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“Coquetel” com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios – consulte o seu

Um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de 1 em cada 4 cidades do Brasil entre 2014 e 2017. Nesse período, as empresas de abastecimento de 1.396 municípios detectaram todos os 27 pesticidas que são obrigados por lei a testar. Desses, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye. As informações são parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento. Os números revelam que a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017. Nesse ritmo, em alguns anos, pode ficar difícil encontrar água sem agrotóxico nas torneiras do país. Embora se trate de informação pública, os testes não são divulgados de forma compreensível para a população, deixando os brasileiros no escuro sobre os riscos que correm ao beber um copo d’água. Em um esforço conjunto, a Repórter Brasil, a Agência Pública e a organização suíça Public Eye fizeram um mapa interativo com os agrotóxicos encontrados em cada cidade. O mapa revela ainda quais estão acima do limite de segurança de acordo com a lei do Brasil e pela regulação europeia, onde fica a Public Eye. Saiba o nível de contaminação da sua cidade clicando na imagem abaixo. O retrato nacional da contaminação da água gerou alarde entre profissionais da saúde. “A situação é extremamente preocupante e certamente configura riscos e impactos à saúde da população”, afirma a toxicologista e médica do trabalho Virginia Dapper. O tom foi o mesmo na reação da pesquisadora em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Ceará, Aline Gurgel: “dados alarmantes, representam sério risco para a saúde humana”. Entre os agrotóxicos encontrados em mais de 80% dos testes, há cinco classificados como “prováveis cancerígenos” pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e seis apontados pela União Europeia como causadores de disfunções endócrinas, o que gera diversos problemas à saúde, como a puberdade precoce. Do total de 27 pesticidas na água dos brasileiros, 21 estão proibidos na União Europeia devido aos riscos que oferecem à saúde e ao meio ambiente. Entre os locais com contaminação múltipla estão as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas. A falta de monitoramento também é um problema grave. Dos 5.570 municípios brasileiros, 2.931 não realizaram testes na sua água entre 2014 e 2017. Coquetel tóxico A mistura entre os diversas químicos foi um dos pontos que mais gerou preocupação entre os especialistas ouvidos. O perigo é que a combinação de substâncias multiplique ou até mesmo gere novos efeitos. Essas reações já foram demonstradas em testes, afirma a química Cassiana Montagner. “Mesmo que um agrotóxico não tenha efeito sobre a saúde humana, ele pode ter quando mistura com outra substância”, explica Montagner, que pesquisa a contaminação da água no Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de São Paulo. “A mistura é uma das nossas principais preocupações com os agrotóxicos na água”. Os paulistas foram os que mais beberam esse coquetel nos últimos anos. O estado foi recordista em número de municípios onde todos os 27 agrotóxicos estavam na água. São mais de 500 cidades, incluindo a grande São Paulo – Guarulhos, São Bernardo do Campo, Santo André e Osasco – além da própria capital. E algumas das mais populosas, como Campinas, São José dos Campos, Ribeirão Preto e Sorocaba. O Paraná foi o segundo colocado, com coquetel presente em 326 cidades, seguido por Santa Catarina e Tocantins. Os especialistas falam muito sobre a “invisibilidade” do efeito coquetel. As políticas públicas não monitoram a interação entre as substâncias porque os estudos que embasam essas políticas não apontam os riscos desse fenômeno. “Os agentes químicos são avaliados isoladamente, em laboratório, e ignoram os efeitos das misturas que ocorrem na vida real”, diz a médica e toxicologista Dapper. Por isso, ela lamenta, as pessoas que já estão desenvolvendo doenças em decorrência dessa múltipla contaminação provavelmente nunca saberão a origem da sua enfermidade. Nem os seus médicos. Questionado sobre quais medidas estão sendo tomadas, o Ministério da Saúde enviou respostas por email reforçando que “a exposição aos agrotóxicos é considerada grave problema de saúde pública” e listando efeitos nocivos que podem gerar “puberdade precoce, aleitamento alterado, diminuição da fertilidade feminina e na qualidade do sêmen; além