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Como seremos estudados pelos arqueólogos do futuro?

É fácil presumir que o mundo digital se resume a pixels e códigos, diretamente oposto ao caráter físico de livros, por exemplo. Brewster Khale sabe que a realidade é bem diferente. “Digital não é imaterial como muitas pessoas pensam”, explica o americano, um misto de analista de sistemas, empreendedor virtual e ativista online. A cultura digital poderá resistir ao passar dos séculos? Image copyright Getty Kahle é o fundador do Internet Archive, uma espécie de museu da informação digital. De artigos de revista escaneados a vídeos e URLs, a quantidade de dados acumulados já ocupa mais de 20 milhões de gigabytes de espaço. E tudo isso está armazenado em discos rígidos, CDs e fitas magnéticas, todas ocupando uma série de armazéns mantidos pelo Internet Archive em diversos lugares ao redor do mundo. Mas o espaço físico ocupado não é o único problema: discos rígidos duram menos do que se imagina. O material de que são feitos, inclusive componentes eletrônicos, eventualmente vai degradar e parar de funcionar. CDs podem sofrer um tipo de “ferrugem” que limita sua vida útil plena a cinco anos de idade. Poeira E, se nossa cultura hoje é predominantemente digital, como é que vai resistir ao passar dos séculos? Como preservaremos informações sobre instituições, sociedades, culturas e descobertas científicas? Como futuros arqueólogos vão estudar como vivemos? Uma possibilidade é que eles examinem nosso DNA, preservado deliberadamente em “fósseis sintéticos”. No futuro, a tendência é que seja cada vez mais barato “ler” o código genético que define todos os organismos vivos. Na Suíça, Robert Grass e Reinhard Heckel, do centro de pesquisas ETH, de Zurique, desenvolveram um método de “gravar” o DNA. Mesmo tijolos e cimento se degradam – Image copyright Getty Como isso funciona sem que o DNA se deteriore? “Se você deixar o DNA exposto, ele começa a degradar em seis meses. Então, nosso desafio é encontrar uma forma de estabilizá-lo”, afirma Grass. A solução é a “fossilização”: Grass e seus colegas queriam encontrar material que não fosse reativo e que tivesse resistência. No mundo natural, o DNA é mais bem preservado em ossos e em baixas temperaturas. Isso explica por que pesquisadores recentemente puderam analisar DNA encontrado em ossos de um cavalo de 700 mil anos de idade. Mas se o fosfato de cálcio nos ossos tem uma boa estrutura química para encapsular o DNA, a substância conta com uma grande desvantagem: dissolve na água. A equipe do ETH escolheu o vidro como material para o fóssil sintético, mais precisamente a sílica, sua matéria-prima. Embora um painel ou garrafa de vidro sejam frágeis, o tipo usado pelos suíços é extremamente resistente por ser incrivelmente pequeno – na verdade, é basicamente pó. Cada partícula contendo um punhado de DNA tem apenas 150 nanômetros de largura. Congelamento, impacto ou compressão não teria efeito sobre elas. Elas podem até resistir a temperaturas extremamente altas, mas com um problema: o DNA contido nelas é afetado. Grass diz que o limite de resistência é 200 graus, e isso quer dizer que, enquanto as partículas sobreviveriam a um incêndio, os dados que elas contêm seriam destruídos. O DNA pode ser usado para fazer fósseis sintéticos A melhor temperatura para armazenar os “fósseis sintéticos” para evitar os efeitos do tempo seria 18 graus negativos. E se analisar os dados é uma tarefa fácil, o mesmo não se pode dizer de sua extração das placas de sílica. Este processo exige uma técnica especial baseada na imersão das partículas em uma solução à base de flúor. Seria necessário deixar instruções para que os dados sejam acessíveis para os arqueólogos do futuro. “Seria como gravar instruções em uma pedra”, diz Glass. Este é um tipo de problema que outros cientistas tentam resolver. Kahle cita o Disco de Rosetta – um arquivo de mais de 1500 línguas que seria registrado em um disco metálico. Explicações sobre seu funcionamento fariam parte do material, que seria disposto em formado de espiral. Mas o disco teria o formato bem maior que nanopartículas. A equipe de Grass precisa trabalhar em pistas para as futuras gerações. Mas seu projeto permite vislumbrar o armazenamento confiável de informações por milhares e talvez milhões de anos. Só que o custo de registrar o DNA ainda é alto. “Você precisa escolher o que registrar e definir sua importância, uma escolha extremamente difícil”, afirma o cientista. O que nosso lixo dirá sobre nós? Image copyright Getty Há ainda o fato de que nem sempre nossas escolhas são as mais corretas. O lixo, por exemplo, tem sido uma mina de ouro para arqueólogos buscando entender como gerações passadas viveram. Mas se o lixo de hoje vai sobreviver por milênios é outra história. Mas mesmo que nossa civilização vire pó, esse pó vai contar uma história. Pois ele conterá DNA e uma riqueza de informações. Chris Baraniuk/BBC

