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Blogs, imprensa e jornais

A crise dos jornais está na agenda, e a dos jornalistas? O grande assunto atual em todas as rodas de jornalistas é o futuro dos jornais. Todo mundo está preocupado com o possível desaparecimento da imprensa escrita, mas até agora poucos se deram conta de que a atividade jornalística também está em questão. A preocupação da maioria dos jornalistas com a crise dos jornais está ligada diretamente à insegurança sobre o futuro de empregos, da estabilidade salarial e do guarda chuva de garantias sociais. É natural que seja assim, porque afinal de contas um emprego na industria de jornais, revistas, rádio e televisão é uma espécie de âncora num mercado de trabalho marcado pela instabilidade e fluidez. É também um sintoma da dependência que os profissionais criaram em relação às empresas durante a época em que os jornais e os jornalistas tinham a exclusividade na produção de noticias. Os free lancers e autônomos eram uma exceção e de certa forma também um luxo, já que só os mais bem sucedidos na profissão podiam se arriscar a um vôo solo. A internet e a avalancha informativa digital não mudaram apenas o modelo de negócios da imprensa ao causar a queda de receitas tanto com publicidade como em vendagem em quase todo o mundo. A Web, parte da internet, está também alterando a rotina e os valores da atividade jornalística, sem que este tema tenha sido até agora discutido em profundidade.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A maioria dos profissionais talvez ainda espere que os jornais consigam criar um novo modelo de negócios e aí tudo voltaria ao normal. Só que isso é uma ilusão. A imprensa vai descobrir um novo modelo de negócios mas é quase certo que ele terá muito poucas semelhanças com o atual, porque houve uma mudança irreversível na produção de informações. Ela não está mais concentrada nos jornais e assumiu um caráter descentralizado na internet. Tudo indica também que a nova fórmula comercial da imprensa não estará apoiada na formação de grandes redações. Isto significa que a segurança do emprego em empresas jornalísticas deve ser descartada como perspectiva profissional futura, como afirma o professor Mark Deuze[1], autor do livro Media Work e considerado o maior especialista mundial em mercado de trabalho na mídia. Fica fácil então perceber que os jornalistas profissionais terão que enfrentar duas perguntas incômodas: 1) O que o futuro reserva para a atividade, descartada a opção por jornais e revistas no formato tradicional; 2) Como será possível sobreviver numa nova realidade marcada pela participação dos cidadãos como produtores de notícias e pela necessidade de especialização para ocupar nichos informativos vagos até agora pela inexistência de público consumidor significativo? A primeira pergunta é impossível responder dada a sua complexidade e…

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Impensável e indizível

Nossa consciência e o livre arbítrio rejeitam embargos a qualquer opção. O instinto de sobrevivência, porém, nos aconselha a evitar a utilização abusiva de certas alternativas, que com a repetição perdem o caráter nefasto e acabam por se tornar possíveis, até palatáveis. A frequência torna tudo barato, banal, admissível, natural. Suicídio e guerra, por exemplo, são soluções extremas, inapeláveis e incogitáveis. O mesmo com relação a golpes de estado. Não existem suicídios aceitáveis, a não ser em casos de doenças terminais, nem guerras justas. O golpe de estado é a ruptura da ordem constitucional, é o caos. O regime democrático admite tanto a duplicação como a interrupção de mandatos – desde que sancionadas por maiorias ou seus representantes legítimos. Nas últimas seis décadas, este observador anotou duas crises político-militares em que a paranoia, a radicalização e a reverberação desrespeitaram a imperiosa quarentena a ser imposta ao recurso do golpe. Em Novembro de 1955 e Março de 1964 as menções a golpe eram tantas e tão intensas que desgraçadamente acabaram por se auto confirmar e materializar. Em ambas como golpe preventivo, pretexto tão aberrante e estúpido como o golpe de estado sem pretexto.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Nas crises pós-ditadura — a atual é uma delas — felizmente evaporou-se o ingrediente militar, afugentado o fantasma de quartelada. Mesmo assim, mantêm-se outras assombrações igualmente aterrorizantes. A facilidade e a irresponsabilidade com que é aventada a interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff é um desrespeito à República e suas instituições. Acusados estão os presidentes das duas casas do Parlamento, portanto o comando do Legislativo. Isso é grave, gravíssimo, sobretudo porque ambos se servem ilegitimamente de uma amalucada reforma constitucional para distrair a sociedade com uma enxurrada de emendas desconexas, deletérias, impróprias e contraditórias. Hipótese maldita Contra a chefia do Executivo — o Governo — correm suposições, rumores, fofocas, nenhuma evidência. A tentativa de confundi-las é viciosa. Tal como a histeria do principal partido governista tentando desqualificar a imperiosa missão oposicionista com o infamante estigma de golpismo. Espremidos entre o dever de reportar os incríveis desdobramentos da Operação Lava Jato e a ansiedade que domina grande parte da sociedade com o teor das suas revelações, jornais e jornalistas são facilmente levados a vulgarizar um desfecho extremo que conviria tirar de circulação para não suscitar recorrências e imitações. O país dos golpes — incruentos ou justificados – desapareceu, não existe mais. Todos os golpes se parecem — são cruéis, injustificados. Mesmo como figura de retórica. Se o sistema político não consegue contornar impasses com a esperada agilidade, em algum momento aparecerão as condições e, sobretudo as lideranças, capazes de superá-los. Golpe é uma hipótese maldita – para não ser aventada nem mencionada. Alberto Dines/Observatório da Imprensa

