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Venezuela: Derrubando uma ditadura com cocô

As ‘bombas de cocô’ que se tornaram ‘último recurso’ de manifestantes contra Maduro na Venezuela Frascos, garrafas e sacolas plásticas com fezes viraram armas nas mãos dos manifestantes venezuelanos – Direito de imagem REUTERS Em redes sociais e grupos de WhatsApp, os protestos de quarta-feira na Venezuela estão sendo chamados de “marcha da merda”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] O motivo são os coquetéis “cocotov“, a mais recente invenção dos opositores que promovem uma onda de manifestações contra o presidente Nicolás Maduro no país. Como o nome sugere, são potes, frascos, garrafas, latas e sacolas plásticas com fezes. Foi lançando esses projéteis que manifestantes reagiram às bombas de gás lacrimogêneo das forças de segurança. Invenção foi usada em protestos contra o governo de Nicolás Maduro na quarta-feira – Direito de imagem REUTERS Os coquetéis ‘cocôtov’ são lançados em reação às bombas de gás lacrimogêneo lançadas por forças de segurança – Direito de imagem REUTERS Entre os opositores, circulam mensagens com instruções detalhadas e conselhos sobre como preparar as “bombas de cocô”. Algumas mensagens dizem para evitar frascos de vidro, para garantir que os coquetéis apenas “humilhem” – e não machuquem. Marielys Valdéz, do Tribunal Supremo de Justiça, entretanto, alertou que os “cocotov” são considerados “armas biológicas” – e que quem for utilizá-los corre o risco de ser severamente punido. “O uso de armas químicas, neste caso, fezes de pessoas ou animais, geram consequências não só para quem é o alvo da arma, mas para a população, pode contaminar as águas”, destacou. A apresentadora do canal estatal VTV que entrevistava Valdéz qualificou o uso dos “cocotov” como “bioterrorismo”. Circulam pela internet conselhos e instruções de como fabricar os coquetéis – Direito de imagem REUTERS Um dos conselhos diz para evitar frascos de vidro para que bombas só humilhem e não gerem ferimentos – Direito de imagem REUTERS Há cerca de um mês e meio, o país tem sido palco de protestos diários contra o governo do presidente Nicolás Maduro. A oposição quer o adiantamento da eleição presidencial e a libertação de presos políticos. Eles também rejeitam a convocação de uma Assembleia Constituinte por Maduro em 1º de maio. O governo acusa a oposição de tentar dar um “golpe de Estado” e realizar “atos terroristas”. Desde que começaram essas manifestações, ao menos 39 pessoas morreram. As duas vítimas mais recentes morreram na quarta-feira, nos hospitais em que estavam internadas após serem feridas em protestos contra Maduro em duas cidades venezuelanas. As mortes de Miguel Castillo, de 27 anos, em Caracas, e de Anderson Dugarte, de 32 anos, no Estado de Mérida, no oeste do país, foram confirmadas pelo Ministério Público. Há um mês e meio, a Venezuela vive uma onda de protestos contra o governo de Nicolás Maduro – Direito de imagem REUTERS Os opositores do presidente exigem nova eleição presidencial e a libertação de presos políticos – Direito de imagem REUTERS Ao menos 177 pessoas ficaram feridas durante o ato promovido pela oposição em Caracas na quarta, segundo informaram as autoridades. Ainda que tenham sido emitidas advertências no dia anterior quanto à ilegalidade dos coquetéis “cocotov”, jovens com os rostos cobertos e capacetes usaram elásticos para lançar “bombas de cocô”, pedras e coquetéis molotov. “Estamos na rua e vamos ficar. Não sairemos até que isso acabe, até que Maduro deixe o governo”, disse Luis Orta, um empresário de 52 anos. O influente apresentador da TV estatal Mario Silva disse em sua conta no Twitter que o uso dos “cocotov” é um “ato de desespero, (…) de loucura”.

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Pobre e negra: de faxineira a juíza