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O que o “Homo naledi” pode dizer sobre a evolução humana?

Fruto de acaso e tenacidade, a sensacional descoberta na África do Sul incita a repensar a teoria evolutiva. Uma linhagem única, de Lucy até o ser humano moderno, parece menos provável do que nunca. A notícia movimentou a comunidade científica: numa caverna da África do Sul encontrou-se um inesperado elo perdido na evolução humana, o Homo naledi, datando de entre 100 mil e 2 milhões de anos, como anunciou a revista online eLife nesta quinta-feira (10/09). Devido a suas dimensões e circunstâncias, o achado dos fósseis, em si, já teve algo de espetacular: após uma descoberta acidental em 2013, mais de 1.500 ossos foram retirados da Câmara Dinaledi, a 30 metros de profundidade, no sítio arqueológico conhecido como “Berço da Humanidade”. As escavações levaram 21 dias, envolvendo mais de 60 especialistas. Mais sensacional ainda, porém, é o potencial efeito do evento sobre a ciência. Com os estudos a seu respeito ainda a pleno vapor, o Homo naledi já abala as bases teóricas da evolução, forçando a revisão de algumas quase certezas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Mas o que torna tão revolucionária essa recente adição à árvore genealógica da humanidade? Entre Lucy e o Homo erectus Baseado exclusivamente em erráticas exumações de fósseis, os conhecimentos sobre as origens doHomo sapiens ainda são esparsos e fragmentados. Osso de maxilar de 2,8 milhões de anos, encontrado em 2013, próximo ao sítio de Lucy No extremo da linha do tempo, estão os astralopitecos, primatas com características quase humanas, datando cerca de 3 milhões de anos. Seu representante mais famoso é Lucy, o esqueleto de um Australopithecus afarensisdesenterrado na Etiópia em 1974. O ancestral cronologicamente mais próximo do homem moderno é o Homo erectus, cujos vestígios fósseis mais antigos contam 1,9 milhão de anos, e os mais recentes, 70 mil anos. Dele se sabe que usava ferramentas, sabia fazer fogo e – segundo a teoria mais em voga – se difundiu a partir da África por toda a Eurásia. Um milhão de anos de escuridão Entre os australopitecos e o H. erectus há uma nebulosa lacuna de aproximadamente 1 milhão de anos. Foi nesse ínterim que, misteriosamente, um ágil animal bípede se transformou num ser capaz de usar a própria mente para influenciar o meio ambiente em favor próprio – ou para a própria destruição. Como? A ciência não poupa esforços para responder isso – até hoje sem sucesso. Ligeiramente anterior ao H. erectus é o Homo habilis, que se crê já utilizasse ferramentas. Desde a descoberta de seus fósseis na Tanzânia, na década de 1960, e mais tarde no Quênia, essa espécie é a que inaugura a incerta árvore genealógica humana, que teria raízes na África Oriental. Antes do H. habilis, a história do homem se perde no breu do desconhecimento. Outros fósseis do gênero Homo encontrados são escassos demais para serem definidos como uma espécie. Como formulou um cientista: eles caberiam facilmente numa caixa de sapatos, e ainda haveria lugar para os calçados. Antropólogo na contramão O paleoantropólogo americano Lee