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Bactérias armazenarão dados

Cientistas transformam DNA de bactérias em ‘HD natural’ para armazenar informações Cientistas americanos inseriram um gif – cinco quadros de um cavalo correndo – no DNA de uma bactéria Direito de imagemNIH/NATIONAL INSTITUTE OF MENTAL HEALTH O DNA tem o maior potencial de armazenamento de dados que se conhece: na teoria, é possível guardar até 455 exabytes (o equivalente a 100 bilhões de DVDs) em apenas um grama dele. Agora, um grupo de cientistas conseguiu aproveitar esse potencial para guardar imagens e vídeos no DNA de bactérias E.coli com uma precisão de 90%. A ideia é “programar” bactérias como equipamentos de gravação para que elas viajem pelo sangue e armazenem informações por um tempo. Depois disso, os cientistas poderiam extraí-las e examinar seu DNA para ver o que elas “anotaram”. É como se esses organismos fizessem um filme de processos biológicos do corpo. Por meio de uma ferramenta de edição de genoma conhecida como CRISPR, cientistas americanos inseriram um gif de cinco quadros de um cavalo correndo no DNA de uma bactéria. Algo semelhante a um processo de “copiar e colar”. A equipe então viu que os micróbios de fato incorporaram os dados como o previsto. Os resultados foram publicados na revista Nature. Transferência Para o experimento, a equipe da Universidade Harvard usou uma imagem de uma mão humana e cinco quadros do cavalo Annie G, registrados no final do século 19 pelo pioneiro britânico da fotografia Eadweard Muybridge. Para inserir essa informação nos genomas da bactéria, os pesquisadores transferiram a imagem e o vídeo nos nucleotídeos (blocos construtores do DNA), produzindo um código relacionado aos pixels de cada imagem. Os pesquisadores então usaram a CRISPR, uma técnica de engenharia genética que permite que você “copie e cole” informações digitais diretamente no DNA de um organismo vivo – no caso do experimento com as bactérias E. coli, através de duas proteínas. À esq., a imagem original, e à dir., a reconstituída no DNA da bactéria Direito de imagemSETH SHIPMAN As bactérias usam a versão “natural” dessa técnica (seu sistema de defesa) para guardar informações sobre os vírus que encontram. E esse funcionamento foi “hackeado” pelos cientistas para permitir uma edição mais ampla do genoma. Como os dados são inseridos nos genomas das bactérias, eles são passados de geração para geração – o que pode provocar mutações também. Os organismos armazenam uma informação seguida da outra, o que permite que se leia uma sequência de eventos na ordem em que eles foram coletados. Cientistas já traduziram até sonetos de Shakespeare em DNA – mas esta é a primeira vez em que se cria uma “biblioteca viva” com essa técnica. Quadro a quadro Para fazer o gif, as sequências foram inseridas nas células das bactérias, quadro por quadro, durante cinco dias. Os dados foram espalhados pelos genomas de várias bactérias, em vez de apenas uma, explica Seth Shipman, coautor do experimento. “A informação não está contida em uma única célula, cada uma consegue ver apenas alguns pedaços do vídeo. O que tivemos que fazer foi reconstruir o vídeo inteiro a partir de partes diferentes”, disse Shipman à BBC. “Talvez uma única célula visse alguns pixels do primeiro quadro e alguns pixels do quadro quatro. Então tivemos que olhar para a relação de todos esses pedaços de informação nos genomas dessas células vivas e dizer: podemos reconstruir o vídeo inteiro com o passar do tempo?” Para “ler” a informação de novo, os cientistas fizeram o sequenciamento do DNA da bactéria e usaram códigos customizados de computador para desembaralhar a informação genética, criando as imagens. A equipe conseguiu uma precisão de 90%. “Nós ficamos muito felizes com o resultado”, disse Shipman. Gravadores vivos No futuro, a equipe quer usar essa técnica para criar “gravadores moleculares”. Shipman diz que essas células podem “codificar informações sobre o que está acontecendo na célula e no ambiente celular ao escrever essa informação em seu próprio genoma”. É por isso que os pesquisadores usaram imagens e um vídeo: imagens porque elas representam o tipo de informação complexa que a equipe gostaria de usar no futuro, e o vídeo por causa do componente rítmico. O ritmo é importante porque será útil acompanhar as mudanças em uma célula e em seu ambiente com o passar do tempo. Talvez no futuro seja possível extrair bactérias e ver o que deu errado no corpo quando ficarmos doentes – como acontece com a caixa-preta de um avião que passou por uma pane.

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Engenharia genética criará uma raça superior?