de alergias, distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, neurológicos e neoplasias” (Leia a íntegra das respostas do Ministério da Saúde). A resposta, porém, ressalta que ações de controle e prevenção só podem ser tomadas quando o resultado do teste ultrapassa o máximo permitido em lei. E aí está o problema: o Brasil não tem um limite fixado para regular a mistura de substâncias. Essa é uma das reivindicações dos grupos que pedem uma regulação mais rígida para os agrotóxicos. “É um absurdo esse problema ficar invisível no monitoramento da água e não haver ações para controlá-lo”, afirma Leonardo Melgarejo, engenheiro de produção e membro da Campanha Nacional Contra os Agrotóxicos e Pela Vida “Se detectar diversos agrotóxicos, mas cada um abaixo do seu limite individual, a água será considerada potável no Brasil. Mas a mesma água seria proibida na França”. Ele se refere à regra da União Europeia que busca restringir a mistura de substâncias: o máximo permitido é de 0,5 microgramas em cada litro de água – somando todos os agrotóxicos encontrados. No Brasil, há apenas limites individuais. Assim, somando todos os limites permitidos para cada um dos agrotóxicos monitorados, a mistura de substâncias na nossa água pode chegar a 1.353 microgramas por litro sem soar nenhum alarme. O valor equivale a 2.706 vezes

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Pesticida: Alerta de ovos contaminados chega à França e ao Reino Unido

Em meio a escândalo alimentar iniciado na Holanda, autoridades francesas e britânicas afirmam que ovos expostos a inseticida também entraram em seus países, mas em menor quantidade. Europa alerta ainda Suécia e Suíça. A Comissão Europeia informou nesta segunda-feira (07/08) que ovos possivelmente contaminados com um pesticida tóxico também chegaram à França e ao Reino Unido, em meio a um alerta alimentar lançado pelas autoridades holandesas que já atinge outros países do continente.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] O alerta fora enviado pela NVWA, agência responsável por segurança alimentar na Holanda, que encontrou vestígios do uso do inseticida fipronil em várias fazendas avícolas no país. Até então, sabia-se que ovos produzidos nessas granjas haviam atravessado a fronteira para Bélgica e Alemanha. Nesta segunda-feira, no entanto, a Comissão Europeia enviou uma notificação às autoridades francesas e britânicas, bem como aos governos da Suécia e Suíça, informando que ovos tóxicos poderiam ter entrado também em seus territórios. O alerta foi descrito como uma medida preventiva. Segundo a porta-voz do órgão em Bruxelas, Anna-Kaisa Itkonen, o objetivo era apenas “compartilhar informações”. “Agora cabe à Suécia, à Suíça, à França e ao Reino Unido checarem, uma vez que todos esses ovos são rastreáveis”, acrescentou a funcionária. A entrada desses ovos foi confirmada mais tarde pelas autoridades em Paris e Londres. A agência que regula alimentos no Reino Unido declarou que “investiga com urgência a distribuição desses ovos” no país, focando nas granjas holandesas envolvidas no escândalo. “Estamos trabalhando de perto com as empresas que receberam ovos das fazendas afetadas. Até agora, investigações indicam que nenhum desses produtos segue nas prateleiras.” O órgão advertiu ainda que “o número de ovos [suspeitos que chegaram ao país] é muito pequeno, e o risco para a saúde pública é muito baixo”. As autoridades não informaram uma quantidade específica, mas disseram que eles representam 0,0001% dos ovos importados pelo Reino Unido todos os anos. Já o governo francês comunicou que 13 lotes de ovos holandeses contaminados com fipronil foram encontrados em duas fábricas de processamento de alimentos no centro-oeste da França. O Ministério da Agricultura do país não soube informar se algum produto chegou ao consumidor. Nesta segunda-feira, o mesmo ministério relatou que, em 28 de julho passado, uma fazendo avícola em Pas-de-Calais, no norte da França, foi colocada sob vigilância depois de um alerta recebido pelas autoridades de que um fornecedor belga enviara à granja produtos supostamente contaminados. Sobre esses ovos, a pasta garantiu que nenhum deles chegou às prateleiras de supermercados do país. Os produtos foram submetidos a testes, e o resultado deve ser conhecido ainda nesta semana. O escândalo No fim de julho, um alerta europeu sobre contaminação de ovos foi lançado pela NVWA, que encontrou vestígios do uso do fipronil em fazendas avícolas no