Berger é um dos numerosos pesquisadores que dedicam a vida a desvendar o enigma da evolução humana. Contudo, tanto seus meios e hipóteses muitas vezes heterodoxos quanto um certo excesso de ambição carreirista o transformaram em persona non gratapara parte da comunidade científica. Berger bate de frente com seus colegas, por exemplo, ao insistir que as raízes humanas se encontrariam na África do Sul, e não no leste do continente, como se tende a acreditar. Assim, depois de um achado relevante no “Berço da Humanidade” em 2008, ele contratou geólogos para continuarem a busca de fósseis, além de pedir aos praticantes do cavernismo na região sul-africana que comunicassem qualquer achado promissor. Reconstituição hipotética de um “Homo naledi” A importância de ser esquelético Em 2013, os cavernistas amadores Steven Tucker e Rick Hunter exploravam o sistema espeleológico de Rising Star. Apesar de esse labirinto de canais e cavernas a quase de 50 quilômetros a noroeste de Johanesburgo estar bastante bem mapeado, ambos esperavam encontrar uma passagem menos conhecida. Além disso, sabiam do apelo de Lee Berger. Por um misto de curiosidade e acaso, a uma profundidade de 30 metros os dois se depararam com a Câmara Dinaledi (naledi significa “estrela”, no idioma sesotho). Lá, a 90 metros da entrada, detectaram os primeiros fósseis do improvável elo perdido. Um acaso feliz foi Tucker e Hunter serem extremamente magros, praticamente só ossos e músculos, pois, no caminho até o Homo naledi, eles tiveram que atravessar passagens medindo apenas 18 centímetros de largura. Um pouco mais de gordura, e o tesouro de Rising Star talvez ainda permanecesse oculto por muito tempo. Quase humano – mas nem tanto Depois dessa primeira revelação, Berger conquistou o apoio Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, da National Geographic Society e da Fundação Nacional Sul-Africana de Pesquisa para a exploração. Nos trabalhos de escavação subsequentes, vieram à tona cerca de 1.550 fósseis – inclusive 190 dentes de aspecto surpreendentemente humano –, pertencentes a um total de 15 indivíduos. Tal abundância de vestígios é inédita: as demais espécies de Homo são conhecidas, em geral, apenas por fragmentos de esqueletos. Ainda assim, o H. naledi continua guardando numerosos mistérios. Um dos principais é a idade dos fósseis, que pode ser de 100 mil a 3 milhões de anos. Essa incerteza impede que se avalie com precisão o papel dessa espécie no trajeto evolutivo até o Homo sapiens. Sua aparência também apresenta uma desconcertante combinação de características simiescas e humanas. Os hominídeos adultos eram relativamente esbeltos, com até 1,5 metro de altura e pesando por volta de 45 quilos. Suas pernas eram mais longas e rosto mais caracteristicamente humano do que os de outros hominídeos. As palmas das mãos, polegares, pulsos eram bem semelhantes aos dos seres humanos, e os pés, praticamente indistinguíveis destes. Por outro lado, seus dedos eram curvados, sendo ainda adaptados a escalar árvores, da mesma forma que os ombros e a pélvis. Além disso, apesar de o crânio apresentar forma humanoide, seu cérebro não era maior do que

