Poema para escrever no asfalto
Francisco Carvalho¹
Agora eu sei o quanto basta à ceia do coração
e o quanto sobra do naufrágio
das nossas utopias.
Agora eu sei o que significa a fala dos mortos
e esta parábola soterrada
que jorra das veias da pedra.
Agora eu sei o quanto custa o ouro das palavras
e este pacto de sangue
com as metáforas do tempo.
Agora eu sei o que se passa no coração de treva
e do homem que morre mendigando
a própria liberdade.
Agora eu sei que o pão da terra nunca foi repartido
com a nossa pobreza
e com a solidão de ninguém.
Agora eu sei que é preciso agarrar a vida
como se fosse a última dádiva
colocada em nossas mãos.
¹Francisco Carvalho
* Russas, CE. – 11 de Junho de 1927 d.C
+ Fortaleza, CE. – 5 de março de 2013 d.C
“É preciso reconhecer que a poesia é hoje um teatro sem platéia. Uma ribalta às moscas.”
Aos 77 anos, cinqüenta dedicados ao fazer poético, o poeta cearense Francisco Carvalho lança a antologia Memórias do Espantalho, reunião de poemas escolhidos de 19 livros dos 29 publicados. Apesar de ter vencido a 1ª Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, com o livro Quadrante Solar (1982) e de obter o prêmio da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, com Girassóis de Barro (1997), o poeta da cidade de Russas é praticamente um desconhecido no País.
[ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]