Arquivo

Chile destitui coronel por saudação a genocida da ditadura Pinochet em ato

Coronel Germán Villarroel, ex-diretor da Escola Militar de Chile. EJÉRCITO DE CHILE Coronel Germán Villarroel, diretor da Escola Militar, permitiu homenagem a brigadeiro da reserva Miguel Krassnoff, condenado por 71 crimes cometidos durante o regime militar.  O Exército chileno passou compulsoriamente à reserva o coronel Germán Villarroel, que até esta segunda-feira dirigia a Escola Militar do país, por sua “responsabilidade de comando” na homenagem feita nas dependências da instituição ao genocida Miguel Krassnoff Martchenko, que cumpre pena por 71 crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Em meio à premiação de uma competição esportiva na Escola Militar, onde são formados os oficiais do país, em 6 de outubro, o filho do genocida, coronel Miguel Krassnoff Bassa, tomou a palavra para agradecer publicamente “o carinho, a lealdade e a dignidade do diretor da Escola Militar, com o subdiretor e todo o seu pessoal, (…), de poder recordar o soldado, porque nem todos se lembram”. “Para nós, é super importante que nossos pais, que deram a cara e a vida pelo Chile e suas famílias, estejam sempre presentes no coração de todos vocês”, disse Krassnoff Bassa. “Coube a eles combater, e deram o ar que respiramos em nossa querida pátria”, acrescentou. A decisão do Exército foi motivada pelo repúdio generalizado à homenagem, que se tornou pública em um vídeo divulgado neste domingo. O ministro da Defesa, Alberto Espina, do governo conservador de Sebastian Piñera, considerou o fato “inaceitável” e deu 24 horas para que uma investigação apontasse as responsabilidades. Enquanto isso, dirigentes da oposição de esquerda opositora e entidades de defesa dos direitos humanos pediam a demissão de Villarroel. A diretora do Instituto de Direitos Humanos, Consuelo Contreras, havia declarado que “atos como este, realizados nas dependências de uma instituição do Estado, constituem uma nova afronta à dignidade das vítimas, com ações de caráter negacionista contrárias ao direito internacional”. Junto com a ordem de aposentadoria do diretor da Escola Militar, o Exército removeu o coronel Krassnoff Bassa, que era diretor da Escola de Idiomas. Como estava próximo de passar à reserva, como havia solicitado antes mesmo da homenagem, foi convidado “a entregar imediatamente” a direção da escola. Para o Exército, os dois militares provocaram “um gravíssimo dano” à instituição, como declarou o general Miguel Alfonso Bellet, comandante de Educação e Doutrina, que leu uma declaração pública na tarde desta segunda. “Nossa instituição é e sempre será respeitosa com as resoluções da Justiça”, disse o general. Os fatos ocorridos em Escola Militar são inaceitáveis. Pediu-se a Exército investigação para determinar responsabilidades. Os recintos militares como nenhum espaço administrado pelo Estado, pode ser utilizado para realizar atos a condenados pela justiça por crimes Ferida aberta, Ustra e Mourão O Golpe de Estado de 1973 é uma ferida aberta no Chile, e, a propósito de diversas efemérides, novamente se acendeu o debate sobre o passado recente do país. Em 11 de setembro completaram-se 45 anos da ruptura democrática, em 5 de outubro se festejaram os 30 anos do plebiscito de 1988 – em que triunfou o não a Pinochet –, e nesta terça-feira se comemoram as duas décadas da detenção do ditador em Londres, de 16 de outubro de 1998. Em agosto passado, as críticas ao Museu da Memória e Direitos Humanos de Santiago – que relata o golpe de Estado de 1973 e a ditadura através da experiência das vítimas –, custaram o cargo ao historiador Mauricio Rojas, que havia assumido o ministério da Cultura apenas quatro dias antes. O brigadeiro reformado Miguel Krassnoff Martchenko, que cumpre penas de 668 anos de prisão na penitenciária de Punta Peuco, é filho e neto de cossacos que em 1947 foram fuzilados no pátio da prisão de Lefortovo após serem condenados pelo tribunal supremo da União Soviética por crimes de guerra, traição à pátria e colaboração com o inimigo. No golpe de Estado de 1973, o militar chileno dirigiu o ataque à casa do presidente Salvador Allende. Depois foi lotado na Direção Inteligência Nacional (DINA), o órgão repressivo da ditadura, onde se tornou um dos mais ferozes torturadores. Suas vítimas recordam que era um dos poucos que não se importavam em dizer seu nome real. O panorama contrasta com o brasileiro. Além de não ter punido os criminosos do regime militar brasileiro (1964-1985), no Brasil não há resposta institucional a oficiais que enalteçam o período ditatorial e seus agentes apontados como violadores pelo relatório oficial da Comissão Nacional da Verdade (CNV). O general da reserva, Hamilton Mourão, agora candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, se despediu do serviço militar em fevereiro em uma concorrida cerimônia no Salão de Honras do Comando Militar do Exército, em Brasília. No discurso, chamou de “herói” o coronel Carlos Brilhante Ustra (1932-2015), também evocado por Bolsonaro. Ustra foi chefe de um importante centro da repressão durante a ditadura militar e reconhecido como torturador pela Justiça brasileira, além do relatório CNV. Mourão foi elogiado no mesmo dia pelo comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, como “exemplo”. ElPais