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A não isenção da isenção

Você violaria a lei mesmo ocupando um cargo com um salário de 500 mil por mês, como gerente da maior companhia de esterco do mundo? Pergunta o diabo. Se olharmos o fato racionalmente, pelas lentes do neodarwinismo e da neurociência, a resposta é “não!”. Prevalece, diz o interrogado, a minha isenção em relação às propinas e ofertas fora da curva. Fico preso ao meu cargo. E, tal como um ator de novela, eu seria devotado ao meu papel. Mas, continua o diabo, e se o diretor da peça por ambição, ideologia, incompetência e mediocridade entender que o drama, digamos, uma comédia tivesse que virar uma tragédia e, para tanto, embaralhasse o texto da peça? Nesse caso, insiste o demo, você toparia deixar de lado a isenção devida ao papel e ao enredo, embolsando, além do seu maravilhoso salário, imensas fortunas recebidas “por fora”, recursos adicionados a, por exemplo, uma refinaria de esterco em construção? Ou seja, você diria um “não” ao seu compromisso moral com a empresa e toparia ter uma invejável conta bancária, uma cobertura em Ipanema e uma offshore num paraíso fiscal socialista? Além de garantir uma vida de nobre para seus filhinhos?[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Bem, nesse caso — pondera o interrogado pigarreando —, sabedor do objetivo de sabotar a peça e compreendendo que o esterco é matéria valiosa e procurada, eu começaria a duvidar. Como assim? Eis um dado crítico. No nosso país, a isenção não é apenas uma questão de seguir uma lei e honrar um cargo. Ela varia de acordo com quem você se enturma. Se o aval para abandonar a isenção ética vem de um adversário, surge a letra da lei; mas se ele vem de um companheiro — eu, como a grande maioria, faço de tudo! A regra legal será dispensada e englobada por um outro tipo de ética. Pois, neste caso, a dominação patrimonial ou carismática, fundada na ética da tradição familiar e do dar e receber, neutralizaria a esfera burocrática, justificando a tentação da falcatrua. A lei se curva diante dos amigos. Ademais, ela é, por natureza, desigual, pois protege quem ocupa certos cargos. Então — insiste satanás, que está na lista dos 50 a serem investigados — nessas circunstâncias, a não isenção da isenção é uma norma? Sim, porque o sistema atua por meio de múltiplas éticas e cada cargo ou pessoa as invoca em momentos e circunstâncias diferenciadas. Então, ficar isento é impossível? Conclui o demônio. Não, mas é recomendável. Como aquele famoso personagem da “Montanha Mágica”, de Thomas Mann, o campo chamado de “político” no Brasil, se caracteriza pelo hábito da falta de hábito. Deste modo, o bom político, como o bom malandro, tem como referência o velho Pedro Malasartes: ele não é isento porque ele segue a ética de jamais ser isento. O malandro, você conhece isso muito bem, só é honesto por malandragem! Como acreditar em isenções se o Executivo aparelhou a até não mais poder todo o sistema, inclusive o Judiciário? Em quem acreditar ou confiar eis a questão? Sobrou o Legislativo, que entra em conflito com o Executivo por falta do que um sensível político nordestino (eles são craques…) chamou falta absoluta de gosto pela “pequena política” abominada pela presidente. Como seguir normas, prosseguiu o interrogado, num sistema também legitimado pelo patrimonialismo e, nele, pelas simpatias pessoais que cruzam todas as fronteiras debaixo de uma ética de simpatias, afinidades e favores? Tudo isso que somente agora, devido ao tamanho do escândalo, começa a ser politizado por via jurídica, no Brasil? Realmente, diz o cão, num mundo de barões que, no entanto, amam a legitimidade da jurisprudência teológica lusa, o dono (ou dona) do país tem que aparar arestas. Se não se faz esse papel, o sistema entra em crise. Ele emperra não por uma ausência de ética, mas pela invocação de todas elas simultaneamente. O diabo afirma: Lula foi capaz de governar embaralhando todas as isenções. Usou todas as éticas e hoje acena com a força bruta. É dessa liberdade sem freio, herança de um viés escravocrata e aristocrático, que faz nascer essa insuportável ambiguidade política na forma de populismo e demagogia. Delas resulta não um povo governado, mas possuído (ou patriarcalmente “cuidado”) numa perversão da democracia. Dilma, porém, não consegue se comunicar… Mas eu quero confessar! Explodiu o interrogado. Eu roubo em nome do partido para ajudar o povo pobre. Então, arrisca satanás, a corrupção se legitima em nome de uma causa maior. Mas como jogar se os times se confundem e não há isenção? Se empresas importantes foram sujeito e objeto de acordos escusos com o governo? E a parte lúcida do estádio clama por normas sem as quais não há vida civilizada? Os exércitos acionados por Lula já destruíram um centro de pesquisa convocando ao palco o mais tenebroso ator da política: a violência. Com ela, e disso eu entendo! — advertiu o diabo —, não há isenção ou salvação! Por: Roberto da Matta, Antropólogo