“A edição genética poderia criar uma classe social superior” O oncologista indo-americano Siddhartha Mukherjee MIRIAM LÁZARO Oncologista que ganhou Pulitzer reflete sobre como genética vai acabar com o mundo que conhecemos O que acontece quando uma máquina aprende a ler e escrever seu próprio manual de instruções? Esta é a pergunta que Siddhartha Mukherjee (Nova Délhi, Índia, 1970), vencedor do prêmio Pulitzer em 2010 por sua biografia do câncer: O imperador de todos os males (Companhia das Letras) quer responder com seu último livro.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Em O gene: uma história íntima (Companhia das Letras), este oncologista entrelaça três narrativas como em uma tripla hélice: uma pessoal, em torno de sua própria família, afetada por doenças mentais hereditárias; uma história que acompanha os cientistas e as experiências que deram origem à genética moderna; e uma chamada de atenção sobre como as tecnologias derivadas desse conhecimento podem mudar a sociedade, e a discussão necessária para que não tenhamos de nos arrepender do que aprendemos. No início deste mês, no maior congresso de câncer do mundo, em Chicago, Mukherjee propunha em uma conferência diante de milhares de médicos um exemplo concreto da relevância dessa discussão. Os testes genéticos permitiram descobrir mutações que podem predispor a sofrer um tumor e em muitos casos melhorou o prognóstico. No entanto, também corre-se o risco de transformar o câncer em uma instituição total na qual o paciente é “constantemente vigiado” e a quem se recorda com frequência demais a ameaça da morte. É um caso em que o conhecimento do genoma pode condicionar a forma de viver nossa vida. Pergunta. Os nazistas utilizaram a poderosa ideia da genética para justificar seus delírios de limpeza racial e os soviéticos a rechaçaram, negando toda evidência científica, porque a consideravam uma ideia burguesa. Você reconhece agora o uso dessa ideia científica como justificativa para determinadas ideologias? Resposta. A eugenia privatizada não é diferente da imposta pelo Estado. Só mudam os atores. Um dos últimos desenhos no livro [em que aparece uma família chinesa que só tem filhos homens] mostra o que acontece às populações humanas quando se privatiza a capacidade das pessoas de tomar decisões sobre as características genéticas de seus filhos. Que tenhamos desmantelado a eugenia estatal não significa que não sejamos capazes de propor as mesmas escolhas individualmente, e é igualmente perigoso. P. Se conseguimos desenvolver uma tecnologia para melhorar os humanos, tornando-os mais inteligentes ou mais bonitos, é possível evitar que as pessoas façam isso com seus filhos? Dizer que um conhecimento é perigoso incita a buscá-lo. R. Acho que estamos rumando lentamente para uma nova era. Há três meses, a Academia Nacional de Medicina dos EUA tomou uma decisão muito interessante e muito importante. Estava-se debatendo se as alterações genéticas podiam ser permitidas em espermatozoides, óvulos e embriões humanos. Até agora, no Ocidente, decidimos que a engenharia genética é aceitável em células humanas desde que não mude permanentemente o genoma humano. Se em seu corpo você muda as células do sangue ou os neurônios ou as células do câncer, tudo isso não faz com que as mudanças se tornem parte permanente do genoma humano. Com Crispr [uma nova ferramenta de edição do genoma] e outras tecnologias estamos chegando ao ponto em que podemos nos perguntar se deveríamos editar o genoma humano de forma permanente. E a academia decidiu permitir isso. Mas há algumas limitações. A primeira, a de que deveria haver uma relação causal entre o gene e o objetivo que tentamos alcançar. A maioria dos traços humanos têm sua origem em vários genes, efeitos ambientais, o acaso… Mas alguns são muito autônomos e para essas doenças em que há uma causa direta entre gene e a doença poderíamos tornar essas mudanças permanentes. A segunda limitação é mais complicada. Diz que se permitiria realizar essas mudanças se houver um sofrimento extraordinário que se quer evitar. Mas sofrimento extraordinário segundo quem? Quem vai estabelecer os limites? É um sofrimento extraordinário ser mulher em uma sociedade em que se pode enfrentar uma discriminação pavorosa? Definiríamos o sofrimento extraordinário segundo uma doença? Ou perguntando às pessoas se estão sofrendo, se querem continuar vivendo assim? É uma decisão muito complicada e no fim tem a ver com quem somos, com como nos definimos. P. No livro, você fala dos problemas mentais hereditários que sofreu em sua família. Se tivesse a possibilidade de eliminar esse problema com edição genética, o faria? R. Não tenho nenhuma dúvida de que no futuro será possível encontrar uma relação entre doenças como a esquizofrenia ou o transtorno bipolar e talvez 10 ou 20 variantes de genes que, combinados, podem predizer que o risco de alguém sofrer essas doenças se multiplica por 10 ou 20. Uma vez que começarmos a conhecer essas combinações, o que vamos fazer? A eugenia privatizada não é diferente da imposta pelo Estado Imagine um experimento no qual sequenciamos 10 ou 15 milhões de genomas humanos e, depois, para cada um desses 15 milhões, registramos as vidas dessas pessoas. Em seguida utilizamos técnicas de computação para cruzar essas informações e começamos a entender bem como essas combinações de genes – ou até mesmo a combinação desses genes com fatores ambientais – aumentam ou diminuem o risco de sofrer determinadas doenças. No final, você pode imaginar como em uma família como a minha 10 variantes genéticas em combinação multiplicam por 10 o risco de uma doença terrível. Você sequenciaria o genoma de seus filhos para ver qual carrega esse risco? P. Se eu puder fazer algo a respeito, seguramente sim. Se não, preferiria não saber. Já fazemos isso com a síndrome de Down, mas poderíamos começar a descartar particularidades genéticas muito mais sutis. R. Depende do que você considere poder fazer algo a respeito ou mudar algo. Uma das possibilidades, que teremos à disposição logo, pode ser algo como selecionar embriões e só implantar aqueles que não têm determinadas combinações de genes. P. Mas já fazemos isso. Quase não nascem mais pessoas com síndrome de Down. R. Verdade.

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Fósseis e o mercado negro da paleontologia