De faxineira a juíza, a história de uma mulher pobre e negra no Brasil Adriana Queiroz pagou parte dos seus estudos como limpadora de um hospital e escreveu um livro. A luz do quarto de Adriana Queiroz estava sempre acessa nas madrugadas. Ela trabalhava durante o dia, estudava às noites e rezava para que quem apenas a via como uma mulher negra, pobre e filha de analfabetos não quebrasse seu sonho. Adriana não queria ser o que os outros esperavam dela, ela queria ser juíza em um país onde a taxa de analfabetismo das mulheres negras (14%) mais que duplica a das brancas (5,8%), segundo o IBGE.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Adriana, com 38 anos, é hoje titular da 1ª Vara Cível e da Vara de Infância e da Juventude de Quirinópolis, em Goiás. Tem cinco pós-graduações, estuda Letras nas horas vagas, mas já foi faxineira. Ela teve que se esforçar muito mais que a maioria dos seus colegas de aula para vestir a toga. E conseguiu. Hoje conta suas conquistas em um livro que acabou de lançar, Dez passos para alcançar seus sonhos – A história real da ex-faxineira que se tornou juíza de direito. Os pais de Adriana eram trabalhadores rurais no sertão da Bahia e se mudaram para Tupã, um município de 63.000 habitantes no interior de São Paulo, em busca de uma vida melhor. O orçamento familiar aumentou, o pai virou motorista de ônibus e a mãe vendedora ambulante, mas pagar uma faculdade era ainda um sonho de outra classe social. “A vida deles sempre foi muita dura. Meus pais sofreram muito, eles queriam me dar o que eles não alcançaram, mas não tinham condições. Ninguém na minha família tinha condições de me ajudar”, lembra a juíza em uma conversa por Skype. A magistrada, que sempre estudou em escola pública, foi a terceira classificada no vestibular para cursar direito, mas a única faculdade de sua cidade era privada. Não tinha como pagar, muito menos como cogitar uma universidade pública em outra cidade. “Eu soube do resultado da prova numa sexta e, na segunda, já tinha que fazer a matricula ou perdia a vaga. Tive três dias para decidir o que fazer, ver se teria que abandonar”. Ela resolveu, em seguida, pedir conselho e emprego a um professor da cidade. Ele, que trabalhava no corpo administrativo da Santa Casa, conseguiu uma vaga para ela na instituição. De faxineira. Adriana se orgulha daqueles seis meses que limpou o hospital, mas o salário mínimo que recebia não era suficiente para pagar a mensalidade da universidade e ainda ouvia chacota dos colegas. “Força nos braços, advogadinha!”, lhe gritavam. “Esse episódio é muito marcante para mim, justamente por esse preconceito de que alguém que exerce um cargo como eu exercia não possa sonhar alto”. Faltavam horas para o prazo da matrícula expirar quando Adriana plantou-se na frente do diretor da faculdade. Compartilhou seu sonho de estudar. “Ele se sensibilizou e me concedeu uma bolsa de 50% e diluiu o valor da matrícula nas mensalidades. Assim, durante o dia trabalhava na limpeza e à noite ia estudar”. Para espanto dos seus conhecidos e familiares, durante a faculdade, Adriana resolveu ser juíza. “Quando anunciei isso as pessoas ficaram espantadas. Não era comum no meu contexto almejar um cargo tão alto. É como se fosse algo inacreditável, faziam questão de frisar que eu era pobre e negra, como se não tivesse nenhuma chance”, lamenta. Decidida, em 2002, terminou os estudos, pediu demissão na Santa Casa, onde já tinha sido promovida ao corpo administrativo e guardou suas coisas em duas sacolas plásticas. Partia para a capital para se preparar. “Eu não tinha nem mala”, relata. Após alugar um quartinho no bairro da Liberdade e se matricular no curso preparatório para o concurso da magistratura o dinheiro da conta dava para, no máximo, mais dois meses. “Foi um momento muito crítico, o dinheiro estava acabando e eu não tinha conseguido trabalho”, conta Adriana. “Eu me vi de novo nesse dilema de ter ou não que abandonar”. Não precisou. O diretor do curso, o procurador Damásio de Jesus, viu nela uma “pessoa incomum”. “Logo à primeira vista, olhando nos olhos daquela jovem advogada de 24 anos, tive certeza de que estava diante uma lutadora, uma pessoa incomum, de alguém que, sem dúvida, estava fadada a um grande futuro”, destaca o jurista no prefácio do livro. Damásio ofereceu para ela uma bolsa de 100% do curso durante dois anos e a empregou na biblioteca da instituição. “Fiquei sete anos estudando, sábados, domingos e feriados. Quando as pessoas iam viajar, eu ficava na biblioteca. Depois de inúmeras reprovações, eu consegui. Em janeiro de 2011 passei o concurso e me tornei juíza em Goiânia”. Caçula de seis irmãos, a única deles que tem ensino superior, Adriana quer motivar agora com o livro a todas as pessoas que, assim como ela, “sonham, mas estão desacreditadas”. “É possível romper os paradigmas sociais”, encoraja. “Eu, particularmente, não sofro racismo hoje. Mas sim vivencio a grande surpresa das pessoas quando me veem. Porque quando o advogado vai procurar o juiz, ele não espera encontrar alguém como eu. Eu não me importo. Eu fico feliz de ter quebrado esse paradigma”.  

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Maduro provoca ira do maestro Dudamel com a morte do jovem violinista

Morte de jovem violinista provoca dura reação do maestro Dudamel contra Maduro Ruptura entre um dos símbolos do país, o Sistema de Orquestras, e o Governo mostra magnitude da crise Na quarta-feira, o maestro venezuelano Gustavo Dudamel soube da morte de um membro do Sistema Nacional de Orquestras liderado por ele. Armando Cañizales, violinista, 17 anos, foi baleado na cabeça e se tornou a vítima número 34 da última onda de repressão em seu país. Dudamel colocou um sinal de luto em suas redes sociais e em seu site.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] A pressão para que criticasse o Governo de Nicolás Maduro aumentou e na tarde de quinta-feira lançou um contundente comunicado. A voz do jovem músico de 35 anos, uma das figuras mais influentes da música clássica em todo o mundo, atacou as repressões feitas contra as marchas e a tentativa descarada de novo golpe às instituições cometida pelo dirigente bolivariano. Os pedidos anteriores de diálogo por parte do diretor foram escasseando até que finalmente adotou uma posição mais comprometida com os protestos. As mortes atribuídas ao Governo acabaram com a paciência de Dudamel. Mas ainda mais a do jovem Cañizales. O rapaz enfrentou com pedras a Guarda Bolivariana e foi baleado no pescoço quando desafiava com as mãos para cima as tropas do Governo. Seus amigos o levaram de moto até uma ambulância que depois o levou ao hospital, onde sua morte foi constatada. Os moradores de Colinas de Bello Monte se reuniram em uma vigília e Dudamel redigiu seu comunicado. “Minha vida inteira foi dedicada à música e à arte como forma de transformar o mundo. Levanto minha voz contra a violência e a repressão. Nada pode justificar o derramamento de sangue. Já basta de ignorar o justo clamor de um povo sufocado por uma crise intolerável. Historicamente o povo venezuelano tem sido um povo lutador, mas jamais violento”, começa o texto. “A democracia não pode ser construída de acordo com as vontades de um governo particular. O exercício democrático implica escutar a voz da maioria”, afirma o músico “Para que a democracia seja saudável devem existir respeito e entendimento verdadeiro. A democracia não pode ser construída de acordo com as vontades de um governo particular. O exercício democrático implica escutar a voz da maioria, como baluarte último da verdade social. Nenhuma ideologia pode ir além do bem comum. A política deve ser feita a partir da consciência e em respeito à constitucionalidade, adaptando-se a uma sociedade jovem que, como a venezuelana, tem o direito a se reinventar e se refazer no saudável e incontestável contrapeso democrático”, continua o comunicado. “Os venezuelanos estão desesperados por seu direito inalienável ao bem-estar e à satisfação de suas necessidades mais básicas. As únicas armas que podem ser entregues a um povo são as ferramentas para forjar seu futuro: instrumentos musicais, pincéis, livros; enfim, os mais altos valores do espírito humano: o bem, a verdade e a beleza”. As alusões a uma mudança são patentes. Por fim, se dirige a Maduro: “Faço um pedido urgente ao Presidente da República e ao Governo nacional para que mude sua atitude e escute a voz do povo venezuelano. Devemos aos nossos jovens um mundo auspicioso, um país no qual se possa caminhar livremente na divergência de opiniões, na tolerância, no diálogo e em que os sonhos tenham lugar para construir a Venezuela que todos desejamos”. A ruptura entre um dos símbolos do país como é o Sistema de Orquestras e o Governo dá uma magnitude clara da crise. A organização educativa e de ação social criada por José Antonio Abreu há 41 anos representa toda uma miscelânea sociocultural absolutamente estabelecida em bairros pobres, com grande carga de liderança entre seus dirigentes. Até o momento, nenhum membro de sua cúpula havia se manifestado claramente contra o Governo de Maduro. O sistema vive em grande parte de recursos públicos e isso os colocava entre a cruz e a espada. Mas as vozes contrárias ao Governo cresceram espantosamente nos últimos tempos. Tanto seu fundador, José Antonio Abreu, que está doente e afastado da vida pública há três anos, como Dudamel, sofreram grandes campanhas contra seu silêncio nas redes sociais. O diretor viveu essa situação com muito sofrimento, se encontrou em uma posição muito incômoda, com sua família dentro do país e ele fora tentando desenvolver ao máximo sua carreira. Ela chegou ao zênite no último concerto de ano novo, quando o venezuelano foi o maestro mais jovem a dirigir a Filarmônica de Viena. Outro de seus quartéis são os Estados Unidos. É diretor titular da Sinfônica de Los Angeles e mora na cidade em boa parte de seu tempo sem deixar de estar presente na Venezuela com a Orquestra Simón Bolívar, onde se formou. Esteve com ela na Espanha há dois meses, pouco antes de se tornar público seu casamento com a atriz madrilenha María Valverde. Em uma entrevista concedida ao grupo Lena – aliança de jornais europeus da qual o EL PAÍS faz parte –, feita por Javier Moreno, Dudamel continua apostando no diálogo. Em 2015 escreveu um artigo no Los Angeles Times intitulado curiosamente Porque não falo da política venezuelana. Mas não era o caso. Nele afirmava que compreendia os opositores, mesmo que não compartilhasse de todas as suas posições e respeitava as autoridades, mas não estava de acordo com todas as suas decisões. De modo que navegava na ambiguidade, mas se via que ele estava mais próximo de romper o muro. Na entrevista ao Lena, Dudamel afirmou que o Sistema é um símbolo de liberdade em seu país e que está além da politização. “Não acredito que exista nada de ruim, de indigno, de criminoso em querer unir as pessoas. Porque no momento em que você toma uma posição, faz parte de uma divisão. E aí acabou. Nadar nisso é muito complexo. Você não se isola por egoísmo. Você está ali. E vivencia a situação mais do que imaginam os que estão sofrendo sozinhos. E você está ali, tentando criar um