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Policial mais alto da Índia vira celebridade e sonha em ser lutador

Rajesh Kumar, de 38 anos e 2,23 metros de altura e 155 kg, é considerado o policial mais alto da Índia. Ele treina 6 horas por dia e come 40 ovos, 5 litros de leite e 3 kg de frango. Considerado o policial mais alto da Índia, Rajesh Kumar, de 38 anos e 2,23 metros de altura, é uma figura conhecida entre os moradores de Gurgaon, onde trabalha como guarda de trânsito. Apesar de trabalhar como policial, ele sonha em se tornar um lutador, e para isso se exercita por seis horas diárias, segundo a imprensa local. Apesar de sua figura intimidadora, o pai de dois filhos, que se tornou policial em janeiro, virou uma celebridade na cidade, encantando pedestres que param para pedir seu autógrafo. De acordo com a India TV News, Kumar é o terceiro homem mais alto do país, e possui um apetite voraz. Pesando 155 kg, ele consome diariamente 40 ovos, 3 kg de frango, 5 litros de leite e 4 kg de frutas todos os dias. A alta conta no fim do mês é paga com seu salário e com ganhos provenientes da agricultura. Manejar o tráfego em Gurgaon, cidade notória por seu recorde de acidentes, é um trabalho difícil. Mas Kumar gosta do desafio e tem em “The Great Khali”, famoso lutador indiano, uma inspiração. “Eu quero copiar o sucesso do Great Khali, que também foi recrutado como policial. Meu objetivo é me tornar um lutador de renome mundial como ele”, disse Kumar ao jornal “The Times of India”. Para isso, ele já faz treinamentos específicos há um ano e meio. G1 [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Guerra contra o cérebro

O cérebro: prova de evolução, mas não para todos Um grupo de neurocientistas está convicto de que a mente é algo imaterial, que está além do cérebro e que seria o lugar da consciência das forças sobrenaturais. Reunidos em simpósio, alguns deles classificaram o momento como uma “guerra cultural”, isto é, uma disputa decisiva entre pesquisadores materialistas, que são os bandidos, e os pesquisadores não-materialistas, que são os mocinhos. Segundo a New Scientist, o movimento não-materialista está tentando ressuscitar o dualismo cartesiano, idéia segundo a qual cérebro e mente são coisas fundamentalmente distintas. O objetivo é colocar a ciência a serviço da busca pela alma. Cientistas desse grupo assinaram um manifesto chamado “Dissensão científica do darwinismo”, em que sustentam a tese do “design inteligente” – que tem no presidente Bush um de seus maiores entusiastas e que sugere que a vida é complexa demais para ser explicada somente pela evolução. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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O prazer do poder segundo Humberto Eco