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Eduardo Cunha: Folha assume oposição contra o melífluo

Agora? Por quê? Quem criou Mateus que o crie! Esse elemento nocivo está na câmara não é pelo fato de se evangélico, ele lá está pelo dinheiro que correu e pela enganação que ele os ditos pastores usaram com os crédulos catequizados com ajuda, subliminar, da própria chamada grande mídia. Ele é parte do crescente contingente de falsos evangélicos que usam a bíblia para se eleger, e eleitores alienados à igreja votando neles. O criador se voltando contra a própria criatura. José Mesquita <==Orson Welles em Cidadão Kane Num duríssimo editorial, a Folha de S. Paulo, da família Frias, protesta contra condução da Câmara dos Deputados por Eduardo Cunha (PMDB-RJ); “Nos tempos de Eduardo Cunha, mais do que nunca a bancada evangélica se associa à bancada da bala para impor um modelo de sociedade mais repressivo, mais intolerante, mais preconceituoso do que tem sido a tradição brasileira”, diz o texto; jornal também critica a forma como se faz a reforma política; “o cidadão assiste a tudo sem sentir que foi consultado”; na era Cunha, Câmara se transforma em “picadeiro pseudorreligioso”, diz a Folha. Prática rara na Folha de S. Paulo, o editorial de página inteira foi utilizado neste domingo para que o jornal explicitasse sua posição contra o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No texto Submissão, a Folha, conduzida por Otávio Frias Filho, bate duro no parlamentar fluminense. “O ativismo legislativo que se iniciou com a gestão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara dos Deputados, e que Renan Calheiros (PMDB-AL) não deixou de seguir no Senado, possui o aspecto louvável de recuperar para o Parlamento um padrão de atuação e de debate por muito tempo sufocado”, diz o texto. “Essa aparência de progresso institucional se acompanha, porém, dos mais visíveis sintomas de reacionarismo político, prepotência pessoal e intimidação ideológica.”[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “Nos tempos de Eduardo Cunha, mais do que nunca a bancada evangélica se associa à bancada da bala para impor um modelo de sociedade mais repressivo, mais intolerante, mais preconceituoso do que tem sido a tradição constitucional brasileira”, avança a Folha. O jornal também questiona a forma como se tem feito a reforma política. “Eduardo Cunha atropelou as próprias instâncias institucionais ao impor ideias como a do distritão na pauta de votações”, diz o texto. “A toque de caixa, questões intrincadas como a do financiamento às campanhas eleitorais sofreram apreciações seguidas, e nada comprova mais a precipitação do processo do que o fato de que, em cerca de 24 horas, inverteram-se os resultados do plenário.” Numa frase que resume o circo, a Folha afirma que o “cidadão assiste a tudo sem sentir que foi consultado”. Qual é o resultado disso? “No meio dessa febre decisória, há espaço para que o Legislativo comece a transformar-se numa espécie de picadeiro pseudorreligioso, onde se encenam orações e onde se reprime, com gás pimenta, quem protesta contra leis penais duras e sabidamente ineficazes”, diz o texto. “Os inquisidores da irmandade evangélica, os demagogos da bala e da tortura avançam sobre a ordem democrática e sobre a cultura liberal do Estado; que, diante deles, não prevaleça a submissão.” 247

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Igor Fuser: A Globo é o principal agente da imbecilização da sociedade