país. Após fechar mais de cem granjas, recomendou que os mercados deixassem de vender os ovos produzidos por elas. O ministro alemão da Agricultura, Christian Schmidt, afirmou que ao menos 10 milhões de ovos contaminados vindos da Holanda chegaram ao país nas últimas semanas, e a maioria foi vendida. Schmidt pressionou as autoridades da Bélgica e da Holanda a resolverem a situação rapidamente. “Claramente alguém agiu com intenção criminosa para contaminar os ovos com um produto proibido”, disse ele ao tabloide Bild. Logo depois do alerta da NVWA, foi a vez de as autoridades belgas divulgarem que encontraram fipronil em alguns ovos, mas não numa quantidade que representasse ameaça à saúde humana. Nenhum desses ovos chegou às prateleiras de supermercados belgas, garantiu a AFSCA. Nesta segunda-feira, seguindo Amsterdã e Bruxelas, a Alemanha anunciou que também deu início a uma investigação criminal em fazendas do país para apurar o escândalo alimentar. Em seguida ao alerta, várias redes alemãs de supermercados anunciaram na semana passada a restrição da venda de ovos em suas lojas no país. O grupo Rewe, bem como sua cadeia subsidiária Penny, anunciou que retiraria de suas prateleiras todos os ovos provenientes da Holanda. Já a rede de supermercados populares Aldi, que possui mais de 4 mil unidades na Alemanha, comunicou o interrompimento da venda de todos os ovos, não importando a origem deles. Em comunicado, justificou que tomou a decisão por “pura precaução”, a fim de fornecer “clareza e transparência” ao consumidor, embora não haja evidência real de contaminação em seus produtos. A associação alemã de agricultores, por outro lado, descreveu a atitude como uma “reação exagerada”. Produzido por empresas como a alemã Basf, o fipronil é comumente utilizado em produtos veterinários para evitar o aparecimento de pulgas, piolhos e carrapatos. Seu uso, no entanto, é proibido para tratar animais destinados ao consumo humano, como aves. O inseticida é considerado tóxico para humanos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), podendo danificar órgãos como fígado, rins e tireoide se consumido em grandes quantidades e por período prolongado, alerta a entidade internacional. EK/afp/ap/dpa/dw/ots

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Meio Ambiente: Como a humanidade deve se alimentar em 2050?

Estudo aponta ser possível produzir alimentos suficientes para os quase 10 bilhões de habitantes que o planeta deve ter em meados do século. Para isso, é essencial mudar a dieta, sobretudo comendo menos carne. A ONU estima que, dos 7,1 bilhões atuais, até 2050 a população mundial passará a 9,7 bilhões. Algo que preocupa quando se pensa em todas as bocas a alimentar – ainda mais tendo em vista como a agricultura industrial afeta o planeta com erosão, emissões de CO2, poluentes químicos e perda de biodiversidade.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] No entanto, um estudo publicado nesta semana pela revista Nature traz boas notícias: há maneiras de fornecer alimentos para uma população de até 10 bilhões de pessoas e, ao mesmo tempo, manter as florestas que restam intactas. E isso até mesmo sem mudanças drásticas na dieta humana, afirma Karl-Heinz Erb, principal autor do estudo. Mas é necessário encontrar um equilíbrio entre o tipo de métodos agrícolas utilizados, a preservação do meio ambiente e a alimentação diária. Consumo de carne O estudo aponta que a quantidade de carne consumida é um fator importante. Se a humanidade abrisse mão de produtos animais, tornando-se vegana, se precisaria de menos espaço para cultivo em 2050 do que no ano 2000, mesmo com uma população mundial significativamente maior. Contudo, se a humanidade continuar comendo carne como hoje, em meados do século serão necessários mais de 50% de áreas agrícolas adicionais, prevê o estudo. Culto à alimentação saudável pode virar doença “Se virmos uma forte onda de dietas vegetarianas ou veganas, até mesmo nas classes mais baixas, podemos ter cenários factíveis, pois a demanda [de carne] não seria tão grande”, afirma Erb. Os pesquisadores se basearam principalmente em projeções da demanda de alimentos traçadas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), que preveem forte intensificação da agricultura. Mas os cientistas também analisaram cenários com colheitas menores – como resultado ou de uma mudança em direção a métodos menos intensivos, como a agricultura orgânica, ou de impactos das mudanças climáticas que