As convicções são como brasas. Elas queimam e movem máquinas, moinhos e crenças. Homens de fé caminham sobre o fogo, rolam e aquecem o peito com ideias incandescentes.
Dizem que Kafka pediu a seu melhor amigo, Max Brod, que queimasse seus escritos. Max preferiu, em vez disso, publicá-los.
Sócrates, apesar de ser conhecido por suas aporias, era um homem tão convicto que às vezes tomava pancadas na cabeça, de seus interlocutores.
A missão da poesia é amolecer as crenças para que os suicidas, ao colocarem pedras nos bolsos, flutuem em êxtase, em vez de afundarem amargurados nas águas podres da existência.
Sócrates e Platão reconheceram na poesia a grande inimiga da crença e do totalitarismo e, por isso, a baniram de sua república protofascista.
O fogo é o nosso destino, sem dúvida. Tudo um dia arderá em chamas, inclusive os escritos de Kafka. Nesse ponto, tanto a ciência quanto o apocalipse estão de acordo. Um dia, o que a humanidade se habituou a chamar de atemporal voltará a ser cinzas.
Como enigma, resistira a poeira e a poesia.
Ricardo Rodrigues