A Rede Globo é o aparelho ideológico mais eficiente que as classes dominantes já construíram no Brasil desde o início do século XX. Substitui perfeitamente a Igreja Católica como instrumento de controle das mentes e do comportamento. A Globo esteve ao lado de todos os governos de direita, desde o regime militar – no qual se transformou no gigante que é hoje – até Fernando Henrique Cardoso. Serviu caninamente à ditadura, demonizando as forças de esquerda e endossando o discurso ufanista do tipo “Brasil Ame-o ou Deixe-o” e as versões sabidamente falsas sobre a morte de combatentes da resistência assassinados na tortura e apresentados como caídos em tiroteios. Mais tarde, após o fim da ditadura, alinhou-se no apoio à implantação do neoliberalismo, apresentado como a única forma possível de organizar a economia e a sociedade.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] No plano cultural, é impossível medir o imenso prejuízo causado pela Rede Globo, que opera como o principal agente da imbecilização da sociedade brasileira. Começando pelas novelas, seguindo pelos reality shows, pelos programas de auditório, o papel da Globo é sempre o de anestesiar as consciências, bloquear qualquer tipo de reflexão crítica. A Globo impôs um português brasileiro “standard”, que anula o que as culturas regionais têm de mais importante – o sotaque local, a maneira específica de falar de cada região. Pratica ativamente o racismo, ao destinar aos personagens da raça negra papéis secundários e subalternos nas novelas em que os heróis e heroínas são sempre brancos. Os personagens brancos são os únicos que têm personalidade própria, psicologia complexa, os únicos capazes de despertar empatia dos telespectadores, enquanto os negros se limitam a funções de apoio. Aliás, são os únicos que aparecem em cena trabalhando, em qualquer novela, os únicos que se dedicam a labores manuais. A postura racista da Globo não poupa nem sequer as crianças, induzidas, há várias gerações, a valorizar a pele branca e os cabelos loiros como o padrão superior de beleza, a partir de programas como o da Xuxa. O jornalismo da Globo contraria os padrões básicos da ética, ao negar o direito ao contraditório. Só a versão ou ponto de vista do interesse da empresa é que é veiculado. Ocorre nos programas jornalísticos da Globo a manipulação constante dos fatos. As greves, por exemplo, são apresentadas sempre do ponto de vista dos patrões, ou seja, como transtorno ou bagunça, sem que os trabalhadores tenham direito à voz. Os movimentos sociais são caluniados e a violência policial raramente aparece. Ao contrário, procura-se sempre disseminar na sociedade um clima de medo, com uma abordagem exagerada e sensacionalista das questões de segurança pública, a fim de favorecer as falsas soluções de caráter violento e os atores políticos que as defendem. No plano da política, a Rede Globo tem adotado perante os governos petistas uma conduta de sabotagem permanente, omitindo todos os fatos que possam apresentar uma visão positiva da administração federal, ao mesmo tempo em que as notícias de corrupção são apresentadas, muitas vezes sem a sustentação em provas e evidências, de forma escandalosa, em uma postura de constante denuncismo. A Globo pratica o monopólio dos meios de comunicação, ao controlar simultaneamente as principais emissoras de TV e rádio em todos os Estados brasileiros juntamente com uma rede de jornais, revistas, emissoras de TV a cabo e portais na internet. Uma verdadeira democratização das comunicações no Brasil passa, necessariamente, pela adoção de medidas contra a Rede Globo, para que o monopólio seja desmontado e que a sua programação tenha de se submeter a critérios pautados pela ética jornalística, pelo respeito aos direitos humanos e pelo interesse público. Por Igor Fuser, no Diário Liberdade Jornalista e professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC)

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Um prato apetitoso para a boataria e os imbecis

