quarta-feira seus conteúdos dentro do Facebook, não sendo mais necessário deixar a rede social para fazer a leitura das notícias. O acordo, que deve ser estendido para mais empresas em breve, permitirá que os artigos sejam baixados em uma velocidade dez vezes mais rápida nos telefones celulares do que agora. O “Instant Articles” é uma função pensada para dispositivos móveis: os artigos que a imprensa distribuir diretamente pela rede social estarão visíveis no “Feed de Notícias” do aplicativo do Facebook – inicialmente só para iPhones. Nos desktops segue funcionando o sistema de links que leva às páginas dos meios de comunicação. O vice-presidente de Plataformas de Parcerias e Operações do Facebook, Justin Osofsky, explicou à Agência Efe que a leitura de notícias na rede social é “a pior experiência que existe” no “Feed de Notícias” e o motivo dessa movimentação editorial.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “À medida que mais gente acessa dispositivos móveis, observamos que a experiência de abrir uma notícia precisa de muitas melhorias. Ela é concretamente lenta, leva mais de oito segundos para ser carregada”, acrescentou principal responsável pelo “Instant Articles”, Michael Reckhow. Os meios de comunicação terão a opção de incluir publicidade em seus artigos e manter suas receitas, mas também podem preferir que o Facebook comercialize os anúncios, retendo com 30% da renda obtida com a venda, explicou Reckhow. A rede social também permitirá que as empresas tenham acesso aos dados sobre as pessoas que leem notícias usando as atuais ferramentas do Facebook, facilitando o acompanhamento dos interesses dos usuários. A iniciativa é, na opinião do “The New York Times”, o último exercício de equilíbrio existencial da imprensa, que busca atingir os 1,4 bilhão de usuários ativos do Facebook no mundo, mas também teme que a aliança atrapalhe seus negócios. No entanto, Vivian Schiller, ex-executiva do próprio “The New York Times”, da “NBC” e do Twitter, acredita que os meios de comunicação não têm alternativa. “A audiência está lá (no Facebook). (Ele) É grande demais para ser ignorado”, afirmou em declarações ao “The New York Times”. James Bennett, diretor da revista “The Atlantic”, outro dos nove veículos participantes da iniciativa, reconheceu hoje que a publicação de notícias através do “Instant Articles” significa “perder o controle sobre o sistema de distribuição”. No entanto, ele assinalou que, ao mesmo tempo, os meios de comunicação estão tentando levar suas histórias ao maior número de pessoas possível, algo facilitado pelo Facebook. Para o diretor-executivo do “The New York Times”, Mark Thompson, o acordo oferece a oportunidade de explorar a possibilidade de atrair mais tráfego para o site do jornal através do Facebook. “Essa é uma oportunidade de ampliar e explorar se o Facebook pode se transformar em uma parte até maior do tráfego do Times”, disse Thompson em artigo publicado no site do jornal. Também fazem parte do grupo que usará a ferramenta pela primeira vez o “Buzzfeed”, a “National Geographic” e os europeus “The Guardian”, “BBC”, “Spiegel” e “Bild”. Nas próximas semanas, indicou Osofsky, outros veículos de comunicação começarão a utilizar o “Instant Articles”. “O objetivo é ter a ferramenta pronta para que qualquer meio possa utilizá-la. Estamos fazendo isso para que seja incluído facilmente nos fluxos de trabalho e nos sistemas de conteúdo já existentes”, indicou o vice-presidente. O Facebook trabalhou junto com as empresas para desenhar a ferramenta de publicação: as notícias distribuídas pela rede social terão um formato otimizado e serão personalizáveis. As informações, que serão abertas após um toque, poderão incluir fotos, vídeos, áudios, infográficos e outros elementos, como tweets, vídeos do YouTube ou fotos do Instagram. E poderão ser compartilhadas e comentadas de forma independente. Osofsky esclareceu que as notícias postadas no Facebook não serão exclusivas, podendo também ser encontradas nos sites dos meios de comunicação em seu aspecto tradicional. O Facebook defende que a iniciativa oferecerá às empresas uma oportunidade “monetizar seus conteúdos”. Fonte:EFE/Info