Umberto Eco: O novo prazer do poder Umberto Eco ¹ Os eleitores estavam acostumados com que a vida dos políticos fosse governada por dois princípios, o primeiro deles é melhor resumido por um apimentado ditado italiano: “Megghiu cumannari c’a fottiri”. Traduzindo de uma forma casta, isso quer dizer: “exercer o poder é melhor do que sexo”. O outro é que os homens poderosos normalmente desejavam mulheres como Mata Hari, Sarah Bernhardt ou Marilyn Monroe. O que é espantoso é que muitos políticos ou empresários de hoje não sucumbem, digamos, à tentação de desviar dinheiro de obras públicas, mas, sim, às seduções de prostitutas de luxo que comandam somas mais altas do que as exigidas por Madame de Pompadour em sua época. E se essas garotas de programa profissionais não são de seu agrado, eles procuram outras que fornecem serviços mais especializados. Além disso, muitos parecem buscar o poder especificamente com esperança de demonstrá-lo entre quatro paredes. Veja bem, grandes homens em toda a história não foram indiferentes aos prazeres da carne. Aqui na Itália, embora alguns líderes políticos de outrora tenham talvez observado uma certa austeridade, Júlio César ia alegremente para a cama com centuriões, nobres romanas e rainhas egípcias igualmente. Isso também vale para outros lugares: o Rei Sol tinha amantes em abundância, o rei Victor Emmanuel 2º da Itália perseguia a sua Rosina e, quanto ao presidente norte-americano John F. Kennedy… Quanto menos dissermos, melhor.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Entretanto, esses homens pensavam nas mulheres (ou nos garotos) como uma espécie de descanso e recreação para um bom soldado. Em outras palavras, a ordem do dia era conquistar o país da Báctria, humilhar o chefe gaulês Vercingetorix, dominar todos os inimigos desde os Alpes até as Pirâmides, ou unir a Itália. O sexo era um bônus, como um martíni servido no final de um dia exaustivo. Por outro lado, hoje em dia, os homens no poder parecem desejar em primeiro lugar, e acima de tudo, passar uma noite festejando com dançarinas de boate, e as grandes iniciativas nunca fazem parte do cenário. Se os heróis do passado liam Plutarco para se divertir, seus colegas modernos sintonizam certos canais de TV depois da meia noite ou entram em sites sugestivos na internet. Uma recente pesquisa para buscar informações sobre o padre e místico italiano Padre Pio de Pietrelcina na internet gerou 1,4 milhão de resultados. Nada mal. Mas uma busca por pornografia encontrou 130 milhões (sim, 130 milhões) de sites. Uma vez que “Jesus” é um termo de busca mais específico do que “pornografia”, decidi buscar a palavra “religião” para poder comparar: a busca produziu pouco mais de 9 milhões de sites como resultado – uma gota num balde se comparada à “pornografia”. O que é possível encontrar nesses 130 milhões de sites pornográficos? As opções mais básicas respondem vividamente ao “quem, o quê, onde, quando e porque” do sexo. O restante são sites dedicados a todo tipo de coisas, desde várias formas de incesto (que deixaria Édipo e Jocasta constrangidos) até fetiches incomuns. A pornografia pode ter uma função positiva: fornecendo uma válvula de escape para aqueles que, por algum motivo, não praticam o ato em si, ou então reacendendo a vida sexual de casais com relacionamentos mornos. Mas ela também pode iludi-lo, fazendo-o acreditar que uma garota de programa cara pode fazer coisas que Friné, a cortesã mais famosa do mundo clássico, nunca teria imaginado. Não estou me referindo apenas aos 42% de italianos que usam a internet, de acordo com a União Internacional de Telecomunicação; todos os dias, os demais 58% podem assistir na tela de suas TVs coisas que são dez vezes mais estimulantes do que qualquer coisa que estivesse disponível a um rico empresário de Milão dos anos 40. Hoje, as pessoas estão muito mais expostas ao sexo do que seus avós estavam. Considere um pobre padre de paróquia: houve um tempo em que a única mulher que ele via era a empregada doméstica, e tudo o que ele lia era o jornal católico “L’Osservatore Romano”. Hoje há garotas com trajes mínimos na TV todas as noites. Então, será que existe algum motivo para não pensar que esse incessante estímulo ao desejo também está afetando os funcionários do governo, causando uma mutação da espécie e modificando o próprio propósito de seu papel na sociedade? ¹ Umberto Eco é professor de semiótica, crítico literário e romancista. O livro mais recente e Umberto Eco é “História da Feiura“. Ele também é autor dos bestsellers internacionais “Baudolino”, “O Nome da Rosa” e “O Pêndulo de Foulcault”, entre outros. Traduzido do italiano por Alastair McEwen.