reduzam a produtividade. Status quo Erb afirma que cenários “business as usual” – ou seja, manter os métodos atuais – até são possíveis em termos de disponibilidade alimentar, mas fora os custos ecológicos que acarreta, é questionável se são desejáveis ou não. Ao mesmo tempo em que dietas tipicamente ocidentais, com muita carne e alimentos processados, não são saudáveis, uma em cada nove pessoas no mundo “não tem alimento suficiente para levar uma vida saudável”, segundo o Programa Alimentar Mundial, da ONU. A partir dessa perspectiva, a questão não é tanto a possibilidade de manter o status quo à medida que a população mundial cresce, mas sim como encontrar rapidamente melhores maneiras de alimentar o mundo. José Luis Vivero Pol, pesquisador da Universidade de Louvain, na Bélgica, argumenta que a nutrição básica deveria ser garantida, da mesma maneira que muitos países garantem acesso à educação e à saúde. Agricultura intensiva e monocultura, como a da soja, têm altos custos ambientais Problema do desperdício O especialista em governança alimentar afirma que o desafio não é encontrar maneiras de aumentar a produção de alimentos, pois já se produzi o suficiente para alimentar quase 9 bilhões de pessoas. O problema é que um terço dessa produção é desperdiçado – problema também aprontado no estudo publicado na Nature. “Por a comida ser tão barata, não nos importa desperdiçar um terço dela – ainda é rentável”, comentou Pol à DW. “Isso seria impossível em qualquer outra cadeia de produção industrial.” Ele culpa a cultura de não dar valor à comida pelo conceito de produzir o máximo de comida possível a custos mínimos. No Ocidente industrializado, acredita-se que se pode comer tanta carne quanto se quer, pensando-se pouco na grande quantidade de alimentos jogados no lixo, diz. Quando consumidores fazem escolhas que têm um impacto tão negativo, o Estado precisa intervir, aponta Pol – por exemplo, redirecionando os enormes subsídios à agricultura industrial para práticas mais sustentáveis, e taxando ou limitando a venda de carne. Karl-Heinz Erb salienta que seu estudo não é sobre segurança alimentar em geral, mas sim sobre assegurar que há capacidade de produzir comida suficiente, considerando os níveis atuais de consumo. Os resultados podem ser interpretados como uma alternativa oferecida à humanidade: entre preservar ecossistemas e a saúde humana, e sistemas de produção de alimentos que não saudáveis para as pessoas nem para o planeta.

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Alimentos: Agrotóxicos: o veneno que o Brasil ainda te incentiva a consumir

Brasil permite uso de pesticidas proibidos em outros países e exonera os impostos dessas substâncias. Plantação de morangos em Brasília. Mary Leal Agência Brasília O morango vermelho e carnudo e o espinafre verde-escuro de folhas largas comprados na feira podem conter, além de nutrientes, doses altas demais de resíduos químicos. Estamos em 2016 e no Brasil ainda se consomem frutas, verduras e legumes que cresceram sob os borrifos de pesticidas que lá fora já foram banidos há anos. A quantidade de agrotóxicos ingerida no Brasil é tão alta, que o país está na liderança do consumo mundial desde 2008. A boa notícia, é que naquele mesmo ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) iniciou a reavaliação de 14 pesticidas que podem apresentar riscos à saúde. A má notícia é que até agora os estudos não terminaram.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A essa morosidade somam-se incentivos fiscais. O Governo brasileiro concede redução de 60% do ICMS (imposto relativo à circulação de mercadorias), isenção total do PIS/COFINS (contribuições para a Seguridade Social) e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) à produção e comércio dos pesticidas, segundo listou João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). O que resta de imposto sobre os agrotóxicos representam, segundo Olenike, 22% do valor do produto. “Para se ter uma ideia, no caso dos medicamentos, que não são isentos de impostos, 34% do valor final são tributos”, diz. Recentemente, o consumo de agrotóxicos esteve novamente no centro da discussão. A apresentadora Bela Gil, que tem mais de 590.000 seguidores no Facebook, liderou um movimento para que a população se mostrasse contrária ao uso do carbofurano, substância usada em pesticidas em lavouras de algodão, feijão, banana, arroz e milho. Isso ocorreu quando a Anvisa colocou em seu site uma consulta pública