Vende-se animal extinto: 3,50 reais cada um Benaqla Sadki trabalha procurando fósseis perto de Erfoud (Marrocos). A exportação de fósseis é um setor desregulado, baseado na mão de obra barata e no qual convivem cientistas e colecionadores privados Benaqla Sadki é um homem magro, de mãos rudes e quase sem dentes. Diz ter 45 anos, mas aparenta pelo menos 10 a mais. Ele vive na cidade de Erfoud, no sudeste do Marrocos, trabalha num buraco de cinco metros que cavou a golpes de pá e picareta. Retira os escombros escalando pelas paredes com uma agilidade espantosa. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Levou um mês para abrir a fossa, e ainda terá que continuar cavando vários metros na horizontal antes de encontrar o que busca. Trabalha assim inclusive no verão, com temperaturas que superam os 40 graus. “Isto é o que tenho que fazer para ganhar o pão”, diz em francês.  Há 450 milhões de anos, o deserto do Saara era o fundo do oceano situado em torno do Polo Sul. Fazia parte do supercontinente de Gondwana. As costas eram similares às da Antártida, e em suas águas viviam trilobitas, animais que desenvolveram olhos de vidro e exoesqueletos para se proteger de seus predadores, os ortoconos (cefalópodes parecidos com lulas, mas com concha) e bivalves semelhantes aos atuais. Todos esses animais e muitos outros foram extintos há centenas de milhões de anos, mas seus corpos fossilizados continuam debaixo da terra e são contados aos milhões. “Graças ao comércio de fósseis, foram definidas em Marrocos cerca de mil novas espécies de invertebrados paleozoicos”, diz o pesquisador espanhol Juan Carlos Gutiérrez-Marco, que todos os anos viaja de jipe de Madri até a região Sadki é uma das centenas de catadores de fósseis nesta zona desértica do Anti-Atlas marroquino. Procura crinoides, animais marinhos caracterizados por seus vistosos cálices e pedúnculos. O preço depende do tamanho da peça. “Por uma boa placa podem me dar 3.000 dirhams [955 reais]”, diz. Às vezes, passa até quatro meses cavando sem encontrar nada, conta. Estes trabalhadores são a mão de obra barata que sustenta o mercado de fósseis em Marrocos, um dos principais exportadores em nível mundial. Nas lojas das localidades de Erfoud, Alnif e Rissani, pode-se comprar pelo equivalente a 3,50 reais trilobitas que cabem na palma da mão (são vendidos em caixas de 200 unidades), e placas com vários desses animais por mais de 3.500 reais. Há até tampos de cozinha e banheiro feitos com pedra calcária cheia de animais extintos. Uma vez retiradas do país, as peças mais valiosas são vendidas pela Internet por dezenas de milhares de reais. Toda esta atividade, que dá de comer a muitas famílias na região, não está regulada. Grande parte dessa riqueza fóssil acaba no estrangeiro, na maioria de casos sem passar pelo controle das autoridades. Um cortador de pedra em Erfoud. Numa das entradas de Erfoud, o som das serras é constante. Em meio a nuvens de pó asfixiante, trabalhadores com o rosto e os olhos tampados por lenços e óculos cortam placas de fósseis para sua posterior venda. São o elo seguinte da cadeia, os preparadores. Os mais qualificados usam brocas similares aos de um dentista e polidores que cospem uma areia fina, separando assim os trilobitas da pedra até deixá-los quase totalmente soltos, mas sem danificar os espinhos defensivos de algumas espécies. Além das lojas abertas ao público, alguns comerciantes têm armazéns privados nos quais oferecem garras de dinossauro por 860 reais, mandíbulas de baleia extinta por 5.200 reais, ou tochas de pedra esculpidas por humanos há dezenas de milhares de anos por 170 euros cada uma. Uma vez preparados para a venda, o preço dos fósseis na loja é pelo menos o dobro do que se paga a quem o coletou, e às vezes muito mais. Cientistas de vários países peregrinam a esta região em busca de descobrimentos de alto impacto. É uma forma de fazer paleontologia que começa em lojas e feiras da Europa ou EUA. Os investigadores perguntam aos vendedores sobre a origem de um fóssil de invertebrado ou vertebrado interessante. O rastro os leva às muitas pedreiras do sudeste de Marrocos. Se tiverem sorte, os comerciantes locais os levam até o local exato de onde saiu uma espécie desconhecida, e os coletores lhes deixam escavar. Só há uma condição: que paguem pelo que encontrarem. Um preparador de fósseis limpa um trilobita. “Graças ao comércio de fósseis foram definidas em Marrocos quase mil novas espécies de invertebrados paleozoicos”, diz Juan Carlos Gutiérrez-Marco, pesquisador do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) da Espanha. Anualmente, esse geólogo faz uma viagem de ida e volta em jipe de Madria Marrocos para ver quais animais novos estão sendo extraídos, comprar alguma peça interessante e realizar suas próprias escavações nas zonas que ainda não foram exploradas. O pesquisador já descreveu três novas espécies e tem outras sete na gaveta. Marrocos tem amplos afloramentos dos períodos Cambriano, Ordoviciano, Siluriano e Devoniano, que abrangem entre 540 e 350 milhões de anos atrás. O fato de não haver uma camada de vegetação por cima faz desta zona de Marrocos um dos melhores lugares do mundo para encontrar fósseis. “No ritmo atual de exploração, as reservas demorariam séculos para se esgotarem”, diz Gutiérrez-Marco. Os comerciantes locais deixam os cientistas escavarem, desde que paguem Um dos achados científicos mais recentes nesta área foi o anomalocaris-gigante (Aegirocassis benmoulae), um artrópode marinho de aproximadamente dois metros de comprimento, que era provavelmente o maior animal do mundo há 480 milhões de anos. Os cadáveres desses animais e outros do seu ecossistema ficaram tão bem preservados no sedimento que os órgãos e partes moles se fossilizaram, algo excepcional, comparável apenas aos famosos xistos de Burgess, no Canadá, e a outros similares na China. Mohamed Ben Moula, de 63 anos, é um ex-pastor de camelos que se tornou caçador de fósseis. Ele achou os primeiros anomalocaris e os vendeu a Brahim Tahiri, um dos comerciantes de fósseis mais ricos da região. Tahiri mostrou o material a

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Algorítimos irritam usuários da Internet