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O genocídio que arrepiou o “mundo”

A história, sabe-se, é escrita pelos vencedores. Mas, os vencidos, também deixam registros que com o tempo vêm a lume. Historiadores e antropólogos permitem que a versão bilateral dos fatos seja conhecida. Poucas pessoas no Brasil se dão conta da proporção da mortandade de índios nas Américas, em especial nas selvas da América do Sul, após a chegada dos europeus ao Novo Mundo com suas armas e vírus. E se esse genocídio tivesse sido grande o bastante para afetar o clima do planeta, ou pelo menos o do Velho Mundo? <= Índios sul-americanos em ilustração de livro didático americano de 1914 (Reprodução/Wikipedia) A hipótese chocante foi levantada por Richard Nevle e Dennis Bird, da Universidade Stanford. Está em trabalho apresentado anteontem na reunião anual da União Geofísica Americana, segundo leio em comunicado da universidade: a chamada Pequena Era Glacial, iniciada em meados do século 17, poderia ter resultado do morticínio após a diminuição drástica das áreas cultivadas pelas populações desaparecidas, com o conseqüente reflorestamento natural das áreas abandonadas. Ao crescer, árvores e qualquer tipo de planta retiram CO2 (gás carbônico, principal agente do efeito estufa) da atmosfera. Quando uma floresta alcança sua maturidade, por assim dizer, esse “seqüestro” de carbono tende a cessar, porque os vegetais o retiram de dia, ao fazer fotossíntese, e o devolvem à noite, ao respirar, com um saldo próximo de zero. Esse balanço se altera, porém, quando uma área degradada de floresta é abandonada e a mata rebrota: durante alguns anos, ou décadas, o saldo de carbono seqüestrado será positivo, enquanto a maturidade não chegar. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Nevle e Bird acham que o genocídio foi extenso o bastante para retirar uma quantidade significativa de carbono da atmosfera, a ponto de gerar um efeito refrigerador do clima que teria sido sentido na Europa nos séculos que se sucederam à ocupação das Américas. Mas não teria sido o único fator – eles calcularam que a mortandade pode ter respondido por 10-50% do resfriamento de cerca de 1 grau Celsius em alguns períodos dos séculos que se seguiram. Outros fatores teriam contribuído, como erupções vulcânicas, que também podem favorecer o resfriamento. Os pesquisadores de Stanford foram um pouco além do que muitos poderiam considerar um mero chute, ou correlação sem vínculo causal provável. Sabendo que o processo de fotossíntese tende a consumir versões (isótopos) mais leves de átomos de carbono, eles verificaram que nas amostras estratigráficas estudadas a diminuição quantitativa de carbono também se correlaciona com um aumento relativo na proporção do isótopo mais pesado, o que reforça sua hipótese. Não dá para omitir que a idéia pareceu e ainda parece fantasiosa. Um tanto inacreditável. Vai ver é porque, para a maior parte dos brasileiros, persiste uma resistência a encarar o quanto há de horrível no passado do país e o quanto disso se perpetua no presente. bolg Ciência em dia – por Marcelo Leite

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Arte – Pintura Corporal – Nativos do Rio Omo

Nativos do Rio Omo – Vale do Rift – África Fotos: Hans Sylvester – Textos: Francisco Folco – Fonte: Memorial Penha de França O Rio Omo atravessa a Etiópia, o Sudão e o Quênia. Nessa Região ainda habitam algumas tribos que ainda estão na pré-história: Dassanech, Mursi, Hamar, Karo, Bume e Beshadar. Nas margens desse rio é que os arqueólogos encontraram os “Homens de Kibish” um ancestral de 150 mil anos. ->> mais fotos aqui ->> e aqui   [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Políticos brasileiros e a antropologia