Leia mais »

A corrupção no regime militar

Bom era na ditadura, quando não tinha corrupção. Ah, não? Por indicação de um leitor encontrei um interessante artigo, de Elder Dias, nos arquivos do Jornal Opção. Não se pode saber exatamente a data em que foi publicado. A busca no site registra apenas, no verbete “regime militar”, a seguinte observação: “Edição 2012 de 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2014”. Ao que tudo indica – inclusive pelas referências que faz a manifestações pedindo a volta dos militares – o texto foi publicado em data mais próxima de 2014 do que de 2012. É claro que se trata de texto jornalístico, sem muito rigor histórico e profundidade analítica. Mas os livros e textos citados são importantes fontes de informação sobre a corrupção durante a ditadura. Elder quis mostrar que, como paladinos pretensiosos da moral, militares queriam “acabar com a subversão” e “combater a corrupção”, mas acabaram tendo de reconhecer que a corrupção não só continuou durante a ditadura, como era mais difícil de combater do que se pensava. Segue abaixo o artigo na íntegra. Um ponto de vista tortuoso negligencia valores essenciais para justificar preferência pelos anos de chumbo. O pior é que é uma visão errada, também: houve muitos escândalos no período dos generais presidentes Elder Dias, Jornal Opção, 26/01/2012 – 01/02/2014 “No tempo do militarismo é que era bom, pelo menos não tinha corrupção.” Quem não tropeçou nessa frase nos últimos anos ou não tem Facebook, ou não frequenta roda de bar nem salão de beleza, ou não recebe visita em casa. Em tempos de descoberta de escândalo em cima de escândalo em todos os Poderes e em cada uma das esferas de todos eles, tornou-se senso comum comparar o atual estado ético da sociedade brasileira — principalmente na questão público-política — ao da época em que os generais mandavam no País. Uma visão obviamente caolha, ao negligenciar valores essenciais, como a liberdade de expressão, sufocada durante os anos de chumbo do regime. Mas, pior, uma visão errada também: a corrupção correu solta durante os anos de militarismo e os próprios comandantes que tomaram o poder prometendo acabar com a praga foram forçados a admitir que pouco (ou nada) poderiam fazer contra ela. Ao assumir o poder após anos de tribulação, havia duas “bandeiras de luta” a que se comprometia o novo regime (o que, aliás, é curioso, pois ditadura não tem de dar satisfação a ninguém): uma era livrar o País do “mal do comunismo”; outra, combater a corrupção — o que, na verdade, não era nenhuma promessa inédita. Naquela que viria a ser a última eleição que o Brasil teria para presidente pelas próximas três décadas, o jingle do então candidato da conservadora UDN à Presidência, Jânio Quadros, virou um clássico das campanha: “Varre, varre, varre, varre, varre vassourinha/ Varre, varre a bandalheira/ Que o povo já está cansado/ De sofrer desta maneira/ Jânio Quadros é a esperança/ Desse povo abandonado/ Jânio Quadros é a esperança/ Desse povo abandonado…” Claro, Jânio ganhou. E decepcionou. Assim como ganharia e decepcionaria Fernando Collor de Mello em 1989, depois de proclamado o “caçador de marajás” em uma indefectível capa da revista “Veja”. Ambos, Jânio e Collor, como intrépidos salvadores da pátria, fizeram crer que venceriam a corrupção. Como se fosse só estalar um dedo ou acionar uma lâmpada de Aladim. Ocorre que a corrupção nunca bateu asas e voou do Brasil. Pelo contrário, sentou praça com a comitiva de Pedro Álvares Cabral e gostou da terra. Apesar de não ser exclusividade tupiniquim, é tão endêmica — embora mais nociva — quanto o mosquito da dengue ou a cachaça. Poderia ser controlada, com doses anti-impunidade. No hiato entre as duas eleições presidenciais, a turma verde-oliva avocou a prerrogativa de extinguir a aberração. E o “estalar de dedo” foi o execrado Ato Institucional nº 5 (AI-5), editado em 1968 e que se tornou o marco mais simbólico do que houve de pior no período ditatorial. Dando poderes extraordinários ao Presidente da República, suspendeu garantias e se sobrepôs à Constituição de 67 — já promulgada para servir ao regime militar, ressalte-se. Mas além das aberrações contra os direitos políticos e civis, o instrumento tinha também um item no mínimo pretensioso: seu Artigo 8º queria varrer a corrupção punindo os acusados com a perda de bens: “O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.” “Fácil” como a Transamazônica Um relato bem didático e sintético do que os militares fizeram para combater foi feito pelo historiador Carlos Fico, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e está no livro “Como Eles Agiam: os Subterrâneos da Ditadura Militar” (Record, 2001). Por exemplo, para executar o trabalho relativo ao tal Artigo 8º, foi criada a Comissão Geral de Investigações (CGI). Para vencer a vilã corrupção, seus membros passaram a atuar como super-heróis justiceiros por todo o País. Era como fazer a Rodovia Transamazônica: da mesma forma que seria “só” rasgar aquela mata com as máquinas do desenvolvimento, os paladinos da moralização ética precisariam “apenas” fazer cumprir aquele item do poderoso AI-5. Fácil. Fácil até começar. Conforme relata o livro de Carlos Fico, para moralizar o país as 20 subcomissões da CGI tiveram de lidar com casos de corrupção tão diversos como o aumento de salários da magistratura e de membros do Tribunal de Contas do Paraná e o atraso de salários da rede municipal de ensino de São José do Mipibu (RN); o adubo superfaturado comprado pela Secretaria de Agricultura de Minas Gerais e a alta do preço da carne em Manaus; cobrança de taxas escolares indevidas no Espírito Santo e irregularidades na administração da Federação Baiana de Futebol. Mas a população se envolveu. Assim como quando se multiplicou em “fiscais do Sarney” — o então presidente que, por ironia, se tornou um dos frutos mais viçosos que o