Internet se rebela contra a ditadura dos algoritmos Facebook e Google corrigem seus sistemas de inteligência artificial para mostrar a seus usuários uma visão de mundo mais rea Pressionado pela crise das notícias falsas, o Google reagiu com mudanças em sua joia da coroa, os algoritmos de busca: a partir desta semana darão mais peso às páginas consideradas mais confiáveis e tornarão menos visíveis os conteúdos de baixa credibilidade. Depois de meses de testes, as melhorias anunciadas pretendem evitar que os primeiros lugares das buscas continuem exibindo páginas que negam o Holocausto, divulgam mensagens vergonhosas contra as mulheres ou difundem boatos como o de que Barack Obama prepara um golpe de Estado contra Donald Trump.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Com o mesmo objetivo, o Facebook começa a permitir aos usuários que denunciem informações duvidosas. A partir desta semana, também passa a mostrar abaixo delas notícias confiáveis sobre o mesmo tema e também links para sites de checagem de dados. A divulgação de mentiras, informações muito tendenciosas, rumores e boatos foi protagonista nas campanhas do Brexit e das eleições presidenciais nos EUA e colocou sob escrutínio os algoritmos de Google e Facebook, acusados de favorecer a divulgação de notícias falsas e a criação de bolhas ideológicas. Isso porque as redes sociais mostram na timeline de cada usuário o que seus algoritmos intuem que a pessoa vai gostar, favorecendo notícias que confirmam sua visão de mundo diante das que questionam suas ideias, segundo adverte o relatório do projeto REIsearch, patrocinado pelo Atomium (o Instituto Europeu para a Ciência, Meios de Comunicação e Democracia), que acaba de lançar uma grande pesquisa pública para questionar os europeus sobre este e outros impactos da nova geração de tecnologias da Internet. “Culpar as redes sociais pelas bolhas ideológicas é um paradoxo. Ampliam a visão dos usuários para além de seu entorno mais próximo, mas não resolveram um problema que já existia, porque seus algoritmos ainda não são suficientemente bons”, afirma David García, pesquisador da área de ciências sociais computacionais na Escola Politécnica Federal de Zurique. Ali ele analisa se o conteúdo emocional das notícias falsas contribuiu para aumentar sua difusão. E destaca que os algoritmos podem detectá-las melhor se forem alimentados com dados sobre como são compartilhadas as notícias nas redes sociais. Monitorar os usuários “A pesquisa sobre as redes sociais permite identificar os usuários que compartilham notícias não verazes. Um algoritmo poderia detectar que uma notícia está sendo compartilhada por muitos desses usuários e classificá-la como possivelmente falsa”, afirma David García. “Imagino que o Google esteja fazendo algo parecido para melhorar seu algoritmo, mas o problema é que não sabemos o que é.” Em 2015, um grupo de cientistas do Google publicou um artigo de pesquisa no qual explicava um novo método para avaliar a qualidade dos sites em função da veracidade dos dados que contém, em vez do método tradicional do buscador, que determina a popularidade de um site combinando uma multiplicidade de sinais externos, como o número de links para ele a partir de outros sites. O Google não esclarece se incorporou esse algoritmo da verdade em suas melhorias recentes. Walter Quattrociocchi, pesquisador da área de ciência de dados, redes e algoritmos no IMT – Institute for Advanced Studies italiano, alerta sobre essa ideia: “Um algoritmo, por definição, nunca será capaz de distinguir o verdadeiro do falso”. Carlos Castillo, que dirige o grupo de pesquisas de ciência de dados no Eurecat (Barcelona), concorda: “Decidir se algo é verdadeiro ou falso não é algo que devemos terceirizar para uma máquina. Nem para outras pessoas. Não pode haver um Ministério da Verdade [como o do romance 1984, de George Orwell], tampouco um algoritmo da verdade”. Pelo contrário, o pesquisador afirma que a maioria das mudanças anunciadas por Google e Facebook nas últimas semanas aplicam soluções baseadas na participação humana. Castillo defende o fomento do ceticismo visível: destacar as notícias falsas e contextualizá-las, ao contrário das exigências de que Facebook e Google as eliminem. Soluções humanas: educação e verificação de dados “O que sim podemos pedir a um algoritmo é que nos ajude a avaliar a veracidade de uma informação, destacando os dados e demais elementos que devemos comparar para formar nossa opinião”, acrescenta o pesquisador Carlos Castillo. “Decidir se algo é verdadeiro ou falso não é algo que devemos terceirizar para uma máquina. Nem sequer para outras pessoas.” Assim, a Full Fact, uma agência independente de verificação de dados, prevê que este ano seus revisores possam começar a usar inteligência artificial para agilizar seu trabalho. Google e Facebook começaram a dar visibilidade a estas verificações humanas ao lado das notícias que divulgam, para que os usuários possam avaliar melhor sua veracidade. Walter Quattrociocchi destaca a necessidade de “sinergias entre jornalistas e instituições acadêmicas para promover um intercâmbio cultural e combater a difusão de notícias falsas”. “O problema não será resolvido pelos algoritmos”, adverte David García. E Carlos Castillo concorda também que “nos falta alfabetização midiática: ainda não desenvolvemos certas habilidades para avaliar as notícias, mas faremos isso”. Na mesma linha, Andreas Schleicher, diretor de Educação da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) anunciou que a análise crítica de informações digitais será incorporada ao próximo relatório PISA, que em 2018 avaliará o rendimento acadêmico dos estudantes de nível secundário internacionalmente. ElPais

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Agricultura, arqueologia e cerveja