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Tecnologia: Brasil e Espanha conectatos por cabo submarino

Cabo submarino comunicará o Brasil e a Espanha sem passar pelos ouvidos dos EUA. Instalação do cabo submarino. O consórcio hispano-brasileiro Ellalink instalará mais de 10.000 quilômetros de fibra ótica. A Península Ibérica está 60 quilômetros mais perto de Fortaleza do que de Miami. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Esse dado, desconhecido para a maioria das pessoas e salientado por Alfonso Gajate, presidente da companhia espanhola Eulalink, ilustra como é absurdo que oito dos nove cabos submarinos que unem a América do Sul à Europa passem pelos Estados Unidos (com 99% do tráfego), e só um, já obsoleto e saturado, utilize a rota mais curta. Para reverter esta situação, incompatível com o volume de relações entre a América do Sul e a Europa, o presidente do Governo (primeiro-ministro) espanhol, Mariano Rajoy, e o ministro brasileiro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, apresentaram nesta segunda-feira em São Paulo o projeto Ellalink, um cabo submarino com quatro pares de fibra óptica que em 2018 ligará o Brasil à Europa, passando por Sines (Portugal) e Madri. Será um cabo “neutro” – ou seja, disponível para qualquer operador – e de grande capacidade, nada menos que 72 Tbps (terabits por segundo), sete vezes mais que a informação que a América Latina transmite atualmente para o resto do mundo. Além disso, estará submetido às leis de proteção da privacidade do Brasil e da Europa, muito mais rigorosas que as dos EUA, acrescentou Gajate. Ou seja, a informação que circular por esse cabo não ficará exposta ao escrutínio do Grande Irmão norte-americano, como ocorre com os cabos que atualmente passam pela América do Norte. “Ganharemos em capacidade, em velocidade e em confidencialidade”, disse Rajoy, destacando o “enorme valor estratégico” do projeto. Com uma extensão de mais de 10.000 quilômetros, o cabo será fornecido pela empresa Alcatel Submarines Networks (ASN), que ganhou a licitação do contrato, subvencionado pela União Europeia em 25 milhões de euros (85,5 milhões de reais) e administrado pelo consórcio hispano-brasileiro Ellalink, criado em 2015 pela Eulalink e a Telebras. Inicialmente ligará São Paulo a Madri, passando por Cabo Verde, Canárias, Madeira e Lisboa, mas o objetivo é que a rede não se limite ao Brasil, estendendo-se por toda a América do Sul, e que futuramente se conecte ao grande telescópio LSST, que rastreará o universo a partir do Chile. ElPais

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“O pão branco é uma bomba que estamos dando às pessoas”