Os delírios dos personagens de Umberto Eco em “Número zero” só comprovam o valor da imprensa profissional – em tempos de Mãos Limpas ou de Lava Jato O juiz Sergio Moro não esconde sua admiração pela Operação Mãos Limpas, dos anos 1990. Em 2004, ele publicou um artigo vangloriando a “cruzada judiciária contra a corrupção política e administrativa” vivida na Itália. Tudo começou em fevereiro de 1992, com um caso banal: a prisão de Mario Chiesa, diretor de um asilo filantrópico de Milão, o Pio Alberto Trivulzio, flagrado com propina recebida de uma companhia de limpeza que, com a aproximação da polícia, tentou sem sucesso despachar pelo vaso sanitário – daí o nome Mãos Limpas. Puxando o fio dessa meada, a ação de juízes, procuradores e policiais levou à investigação de mais de 6 mil pessoas, entre elas 872 empresários e 438 parlamentares, ao redesenho dos partidos na Itália e à queda do então primeiro-ministro, Bettino Craxi, depois exilado na Tunísia. A Mãos Limpas inspirou Moro em toda a arquitetura da Operação Lava Jato – o início banal num posto de gasolina, as confissões de delatores (caso do próprio Chiesa), a prisão de empresários e políticos famosos e o uso do noticiário para exercer a pressão política necessária para desbaratar o esquema. Na época, a sensação de lama sem fim na Itália era muito parecida à que vivemos hoje no Brasil, com a enésima fase da Lava Jato, a Politeia. Lá também ninguém sabia como aquilo acabaria.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “Já se sabe que havia muita podridão nos partidos, e que todos embolsavam propinas, é preciso dar a entender que, se nós quiséssemos, poderíamos desencadear uma campanha contra os partidos. Seria preciso pensar num partido de honestos, um partido de cidadãos capazes de falar de uma política diferente.” É com essas palavras, descrição digna da Politeia de Platão, que o diretor abre uma reunião na redação de um novo jornal, o Amanhã, em Número zero, último romance do italiano Umberto Eco. Na Milão de 1992, enquanto eclode a Mãos Limpas, Simei, o diretor, é contratado pelo Comendador Vimercate, um rico empresário, para montar, em vez de um jornal, uma máquina de achaque e chantagem cujo objetivo não é chegar às bancas – mas lhe permitir exercer influência e poder perante a elite italiana a que quer pertencer. Simei chama para ser seu redator-chefe um tradutor e intelectual fracassado, Colonna, o narrador do romance. A missão secreta de Colonna é escrever um relato fantasioso que possa ser publicado ao final da empreitada, para salvar a reputação de Simei – retratado como um jornalista heroico e destemido, não um manipulador pusilânime. A partir daí, Eco, um mestre da ironia, apresenta ao leitor algo como “as 247 lições do pseudojornalismo” praticado por Simei. Invenção de notícias. Distorção de desmentidos. Anúncios fúnebres fraudados. Classificados pessoais fantasiosos. Desprezo por novidades, como os celulares. Fofocas sobre temas irrelevantes, como celebridades ou ordens medievais. Corte de reportagens que ofendem os interesses do comendador. E, naturalmente, a fabricação de dossiês que possam ser usados para chantagear seus inimigos. A redação fica às voltas com o número zero do título, uma edição fictícia para um único leitor – o comendador. Nela, Simei coloca apenas notícias cujos desdobramentos já conhece de antemão. Seu Amanhã, na verdade, foi ontem. O jornal é sacudido por outro ingrediente comum nas obras de Eco: as teorias da conspiração. Um dos jornalistas, com o sugestivo nome Braggadocio (fanfarronice), diz a Colonna estar prestes a obter provas de que Mussolini não fora morto no final da Segunda Guerra Mundial. Braggadocio passa então a narrar uma história rocambolesca que conecta milícias terroristas de extrema-direita, um golpe de Estado fracassado no final dos anos 1960, a loja maçônica P2, a CIA, a morte e o atentado contra dois papas e outros eventos históricos – até os escândalos de 1992. É uma viagem em que “tudo se liga”, como nos bons filmes de espionagem. As consequências do delírio de Braggadocio são terríveis para ele próprio e para o Amanhã. Na época retratada por Eco, não havia internet nem redes sociais. Hoje, o mundo é um prato apetitoso para os êmulos de Simei. Nas palavras do próprio Eco, há esse “reino dos imbecis”, onde qualquer um pode publicar o que quiser, sem necessidade de provar nada nem medir consequências, terreno fértil para boatos e teorias da conspiração. A maior de suas ironias é usar um pseudojornal onde tudo funciona como não deve, para mostrar aonde isso leva. “Nada mais pode nos perturbar neste país”, diz uma personagem a certa altura. “Sempre fomos um povo de punhais e veneno. Estamos vacinados, seja qual for a história nova que nos contem, vamos dizer que já ouvimos coisa pior, e que talvez essa e as outras sejam falsas.” Mas é justamente lá onde brota o “talvez” que a verdade se faz necessária. Os delírios de Braggadocio ou a canalhice de Simei só comprovam o valor da imprensa profissional – em tempos de Mãos Limpas ou de Lava Jato. HELIO GUROVITZ/G1

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Globo acusa Eduardo Cunha de corrupção