Em livro, Karin Bojs faz uma retrospectiva dos últimos 55.000 anos de pré-história na Europa, do sexo com os neandertais até a chegada da agricultura A jornalista Karin Bojs. BERNARDO PEREZ DANIEL MEDIAVILLA/ElPais A pré-história europeia escrita por a jornalista científica Karin Bojs (Lundby, Suécia, 1959) começa com um estupro. Um esbarrão sexual entre duas espécies humanas diferentes ocorrido há 55.000 anos na região hoje ocupada por Israel.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] O caráter consentido ou não da relação pode ser objeto de especulação, mas o sexo entre neandertais e Homo sapiens já foi comprovado cientificamente graças ao trabalho do geneticista sueco Svante Pääbo. Esse pioneiro da análise de DNA antigo conseguiu sequenciar o genoma completo da espécie extinta e agora sabemos que 2% de nossos genes são fruto daquele cruzamento. Em seu livro Min Europeiska Familj (“minha família europeia”, ainda inédito no Brasil), Bojs reúne a informação mais atualizada sobre a vida dos habitantes do continente antes do surgimento da escrita. Os dados acumulados por diferentes métodos de pesquisa, da arqueologia mais clássica às inovações científicas introduzidas por profissionais como Pääbo, sugerem que os europeus de hoje são fruto de três ondas migratórias. A primeira, pouco depois do encontro com os neandertais no Oriente Médio, trouxe os caçadores e, provavelmente, acarretou a extinção daquela que até então era a espécie humana da Europa. Uma segunda onda trouxe os agricultores do que hoje é Síria e, com eles, seu conhecimento do cultivo das plantas. Por último, há 5.000 anos, partindo do sul do que hoje é a Rússia, chegou um povo de pastores que trouxe consigo as línguas indo-europeias atualmente faladas na Europa, os cavalos e uma sociedade patriarcal e estratificada. Pergunta. Antes do conhecimento que o sequenciamento do DNA antigo proporcionou, acreditava-se que a agricultura foi inventada em muitos lugares ao mesmo tempo. “A agricultura foi inventada uma vez e chegou à Europa com os povos que a haviam inventado” Resposta. Sim, era como uma espécie de dogma. A teoria segundo a qual a agricultura veio da Síria com a migração dos próprios agricultores que a haviam inventado, que agora parece a correta, era chamada de “migracionismo” com um tom pejorativo. Os filhos da geração de 68 viveram uma reação ao nazismo. Antes da Segunda Guerra Mundial, a arqueologia e a história estiveram muito influenciadas pelos nazistas, e, quando chegou a reação, foi um pouco exagerada. Rejeitou-se tudo, negou-se que houvesse influência das migrações ou dos genes, tudo era cultura e sociologia, e afirmavam que os caçadores se reeducaram e decidiram que não queriam mais ser caçadores e passaram a ser agricultores. Se você pratica a agricultura, sabe que é muito difícil. São necessários muitos anos para aprender a cultivar. Havia uma minoria de arqueólogos que queria explicar a aparição da agricultura na Europa através da migração, e o DNA provou que esta minoria estava certa. P. Mas parece que a agricultura apareceu em muitos lugares separados sem contato aparente, como na América e na Índia. R. Isso foi um pouco depois, e de fato não podemos ter certeza. O que sim sabemos pelos dados da Europa é que a agricultura chegou acompanhada dos humanos que a conheciam e que migraram com ela através de grandes distâncias. P. Em seu livro, você também fala da hipótese que propõe que a agricultura foi inventada, entre outras coisas, para produzir bebidas alcoólicas. R. Arqueólogos alemães encontraram em um lugar chamado Göbekli Tepe, na parte leste da atual Turquia, taças e grandes baldes do tamanho de uma banheira onde viram enzimas que seriam restos da fabricação de cerveja. Eles estão convencidos de que havia um culto neste local erguido por culturas tardias de caçadores. As pessoas vinham de muito longe, até centenas de quilômetros, a fim de se reunir ali para celebrações. Esses arqueólogos acreditam que o consumo de cerveja era uma parte importante dessas celebrações, e isso faz sentido. Não acredito que comer purê fosse um impulso suficientemente importante para começar uma nova cultura e um novo estilo de vida. “As pessoas vinham de muito longe a fim de se reunir ali para celebrações. Não acredito que comer purê fosse um impulso suficientemente importante para começar novo estilo de vida” Os grãos já eram parte da dieta durante muitos anos antes da aparição da agricultura. Coletavam trigo e cevada, isso era parte do processo, mas se de repente você precisa de grandes quantidades de grão para produzir cerveja, acredito que seja um incentivo interessante. A agricultura obviamente foi um processo muito complicado, e também tem a ver com a mudança climática. Houve uma mudança climática muito brusca quando acabou a última glaciação e o Oriente Médio se tornou mais úmido e facilitou o cultivo. Se você havia tentado cultivar algumas plantas, estava no lado ganhador quando se produziu essa mudança de condições. P. Alguns cientistas propõem que adotar a agricultura foi o pior erro da humanidade, que piorou suas condições de vida. Você discorda. R. Não gosto dessa ideia. Acho que há vários divulgadores científicos que também insistem em que a agricultura foi uma catástrofe e que os caçadores viviam em um estado feliz e natural, e que a agricultura e o gado foram uma catástrofe. Acredito que seja uma forma muito simplista de analisar a mudança. Se você olha para a pré-história, há altos e baixos no nível de vida, no período dos caçadores e nos períodos da agricultura. Como outras invenções, não é algo que surgiu de uma decisão premeditada. Tratava-se de ir resolvendo pequenos problemas na vida daquelas pessoas. Por exemplo, a cerveja pode ter surgido assim. Sabemos que você pode ficar um pouco alterado se ingere uma substância, e os agricultores fizeram isso. E então pensaram em produzir mais disso que gostavam, e para fazê-lo precisavam cultivar. E assim se acumularam muitas soluções para pequenos problemas práticos que acabaram por produzir uma grande transformação. P. Em seu livro, você considera provável que nossa espécie tivesse um papel importante na extinção dos neandertais, mas fala de

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Robótica a serviço da Justiça