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Ração para midiotas

A Folha de S. Paulo, que revelou o caso, é o único dos três jornais de circulação nacional que retoma a denúncia de que o governo de São Paulo paga R$ 70 mil, mensalmente, para um blogueiro cuja única função é postar na internet e nas redes sociais mensagens contra o governo federal, seus aliados e, principalmente, o Partido dos Trabalhadores. Na edição de quarta-feira (22/4), o diário paulista complementa a história, levando o leitor a entender a relação entre a política, a mídia tradicional e ativistas do mundo digital. O roteiro é simples: o advogado Fernando Gouveia criou em janeiro de 2013 a Appendix Consultoria, como uma nova persona jurídica para atividades que já desempenhava no site Implicante.org – colocando oficialmente sua militância a serviço do governo paulista. Com essa estrutura, passou a ser remunerado com dinheiro público. Diz a Folha de S. Paulo: “O site difunde notícias, artigos, memes, vídeos e montagens contra petistas”. Ou seja, o objeto do contrato que é pago pelo governo do estado é uma fraude. No sábado (18/4), a Folha havia denunciado essa relação, demonstrando que a Appendix não fazia o que registrava o contrato, ou seja, serviços de “revisão, desenvolvimento e atualização das estruturas digitais”. Em resposta ao pedido de explicações do jornal, a subsecretaria de Comunicação do Palácio dos Bandeirantes saiu-se com uma tática que se pode qualificar como a mais básica “picaretagem”: disponibilizou 88 caixas, cada uma com centenas de papéis sobre propaganda oficial, sem indicar a localização das informações solicitadas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Provocados, os jornalistas da Folha de S. Paulo foram adiante, e agora revelam que havia muito mais do que um contrato para a produção de intrigas políticas disfarçado de serviço público: a ex-chefe de Comunicação da Secretaria da Cultura, Cristina Ikonomidis, que colocou a Appendix no governo de São Paulo em junho de 2013, se tornou oficialmente sócia da empresa. Seu marido, que até janeiro deste ano ocupava o cargo de coordenador de Imprensa da Subsecretaria de Comunicação, era um dos responsáveis por liberar pagamentos para a “consultoria”. O mapa da picaretagem Após a primeira reportagem sobre o caso, o Estado de S. Paulo reproduziu informações publicadas pela Folha, e nada mais se disse, conforme registrou este observador (ver aqui). A insistência da Folha revela algo mais, e leva o caso para cima, na hierarquia do governo paulista: uma vez que o subsecretário Marcio Aith respondeu com a molecagem de despejar as 88 caixas de papéis sobre os repórteres, cabe ao secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, a quem responde o subsecretário de Comunicação, explicar como fica a anunciada política de transparência da administração pública. O fato de a Appendix ser contratada por uma agência de propaganda que presta serviços ao estado não diminui a responsabilidade do secretário, principalmente ao se revelar que seu ingresso no núcleo de comunicação do governo se deu pela mão de uma ex-funcionária graduada, que se beneficia do dinheiro público, na condição de sócia, com o agravante dos pagamentos autorizados por seu marido. O caso é proporcionalmente mais instigante do que aquele relatório sobre uso de aplicativos na divulgação de informações e opiniões de interesse do governo federal, que custou o cargo ao ex-ministro da Comunicação Thomas Traumann no mês de março e gerou muitas páginas de notícias e opiniões. Por Luciano Martins Costa/Observatório da Imprensa A conexão direta entre alguns dos principais assessores do governador Geraldo Alckmin e um ativista que se dedica a espalhar veneno na internet, incluindo o pagamento de seu trabalho sujo com dinheiro público, ainda que terceirizado, não pode ser ignorada pela imprensa. A observação do noticiário demonstra que os diários de circulação nacional mantêm o governador de São Paulo blindado contra críticas, seja no caso da crise hídrica, seja na epidemia da dengue, seja na sequência de chacinas sem investigação, seja na perpetuação do poder do crime organizado ou na greve de professores. Portanto, é de se esperar uma ação dos jornais para circunscrever as responsabilidades na linha hierárquica abaixo do subsecretário de Comunicação, porque há pontos de interesse comum entre as duas partes. Na linha de comentários da página do Implicante.org no Facebook, leitores reagem à revelação feita pela Folha: alguns repudiam os responsáveis, pedindo também uma “boquinha” no governo paulista, outros apoiam ferozmente os ataques ao governo federal. O conjunto é um pote de ração para midiotas. Por Luciano Martins Costa/Observatório da Imprensa