Dono de um conglomerado citado na Operação Lava-Jato como integrante de um esquema de pagamento de propina na Petrobras e sob crise financeira, o presidente do grupo Schahin, Milton Schahin, decidiu falar. Ele recebeu O GLOBO em seu escritório na Avenida Paulista, em São Paulo e, sem rodeios, afirmou que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vem patrocinando um esquema de perseguição às suas empresas. A ação, segundo ele, é capitaneada pelo empresário Lúcio Bolonha Funaro, com suporte de um grupo de parlamentares ligados a Cunha. O presidente da Câmara nega qualquer interferência no episódio. Cunha morou num flat em Brasília que era de propriedade de Funaro. Este, por sua vez, afirmou que trata do assunto apenas com a polícia e o Poder Judiciário. No entanto, admitiu que procurou parlamentares para denunciar o grupo Schahin. Para Schahin, é o poder político de Cunha que tem permitido a Funaro, seu principal desafeto, acionar a metralhadora giratória contra as atividades das empresas do grupo. O cerco teria começado há sete anos e, segundo ele, está agora se repetindo na CPI da Petrobras. Na Câmara, há registros de uma sucessão de requerimentos apresentados por parlamentares ligados a Cunha relacionados ao grupo Schahin. Questionado sobre o motivo de tantos pedidos de informações e investigação apresentados na CPI contra suas empresas, Milton responde: — Vejo como pura sacanagem do Funaro. Agora você me pergunta: como o Funaro pode ter tanta força? Porque o Eduardo Cunha está por trás. Temos uma pendência muito grande com Funaro, e a ligação de Cunha com ele é muito conhecida.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] E prossegue: — O que é estranho é a Câmara se meter na briga entre duas empresas. O que deputados têm a ver com uma disputa judicial entre empresas? (…) Em março deste ano, O GLOBO revelou dois requerimentos da Câmara que reforçam acusações do doleiro Alberto Youssef contra Eduardo Cunha. Em delação premiada, ele afirmou que Cunha era um dos beneficiários de propinas relacionadas a um contrato de aluguel de um navio-plataforma da Samsung e da Mitsui, que teria como representante no Brasil o executivo Júlio Camargo, outro investigado na Lava-Jato que se tornou delator em troca de redução de pena. Nos requerimentos da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, Solange pressiona publicamente a Mitsui e Camargo. O motivo, segundo o doleiro, seria uma suposta pressão para que as empresas retomassem o repasse de propinas que havia sido interrompido. Apesar de ter negado qualquer relação com o episódio, Cunha figura nos registros da Câmara como “autor” dos arquivos em que foram redigidos os dois requerimentos. Registros do sistema de informática da Câmara foram requeridos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que lidera o inquérito aberto contra Cunha no âmbito da Lava-Jato, autorizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). No fim de maio, quando os irmãos Schahin foram convocados a prestar depoimento na CPI da Petrobras, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) indagou Milton Schahin sobre o episódio da convocação dele por Solange. O empresário preferiu ficar em silêncio. Ao GLOBO, disse que, desde o episódio de Apertadinho, vem sendo pressionado a fazer um acordo com Funaro. Perguntado por que não fechou um acordo, disse: — Por que vou fazer negócio com bandido?

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Jornalismo e Internet – A extinção do jornalista profissional

“Os ascensoristas foram substituídos por botões automáticos. Operários, nas fábricas, foram substituídos por robôs. Os caixas bancários foram substituídos por caixas eletrônicos. A empresa digital Amazon acabou com as livrarias e as lojas de música. O próximo será o jornalismo porque existem no mundo três bilhões de pessoas com smartphones que são ‘plataformas extraordinariamente poderosas para o jornalismo’. Neles, as pessoas podem escrever textos, bater fotos, gravar vídeos e, em seguida, transportá-los gratuitamente para a internet.” A opinião é de Michael Rosenblum, fundador da Current TV. Seu argumento é simples: não há qualquer obstáculo para ser um jornalista. Qualquer um pode sê-lo. A diferença é que, hoje, o conteúdo produzido por qualquer pessoa encontra público diretamente nas redes sociais. Desta forma, o jornalista profissional se torna obsoleto. “Todos gostamos da ideia de um carro sem motorista. Exceto que ela acaba com caminhoneiros, taxistas, motoristas de ônibus etc. A maior empresa de taxis do mundo, a Uber, não possui um único taxi. A maior empresa de hotéis do mundo, o Airbnb, não possui um único quarto de hotel. Num futuro não tão distante, a maior e mais poderosa empresa de mídia do mundo não dará emprego a um único jornalista”, sentencia.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Economia perigosa O professor de jornalismo Roy Greenslade, que possui uma coluna no site do jornal britânico The Guardian, avalia o discurso de Rosenblum. “É claro que estamos caminhando na direção indicada por Rosenblum”, diz. “Entretanto, a pergunta que ele não faz é se isso será benéfico para o jornalismo e, por extensão, para o público.” Greenslade pondera que, cada vez mais, os grandes jornais tradicionais demitem jornalistas de suas equipes. Muitas redações estão repletas de estagiários ou freelancers. Muitos deles trabalham quase de graça, por longos períodos. Por outro lado, o conteúdo produzido por usuários, anunciado como uma espécie de virtude jornalística, é aceito como material jornalístico simplesmente porque é gratuito, não por ter um valor concreto. “A suposta virtude de um jornalismo do povo, feito pelo povo e para o povo não passa de uma maneira dos donos de jornais maximizarem seus lucros”, ressalta Greenslade. As empresas jornalísticas utilizam a tecnologia como uma maneira de reduzir os custos trabalhistas, e não como uma forma de democratizar e, portanto, melhorar seu conteúdo editorial. Greenslade aponta para a diminuição do pagamento para freelancers na última década e para o enxugamento das redações, o que faz com que “meia dúzia de homens e mulheres com talento jornalístico concreto” produzam jornais com o mínimo de conteúdo possível. Nada a comemorar “Encher páginas com pseudojornalismo é, e sempre foi, fácil”, diz. “Isso pode ser feito, mas, além do lucro, o que se ganha com isso? O que o público ganha com isso? Um ex-aluno meu disse-me, no outro dia, que trabalha para um grupo em que um cidadão é o editor de 17 jornais locais semanais. Pode ser feito. Está sendo feito. Mas qual é o valor disso?” O professor afirma que este “não é o jornalismo cooperativo que buscávamos, o jornalismo-cidadão que tanto nos entusiasmou desde o surgimento da internet”. Ele tem a aparência de jornalismo, mas é uma falsa atividade. Não é que Michael Rosenblum esteja errado, mas não há nada a comemorar, afirma. “O jornalismo não é o equivalente a pagar uma corrida de taxi, ou repetir como um robô a tarefa de uma linha de montagem, ou alugar uma casa para as férias. É uma atividade criativa que protege a democracia ao questionar os que estão no poder.” E, para que esta atividade possa ser feita de maneira correta, é preciso jornalistas apropriadamente remunerados por utilizarem seu talento em nome das sociedades em que funcionam. “Se o emprego do jornalista profissional realmente morreu, então morremos todos nós, pois isso significa que a própria democracia vem sendo ameaçada de extinção”. Tradução: Jô Amado, edição de Leticia Nunes. Com informações de Roy Greenslade [“Democracy will die if professional journalists go to the wall”, The Guardian, 7/4/15] e Michael Rosenblum [“The Job of Journalist Is Finished”, Huffington Post, 29/3/15]

