Eleições 2006 – Dicionário.

Por Josias de Souza – Jornalista

Falta um mês e meio para o momento mágico em que você, já no interior da cabine eleitoral, visita sua alma. Súbito, descobre que esqueceu a consciência em casa. Estica o dedo em direção à urna eletrônica e vota a esmo. Transfere o problema para a divina providência.


Meses depois, descobre que Deus está morto. Foi assassinado pela omissão coletiva. Não resta senão sentar, rezar, pedir perdão e expiar os pecados.


Nesses tempos de culto à hipocrisia, o repórter gosta de reeditar um dicionário que vem colecionando e atualizando. É uma maneira de homenagear a insensatez. A providência é desnecessária.


A barafunda nacional não existiria se o eleitor já não estivesse compenetrado no exercício do seu papel. Mesmo assim, aí vão alguns verbetes para aujudá-lo em sua (des)orientação:


– Alckmin: nome mais cotado para transformar o adversário em vitorioso;
– Candidato: pretensioso que diz coisas definitivas sem definir as coisas;
– Campanha: período em que um grupo de loucos apresenta no rádio e na TV sua plataforma para dirigir o hospício;
– Coerência: velha maluca que faz tricô enredando-se nas linhas de suas próprias contradições;
– Coligação: aliança partidária com fins lucrativos;
– Democracia: regime político que saiu pelo ladrão; espécie de luta de boxe em que a sociedade entra com a cara;
– Eleição: uma loteria sem prêmio no final;
– Eleitor: cidadão escalado para optar entre o lamentável e o impensável;
– Heloisa Helena: Pseudonovidade no seio da política; a inconseqüência com saliências e reentrâncias;
– Lula: ex-operário que se converteu em compositor. Compõe com qualquer um.
– Marketing político: técnica que consiste em enfeitar a forca, conferindo-lhe a aparência de inofensivo instrumento de cordas; – Pesquisa eleitoral: estatística que antecipa o nome do herói que será chamado de ladrão depois da posse;
– Petista: tucano que conseguiu pôr a mão na chave do cofre;
– Programa de governo: tratado de verdades que se esquecerão de acontecer;
– Tucano: linhagem de políticos com os pés no chão. E as mãos também;
– Voto: equívoco renovado de quatro em quatro anos;


Por último, vai aqui uma recomendação: na manhã de 1º de outubro, depois de escovar os dentes e lavar o rosto, olhe fixamente para o espelho. Talvez você enxergue o reflexo de um culpado.

Share the Post:

Artigos relacionados