Leia mais »

Fatos & Fotos – 20/12/2017

Só dói quando eu rio Ilustrações de Victor Nizovtsev STF tira de Sérgio Moro denúncias contra Cunha, Geddel e Rocha Loures O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu por cinco votos a quatro, nesta terça-feira (19), retirar do juiz federal Sérgio Moro as denúncias contra políticos dos PMDB sem foro privilegiado, acusados junto com o presidente Michel Temer por organização criminosa. Estão no grupo o deputado cassado Eduardo Cunha (RJ), o ex-ministro Geddel Vieira Lima (BA) e o ex-assessor especial da Presidência Rodrigo Rocha Loures (PR). Os processos serão enviados para a Justiça Federal de Brasília, já que prevaleceu o entendimento de que o caso não tem conexão com o esquema de corrupção investigado na Petrobras, foco da Lava Jato. Os três peemedebistas queriam manter as acusações no STF ou, pelo menos, garantir que as denúncias fossem enviadas para uma vara criminal do Distrito Federal, e não para a jurisdição de Moro. O ministro Luiz Fux se declarou impedido e não votou nesse tópico, e Celso de Mello não participou da sessão. “São fatos ocorridos no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados, na articulação política ilícita. Não são fatos diretamente ligados à questão só da Lava Jato, à Petrobras”, disse o ministro Alexandre de Moraes, o primeiro a votar pela retirada dos processos da Vara Federal de Curitiba, responsável pelas ações da Lava Jato na primeira instância. Os peemedebistas foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) junto com o presidente Michel Temer e os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, por organização criminosa. A tramitação da denúncia contra Temer e os ministros foi suspensa por decisão da Câmara dos Deputados. Depois disso, Fachin decidiu desmembrar o processo, enviando para a primeira instância as investigações contra os acusados sem foro privilegiado na Corte. As defesas de Geddel, Cunha e Loures haviam entrado com recurso pedindo para eles a extensão da imunidade conferida a Temer, Padilha e Moreira Franco. No entanto, o STF manteve o entendimento do relator, Edson Fachin, de que seria “inviável” dar a outros acusados a imunidade garantida ao presidente pelo Artigo 86 da Constituição. “É algo absolutamente específico e singular ao presidente da República, não havendo possibilidade de se estender a coautores e partícipes”, afirmou Alexandre de Moraes nesta terça. Também estão implicados nas investigações sobre a suposta organização criminosa do PMDB na Câmara o banqueiro André Esteves e os executivos Joesley Batista e Ricardo Saud, ambos do Grupo J&F.  Somente o caso do deputado André Moura (PSC-SE), que figura como investigado no processo, deve permanecer no STF.  Em relação à outra denúncia feita contra Temer, também barrada na Câmara, por obstrução das investigações, foi mantido o envio à Justiça Federal de Brasília, determinado anteriormente por Fachin, da parte que envolve Joesley Batista, Ricardo Saud, Eduardo Cunha e Rodrigo Rocha Loures. Com Agência Brasil Mesquita no clima natalino, ou para não dizerem que não escrevo cartinhas singelas; Querido ministro Gilmar “Activia” Mendes. Gostaria de ganhar de natal um “Habeas Corpus” com validade indeterminada e com efeito “Erga