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O Globo “veta” avião da FAB em Caracas e os picaretas pegam carona

Agora, jornal funciona assim: existe uma possibilidade de que algo ruim para o Governo aconteça? Então vai acontecer. Se não acontecer, é porque os “malvados” voltaram atrás e desistiram da “maldade”. Foi assim no “veto” aos documentos do Itamaraty sobre Lula. Agora, no caso da negativa de autorização para que um avião da FAB levasse senadores de oposição para fazer provocações políticas na Venezuela. Não houve nenhuma negativa para o pouso de um avião da FAB, mesmo com esta carga, no aeroporto de Maiquetia, na capital venezuelana. (aliás, também não havia qualquer razão para um vôo militar, pois há avião todo dia de São Paulo a Caracas e ida e volta saem por R$ 1.500)[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Agora, o PSDB e o Dem falam em fretar um jatinho, com o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), dizendo que “é até mais seguro” que um avião da FAB. Picareta, quando perguntado se não confiava nos militares brasileiros, disse que estava “pensando alto”. Mais picareta ainda é o jornal, que deu manchete para o tal “veto”, do qual não tinha uma informação concreta, ao ponto de que os próprios senadores dizem não saber a respeito. Aécio Neves deu entrevista ontem sobre a viagem e nem mencionou isso. Agora só falta a nova manchete: “Venezuela recua e permite que FAB leve senadores a Caracas”. É como aquela do Itamarati “liberando” os documentos que não haviam sido retidos. “A volta dos que não foram”. No meu tempo, a gente dizia que “barriga” jornalística assim dava demissão. Agora, dá promoção. Autor: Fernando Brito [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Globo volta ao “podemos tirar se achar melhor”