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Angelina Jolie errou de página

Angelina Jolie tirou ovários e trompas mas foi parar nas páginas de “Ciência/Saúde”. Devia estar na rubrica “Celebridades”. Angelina rebatizaria as tolas e fúteis sessões de “Celebridades” da nossa imprensa. Revelou as entranhas que nenhuma atriz expõe, com coragem rara de encontrar no meio de verniz barato e banalidades. Mas virou cobaia para ginecologistas e especialistas analisarem em página inteira, programas de rádio, jornais de TV e matéria do Fantástico os riscos que as mulheres correm ou não, a importância dos testes genéticos, o perigo do câncer no útero e a doença que tomou conta de três mulheres de sua família – mãe, avó, tia. Erraram feio, trocaram Angelina de página. Numa área onde as declarações do beautiful people beiram as raias do surreal, a realidade crua de Angelina cairia como uma luva. Na Veja (edição 2418) lemos o “consultor de imagem” de mulheres endinheiradas Alexandre Taleb aconselhar suas clientes a gastar R$ 100 mil por mês para comprar uma bolsa Hermès, outra Bottega Veneta, usar roupas Versace e calçar sapatos Jimmy Choo e Louboutin (“machucam os pés, mas chamam atenção”).[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Uma semana antes a modelo Isabeli Fontana, com seios estourando o vestido de apenas um palmo abaixo dos quadris, lastima “gostaria de ser Rihanna [namorada de Leonardo di Caprio]. Ela é selvagem, engraçada e sexy”. E logo depois do Oscar a sessão “Gente” da revista dedicou duas páginas para comentar as roupas deslumbrantes e as centenas de milhares de dólares ganhos em comerciais de produtos de beleza pelas atrizes que sobem no seu Louboutin para responder, no tapete vermelho: “De onde é o seu vestido?” Veja gozou em grande estilo atrizes como Patrícia Arquette, que ganhou o Oscar de atriz coadjuvante por Boyhood, acumula fortuna de 24 milhões de dólares, mas ensaiou um discurso “engajado” sobre paridade salarial entre homens e mulheres em Hollywood. Foi aplaudida por Merryl Streep (45 milhões de dólares). Ridicularizou a valorização do colar Van Cleef de Margot Robbie (O Lobo deWall Street) no valor de 1,5 milhão de dólares, feito em homenagem à Wallis Simpson – a cópia do colar valeria mais do que a mulher que fez um rei abdicar do seu trono? Eram só celebridades como Jennifer Lopez (fortuna de 315 milhões de dólares), que usou dois vestidos de estilistas libaneses mas não disse nada sobre a conturbada situação no Oriente Médio. Conclusão: Veja limpa mesmo as sujeiras mais profundas? “Vamos perguntar a elas”, era o título da matéria. Revisar conceitos Celebridades dizem bobagens o ano inteiro e quando resolvem enviar a Angela Merkel uma carta com o slogan “a pobreza é sexista”, pedindo proteção a mulheres e meninas em situação de risco, a chanceler alemã na presidência do G-7 não dá um pio sobre Boko Haram, Estado Islâmico, Irã. Assinaram a carta Lady Gaga, Meryl Streep, Beyoncé em nome da entidade americana ONE criada por Bono, doadora de 1% do dinheiro que arrecada . Maitê Proença fala que gosta do próprio corpo. Não, Gisele Bünchen não vai se aposentar, por que parar de vender sabonetes, shampoos, cremes e afins quando o que vende é a própria beleza a peso de ouro, para mulheres que embarcam na onda? Maquiagem minimal com tonalidade terrosa e cores pontuais. Sombras metálicas, corretivos marfim e olhos de gato, rainhas da selva prontas para o safári na savana africana – é o belo visual do caderno “Ela” de O Globo de sábado (28/3). Nenhuma palavra das modelos imitando atrizes famosas como Jane Birkin, no auge da paixão por Serge Gainsborough, ou Meryl Streep, em África Minha. Nenhuma palavra sobre os horrores da África. Nenhuma pressão contra a negação de Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados de julgar a lei de liberação do aborto: “Não vou pautar nem que a vaca tussa, vai ter de passar por cima do meu cadáver”. Celebridades são mulheres-maravilha, não têm útero nem ovários, não têm avesso, só seios siliconados. Metamorfoses da primeira que surgiu em quadrinhos em plena Segunda Guerra, em dezembro de 1941, de short, bustier vermelho, tiara, carnes explodindo e mais tarde tendo o arquétipo feminino clonado por Jane Fonda em Barbarela (Roger Vadim, 1968). As histórias da Mulher Maravilha (Wonder Woman) só foram superadas em vendas e sucesso pelo Super Homem e pelo Batman, também surgidos na década de 1940. Celebridades não se expõem, não tem opinião sobre nada, não promovem campanhas, nas entrevistas mostram o apartamento novo e expressam desejo de comprar outro maior junto com o carro do ano e o namorado da moda. Celebridades enjoam, passam folheadas na revista Caras de enorme poder sobre mulheres no cabelereiro, salvação daquelas que estão na sala de espera do médico ou do dentista. Caras é o carro-chefe em vendas da Editora Abril. Em edição recente do suplemento “Babelia” do jornal El País (23 de outubro), a enquete “O que as atrizes pensam sobre envelhecer?” inclui Cher dando um fora quando perguntam se ela não está muito velha para cantar rock. “Por que você não pergunta isso a Mick Jagger?” Susan Sarandon avisa às moças de 25 anos preocupadas com seus músculos caídos: “Cuidado, sua vida vai ser dura”. Francis MacDormand, mulher do diretor Joel Cohen, assusta-se com os valores da nossa cultura: “Não podermos envelhecer, depois dos 45 temos de nos vestir e parecer adolescentes”. Lauren Hutton afirma que faz sexo melhor depois dos 60, Cate Blanchet alerta a quem quer se submeter a cirurgias plásticas que não o faça por medo, “ou o medo permanecerá em seus olhos”, e Geraldine Chaplin diz que usa sapatos coloridos e extravagantes, “assim as pessoas se esquecem das minhas rugas”. Jane Fonda, como as outras, exibe suas rugas profundas e estimula as leitoras a revisar nosso conceito de envelhecer – não é decrepitude e, sim, uma escala ascendente de sabedoria e intenção de vida. Marion Cotillard lançou o livro As francesas não fazem cirurgias plásticas: Envelhecendo com estilo e atitude. Além do bibelô Nossas atrizes e atores, com mínimas exceções, vendem coisas. São garotas propaganda de

