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Líria Porto – Poesia – 22/09/23

Boa noite. Per secula seculorum Líria Porto ¹ tornei-me o invólucro da tua boca sou eu o teu beijo permanente ao beijares outra boca beija-a sôfrego beija-a sedento estarás a beijar-me como louco em todos os sabores e indecências ¹ Líria Porto Professora, mineira, vive em Belo Horizonte. Inédita, tem poemas publicados no Cronópios e na Germina — Revista de Literatura e Arte. Fonte Escritoras Suicidas

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Abu Marwan – Poesia – 21/09/23

Boa noite Marwan Abu Anúncio por palavras Verso solteiro procura leitora de poemas para iniciar relação estável e fazer amor nas páginas do vento. Interessadas apresentem-se sem roupa e animadas na página mais próxima antes que isto acabe publicado num triste livro de poemas. PS: chegaste tarde. ¹Marwan Abu *Madri, Espanha – 1979

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Manuel Graña Etcheverry – Poesia – 20/09/23

Boa noite. Hoje já passou Manuel Graña¹ Já o dia passa. Já os livros não podem. Já a música não alcança. A evasão é inútil, solitário. Já tens o espelho a tua frente: mira-te, sozinho, fumando o cigarro, mira no quarto tua presença só. Não estão suas mãos nem seus olhos vêm, nem sua voz se aproxima, nem seu beijo, nem chega seu amor para buscar-te. Consumiste sonhos na espera: edifícios de tenues quadros que as horas gastaram pouco a pouco. E ruínas sonoras de estupendos colóquios de amor que imaginaste têm buscado sua tumba nas paredes. Não te bastou a lembrança: desejava-a vivendo e perto e em teus braços. Mas o dia se vai sem que ela venha. Hoje a paz não veio e tens medo. Não quer retratar-se em cristais nem a água do passado te refresca. Mas o dia se vai… cala-o, esqueça. Beija no ar seu rosto ausente. Hoje a paz não veio. Hoje já passou. ¹Manuel Graña Etcheverry * Córdoba, Argentina – 1915 + Dean Funes, Argentina – 27 de maio de 2015

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Wislawa Szymborska – Poesia – 19/09/23

Boa noite. Alguns gostam de poesia Wisława Szymborska ¹ Alguns — quer dizer nem todos. Nem a maioria de todos, mas a minoria. Excluindo escolas, onde se deve e os próprios poetas, serão talvez dois em mil. Gostam — mas também se gosta de canja de massa, gosta-se da lisonja e da cor azul, gosta-se de um velho cachecol, gosta-se de levar a sua avante, gosta-se de fazer festas a um cão. De poesia — mas o que é a poesia? Algumas respostas vagas já foram dadas, mas eu não sei e não sei, e a isto me agarro como a um corrimão providencial. ¹ Wisława Szymborska * Kórnik, Polônia – 2 de Julho de 1923  + Cracóvia, Polônia – 1 de fevereiro de 2012 Escritora polonesa. Destacou-se como poetisa com uma obra que tem como tema as vicissitudes da Polônia moderna. Emprega uma linguagem simples e coloquial, herança do realismo social que dominou a Europa oriental, mas sua modernidade se revela no tom irônico e na complexidade formal de muitas de suas poesias. Recebeu o Nobel de Literatura de 1996.

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Bárbara Lia – Poesia – 18/09/23

Boa noite Flor escandalosa Bárbara Lia ¹ Meu pai sonhava o deserto E viveu ao lado do amor Rimbaud sonhava as areias Também reinventar o amor Rimbaud viveu no deserto Meu pai morreu de amor Meu pai surfava o mar de estrelas Com um teodolito da cor da destemperança – verde oliva que tende ao amarelo – Quando eu dormia ele soprava Sementes de poesia Por cima das minhas cobertas Rimbaud passava noites inteiras Regando com um regador de nuvens Minha alma de fogo e a semente Nasceu esta flor escandalosa Misto de estrela e rosa Da cor dos olhos do amor E do deserto sonhado Por meu pai e Rimbaud Meu pai viveu em poesia Nunca escreveu um verso Rimbaud desistiu bem cedo Meu pai sabia; sabia Rimbaud O vento que atravessa a cortina Traz a voz de ambos, mixada: Ilumine o verbo! Incendeie a alma! Faça de corações desertos Cactos em flor Sangue em ebulição ¹ Bárbara Lia * Assai, PR.