sobre essa substância. Antes de Bela Gil publicar um texto engajando seus seguidores, o resultado se mostrava favorável à continuação do uso desse agrotóxico. Mas em poucas horas, a apresentadora conseguiu reverter o resultado da consulta, mostrando que os brasileiros querem que essa substância seja proibida também no Brasil, assim como já é em países como Estados Unidos, Canadá e em toda a União Europeia. Por e-mail, a chefe de cozinha adepta da culinária natureba disse por que liderou a campanha. “Já existem estudos revelando a toxicidade e os perigos do carbofurano”, disse. “Essa substância é cancerígena, desregula o sistema endócrino em qualquer dose relevante e afeta o sistema reprodutor”. Na bula do produto consta a informação de que essa substância é “muito perigosa ao meio ambiente e altamente tóxica para aves”. Orienta o usuário a não entrar nas lavouras que receberam o produto por até 24 horas após a aplicação “a menos que se use roupas protetoras”. 2,4-D E A POLÊMICA DO ‘AGENTE LARANJA’ Há exatos dez anos, desde 2006, a Anvisa está reavaliando os riscos à saúde que o herbicida 2,4-D pode causar. De nome estranho, essa substância era uma das que formavam o chamado Agente Laranja, uma química que foi amplamente utilizada pelas Forças Armadas norte-americanas durante a guerra do Vietnã. Seu uso, naquele momento, era para destruir plantações agrícolas que eram usadas como esconderijo pelos inimigos. Mas, segundo a Cruz Vermelha, cerca de 150.000 crianças nasceram com malformação congênita em consequência dessa substância. Os Estados Unidos contestam esse número. Por meio de nota, a Anvisa afirmou que o parecer técnico de reavaliação do 2,4-D foi recentemente finalizado e deverá ser disponibilizado para consulta pública no portal da Anvisa nos próximos meses. A consulta pública faz parte do processo de reavaliação das 14 substâncias realizado pela Anvisa (veja o quadro abaixo). Desde o início dos estudos, em 2008, seis pesticidas foram banidos e dois foram autorizados a permanecer no mercado sob algumas restrições. Resta a conclusão dos estudos de outras seis substâncias – dentre elas o carbofurano. O glifosato, usado para proteger lavouras de milho e pasto, e que no ano passado foi considerado cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde, também está nesta lista que aguarda conclusões. A demora para finalizar essa reavaliação fez o Ministério Público entrar com uma ação, em junho do ano passado, pedindo maior agilidade no processo. Na época, a Justiça acatou o pedido e estabeleceu um prazo de 90 dias para que todos os estudos fossem concluídos. Mas o setor do agronegócio também se moveu. O Sindicato Nacional das Indústrias de Defesa Vegetal (Sindivag) entrou com um recurso alegando que o prazo não era suficiente. Em nota, o Sindivag afirmou ser “favorável ao procedimento de reavaliação”, mas que “o prazo concedido para conclusão da reavaliação não era suficiente para que fossem adotados todos os procedimentos previstos nas normas vigentes”. O processo está agora na Justiça Federal, que informou não haver prazo para o julgamento. Fonte: Anvisa Apesar da demora, as reavaliações dos agrotóxicos são um passo importante para a discussão do consumo dessas substâncias no Brasil. “A consulta pública da Anvisa sobre o carbofurano foi importante para que o órgão e os especialistas envolvidos obtivessem conhecimento do que a população pensa”, diz Bela Gil. “A Anvisa pode se sentir mais inclinada a tomada de decisão de realmente banir esse agrotóxico”. MAIS INFORMAÇÕES OMS: Carne processada e embutidos aumentam risco de câncer A agricultura salva novamente a economia brasileira Câmara aprova lei que dispensa símbolo da transgenia em rótulos Se você compra comida orgânica, isto é o que você precisa saber Para Wanderlei Pignati, professor de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a lentidão desse processo ocorre porque há uma forte pressão de setores interessados na comercialização dessas substâncias. “As empresas querem fazer acordo, mas não deveria caber recurso”, diz. “Queremos proibir todos os [agrotóxicos] que são proibidos na União Europeia”, afirma. “Por que aqui são consumidos livremente? Somos mais fortes que eles e podemos aguentar, por acaso?”. Segundo João Olenike, do IBPT, os agrotóxicos deveriam ter altos tributos, e não ser isentos. “Existe uma coisa chamada extra-fiscalidade, que significa que, além da arrecadação, o tributo tem também uma função social”, explica.