Professor visitante de Harvard, Miguel Ángel Martínez-González alerta sobre as táticas agressivas de algumas empresas de alimentos. Martínez-González, no campus do IESE Business School de Barcelona, em janeiro passado VANESSA MONTERO Demora-se menos de dois minutos para se dar conta de que o doutor espanhol Miguel Ángel Martínez-González ensina pelo exemplo. Ele sobe a pé as escadas da faculdade até o segundo andar, onde dá aula de bioestatística a futuros médicos, toma o café sem açúcar e, em um cardápio de restaurante que oferece como opções lentilhas, massa e carne, escolhe sem hesitar os grãos. Está há mais de duas décadas em busca de evidências científicas para respaldar as benesses atribuídas pela tradição à dieta mediterrânea.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] O catedrático de Saúde Pública da Universidade de Navarra, e desde junho também professor visitante de Harvard, é um dos cérebros do relatório Predimed, o mais amplo realizado até agora sobre os efeitos da dieta mediterrânea, originária do sul da Europa: o acompanhamento de um coorte formado por 7.500 participantes recrutados em toda a Espanha durante uma década demonstrou que esta reduz em 66% os problemas circulatórios, em 30% os infartos e derrames e em 68% o risco de câncer de mama. “O pão branco é um dos principais problemas que temos. Quando já se tem sobrepeso é uma bomba” No corredor ao lado de sua sala no campus de Pamplona, onde é realizada esta entrevista, estão pregados em uma cortiça os trabalhos que seu departamento publicou recentemente em revistas científicas. “É o muro da autoestima”, brinca. O médico malaguenho, de 59 anos, colabora desde os anos noventa com diversas pesquisas da Escola de Saúde Pública de Harvard, referência mundial em nutrição. Dali tirou a inspiração e os conhecimentos para contribuir para criar não só o projeto Predimed —suas descobertas já estão incluídas nos guias nutricionais oficiais dos Estados Unidos— como também o SUN, um programa no qual mais de 22.000 pessoas, 50% delas profissionais de saúde, colocaram à disposição dos pesquisadores —de forma continuada desde 1999— dados sobre sua saúde e estilo de vida que serviram para dezenas de trabalhos de pesquisa. Também começou recentemente outro projeto, Predimed Plus, que tenta demonstrar por meio do acompanhamento de quase 7.000 pacientes obesos durante quatro anos que com a dieta mediterrânea melhorarão sua dieta, aumentarão sua atividade física e perderão peso. Já é um fato científico: a dieta mediterrânea é saudável. Então, por que há tanto sobrepeso nesses países? Muita gente diz que conhece e segue a dieta mediterrânea. Mas a realidade é que as gerações jovens incorporaram a dieta norte-americana. Come-se carne vermelha e processada demais. Não quero dizer que temos de nos tornar vegetarianos. Mas a evidência científica indica que, à medida que aumenta a porcentagem de proteínas vegetais sobre as animais, cai brutalmente a mortalidade cardiovascular e por câncer. A dieta mediterrânea, sobretudo o consumo de azeite de oliva extra-virgem, frutas secas, frutas, verduras e legumes, é a melhor opção. Depois, melhor comer peixe do que carne e, esta, preferencialmente de aves ou coelho. Também convém reduzir o consumo de açúcar e sal, e levar uma vida menos sedentária. Usar mais as escadas e menos o elevador. Por que é tão difícil emagrecer? Primeiro, porque é preciso ter muita força de vontade para perder quilos e não recuperá-los. Mas é que, além disso, certa indústria alimentícia exerce grande pressão para colocar muitos alimentos a nossa disposição a toda hora, a um custo muito baixo e em grandes quantidades. O que está mais acessível nas prateleiras dos supermercados? Alimentos ultraprocessados, com grande densidade energética, porque têm muita gordura, açúcar e sal, às vezes contra a natureza do produto, como acontece com o ketchup. O que ele tem a ver com molho de tomate? E é vendido e consumido em quantidades industriais. Além disso, as porções grandes e baratas incham as pessoas. Vivemos em uma cultura de sobrealimentação. As opções mais saudáveis deveriam estar mais disponíveis. Por mais que a indústria queira tentar as pessoas, elas sabem que tudo isso não é muito saudável. Ninguém as obriga a comer. “Algumas empresas alimentícias usaram táticas similares às usadas pela indústria do tabaco” A maior parte das escolhas que fazemos não são muito racionais. O economista Richard H. Thaler, referência na teoria das finanças comportamentais, e Cass R. Sunstein, outro especialista em economia comportamental, explicam isso muito bem em um de meus livros favoritos, O empurrão para a escolha certa (Ed. Campus). As pessoas costumam optar pela decisão mais fácil, e há um certo tipo de indústria que lhes dá esse empurrãozinho. Por isso, acredito que é preciso tornar o saudável mais acessível, dar pistas de que se deve escolher para comer bem. São estratégias de saúde pública para construir uma sociedade mais saudável. De tal maneira que, como padrão, lhe ofereçam pão integral. O suco, sem açúcar. Thaler e Sustein chamam isso de paternalismo libertário. As pessoas devem ser livres para escolher, mas acredito que é preciso informar e proteger contra escolhas impensadas e prejudiciais. Sem forçar. Isso é o que ensino em medicina preventiva. O Governo espanhol acaba de anunciar a criação de um imposto que penaliza o consumo de refrigerantes. O que o sr. acha? Sou partidário de que se subvencione o azeite de oliva extra-virgem, as frutas e as verduras e que se sobretaxe o consumo de carne vermelha e processada, as trash foods e as bebidas açucaradas. Assim se lança uma mensagem clara do que é sadio ou não. O sr. falava antes do pão. Faz parte da dieta mediterrânea? Debatemos muito sobre esse tema. A conclusão a que chegamos é que o pão branco é um dos problemas mais graves que temos na Espanha. A grande maioria o consome e assim engorda. É preciso saber que é fundamentalmente um amido, e nosso corpo é super eficiente em transformar amido em açúcar. É como tomar glicose. Basta colocar um pouco de miolo na boca e na hora se sente um gosto doce. E por que

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Lixo eletrônico: um mercado com potencial milionário