Cícero, o célebre orador romano, não conheceu a Globo, mas suas invenctivas contra Catilina, um golpista da época, parecem ter sido escritas especialmente para denunciar as diatribes da Vênus, sua campanha diária contra um debate político baseado em fatos, e não em mentiras, factoides e omissões. A obsessão goebelliana da Globo é criar a seguinte narrativa: FHC foi um grande estadista, e Lula, um crápula que merece ser degolado em praça pública. Dizia Cícero: “Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? Quam diu etiam furor iste tuus eludet? Quem ad finem sese effrenata iactabit audacia?” Tradução: “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós? A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?” O blog DCM descobriu que a Época, que agora disputa com a Veja o título de rainha do esgoto, tentou apagar da internet uma matéria em que denunciava mais uma daquelas coisas incríveis que somente os tucanos podem fazer: em seus últimos dias de governo, FHC usou o Planalto, um espaço público, para reunir grandes empresários, e pedir dinheiro para seu Instituto. Conseguiu R$ 7 milhões. Hoje isso deve corresponder ao dobro disso. Mais tarde, o ex-presidente conseguiria mais R$ 6 milhões de verba pública para organizar um “acervo” no site do Instituto FHC, louvando a si mesmo. Tucano pode tudo. Lula não. Lula deveria ter ido esmolar embaixo de um viaduto. Por: Miguel do Rosário/Tijolaço Do Diário do Centro do Mundo. Revista Época tira do ar matéria que contava como FHC ‘passou o chapéu’ para criar seu instituto Postado em 14 de junho de 2015 às 12:28 pm A revista Época tirou do seu site um artigo em que contava como, no final de sua presidência, FHC ‘passou o chapéu’ para recolher recursos para montar seu instituto. O serviço de queima de arquivo, no entanto, não foi bem feito. O Google guardou uma foto do texto. Quem procura a matéria no Google encontra essa cópia fotográfica. O Google explica que o dono do conteúdo pode pedir para remover o texto caso queira, mas até aqui a Época não se mexeu. Abaixo segue a reportagem, copiada e colada: FHC passa o chapéu Presidente reúne empresários e levanta R$ 7 milhões para ONG que bancará palestras e viagens ao Exterior em sua aposentadoria Gerson Camarotti Foi uma noite de gala. Na segunda-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso reuniu 12 dos maiores empresários do país para um jantar no Palácio da Alvorada, regado a vinho francês Château Pavie, de Saint Émilion (US$ 150 a garrafa, nos restaurantes de Brasília). Durante as quase três horas em que saborearam o cardápio preparado pela chef Roberta Sudbrack – ravióli de aspargos, seguido de foie gras, perdiz acompanhada de penne e alcachofra e rabanada de frutas vermelhas -, FHC aproveitou para passar o chapéu. Após uma rápida discussão sobre valores, os 12 comensais do presidente se comprometeram a fazer uma doação conjunta de R$ 7 milhões à ONG que Fernando Henrique Cardoso passará a presidir assim que deixar o Planalto em janeiro e levará seu nome: Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC). O dinheiro fará parte de um fundo que financiará palestras, cursos, viagens ao Exterior do futuro ex-presidente e servirá também para trazer ao Brasil convidados estrangeiros ilustres. O instituto seguirá o modelo da ONG criada pelo ex-presidente americano Bill Clinton. Os empresários foram selecionados pelo velho e leal amigo, Jovelino Mineiro, sócio dos filhos do presidente na fazenda de Buritis, em Minas Gerais, e boa parte deles termina a era FHC melhor do que começou. Entre outros, estavam lá Jorge Gerdau (Grupo Gerdau), David Feffer (Suzano), Emílio Odebrecht (Odebrecht), Luiz Nascimento (Camargo Corrêa), Pedro Piva (Klabin), Lázaro Brandão e Márcio Cypriano (Bradesco), Benjamin Steinbruch (CSN), Kati de Almeida Braga (Icatu), Ricardo do Espírito Santo (grupo Espírito Santo). Em troca da doação, cada um dos convidados terá o título de co-fundador do IFHC. Antes do jantar, as doações foram tratadas de forma tão sigilosa que vários dos empresários presentes só ficaram conhecendo todos os integrantes do seleto grupo de co-fundadores do IFHC naquela noite. Juntos, eles já haviam colaborado antes com R$ 1,2 milhão para a aquisição do imóvel onde será instalada a sede da ONG, um andar inteiro do Edifício Esplanada, no Centro de São Paulo. Com área de 1.600 metros quadrados, o local abriga há cinco décadas a sede do Automóvel Clube de São Paulo. O jantar, iniciado às 20 horas, foi dividido em dois momentos. Um mais descontraído, em que Fernando Henrique relatou aos convidados detalhes da transição com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Na segunda parte, o assunto foi mais privado. Fernando Henrique fez questão de explicar como funcionará seu instituto. Segundo o presidente, o IFHC terá um conselho deliberativo e o fundo servirá para a administração das finanças. Além das atividades como palestras e eventos, o presidente explicou que o instituto vai abrigar todo o arquivo e a memória dos oito anos de sua passagem pela Presidência. A iniciativa de propor a doação partiu do fazendeiro Jovelino Mineiro. Ele sugeriu a criação de um fundo de R$ 5 milhões. Só para a reforma do local, explicou Jovelino, será necessário pelo menos R$ 1,5 milhão. A concordância com o valor foi quase unânime. A exceção foi Kati de Almeida Braga, conhecida como a mais tucana dos banqueiros quando era dona do Icatu. Ela queria aumentar o valor da ajuda a FHC. Amiga do marqueiteiro Nizan Guanaes, Kati participou da coleta de fundos para a campanha da reeleição de FHC em 1998 – ela própria contribuiu com R$ 518 mil. “Esse valor é baixo. O fundo poderia ser de R$ 10 milhões”, propôs Kati, para espanto de alguns dos presentes. Depois de uma discreta reação, os convidados bateram o martelo na criação de fundo de R$ 7 milhões, o que levará cada empresário a desembolsar R$ 500 mil. Para aliviar as despesas, Jovelino ainda sugeriu que cada um dos 12 presentes convidasse mais dois

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O jornalismo e a nova economia política da informação

