Ah!, que falta fazem o Estanislau Ponte Preta e o Nelson Rodrigues.
O que não falta no Brasil é fartura, exponencial, de tentativas dos idiotas de legislarem sobre o abstrato.
Leia, abaixo, a opinião do jornalista Luiz Garcia – lag@oglobo.com.br – com a qual concordo totalmente.
Bobagem levada a sério.
Em nenhum país democrático a prática do jornalismo é limitada a quem tem diploma de jornalismo — exceto no Brasil. Trata-se de uma camisa-de-força, que poderá se tornar mais apertada se for sancionado um projeto de lei há pouco aprovado no Congresso.
Ele estende a exigência do diploma a praticamente todas as atividades em redações de jornais, revistas, programas jornalísticos de rádio e TV e sites na Internet. É iniciativa defendida pela Federação Nacional dos Jornalistas, que senadores e deputados, pelo visto, acreditam que representa — ela e mais ninguém — os interesses da profissão.
Pelo projeto que apadrinhou com sucesso, a entidade parece (com certeza involuntariamente) mais próxima dos interesses das faculdades particulares de jornalismo, que a cada ano jogam no mercado um aluvião de diplomados com escassas chances de emprego.
Autores e padrinhos do projeto de lei não entendem que a missão de mostrar à opinião pública o que acontece na verdade menos pede a exclusividade do diploma de jornalista do que a presença nas redações de profissionais de outra formação.
O curso superior poderia ser uma exigência, mas não o mesmo curso superior para todos. Entender e explicar o que se passa no país e no mundo é trabalho complicado. Poderia ser realizado com eficiência bem maior se dele participassem diretamente pessoas com formação em História, Direito, Economia, Letras etc.
Seria, claro, presença minoritária. Mas esse pessoal faz falta.
O projeto agora aprovado não soluciona problema algum — e cria diversos, ao instituir a exigência do diploma de jornalismo para atividades não-jornalísticas. Uma das derrapadas não tem conserto: ao contrário do que pensam os autores do monstrengo, as profissões de radialista e arquivista já são regulamentadas em lei. Nos dois casos, exigir o diploma de jornalista é absurdo jurídico.
E é simplesmente bobagem querer que assessores de imprensa sejam jornalistas. Esses profissionais são na verdade interlocutores de jornalistas, e podem perfeitamente ter diploma na área de relações públicas. Ou nenhum diploma, apenas competência.
Tem mais: revisores não precisam ser jornalistas porque seu trabalho pede prioritariamente (quase exclusivamente) conhecimentos de português, já que visa principalmente à correção de erros gramaticais. E um diagramador deve entender de artes gráficas: suas decisões não se referem ao conteúdo da notícia e sim à roupa que ela veste. Sua formação deve ser em artes visuais, não em jornalismo.
Em outro de seus absurdos, o projeto exige diploma a quem faz “comentário, narração, análise ou crônica, pelo rádio, pela televisão ou por outros veículos de mídia impressa ou informatizada”.
Ou seja, olho da rua para ex-jogadores de futebol e ex-juízes que acompanham a transmissão das partidas. Adeus, Arnaldo César Coelho, Tostão, Falcão, Casagrande e o resto do time.
Mais: José Hugo Celidônio, vá aprender a escrever uma notícia e só depois volte para nos falar de pratos e molhos. Arnaldo Jabor, se não tem diploma, leve sua santa indignação para a praça pública. Paulo Coelho, Diogo Mainardi, procurem nova turma.
Enfim, o projeto é uma bobagem. Seria engraçado, não fosse o risco de ser levado a sério.