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Lucian Blaga – Poesia – 17/09/23

Boa noite A saudade Lucian Blaga ¹ Sedento bebo teu perfume e seguro teu rosto com ambas as mãos, como quem segura na alma um milagre. Queima-nos a proximidade, olhos nos olhos, como estamos. E contudo me sussurras: “Tenho tanta saudade de ti!” Falas tão misteriosa e desejosa, como se eu estivesse exilado em outro mundo. Mulher. que mares levas no peito, e quem és? Canta ainda uma vez mais tua saudade, para que te ouça e os instantes me pareçam botões prenhes de que florescessem de fato… eternidades. In Os Poemas da Luz, 1919 ¹ Lucian Blaga * Romênia – 9 de maio de 1895 + Romênia – 6 de maio de 1961

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Yao Feng – Poesia – 13/09/23

Boa noite Fim Yao Feng ¹ Talvez no inverno me tenhas oferecido uma pedra, acesa, tão acesa que a guardava ora na mão esquerda, ora na outra. Viraram-se os dias como páginas, e a pedra, pouco a pouco, congelando. O que as minhas mãos juntaram acabou por ser apenas sombra. Tradução para o português: Régis Bonvicino ¹ Yao Jingming * Pequim, China, 1958

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Maiakóvski – Poesia – 12/09/23

Boa noite Em lugar de uma carta Maiakóvski Fumo de tabaco rói o ar. O quarto — um capítulo do inferno de Krutchônikh. Recorda — atrás desta janela pela primeira vez apertei tuas mãos, atônito. Hoje te sentas, no coração — aço. Um dia mais e me expulsarás, talvez, com zanga. No teu hall escuro longamente o braço, trêmulo, se recusa a entrar na manga. Sairei correndo, lançarei meu corpo à rua . Transtornado, tornado louco pelo desespero. Não o consintas, meu amor, meu bem, digamos até logo agora. De qualquer forma o meu amor — duro fardo por certo — pesará sobre ti onde quer que te encontres. Deixa que o fel da mágoa ressentida num último grito estronde. Quando um boi está morto de trabalho ele se vai e se deita na água fria. Afora o teu amor para mim não há mar, e a dor do teu amor nem a lágrima alivia. Quando o elefante cansado quer repouso ele jaz como um rei na areia ardente. Afora o teu amor para mim não há sol, e eu não sei onde estás e com quem. Se ela assim torturasse um poeta, ele trocaria sua amada por dinheiro e glória, mas a mim nenhum som me importa afora o som do teu nome que eu adoro. E não me lançarei no abismo, e não beberei veneno, e não poderei apertar na têmpora o gatilho. Afora o teu olhar nenhuma lâmina me atrai com seu brilho. Amanhã esquecerás que eu te pus num pedestal, que incendiei de amor uma alma livre, e os dias vãos — rodopiante carnaval — dispersarão as folhas dos meus livros… Acaso as folhas secas destes versos far-te-ão parar, respiração opressa? Deixa-me ao menos arrelvar numa última carícia teu passo que se apressa.

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Gabriel Garcia Marquez – Poesia – 23/08/23

Boa noite Te amo não por quem tu és Gabriel Garcia Marquez ¹ Te amo não por quem tu és, se não por quem sou quando estou contigo Nenhuma pessoa merece tuas lágrimas, e quem as mereça não te farão chorar Só porque alguém não te ama como tu desejas, não significa que não te ame com todo seu ser Um verdadeiro amigo é quem te pega da mão e te toca o coração A pior forma de sentir falta de alguém é estar sentado a seu lado e saber que nunca o poderás ter Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estejas triste porque nunca sabes quem poderá enamorar-se de teu sorriso Podes ser somente uma pessoa para o mundo, mas para alguma pessoa tu és o mundo Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo Quem sabe Deus queira que conheças muita gente enganada antes de que conheças à pessoa adequada, para que quando no fim a conheças, saibas estar agradecido Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu Sempre haverá gente que te machuque, assim, o que tens de fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso com em quem confias duas vezes Converte-te em uma melhor pessoa e assegura-te de saber quem és antes de conhecer mais alguém e esperar que essa pessoa saiba quem és Não te esforces tanto, as melhores coisas acontecem quando menos esperas ¹ Gabriel José Garcia Marquez * Aracataca, Colômbia – 06 Março 1928 + Cidade do México, México – 17 de abril de 2014 (87 anos) Prêmio Nobel de Literatura 1982 Nota do editor Existem controvérsia quanto a autoria desse poema. Há quem diga que é apócrifo e não é de Garcia Garcia Marquez

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