No Brasil, reciclagem de medidores de energia gera lucro para empresas e meio ambiente Trabalhador separa medidores obsoletos. M. K. CERATTI/B. M. Com que periodicidade você troca de telefone celular? Em 2018, os latino-americanos devem jogar no lixo 4.800 toneladas de lixo eletrônico ou e-waste, 10% do total global, segundo pesquisa da GSMA e do Instituto Universitário das Nações Unidas para o Estudo Avançado da Sustentabilidade (UNU-IAS). O percentual é semelhante ao registrado em 2014, quando a América Latina produziu 3.900 toneladas de resíduos desse tipo. O que chama a atenção é o índice de crescimento anual, 6%, maior do que os 5% do resto do mundo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Entram nessa conta não só os celulares, computadores e eletrodomésticos, mas também equipamentos cuja existência mal se nota no dia a dia, como os medidores de energia. Embora sejam pequenos, fiquem escondidos nas casas e não contenham metais pesados, os medidores podem causar riscos ambientais e à saúde a partir do momento em que são jogados de qualquer forma em lixões ou aterros sanitários. Em compensação, são totalmente reaproveitáveis e têm potencial lucrativo se descartados corretamente e reciclados, em um esquema denominado logística reversa. Assim foi feito no Brasil, país latino-americano que mais produz lixo eletrônico: 1.400 toneladas em 2014, de acordo com a GSMA e o UNU-IAS. Um trabalho do Banco Mundial e da Eletrobras em seis Estados (Acre, Alagoas, Amazonas, Piauí, Roraima e Rondônia) tornou possível leiloar medidores obsoletos, transformadores, cabos e outros equipamentos a empresas de reciclagem. Com a venda, as operadoras locais de energia arrecadaram 5,4 milhões de reais, a serem revertidos a projetos sociais. A iniciativa faz parte do projeto Energia Mais, cujo objetivo é melhorar a qualidade da transmissão e reduzir os problemas da medição incorreta e do roubo, que custam cerca de 15 bilhões de reais por ano ao Brasil. Rastreáveis “A cada leilão, as empresas recicladoras se comprometeram a destruir os medidores obsoletos, para acabar com qualquer chance de eles serem reaproveitados na própria rede de distribuição, agravando os problemas que eram o alvo do projeto”, explica Christophe de Gouvello, gerente do projeto no Banco Mundial. “O destino final desses elementos se tornou rastreável para termos certeza de que não parariam em um lixão”, acrescenta. Ele ainda destaca o interesse que o mercado de reciclagem teve pelos equipamentos, apesar de eles estarem em Estados distantes da maioria das empresas do setor. Para muitas dessas companhias, os leilões serviram de motivação para se organizar e profissionalizar. Uma delas, a Trafominas, fica em Guaxupé, cidade de 70.000 habitantes em Minas Gerais. O fundador, Geovani Marques, atuava como pequeno comerciante de metais entre o sul do Estado e o norte de São Paulo quando fundou a empresa, em 2007. Ele aprendeu aos poucos que, para poder fechar negócios maiores, teria de reformar a sede e buscar certificações de gerenciamento ambiental. Comprar material não certificado não é mais parte da nossa rotina”, conta Marques, referindo-se a um problema ainda muito comum no setor: o processamento informal ou ilegal de lixo eletrônico (material roubado, por exemplo), que movimenta entre 12,5 bilhões e 18,8 bilhões de dólares anuais no mundo, segundo a Interpol. Hoje, a empresa só processa material que não seja fruto de roubo e tem na reciclagem dos medidores 40% das receitas. O ferro, o cobre, o vidro, o alumínio e o plástico presentes nos equipamentos saem de lá separados e certificados para os compradores de vários tipos de indústrias. Para dar conta do serviço, a equipe passou de 12 a 25 funcionários. Nos países em desenvolvimento, a coleta e a reciclagem de resíduos sólidos emprega mais de 64 milhões de pessoas, aponta o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) no estudo Waste Crime – Waste Risks. É uma atividade econômica que não só gera renda como ajuda a preservar o meio ambiente, segundo esse e outros estudos da ONU sobre o tema. Mas requer mais regulações e investimentos para se fortalecer, inclusive na América Latina. Dos 21 países da região, Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, México e Peru contam com marcos regulatórios para o descarte e tratamento adequado desses resíduos. No entanto, só Costa Rica, México e Brasil dispõem de empresas de reciclagem no padrão internacional R2, que busca proporcionar maior segurança ao ambiente e à saúde dos trabalhadores. Avanços Para Marcio Batitucci, especialista em salvaguardas do Banco Mundial, o projeto com a Eletrobras trouxe avanços importantes que podem ser aplicados a todo o Brasil, onde o tema da logística reversa para eletroeletrônicos ainda gera controvérsia, apesar de o país discutir o tema em seu Plano Nacional de Resíduos Sólidos. E, também, inspirar outros países latino-americanos. “Não se tratou apenas de pegar os equipamentos antigos e entregar para as companhias de reciclagem. Como esse material era de uma empresa pública, precisava ser alienado de forma adequada e não foi só a área de meio ambiente que atuou nisso. Os departamentos legal e de almoxarifado, por exemplo, também participaram”, explica. Se a reciclagem de simples medidores de energia demandou tanto trabalho, imagine o que é preciso para fazer o mesmo com celulares, computadores e outros equipamentos que vão para o lixo todo ano. Mas é um esforço necessário para que os componentes desses produtos não prejudiquem ainda mais o meio ambiente e a saúde dos latino-americanos. Mariana Kaipper Ceratti é produtora online do Banco Mundial

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Macri e Bachelet aproximam o Mercosul e a Aliança do Pacífico em resposta a Trump

Os dois presidentes promovem uma grande reunião para coordenar os dois principais grupos latino-americano. Bachelet e Macri em Colina, no Chile, durante a comemoração do 200º aniversário da batalha de Chacabuco. PRESIDÊNCIA A chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos está provocando um grande movimento de fundo em toda a América Latina. E Mauricio Macri, presidente da Argentina, parece estar no centro desse impulso. Na semana passada, viajou para Brasília e afirmou, com Michel Temer a seu lado, que os dois gigantes sul-americanos dariam um “impulso histórico” ao Mercosul.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Na próxima semana irá à Espanha para, entre outras coisas, acelerar o acordo UE-Mercosul que está parado há 15 anos. Mariano Rajoy – presidente do Governo espanhol – está muito disposto a apoiá-lo nessa tarefa. E na noite de domingo, para finalizar a jogada, Macri foi a Colina, perto de Santiago do Chile, para se encontrar com Michelle Bachelet e lançar a aproximação entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico, o outro grande bloco econômico da América Latina liderado por México, Colômbia, Peru e Chile. Enquanto os Kirchner estavam à frente da Argentina e o Partido dos Trabalhadores governava o Brasil, Mercosul e Aliança do Pacífico se olhavam com cautela. O segundo grupo era a estrela em ascensão da ortodoxia e do livre comércio contra o Mercosul mais protecionista. Mas a chegada de Macri, e mais recentemente de Temer, mudou as coisas. O argentino já assistiu como observador a última cúpula, precisamente no Chile, onde foi a grande estrela com o peruano Pedro Pablo Kuczynski, que ainda não tinha assumido, e anunciou sua intenção de fortalecer os laços. A chegada de Trump acelerou os tempos e todos os países da América Latina, que em boa medida vivem da exportação de matérias-primas, buscam alternativas caso Trump cumpra suas promessas e comece a fechar suas fronteiras aos produtos de outros territórios. Macri e Bachelet, que neste momento presidem as duas alianças centrais da América Latina, organizaram para abril uma reunião em Buenos Aires de chanceleres do Mercosul e da Aliança do Pacífico que será um marco e poderia abrir caminho para uma fusão no futuro. Ainda persistem muitas dificuldades pelas diferentes políticas econômicas – o Chile tem acordos de livre comércio com 180 países do mundo, algo semelhante acontece no Peru e na Colômbia, Argentina e Brasil são duas economias muito fechadas e os argentinos viajam a Santiago para comprar roupas mais baratas em redes internacionais, como H&M, que nunca se instalou em Buenos Aires – mas a vontade política de aproximação é muito evidente e a mudança ideológica na Argentina e no Brasil também. Ninguém quer enfrentar diretamente Trump e, na verdade, Macri busca formalmente um bom relacionamento. Esta semana manteve conversas com o vice-presidente Michael Pence. Mas a preocupação é evidente. A América Latina está em pleno giro para a abertura e Trump vai na direção oposta. A declaração conjunta deixa clara a rejeição às políticas dos EUA: “As tendências protecionistas observadas internacionalmente contradizem o esforço para alcançar um crescimento sustentável e o desenvolvimento inclusivo”. O Mercosul acaba de eliminar a única oposição real a essa aproximação com a mais liberal Aliança do Pacífico: a Venezuela de Nicolás Maduro foi suspensa do grupo com o apoio de Temer e Macri, embora o maior promotor de sua expulsão tenha sido o conservador paraguaio Horacio Cartes. Macri e Bachelet se encontraram no Chile por uma questão especialmente simbólica: a comemoração dos 200 anos da travessia dos Andes de General San Martín, que primeiro liderou a liberação de Argentina e depois do Chile com uma ousada operação militar através de uma das cordilheiras mais altas do planeta. Em Colina, onde aconteceu a batalha chave de Chacabuco, Bachelet lançou uma mensagem de unidade contra Trump: “Nos dias em que o planeta vive segregação, xenofobia e protecionismo, Chile e Argentina iniciam um caminho de colaboração”, concluiu. Argentina e Chile são dois vizinhos com relações às vezes complicadas – tiveram disputas no passado pelos territórios na Patagônia – e com dois modelos econômicos quase opostos: o chileno, herdeiro de Pinochet, é muito liberal, com educação universitária pública paga – Bachelet está tendo dificuldades para cumprir sua promessa de aumentar a gratuidade –, aposentadorias privadas e sindicatos fracos. A Argentina tem ensino superior gratuito e aposentadorias públicas e sindicatos onipresentes. O Chile teve uma inflação de 3% em 2016 e a Argentina, de 40%. Mas ambos estão se aproximando gradualmente – o Chile aumenta lentamente o peso do Estado enquanto a Argentina reduz e inicia uma lenta abertura – e deram início a uma nova fase de aproximação. A chegada de Trump está fazendo com que o resto do mundo se una para combater o protecionismo. ElPais