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Ativistas alertam Obama: as abelhas estão ficando sem tempo

Em uma carta destinada ao presidente Obama na quinta-feira, onze dos principais grupos de defesa ambiental e de saúde pública, representando milhares de americanos, estão demandando que a administração tome medidas mais fortes e rápidas para terminar com a situação perigosa dos polinizadores mais prolíficos da nação, conhecidamente as abelhas, causada pelo uso disseminado de neonicotinóides, uma classe perigosa de pesticida.  A carta alerta Obama a instruir a EPA (Agência de Proteção Ambiental) a suspender imediatamente o uso do neonicotinóide e tomar medidas retroativas e proativas para reduzir seus impactos adversos. “Abelhas e outros polinizadores são essenciais para o fornecimento de comida da nossa nação, para o sistema agrícola, economia, e meio-ambiente,” declara a carta, “mas estão em grande perigo e populações estão diminuindo mundialmente. Um órgão em crescimento de evidências científicas aponta o uso disseminado e indiscriminado da classe neurotóxica de pesticidas chamada neonicotinóide (neonics) como um fator chave na morte das abelhas.” Especificamente, os grupos dizem que mesmo Obama tendo apontado um painel especial inter-agências, chamado a Força Tarefa de Saúde Polinizadora, para estudar a saúde dos polinizadores ano passado, esses esforços estão simplesmente indo muito devagar e o tempo está acabando. Mandados para assessorar a crise da mortandade das abelhas e oferecer recomendações depois de 180 dias, a Força Tarefa perdeu seu prazo e indicou agora que seu relatório pode não sair até 2016.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “Se as taxas atuais de mortandade das abelhas continuarem,” diz a carta, “é improvável que a indústria de apicultura sobreviva ao prazo estendido da EPA, colocando nossa industria agrícola e nosso fornecimento de comida em sério risco.” Neonicotinóides, os quais são frequentemente aplicados nas sementes antes da plantação, são especificamente danosos para as abelhas porque envenenam a planta inteira, incluindo o néctar e o pólen que as abelhas comem. Em doses elevadas, neonics podem matar as abelhas diretamente, mas os cientistas descobriram que em níveis mais baixos e comuns de exposição, o pesticida afeta negativamente a habilidade das abelhas de procriar, de forragem, de lutar contra doenças e sobreviver em meses de inverno. O que é mais perturbador, de acordo com os oponentes do neonics, é como uma analise recente da EPA descobriu que o tratamento com neonicotinóide em sementes de soja, uma das monoculturas mais importantes do mundo, oferece pouco ou nenhum benefício econômico aos produtores de soja. Em uma carta à Força Tarefa enviada em novembro do ano passado, mais de 100 cientistas alertaram para a necessidade de uma ação imediata contra os pesticidas que prejudicam as abelhas. “A Força Tarefa do presidente deveria ouvir o órgão de cientistas que conecta os pesticidas com os danos às abelhas e ao seu declínio,” declarou Jim Frazier, Doutor, professor emérito de entomologia na Universidade Estadual da Pensilvânia e conselheiro apicultor comercial especializado em ecologia química, que assinou a carta conjunta dos cientistas. Em adição às ações do neonics, a carta de quinta-feira também aconselha a administração Obama a fechar uma lacuna legal a qual permite a venda de outros inseticidas antes de estarem adequadamente seguros. De acordo com os grupos – que inclui Amidos da Terra, NRDC, Greenpeace EUA, Verde para Todos, Justiça terrestre, Físicos pela Responsabilidade Social, e cinco outros – a ciência está de acordo e as apostas não poderiam ser maiores: Diversos grupos estão tomando medidas para restringir o uso de neonicotinóides, porque a ciência está ciente de que os pesticidas são um fator que lidera o declínio das abelhas e estão prejudicando muitos outros organismos importantes e benéficos, incluindo pássaros, morcegos, borboletas, libélulas, crisopas, joaninhas, minhocas, mamíferos pequenos, anfíbios, insetos aquáticos e micróbios do solo – colocando a produção de comida e o meio ambiente em risco. Ainda esse ano, um órgão global de 29 cientistas independentes – a Força Tarefa em Pesticidas sistêmicos – revisou mais de 800 estudos publicados nos últimos 5 anos, incluindo estudos patrocinados por industrias, e apelou para uma ação reguladora imediata para restringir os neonicotinóides. A carta chega três semanas depois de 100 comerciantes, muitos dos quais são membros do Conselho de Comércio Americano Sustentável e da Rede de Negócios América Verde, enviarem um apelo similar ao presidente pedindo ação contra o uso do pesticida e proteções polinizadoras. Representando companhias de uma variedade de setores e indústrias, os líderes de negócios disseram que “estavam gravemente preocupados se o uso de neonicotinóides continuar a ser permitido no nosso meio ambiente em níveis atuais, essa prática terá impactos devastadores na nossa comida, ecossistemas e bem-estar econômico.” Jon Queally/Common Dreams

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