O advogado-robô que dá apoio jurídico a refugiados Advogado-robô é capaz de analisar centenas de informações para ajudar em pedidos de asilo – Direito de imagem GETTY IMAGES Uma tecnologia criada para ajudar motoristas a apelar contra multas de trânsito está sendo usada nos EUA e no Canadá como uma ferramenta de auxílio legal para imigrantes em busca de asilo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Criado pelo britânico Joshua Browder, o serviço DoNotPay foi apelidado de “primeiro advogado-robô do mundo”. Trata-se de um chatbot, um programa de computador que conduz diálogos por intermédio de texto ou comandos de voz, que usa o Facebook Messenger para coletar informações sobre um caso de multa de trânsito antes de produzir recomendações e documentos legais. Browder, que tem apenas 20 anos e hoje vive nos EUA, onde estuda na Universidade Stanford, adaptou o software para ajudar imigrantes a preencher a documentação para pedidos de asilo e para obter ajuda dos órgãos públicos. A inspiração veio da história familiar: sua avó paterna foi uma refugiada judia austríaca durante o Holocausto. Sistema faz perguntas sobre o tipo de apuros ou discriminação sofridos no país de origem – Direito de imagem JOSHUA BROWDER Consultoria jurídica O chatbot foi desenvolvido com o auxílio de advogados. “Uma série de perguntas determina se um refugiado é elegível para proteção legal, de acordo com a legislação internacional. Por exemplo: ‘Você tem medo de se torturado em seu país?’”, explica Browder ao BBC Trending. “Uma vez que um usuário saiba que pode pedir asilo, o programa coleta centenas de informações sobre ele e automaticamente preenche um formulário de imigração. Todas as perguntas feitas pelo bot são em inglês simples, e há feedback de inteligência artificial durante a conversa.” O bot sugere maneiras para o interessado responder às perguntas de forma a aumentar as chances de ter o pedido aceito – um exemplo é a dica para descrever as violações de direitos humanos sofridas no país de origem. Além de preencher formulários, o programa presta informações sobre documentos necessários para o processo e mesmo locais de entrega dos pedidos. Por enquanto, o advogado-robô está disponível no Facebook Messenger, que pode ser usado também em telefones com sistema Android ou iOS, mas Browder quer expandir o serviço para mais línguas e outros aplicativos, como o WhatsApp. Será que vai funcionar? O DoNotPay got foi lançado em março do ano passado e, segundo seu criador, centenas de milhares de pessoas usaram o serviço para questionar multas por estacionamento proibido. “Quando comecei a dirigir, aos 18 anos, comecei a receber um grande número de multas, e aí criei o serviço. Mas jamais imaginei que, em apenas um ano, ele seria usado para que mais de 250 mil multas fossem canceladas.” Em agosto, o programa foi expandido para ajudar pessoas a encontrar acomodação de emergência. Browder diz que a inspiração veio da experiência de sua avó, refugiada durante o Holocausto – Direito de imagem JOSHUA BROWDER Mas analistas da indústria de tecnologia creem que a invenção de Browder pode não ter o mesmo sucesso entre pessoas em busca de asilo. “O chatbot de Browder é um grande exemplo de tecnologia que pode ajudar as pessoas”, diz Oliver Smith, jornalista do site especializado em notícias do segmento The Memo. “Porém, refugiados estão entre os grupos menos conectados da sociedade. Um chatbot pode não ser a melhor maneira de ajudá-los. As pessoas que fugiram de seus países de origem frequentemente sofrem para ter acesso à internet quando estão viajando ou estão em campos de refugiados.” Segundo um estudo da ONU, que considera a conectividade “tão vital para refugiados como comida, água e abrigo”, apenas 39% deles têm acesso à internet via celular. Megha Mohan/BBC Trending

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Cigarro: Uma em cada Dez mortes no mundo

Estudo diz que cigarro causa uma em 10 mortes no mundo e coloca Brasil como ‘história de sucesso’ Um em quatro homens e uma em 20 mulheres fumavam diariamente em 2015 Direito de imagemGETTY IMAGES O cigarro é responsável por uma em cada 10 mortes no mundo e metade das mortes causadas pelo fumo ocorre em apenas quatro países. China, Índia, Estados Unidos e Rússia concentram mais da metade das mortes atribuídas ao tabaco, de acordo com estudo divulgado esta semana pela publicação científica The Lancet.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] O Brasil, por sua vez, aparece na pesquisa – que analisou 195 países entre 1990 e 2015 – como “uma história de sucesso digna de nota” por causa da redução significativa no número de fumantes nos últimos anos. O estudo, financiado pela Bill & Melinda Gates Foundation e pela Bloomberg Philanthropies, constatou que, em 2015, aproximadamente 1 bilhão de pessoas no mundo fumavam diariamente: um em quatro homens e uma em 20 mulheres. A proporção é ligeiramente diferente da registrada 25 anos antes. Em 1990, eram um em cada três homens e uma em cada 12 mulheres. O aumento populacional, contudo, representou um incremento no número total de fumantes, de 870 milhões em 1990 para o quase 1 bilhão de 2015. E o número de mortes representa um aumento de 4,7% de 2005 a 2015. Segundo os pesquisadores, a mortalidade pode ter aumentado porque as companhias de tabaco adotaram estratégias mais agressivas em novos mercados, em especial em países em desenvolvimento. “Apesar de mais de meio século de evidências dos efeitos prejudiciais do tabaco na saúde, atualmente, um em cada quatro homens no mundo fumam diariamente”, diz uma das autoras do estudo, Emmanuela Gakidou. “Fumar cigarro continua sendo o segundo maior fator de risco de mortes prematuras e deficiências e, para reduzir seu impacto, devemos intensificar seu controle”, avalia a pesquisadora. Indonésia ainda está entre os países que lutam para reduzir o número de fumantes Direito de imagemGETTY IMAGES Brasil O estudo conclui que alguns países conseguiram ajudar pessoas a parar de fumar, em geral combinando impostos mais altos com avisos sobre os danos à saúde nos maços e programas educacionais. Um exemplo é o Brasil, que, em 25 anos, viu a porcentagem de fumantes diários despencar de 29% para 12% entre homens e de 19% para 8% entre mulheres. O país ocupa o oitavo lugar no ranking de número absoluto de fumantes (7,1 milhões de mulheres e 11,1 milhões de homens), mas a redução coloca o Brasil entre os campeões de quedas do número de fumantes. Por outro lado, de acordo com o estudo, Bangladesh, Indonésia e Filipinas não viram nenhuma mudança relativa em 25 anos. Na Rússia, houve aumento no número de mulheres que fumam e tendências similares foram identificadas na África.

