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Florbela Espanca – Poesia – 06/12/23

Boa noite Poema Florbela Espanca Teus olhos têm uma cor de uma expressão tão divina, tão misteriosa e triste. Como foi a minha sina!!! É uma expressão de saudade vagando num mar incerto. Parecem negros de longe… Parecem azuis de perto… Mas nem negros nem azuis são teus olhos meu amor… Seriam da cor da mágoa,

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Ruy Belo – Poesia – 05/12/23

Boa noite. Poema Ruy Belo¹ Este céu passará e então teu riso descerá dos montes pelos rios até desaguar no meu coração   ¹Rui de Moura Belo * São João da Ribeira, Portugal – 27 de Fevereiro de 1933 + Queluz, Portugal – 8 de agosto de 1978

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Almandrade – Poesia – 03/12/23

Boa noite Ponto de fuga Almandrade ¹ Que indagação faz o umbigo feminino quando aparece entre uma peça e outra da veste? Intimidade sensualidade. Nem mesmo a musicalidade dos pêlos é maior que o apelo da cicatriz do nascimento. ¹ Antônio Luiz M. Andrade * Salvador,BA. É arquiteto, poeta e artista plástico baiano. Como artista plástico já participou de quatro bienais internacionais em São Paulo, além de várias outras exposições no país e no exterior. Editou em 74 a revista “Semiótica” e, seus poemas procuram dar às palavras intensidade plástica, forma. Publicou os livros “O Sacrifício dos Sentidos”, “Obscuridade do Riso”, “Poemas”, “Suor Noturno,” “Arquitetura de Algodão”.

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Quintino Cunha – Poesia – 02/12/23

Boa noite Encontro das Águas Quintino Cunha¹ Vê bem, Maria aqui se cruzam: este É o Rio Negro, aquele é o Solimões. Vê bem como este contra aquele investe, como as saudades com as recordações. Vê como se separam duas águas, Que se querem reunir, mas visualmente; É um coração que quer reunir as mágoas De um passado, às venturas de um presente. É um simulacro só, que as águas donas D’esta região não seguem o curso adverso, Todas convergem para o Amazonas, O real rei dos rios do Universo; Para o velho Amazonas, Soberano Que, no solo brasílio, tem o Paço; Para o Amazonas, que nasceu humano, Porque afinal é filho de um abraço! Olha esta água, que é negra como tinta. Posta nas mãos, é alva que faz gosto; Dá por visto o nanquim com que se pinta, Nos olhos, a paisagem de um desgosto. Aquela outra parece amarelaça, Muito, no entanto é também limpa, engana: É direito a virtude quando passa Pela flexível porta da choupana. Que profundeza extraordinária, imensa, Que profundeza, mais que desconforme! Este navio é uma estrela, suspensa Neste céu d’água, brutalmente enorme. Se estes dois rios fôssemos, Maria, Todas as vezes que nos encontramos, Que Amazonas de amor não sairia De mim, de ti, de nós que nos amamos!… ¹José Quintino Cunha * Itapajé, CE. – 24 Julho 1875 + Fortaleza,CE. – 01 Junho 1943

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Emily Dickinson – Poesia – 01/12/23

Boa noite Poema Emily Dickinson¹ Para fazer uma campina basta um só trevo e uma abelha. Trevo, abelha e fantasia. Ou apenas fantasia Faltando a abelha.   ¹ Emily Dickinson * Boston, Usa – 10 de Dezembro de 1830 + Boston, Usa – 15 de Maio de 1886

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JG de Araújo Jorge – Poesia – 30/11/2023