O jornalismo enfrenta mais um desafio na era digital: como assegurar a sustentabilidade de iniciativas jornalísticas em ambiente informativo onde o modelo convencional de publicidade e patrocínios já não funciona mais como antes? Durante décadas, talvez até mais de um século, os jornalistas viveram em perfeita harmonia com o que poderíamos chamar de cultura trabalhista. Assumimos que o exercício da profissão exigia alguém que pagasse um salário e que nossa maior preocupação era apenas a qualidade e o prazo de entrega de reportagens, artigos ou entrevistas. A cultura gerada pela relação trabalhista começa agora a enfrentar alguns percalços na vida de quem se dedica à comunicação social porque ganha corpo o que alguns especialistas chamam de nova economia politica da informação, um conceito ainda vago mas que procura explorar as relações entre a informação, economia e política num contexto digital. Parece coisa de acadêmicos ultraespecializados, mas as implicações desta nova economia política da informação já começam a mexer com o dia a dia da produção jornalística. A primeira e mais brutal constatação é a de que as fontes tradicionais de financiamento do jornalismo estão virando fumaça de forma cada vez mais rápida e clara. As grandes conglomerados jornalísticos tentam lidar com o problema adiando soluções drásticas, mas as pequenas e médias empresas, e principalmente os profissionais independentes, as chamadasstartups e os projetos sem fins lucrativos são os que enfrentam os desafios mais graves e imediatos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Os anunciantes tradicionais e financiadores de projetos jornalísticos entraram em hibernação. Suas receitas caíram, na maioria dos casos, e eles se mostram inseguros em investir na publicidade ou iniciativas de comunicação no terreno digital porque não têm certeza do retorno da aplicação. A penúria é generalizada e angustiante até porque é todo um modelo que está em xeque. As dúvidas dos anunciantes e financiadores de projetos geraram incertezas ainda maiores entre profissionais autônomos como, por exemplo, os responsáveis por blogs jornalísticas e projetos de jornalismo local ou hiperlocal. O desafio da sobrevivência ocorre justamente no momento em que as pessoas mais necessitam de insumos noticiosos capazes de ajudá-las a sobreviver num ambiente de caos informativo provocado por uma avalancha de opiniões, percepções, dados e informações na internet. Estamos a ponto de nos afogar num mar de notícias contraditórias caso haja uma queda significativa na produção de informações diversificadas, pertinentes, atuais, confiáveis e exatas. O aumento da dependência de recomendações sobre onde encontrar dados e informações que nos permitam tomar decisões, de acordo com nossas necessidades e desejos, faz com que a sobrevivência da maioria dos veículos de comunicação passe a ser também um dilema do público, o que o torna parte integrante da busca de soluções. Quase todas as alternativas que estão sendo testadas em várias partes do mundo e nos mais diferentes contextos têm em comum o foco na transformação do leitor, ouvinte, telespectador ou internauta num protagonista proativo no processo de captação, edição e disseminação de dados e informações. O público passa a ser a peça-chave da nova economia política da informação na era digital porque o jornalismo já não tem mais condições de processar sozinho toda a massa de notícias que circulam diariamente pelas redes sociais, páginas web e correio eletrônico, em equipamentos tanto fixos como móveis. A chamada economia do compartilhamento que já está causando estragos em segmentos como a indústria dos táxis contaminará inevitavelmente as relações econômicas na imprensa. São novas rotinas, comportamentos e valores surgindo num ambiente onde as regras e modelos analógicos já não conseguem mais produzir os mesmos resultados de antes. A relação trabalhista na mídia está sendo substituída pelo compartilhamento de recursos e pela colaboração informativa. O problema é que esta mudança passa por um conflito entre a sedução das novas perspectivas e a dura realidade da economia monetária; entre o fascínio de um futuro jornalismo compartilhado e a falta presente de recursos para remunerar profissionais e financiar equipamentos e serviços. É neste ponto que o público passa a ser uma peça essencial na sustentabilidade dos novos projetos jornalísticos em ambiente digital. É um campo ainda pouco explorado onde as dúvidas são maiores que as certezas, mas que parte de uma constatação: o exercício do jornalismo está se transformando numa atividade de mão dupla, tanto na produção e distribuição de conteúdos como no financiamento do processo. A nova economia política da informação inclui o público como parceiro obrigatório. Softwares como os produção colaborativa de conteúdos jornalísticos (crowdsourcing) são alternativas de participação do público na produção de notícias e reportagens, mas o mesmo ainda não acontece na questão do financiamento. Além da escassez de programas existe também a ausência de uma cultura de participação financeira do público no orçamento de projetos jornalísticos online. É uma questão complexa porque na internet a fronteira entre a gratuidade e o pagamento por notícias ainda é muito difusa. Cabe agora a nós, profissionais, mostrar ao público que ele é parte indispensável na sobrevivência de iniciativas jornalísticas. O jornalismo acumulou ao longo dos anos uma grande experiência sobre como produzir conteúdos capazes de conquistar a confiança do público. O novo desafio colocado diante dos profissionais é como conquistar também a confiança para uma relação de mão dupla, em que os leitores, ouvintes, telespectadores e internautas deixam de ser apenas pagantes para ser financiadores. É uma responsabilidade adicional, na qual os jornalistas passam a incorporar a questão da sustentabilidade como uma das condições para o exercício da profissão fora do ambiente corporativo e industrial. Por Carlos Castilho/Observatório da Imprensa

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