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A ‘maré cinza’ de Doria toma São Paulo e revolta grafiteiros e artistas

Prefeitura apaga grafites da av. 23 de Maio e diz, agora, que fará seleção de novos artistas Funcionário apaga pichação contra Doria em São Paulo. FERNANDO CAVALCANTI Para especialista, declarar “guerra ao picho” é “tiro no pé” do novo prefeito da cidade  O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), declarou guerra contra pichadores, grafiteiros e artistas de rua. Vestido com roupas de funcionários da limpeza municipal, ele e seu secretario de subprefeituras, o também tucano Bruno Covas, cobriram com tinta cinza, a cor característica da cidade, pichações e grafites nos últimos dias.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] A ação faz parte do programa Cidade Linda, que prevê reparo em calçadas e pintura de muros em vários bairros da capital. Depois de apagar parte do mural de grafites da avenida 23 de Maio, um dos mais tradicionais de São Paulo, Doria mostrou satisfação: “Pintei com enorme prazer três vezes mais a área que estava prevista para pintar, exatamente para dar a demonstração de apoio à cidade e repúdio aos pichadores”. O tucano não é o primeiro a encampar a batalha contra o que para uns é apenas vandalismo, e para outros é arte e expressão urbana. Todos os prefeitos da cidade, independentemente do partido e com menor ou maior afinco, colocaram em prática ações para apagar e coibir o que se convencionou chamar de “arte de rua não autorizada”. Mas o tucano parece disposto a levar o embate com pichadores e grafiteiros a um novo patamar. “Se preferirem continuar pichando a cidade, terão o rigor da lei. É tolerância zero”, disse após apagar os grafites da 23 de Maio, que segundo ele já estavam antigos e haviam sido pichados. A ação desatou apoio, mas também uma chuva de críticas nas redes sociais e fora delas, onde artistas de várias áreas e paulistanos comuns criticaram a falta de diálogo na tomada de decisões e acusaram a gestão de apagar grafites mesmo sem estar, segundo os critérios da prefeitura, “danificados” por pichações. A comoção foi tal que o secretário  da Cultura, André Sturm, disse em entrevista ao Estado de S. Paulo nesta terça que a avenida pode receber um Festival do Grafite, com artistas recrutados pela prefeitura e materiais fornecidos pela gestão. Tudo, explicou Sturm, para responder ao “ruído” provocado pela maré cinza. “Ficou muito cinza e há uma vontade de fazer”, disse o secretário. Especialistas apontam que a cruzada do prefeito tem tudo para ser um tiro no pé – assim como ocorreu com seus antecessores. “O picho trabalha com a noção de perseguição e proeza. Então se ele diz que vai perseguir pichadores, isso pode servir como atrativo para que os jovens pichem mais ainda”, afirma Alexandre Barbosa Pereira, antropólogo e professor da Unifesp que fez seu mestrado sobre o tema. De acordo com ele, desde que Jânio Quadros foi prefeito, em 1985, iniciativas de combate ao picho são implementadas “e são malsucedidas”. Nesta terça-feira, Doria teve mais um amostra do tipo de jogo de paciência que resolveu travar com os pichadores: os novos muros cinzas da 23 de Maio foram pichados com frases alusivas ao prefeito _e logo pintados de novo pela prefeitura. Dias antes, várias pichações específicas contra o prefeito surgiram na cidade. Picho e Deic Doria passa tinta cinza em mureta da 23 de Maio. F. A. / SECOM-PMSPO jovem RGS/BR, de 25 anos, foi um dos três pichadores que escreveu “Fora Temer” e “Doria Pixo é Arte” nas paredes de um prédio em frente ao Terminal Bandeira, no centro de São Paulo, já na esteira da “guerra do spray” reativada.Ele afirma que o discurso de “tolerância zero” de Doria pode fazer com que a polícia “passe a ser mais violenta com os pichadores, uma vez que essa truculência tem o aval dos governantes”. Ele cita um caso ocorrido em 2014, no qual cinco PMs foram acusados de matar dois pichadores rendidos em um prédio no bairro da Mooca, na zona leste da cidade. Pixação diz também que mesmo grafiteiros famosos, como os Gêmeos, “que fazem rolê de burguês, em galeria de arte, também estão riscando a casa dos bacanas de forma ilegal”. No Brasil tanto a pichação ou o grafite feito em prédios públicos ou privados sem autorização é crime, com pena prevista de três meses a um ano de prisão mais o pagamento de multa. A pena de prisão, no entanto, é geralmente convertida em serviços comunitários. Neste front legal, os pichadores também podem sentir os efeitos da nova cruzada. Doria já disse que quer aumentar o valor da multa e, na segunda-feira, o secretário da Segurança Pública do Governo Alckmin, Mágino Alves, o principal aliado de Doria, anunciou que o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) vai atuar contra o grupo de pichadores. Vídeo feito pela artista plástica Barbara Goy mostra pintura dos grafites da av. 23 de Maio e foi compartilhado quase 60.000 vezes no Facebook. Para antropólogo e professor da Unifesp Pereira, além da desigualdade social, espacial e da desorganização da cidade, uma parcela da população é levada para a pichação porque ela oferece “visibilidade e projeção social para o jovem periférico, que resolve circular e ocupar o centro da cidade”. “É preciso fomentar práticas e políticas públicas para que este jovem se expresse de outras maneiras que não o picho, e isso não tem sido feito”, diz o professor. Guilherme Valiengo, um dos diretores do documentário Cidade Cinza, sobre a cena do grafite e da pichação em São Paulo, afirma que o prefeito precisa tentar entender quem é esse “transgressor”. “Se o cara está botando o nome dele no topo de um prédio ou na rua é porque ele quer dizer alguma coisa. Será que essa é a única oportunidade que ele tem de aparecer? É preciso entender quem são essas pessoas, se elas têm acesso a entretenimento, saúde e cultura. Apenas apagar é querer calar essa voz”, diz. Em nota, o grupo Pixoação criticou as medidas de Doria. “O prefeito pede que os pichadores (sic) se tornem artistas. Primeiro podemos