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Epilepsia, convulsões e atletismo

Atleta com epilepsia desafia convulsões durante corridas para continuar competindo Mesmo com epilepsia crônica, Katie já ganhou provas de corrida importantes. Em um momento, ela está correndo junto a outros competidores. No outro, está inconsciente, caída no chão e espumando pela boca. Após passar alguns segundos tendo convulsões, Katie Cooke se levanta e segue em frente – ela está determinada a não deixar que a epilepsia crônica a tire das competições.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] A estudante de 19 anos de Cherrywood, ao sul de Dublin, na Irlanda, chega a ter 15 convulsões por dia. “Perco o controle todos os dias. Meu corpo todo treme, sinto os espasmos musculares, não consigo respirar. É como ser sugada para fora de mim”, diz ela. Apesar de ter que lidar com alguns ataques enquanto corre, Cooke já venceu provas importantes, como a categoria para sua faixa etária da Maratona de Dublin. Katie corre 5 km em menos de 17 minutos e é vista com frequência pelas ruas da cidade com seu parceiro de corrida, o médico Colin Doherty, que é seu neurologista. Mas ela não foi sempre do tipo esportivo. Diagnosticada aos 9 anos, ela conseguiu manter o problema sob controle com medicação; mas, quando entrou na puberdade, piorou por conta dos hormônios. “Não conseguia sair da cama. Não era capaz de fazer qualquer coisa sozinha, não conseguia falar. Minha mãe me vestia e me dava banho.” Katie chegou a ser internada por dez meses, mas, apesar de ter participado de diversos testes de tratamentos, sua condição se deteriorou, e ela perdeu o controle da coluna e da cintura. Quando foi mandada para casa, não conseguia andar. “Fiquei em uma cadeira de rodas por sete meses, mas, como sou muito teimosa, queria provar o que era capaz de fazer. Depois de muita fisioterapia, comecei a correr todos os dias, e amei essa liberdade.” Direito de imagemARQUIVO PESSOAL – Katie chegou a não conseguir mais andar sozinha por causa de sua condição Hoje, ela corre todos os dias e diz que, se perde um treino, sente o cansaço e tontura de antes retornarem. Mas, apesar de a corrida aliviar seus sintomas, não é uma cura. O aumento da frequência cardíaca durante a atividade física a leva a ter mais convulsões do que se não praticasse o esporte. Mas Katie diz que os benefícios compensam o sacrifício. Seu médico tem uma visão semelhante. “Há alguns desafios se você tem epilepsia crônica e quer correr longas distâncias, mas, se você só caminhar, também vai ter os mesmos desafios, então, as vantagens superam os riscos”, diz Colin Doherty. Direito de imagemSPLHá mais de 40 tipos de epilepsia, segundo os especialistas O cérebro é composto por 3 bilhões de células, todas elas ativas – mas não ao mesmo tempo. O órgão é como uma máquina que funciona de forma dessincronizada. A epilepsia ocorre justamente quando as células são ativadas em sincronia. Se um milhão delas funciona ao mesmo tempo, isso afeta o comportamento de uma pessoa. Se 3 bilhões são ativadas em conjunto, ocorre um ataque epiléptico. Há cerca de 40 tipos de epilepsia. Em algumas pessoas, elas apenas “saem do ar”. Outras apenas ficam confusas. E muitas têm convulsões, como Katie. Participar de corridas parecia ser inviável. Assim que ela tinha um ataque epiléptico, paramédicos a tiravam da prova. Ao comentar sobre isso com seu médico, ele se ofereceu para ser seu companheiro de corrida e ajudá-la durante as convulsões. “Sou um especialista em epilepsia, então, minha função é impedir que as pessoas a levem para uma ambulância. Apenas fico ali dizendo: ‘Katie está bem, sou seu médico, ela vai se recuperar’.” A epilepsia de Katie permite que ela se recupere imediatamente após um ataque. Pode se levantar e seguir em frente. Doherty suspeita que seu bom preparo físico ajuda nesta rápida recuperação. “Katie leva a corrida a sério. Ela treina bem. Estou muito confiante de que essa é uma experiência positiva para ela.” Médico de Katie, Colin também é seu parceiro de corrida Além do esporte e da faculdade, Katie também tem uma vida social saudável e um namorado, Jack, que está ao seu lado quando ela tem ataques à noite. “Ele é uma das pessoas mais tranquilas que conheço e consegue dormir enquanto estou tendo convulsões, o que é um pouco estranho”, conta ela. “Ele só acorda de vez em quando, porque alguns ataques são bem violentos. Já dei um tapa na cara dele, e ele simplesmente voltou a dormir.” Às vezes, os ataques noturnos trazem alucinações – ela diz ver um homem atrás dela. São esses episódios que a deixam mais cansada. “Não consigo dormir nada.” Direito de imagemARQUIVO PESSOALKatie tem uma vida social saudável e um namorado, Jack Ela teve problemas na escola por conta disso e não conseguiu estudar com afinco durante o ensino médio. Mas conseguiu fazer um curso supletivo e entrar para uma universidade, onde estuda gestão esportiva. Seu médico diz que ela é “uma jovem incrível” por tudo que conseguiu fazer, mesmo tendo fortes convulsões diariamente. Apesar de muitas pessoas levarem um susto quando a veem caindo no chão em uma corrida, Doherty acredita que estar em público quando isso ocorre pode ajudar outras pessoas que sofrem do mesmo problema. “Precisamos ajudar para que as pessoas levem a vida mais normal possível e sejam incentivadas a fazerem tudo que quiserem. A maior barreira não é a segurança, mas a percepção alheia.” BBC

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“Ainda nos restam as pequenas utopias que nos ajudam a viver”