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A TV e a nova mídia

Henry Jenkins é professor de Ciências Humanas e coordenador do Programa de Estudos de Mídia Comparada do prestigiado MIT – Massachusetts Institute of Technology. Em seu livro Cultura da Convergência, ao contrário de Bill Gates e Rudolph Murdoch, não imagina o mundo sem televisão em seus estudos e pesquisas. Acredita mesmo que todas as mídias permanecerão, apesar da Internet. E profetiza a tal da convergência onde as velhas e novas mídias sobreviverão complementando-se e a interatividade será o combustível de todas. É difícil discordar do mestre. Mas a busca por um modelo de comunicação, com interatividade, é frenética e alucinante na TV. O problema é o modelo, ou os modelos. Nos EUA, as experiências vão do Survivor ao Aprendiz. Todo dia surge uma ideia, porém insuficiente. Todas moduladas na velha fórmula das TVs, um falando para todos. Pelo tipo de veículo é difícil estabelecer um modelo de interação que satisfaça ao telespectador, até mesmo por questões tecnológicas. Mas o tempo dirá. Aqui entre nós no Brasil as experiências são primárias, insuficientes ainda. Causa espanto aos que desejam atribuir ao programa Big Brother a marca de interação. Sucesso de venda e faturamento, ele nada tem de interação. É o último suspiro de sucesso da velha fórmula. No Brasil a experiência mais realista foi o Fala Que Eu Te Escuto, um programa evangélico, na Rede Record. No começo era muito interessante. E a interação era via telefone. Aliás, a área evangélica, na TV, é a que mais se permite experiência de interatividade. Já vimos de tudo, mas nada que supere o Fala Que Eu Te Escuto no seu início. Ali, os fiéis colocavam suas dúvidas, sugestões e críticas, sem edição.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A experiência deu tão certo que rendeu até um senador para a igreja universal, no Rio de Janeiro. Daqui para frente veremos cada vez mais a TV buscando a participação do telespectador. No jornal, bem, o jornal parece era mais dificuldades para sobreviver. Assim sinaliza o mercado. Mais a frente veremos o porquê.