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Os negócios de Trump na América Latina

Candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos tem empreendimentos com seu nome no Brasil, no Panamá, no Uruguai e planeja entrar na Argentina; “a coisa que faço melhor é construir”, diz Trump. Agência Efe A Torre Trump do Panamá tem formato de vela. Rodeada por edifícios na radiante Punta Pacífica, na capital do país, simula o efeito de navegar sobre o oceano. Taxistas, vizinhos e homens de negócio a conhecem como El Trom, a Torre Trom, o Hotel Trom. Essa vela de 70 andares, 284 metros de altura e 250 mil metros quadrados se encontra em disputa.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Em julho de 2015, os proprietários dos apartamentos demitiram a empresa de Donald Trump, presidenciável republicano para a eleição deste ano nos Estados Unidos, da administração do consórcio da torre em que funcionam, além de residências, o Hotel Trump – ainda controlado pelas organizações Trump – , o cassino Sun International e outros empreendimentos menores. Trump tem empreendimentos com seu nome no Brasil, no Panamá, no Uruguai e planeja entrar na Argentina Os proprietários do edifício, representados por um grupo de diretores, justificaram sua decisão pelos supostos erros da administração Trump: pagar bônus sem permissão, colocar gastos do hotel como despesas do edifício, se exceder em gastos do orçamento e ocultar informações do consórcio. Em novembro de 2015, Donald Trump apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC), uma ação de US$ 75 milhões contra os proprietários do edifício panamenho, já que considera injustas a demissão do administrador e a perda de controle da gestão. As duas partes agora precisam conviver e compartilhar os espaços comuns: as cinco piscinas com vista para o mar, o ginásio, os restaurantes, os 37 elevadores, o hall central, as lojas. A crise no Panamá chegou ao noticiário e teve impacto na campanha presidencial dos Estados Unidos. Um dos argumentos do candidato republicano tem sido que sua condição de “criador de negócios em nível global” – segundo ele, 85% dos seus empreendimentos estão fora dos EUA – ajudaria no desenho da política exterior americana. Em um artigo sobre os empreendimentos conflitantes de Trump, a Bloomberg assinalou que, no Canadá e na Turquia, seus sócios comerciais querem tirá-lo do comando e, na Escócia e na Irlanda, seus negócios dão prejuízo, ainda que ele diga o contrário. Na semana passada, às vésperas da Olimpíada, foi inaugurado um Hotel Trump no Rio de Janeiro, onde ele planeja ainda construir cinco torres para escritórios que valerão US$ 1,8 bilhão (leia a reportagem completa). Em Punta del Este, o edifício residencial está em plena construção, e esses mesmos investidores pretendem erguer a partir de 2017 uma torre de escritórios em Buenos Aires que marcará o ingresso oficial da marca Trump na Argentina. Em todos os casos, os desenvolvedores locais pagam para usar a marca de Trump. A corporação recebe um pagamento inicial e comissões de vendas (que vão de 5% a 13%), administra os hotéis e fiscaliza para que se cumpram todos os procedimentos de construção. Trump procura o respaldo dos governos locais mediante declarações públicas e benefícios fiscais ou isenções. No caso de Punta del Este, conseguiu alguns metros a mais de altura para a construção do heliporto do edifício. No hotel do Rio, conseguiu benefícios associados aos Jogos Olímpicos 2016 O Império Trump nos Panama Papers Para esta investigação foram consultados os Panamá Papers, documentos municipais de Punta del Este e registros de tribunais no Rio de Janeiro e Panamá. Foram visitados os três empreendimentos Trump e entrevistadas mais de 30 pessoas entre corretores, arquitetos, desenvolvedores, funcionários públicos e judiciais, além de empregados de Trump. A investigação descobriu que a corporação Trump aparece ligada a 32 empresas offshore, entre elas o Trump Ocean Club do Panamá (como se chama também a torre que inclui o edifício, o hotel e o cassino). A revelação está nos Panamá Papers, uma base de dados administrada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) com milhões de e-mails, imagens e documentos em formatos diversos que estavam em posse do escritório jurídico Mossack Fonseca, entre 1977 e 2015. A lista traz milhares de empresas de fachada, fundações e fundos criados em 21 paraísos fiscais ao redor do mundo. Quando o escândalo veio à tona, cerca de 11 milhões de documentos confidenciais foram vazados, revelando a forma como algumas das pessoas mais ricas e poderosas do mundo – incluindo diversos chefes de Estado – usam paraísos fiscais. A posse de contas offshore em si não é ilegal, desde que declarada ao Fisco. Mas o sistema muitas vezes serve para ocultar fortunas, evadir impostos ou lavar dinheiro obtido por meio de corrupção. As informações exclusivas deste texto revelam que o império Trump tem ligação com 32 empresas offshore, entre elas o Trump Ocean Club do Panamá, empreendimento que incluí edifício, hotel e cassino. No caso brasileiro, um dos cogestores e investidores das Trump Towers Rio, o grupo Salamanca, aparece em várias sociedades nas Ilhas Virgens. Além disso, o próprio Donald Trump aparece nos Panamá Papers: mencionado 3.540 vezes, somente uma pequena parte corresponde a suas 32 empresas offshore, já que vendeu a marca a um número considerável de investidores. Trom, você está demitido A Torre Trump do Panamá foi o primeiro investimento de Trump na América Latina. A ideia surgiu em 2003 durante o concurso Miss Universo (uma das franquias do chamado “império Trump”). Segundo a revista Forbes, a empresa responsável, Newland International Properties, fez um pagamento inicial de US$ 1,2 milhão e logo depois cobriu diferentes porcentagens pela venda de apartamentos, royalties e aluguéis de espaços comerciais. Em 2013, a Newland International Properties, majoritariamente composta por acionistas colombianos, declarou falência para negociar sua dívida. Ainda que a falência tenha afetado os montantes de Trump, de acordo com documentos judiciais aos quais o Chequeado teve acesso, o pagamento para Trump se manteve entre US$ 32 milhões e US$ 55 milhões. Os passivos da Newland, em março de 2016, eram de US$ 147 milhões, uma pequena melhora frente aos US$ 150,5 milhões em dezembro de 2015, segundo o último relatório