Pelo poder, fazem qualquer negócio, vendendo ilusões e comprando consciências, na mais absoluta falta de conduta ética. O jeitinho brasileiro, a malandragem pseudo-afável e a desfaçatez moral já estão arraigados no universo político brasileiro. O Editor Lições de antropologia Assim como toda a humanidade é afrodescendente, toda linguagem emana da África, revelam agora os cientistas. Os homens e suas línguas são todos primos, em diferentes graus de parentesco, evoluindo rumo à incompreensão mútua. Mas há exceções. Veja o caso do politicus brasiliensis. Concentrado em um nicho do Planalto Central, esse grupamento se comunica em português, embora nem todos os seus integrantes se façam entender. Alguns produzem dialetos: o “povão” de Lula não é o mesmo “povão” de Fernando Henrique. Há muitas outras expressões que têm significados distintos para cada subgrupo. O que eles chamam de “reforma política” tem implicações completamente diferentes para a taba dos tucanos em comparação às dos petistas, dos peemedebistas e dos partidos pigmeus. Ao antropólogo amador convém lembrar sempre que, embora possa parecer que estejam todos debatendo o bem da aldeia, cada lado defende estritamente os interesses de sua oca. A preferência por um ou outro sistema eleitoral, por exemplo, varia em função das chances de eleger maior número de representantes para o conselho tribal.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Se o jeito “cada um por si e ninguém por todos” melhora as probabilidades do PMDB, é com esse que ele vai. Se o voto em lista aumenta o poder da caciquia partidária sobre a indiada, é esse o modelo a ser defendido pelo PT. O que pode parecer cinismo em outras plagas é puro pragmatismo para o politicus brasiliensis: não há sistema intrinsecamente melhor ou pior; há os mais e os menos convenientes. Um observador distraído poderia perguntar: uma reforma não serve para consertar os erros, a começar dos mais graves? Esse tipo de ingenuidade não existe na linguagem brasiliense. O voto de um índio de despovoada área ao norte conta 11 vezes mais do que o de um sujeito da mesma etnia que mora mais ao sul, mas isso não é importante para os caciques. Corrigir distorções de representação dá trabalho e seu lucro é duvidoso. Preferem apagar do dicionário. Quase tão complicado é diminuir o número de partidos custeados por “o seu, o nosso” (maneira como entendem o conceito de “dinheiro”). Nessa discussão, os pigmeus se agigantam. Barram qualquer tipo de barreira à sua existência. Mas nada fazem além de repetir os primos maiores ao defenderem sua oca em detrimento da aldeia. Tal qual um bonobo africano, o politicus brasiliensis tende a ter muitos e diversos parceiros. Daí ser quase impossível cobrar-lhe fidelidade partidária. Importam, pois, prática de outras culturas. A promiscuidade é proibida ao longo do ano, com exceção de um breve período quando ninguém é de ninguém. É o carnaval partidário, chamado lá de “janela”. Ideologia é conceito ultrapassado entre eles. Preferem testar as fronteiras da física e da filosofia, fundando partidos que não estão “nem no centro, nem na direita nem na esquerda”. Abandonar sua oca e erguer a própria taba é um costume frequente do politicus brasiliensis. Mais do que um simples ritual de passagem, é uma tentativa de formar sua própria dinastia. Se há, digamos, Maias e Magalhães lotando o cacicado de um partido, cria-se outro para abrigar Kassabs e Afifs. Para alguns pesquisadores, a prática de mudar o nome da taba de tempo em tempo e produzir defecções contínuas pode levar à extinção. Ainda não há evidências empíricas suficientes para provar a tese, mas a tenda que já foi Arena, PDS, PFL e agora DEM está cada vez menor. Mesmo reduzido, o grupamento politicus brasiliensis é diversificado. Há representantes de ambos os gêneros, de múltiplos credos, de heterossexuais, de homossexuais, e, dizem algumas correntes antropológicas, até dos Neandertais. Seu objetivo é eternizar-se no poder. Alguns exemplares acreditam que cultivar o bigode e tingir o cabelo ajuda. Outros preferem implantes capilares. Mas nada bate seu sistema de troca de favores, chamado toma lá dá cá. “Nunca se sabe quando será preciso contar com o voto de um colega para arquivar uma falta de decoro”, dizem. Apesar das diferenças, o grupo sempre acaba se entendendo. Você pode até não compreender, mas eles falam a mesma língua. José Roberto de Tolledo/O Estado de S.Paulo

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