Boa noite Amor… de mentiras J. G. de Araújo Jorge ¹ Eram beijos de fogo, eram de lavas, e sabiam a sonhos e ambrosias. Com pensar que a boca com que os dava era a mesma afinal com que mentias? Se eras a mais humilde das escravas em dádivas, anseios, alegrias, – como prever que o amor que me juravas seria mais uma das tuas heresias? Como supor ser tudo um falso jogo? E crer que se extinguisse aquele fogo que acendia em teus olhos duas piras? E descobrir, – no instante em que me amavas, – que em tua boca ansiosa misturavas ao mesmo tempo beijos e mentiras? ¹ José Guilherme de Araújo Jorge * Tarauacá, AC. – 20 de Maio de 1914 + Rio de Janeiro, RJ. – 27 de Janeiro de 1983

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Mallarmé – Poesia – 29/11/23

Boa noite. Angústia Mallarmé ¹ Não vim domar teu corpo esta noite, ó cadela Que encerras os pecados de um povo, ou cavar Em teus cabelos torpes a triste procela No incurável fastio em meu beijo a vazar: Busco em teu leito o sono atroz sem devaneios Pairando sob ignotas telas do remorso, E que possas gozar após negros enleios, Tu que acima do nada sabes mais que os mortos: Pois o Vício, a roer minha nata nobreza, Tal como a ti marcou-me de esterilidade, Mas enquanto teu seio de pedra é cidade. De um coração que crime algum fere com presas, Pálido, fujo, nulo, envolto em meu sudário, Com medo de morrer pois durmo solitário. (Tradução de Humberto de Campos) Stéphane Mallarmé * Paris, França – 18 de Março de 1842 d.C + Valvins, França – 09 de Setembro de 1898 d.C Stéphane Mallarmé é um importante nome do simbolismo na poesia francesa. Influenciado por Charles Baudelaire, valoriza o artifício de inverter a sintaxe das frases para ressaltar a dificuldade como elemento principal.

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Lya Luft – Poesia – 28/11/23

Boa noite Canção na Plenitude Lya Luft ¹ Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. (Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.) O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força – que vem do aprendizado. Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés – mesmo se fogem – retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias. ¹ Lya Luft * Santa Cruz do Sul, RGS – 15 de Setembro de 1938

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Bardhyl Londo – Poesia – 25/11/23

Boa noite. Crônica de um caso amoroso Bardhyl Londo ¹ Na segunda conhecemo-nos. Dissemos os nossos nomes um ao outro. Na terça tornámo-nos amigos. Sorrimos. Na quarta fizemos amor. Perdemo-nos. Na quinta tivemos uma discussão. Ficámos tristes. Na sexta revimos os nossos últimos dias como se fossem um filme. No sábado procurámos maneiras de nos reencontrarmos. No domingo redescobrimos o nosso amor, como Colombo. E depois era segunda outra vez. ¹ Bardhyl Londo * Permet, Albânia – 1948 d.C Ps. Mantida a grafia do português de Portugal

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Yao Feng – Poesia – 24/11/23

Boa noite Silêncio Yao Feng ¹ Ao cabo pusemos o silêncio no centro, como se põe a mesa, para a qual nada foi servido. O banquete tinha já acabado E, nunca mais, a mesa, deixaremos florir a língua. Silêncio. Apenas o canto eventual o desperta. O que murmuram os pássaros nos ramos do sonho? Não sonhamos de novo, nesta noite menos nossa. Ainda o silêncio. O vento sopra a abundância do teu cabelo o grito, o uivo ¹ Yao Feng Pseudônimo de Yao Jingming * Pequin, China – 1958 Doutorado em Literatura Comparada pela Universidade Fudan, em Shangai. Actualmente, é Professor Auxiliar no Departamento de Português da Universidade de Macau. Além de ter traduzido para o chinês dezenas de poetas portugueses, já publicou cinco obras de poesia, em chinês e em português: Nas asas do vento cego (1990), Confluência (1997), Viagem por momentos (1999), A noite deita-se comigo (2001) e Canção para longe (2006). Recebeu vários prémios e coordena a revista Poesia Sino-Ocidental. Em 2006, recebeu a insígnia da Ordem Militar de Santiago de Espada, atribuída pelo Estado português.

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