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Linguagem de programação: o novo curso de idioma das escolas

São José dos Campos entra na corrida global para atrair alunos para o novo campo Alunos em escola de São José dos Campos. PMSJC  Considerado um dos maiores inimigos do aprendizado na escola, o celular é geralmente banido da sala de aula por causar dispersão e falta de atenção. Mas é cada vez mais difícil separar os jovens de seus aparelhos móveis, dispositivos que manejam com destreza desde os primeiros anos escolares. Para aproveitar a proximidade dos estudantes com as novas tecnologias, algumas escolas estão incentivando o aprendizado de programação em sala. A escola municipal Elizabete de Paula Honorato, na periferia de São José dos Campos, vem implementando um laboratório de robótica, games e realidade aumentada a pedido dos próprios alunos, com recursos levantados por meio do Projeto Escola Interativa, programa da prefeitura que tem como objetivo equipar as 119 escolas da rede com infraestrutura tecnológica.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A iniciativa busca aproveitar o potencial econômico da cidade, que abriga um dos maiores parques tecnológicos do país, onde se localizam mais de 300 empresas e instituições do setor. Por meio do projeto, a escola já recebeu o kit de notebooks, tablets, projetores interativos e acesso a rede wi-fi, para que alunos e professores acessem o conteúdo de bibliotecas virtuais públicas no mundo todo. Um dos alunos que motivaram a criação do laboratório na escola é Leonardo Henrique Garcia, de 12 anos, que na sétima série começou a programar jogosporque, um dia, descobriu um link diferente dentro do site gratuito que os professores lhe indicaram como referência de estudos, a plataforma Khan Academy (que reúne uma vasta biblioteca virtual de conteúdo referente ao ensino fundamental e médio). Navegando pela plataforma, entrou em um link sobre computação e, em seguida, sobre linguagem de programação, como Scratch (do MIT) e Java Script. Quando se deu conta, estava criando jogos de raciocínio lógico, pois matemática é a aula que ele mais gosta. “Passo bastante tempo jogando no computador. Desenvolver jogos virou um hobby para mim. Ainda não sei se quero trabalhar com isso, mas gosto muito”, conta o tímido aluno. Os professores perceberam que Leonardo tinha talento para tecnologia quando conseguiu resolver, com linguagem de programação, um problema técnico que impedia que o blog da escola, criado por um grupo de alunos há alguns anos, fosse atualizado Os professores perceberam que Leonardo tinha talento para tecnologia quando conseguiu resolver, com linguagem de programação, um problema técnico que impedia que o blog da escola, criado por um grupo de alunos há alguns anos, fosse atualizado. Hoje, o aluno coordena o conteúdo da página, atividade que realiza em paralelo a outro blog que mantém, de dobraduras. Ele também foi escolhido para ser um dos monitores do Laboratório de Educação Digital e Interativa (Ledi), um projeto desenvolvido pela prefeitura da cidade que reúne, em um prédio exclusivo no centro, atividades de computação, programação, audiovisuais e robótica. Aos 12 anos, Leonardo começou a desenvolver jogos de computador PMSJC  O Ledi também faz parte do projeto Escola Interativa e foi inaugurado este ano. O centro é aberto para a comunidade e para os 60 mil alunos da rede de ensino, e oferece aulas gratuitas de programação e oficinas de computação. Lá, Leonardo colaborou, junto com um grupo de alunos da rede e de estagiários, todos vindos de graduações tecnológicas de universidades do local, para o desenvolvimento de um jogo educativo que será utilizado em sala nas escolas da cidade, o Sanja Runner – Sanja é como os habitantes se referem a São José dos Campos. O jogo ensina história, geografia e até matemática por meio de um roteiro elaborado pelos desenvolvedores do Ledi. “Um menino faz a lição de casa, que é sobre os pontos históricos de Sanja, e, cansado, acaba dormindo sobre as anotações. Quando acorda, nota que o trabalho sumiu. Seu cachorro pegou e saiu correndo pela cidade. O personagem precisa recuperar a lição. A cada folha recuperada, uma informação sobre a história do município aparece na tela para o jogador. Para passar para uma nova fase, o aluno precisa responder a um quiz sobre aquilo que aprendeu”, explica Yoji Kojio, de 24 anos, aluno de ciências da computação da Unifesp e estagiário do Ledi. O game, lançado no final de junho, é uma espécie de Sonic e Mário World educativo e já virou sucesso entre os alunos. Cenário do Sanja Runner. PMSJC  “A tecnologia está presente na vida dos jovens e já mudou a forma como os alunos interagem e aprendem em sala. Nada mais razoável do que incentivar essas habilidades e aproveitá-las em um modelo de ensino que se torna cada vez mais multidisciplinar”, afirma o vice-diretor da escola Elizabete Honorato, Pablo Jacinto de Oliveira. No colégio, estão matriculados hoje 1.200 alunos do ensino fundamental e da EJA, ensino de jovens e adultos. Segundo o gestor, a maioria tem até mais de um celular. “As escolas precisam se adaptar às novas demandas de ensino, treinando professores e abrindo oportunidades de aprendizado com ferramentas interativas. Não apenas por causa do mercado de trabalho, mas também porque os alunos se sentem mais motivados quando utilizamos ferramentas que já fazem parte do dia a dia deles”, complementa. ElPaís

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