Quem diz é o filósofo espanhol Francisco Jarauta. Crianças iraquianas no campo de refugiados de al-Hol, na Síria. DELIL SOULEIMAN AFP No mundo de hoje, nada é como era antes. É um laboratório onde todos os modelos políticos, éticos e morais precisam ser repensados.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Poucos filósofos contemporâneos conhecem tanto quanto Francisco Jarauta, catedrático de filosofia da Universidade de Múrcia, antropólogo e especialista em História da Arte, os desafios e as complexidades de uma sociedade globalizada em que, diz ele, “todas as certezas do passado voaram pelos ares ao mesmo tempo”. Ele considera que, se as grandes utopias morreram, ainda nos restam “as pequenas utopias, as que nos ajudam a viver o cotidiano”, como a de poder morar em um bairro onde todos se conheçam e sejam solidários uns com os outros, ou a da busca pelo tempo livre e pelo silêncio criativo. A pequena utopia da amizade, ou aquela capaz de transformar nosso trabalho e nossos sonhos em fruição, em vez de pesadelos e escravidão. Para o filósofo, a emergência do Outro está se transformando em um laboratório onde “nossos modelos políticos, éticos e morais precisam ser repensados”. Como diretor do Conselho Científico do Instituto Europeu de Design (IED) da Espanha, e membro do Conselho Internacional do Grupo IED, hoje presente também no Brasil, com unidades no Rio e em São Paulo, Jarauta, que ensina em várias instituições universitárias do mundo, se nutre da experiência desses milhares de estudantes que formam um caleidoscópio cosmopolita das tendências que estão forjando a nova civilização. A esses jovens, que estão se graduando em design industrial e gráfico, e como novos estilistas de moda, Jarauta surpreende e estimula com suas metáforas e paradoxos. Como quando lhes diz que “somos nossas próprias perguntas”, para acrescentar em seguida que “a intensidade dos fatos condena essas perguntas ao silêncio”. Escrutinador do caminho por onde vai a nova civilização, Jarauta é também um intelectual que gosta de tomar o pulso da humanidade. Depois de uma viagem recente a um campo de refugiados na Grécia, declarou ao jornal O Globo que o mais urgente hoje é “reconstruir o coração da humanidade”. Para isso, afirma, “é preciso caminhar pela viagem da vida”, onde existe a dor, a crueldade, a cegueira ante as tragédias como as dos refugiados e imigrantes, “esses novos párias da história”. Em sua conversa, que tínhamos interrompido durante muitos anos, desde nossos encontros no IED de Madri, ressalta que “estamos na era do ‘pós’: a pós-verdade, a pós-democracia, a pós-política, a pós-modernidade a pós-identidade. Nada é mais como ontem”. Diz “que temos de nos debruçar na janela do mundo para ver o que se está passando e o que está chegando”. Vivemos não só no mundo da velocidade, mas naquele em que “as geografias se deslocaram e os espaços e as distâncias desapareceram”. Um jovem estudante de Cingapura se encontra em poucas horas com um do Rio e é como se fossem do mesmo bairro. A globalização os transforma em contemporâneos. Isso leva a um “inevitável processo de miscigenação cultural”, à nova “sociedade da rede”, onde todos nos comunicamos, misturamos, contagiamos e recriamos. Aí reside o verdadeiro futuro. O que chamamos de crise na realidade significa que todas as velhas definições do saber e da cultura estão morrendo, assim como as velhas profissões. A neociência já está sendo criada fora das universidades clássicas, muitas delas ainda de “formato medieval”. Nada mais está petrificado nem prefigurado. Saltam pelos ares as definições do passado. O que é a filosofia hoje, a política, a arte? O que é o design em uma sociedade pós-industrial? “Já não é a pura fabricação de objetos para o consumo e o mercado”, diz o filósofo. É muito mais: “O design se transformou, por exemplo, em um dos instrumentos básicos na hora de definir as novas formas da cultura. Pertence, por direito próprio, ao mundo do projeto, capaz de transformar os gostos, as formas de percepção das coisas e as novas necessidades das pessoas”. Para tentar apreender o mundo em ebulição, torna-se cada vez mais atual, diz Jarauta, o estudo das tendências. É preciso saber, como os antigos radioestesistas, detectar os mananciais que correm sob nossos pés. Temos que ser “mergulhadores do novo”. Os jovens, mais que ninguém, necessitam hoje, segundo o filósofo, nutrir-se da certeza de que o mundo novo que os espera não só não lhes será hostil, mas lhes “permitirá participar para dar-lhe nome e sentido”.

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Restauração revela pintura escondida nas costas de retrato medieval da Virgem Maria com Jesus

Obra passou por um trabalho de recuperação com mais de 600 horas de duração. Uma pintura oculta em um retrato do século 14 exposto em um museu de Cambridge, na Inglaterra, foi revelada após a obra passar por um trabalho de restauração de mais de 600 horas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Atribuído ao renascentista italiano Pietro di Niccolo da Orvieto, o quadro Virgem Maria e Menino Jesus pertence ao acervo do Museu Fitzwilliam e estava há décadas pendurado, intocado, em um mesmo lugar. Ao prepará-lo para uma nova exposição de quadros renascentistas – chamada Madonas e Milagres -, restauradores encontraram um segundo trabalho no painel da parte de trás. Especialistas acreditam se tratar de uma representação da ferida adquirida por Jesus Cristo na cruz. Uma equipe de sete restauradores do Instituto Kerr recuperou a pintura, que estava encardida e havia perdido suas cores. Restauradores recuperaram a pintura secundária, que estava encardida e havia perdido as cores Acredita-se que o quadro de duas faces tenha sido criado como objeto de devoção para cerimônias privadas de orações e contemplação. O trabalho de recuperação também revelou, com a ajuda de um equipamento de luz infravermelha, detalhes do véu da Virgem que permaneceram invisíveis ao olho nu por séculos. Originalmente azul, cor que simboliza o celestial, essa parte da pintura havia sido coberta por tinta preta. Agora, a pintura está sendo exibida em uma vitrine especial de vidro que permite que seus dois lados sejam apreciados pelo público. Em cartaz desde a semana passada, a mostra Madonnas e Milagres reúne obras que o museu descreve como “testamentos da devoção religiosa na Itália durante a Renascença”. O período, do fim do século 14 ao fim do século 16, foi marcado pela revalorização de referências culturais da antiguidade clássica na Europa

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