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COMO A NETFLIX ESTÁ SANGRANDO A GLOBO

Silvio Santos fez uma piada há duas semanas que virou notícia pelos motivos certos e pelos errados. Em seu dominical, admitiu: “Eu não vejo televisão. Só assisto cinema”, disse. “Eu tô vendo uma série muito boa, ‘Bíblia’. Assista, tem na Netflix”.  Pediu uma assinatura, ganhou, virou manchete. Mas foi a primeira vez, provavelmente no planeta, em que um dono de TV confessa o óbvio: como cada vez mais gente, ele não liga o aparelho. Uma pesquisa do final do ano passado do instituto Nielsen constatou que o uso tradicional da TV nos EUA caiu 10,6% entre pessoas de 18 a 34 anos. No Brasil, um levantamento do Google com homens e mulheres entre 14 e 55 anos concluiu que 24% delas passam metade do tempo na internet assistindo vídeos. A tendência é de alta. Basta ver o que ocorre na sua casa. O Brasil está entre os cinco mercados mais importantes para a Netflix. A empresa não revela os números daqui. Em julho de 2014, o total mundial era de 50 milhões de assinantes. Destes, 37 milhões nos Estados Unidos. Recentemente anunciaram uma operação em Cuba. É um caminho sem volta, especialmente para a Globo. Um amigo jornalista americano, radicado em São Paulo, contou que uma das coisas que mais o impressionaram aqui foi o tamanho da Globo com relação à concorrência (ou falta dela). “Isso não é capitalismo”, disse. “É uma aberração”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Por suas dimensões, o tombo tende a ser pior. Audiências em queda livre — quem imaginou o Fantástico com 17%? –, tentativas inúteis de reverter uma situação irreversível. Em 2014, numa visita ao Rio, o principal executivo da Netflix comentou sobre a ausência de atrações da Globo no canal. “É uma situação única no mundo. É a única grande rede de televisão que não negocia com a gente”, afirmou Ted Sarandos. “Acho que eles têm medo de que vamos canibalizar o negócio deles”. A emissora carioca optou por uma plataforma chamada Globo TV+, que ninguém sabe, ninguém viu. Com diversas opções no cardápio nos serviços por streaming, ficou evidente também o baixo nível da produção da Globo. Qualquer cidadão medianamente educado que veja um seriado — e não precisa ser algo de primeira classe como “House of Cards” ou “Breaking Bad” — tem um choque com uma telenovela (não precisamos entrar no lixo de “Big Brother” ou “Esquenta”). Dia desses um colega quis assistir a um capítulo de “Império” para checar se, de fato, era tão ruim. O que se passou na tela: um sujeito chamado “Comendador” está num carro alegórico. Um mascarado vai armado atrás dele. O mascarado sobe no carro e atira. Uma moça se joga na frente do Comendador. Fala umas besteiras e morre. Na cena seguinte, nenhum personagem está no hospital ou numa delegacia. Todos no Sambódromo, falando do acontecido. Atores ruins, texto vagabundo, falta de nexo… Sempre foi assim, você se pergunta? “O Astro” era isso? “Gabriela Cravo e Canela” era isso? “O Bem Amado” era isso? Janete Clair era isso? Provavelmente, sim, embora sua memória afetiva insista que naquele tempo era melhor. Na verdade, como ninguém tinha condições de comparar com nada, engolia-se a papagaiada embrulhada no tal “padrão de qualidade”. Se tivessem juízo, elencos, diretores e autores globais veriam um único episódio de “Better Caul Saul” e ajoelhariam no milho até parir algo decente. Como o negócio é tentar manter o Ibope — inutilmente –, parte-se para o vale tudo. É uma queda lenta, mas inexorável. Como gosta o grande senador Aloysio Nunes, a internet está sangrando a Globo. A-aaeee, Silvio. Kiko Nogueira/DCM

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