Omnes”. Ficarei muito agradecido se meu modesto pedido for atendido. “Dentro de cada começar mora um encanto que nos dá forças e nos ajuda a viver.” Hermann Hesse LESA PÁTRIA TENTA ENGANAR A OPINIÃO PÚBLICA COM EXEMPLOS VINDOS DOS ESTADOS UNIDOS   MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND O lesa pátria Michel Temer está agora comparando a sua ascensão golpista com Presidentes dos Estados Unidos. Usando uma linguagem de farsante, o que não chega a surpreender se for feita uma análise aprofundada sobre o desempenho de seu governo e suas falações, o golpista que coloca em prática a sua “ponte para o futuro” disse em um encontro do seu partido que, “(…) se nos Estados Unidos se dissesse que quando o vice assume a Presidência face a um eventual impedimento do presidente, isto é um golpe, qualquer americano ficaria corado. Mas aqui não, havia uma certa desfaçatez”.   Só que o lesa pátria está mais uma vez querendo se legitimar pela mentira como Presidente golpista que é, e não completa o raciocínio para dizer que nos Estados Unidos o vice que eventualmente assume a Presidência executa um programa igual ao do Presidente eleito.   Os dois casos mais recentes, o primeiro depois do assassinato de John Kennedy assumiu Lyndon Johnson, que seguiu o programa do político assassinado, o do Partido Democrata. Posteriormente, Gerald Ford ocupou o lugar do renunciante Richard Nixon, que se envolveu em baixarias como no caso Watergate. O vice Ford, ao assumir a presidência seguiu o que foi apresentado na campanha.   Se um integrante do Partido do Presidente Democrata decidisse trair e executar o programa dos Republicanos, por exemplo, o que aconteceria?   E se eventualmente Donald Trump não completar o mandato, o vice decidisse seguir o programa do Partido Democrata deixando de lado as propostas dos Republicanos, podem imaginar o que aconteceria?   E o que fez o lesa pátria Temer colocando em prática a sua “ponte para o futuro” se não trair os eleitores que escolheram nas urnas uma proposta de governo diferente da executada atualmente, que na verdade é um retorno ao passado de Fernando Henrique Cardoso, repudiado nas urnas quatro vezes seguidas.   Mas o lesa pátria Michel Temer, mais uma vez tentando enganar a opinião púbica brasileira, demonstra que sua reverência aos Estados Unidos, cujo Departamento de Estado ajudou no golpe, está equivocada. Ao ocupar o governo colocou em prática um programa de governo rejeitado pelos eleitores brasileiros quatro vezes seguidas nas urnas. Se Johnson ou Ford fizessem o mesmo que o mentiroso lesa pátria Temer não teriam condições de seguir como Presidentes.   Essa é a verdade que Temer tenta esconder, porque tem consciência que só ocupa o posto que ocupa para executar a famigerada “ponte para o futuro”, uma proposta que por sinal não passa de um programa responsável pelo Brasil recuar pelo menos cem anos e de inteira satisfação dos golpistas, internos e externos, responsáveis pela sua ocupação do governo.   Não contente com tantas mentiras

Leia mais »

A “Ditabranda” e a Volkswagen

Agentes do Governo queriam que ele delatasse colegas com atividades políticas e sindicais. O ferramenteiro Lúcio Bellentani, que foi preso enquanto trabalhava. Foto: LUCAS LACAZ RUIZ FOLHAPRESS   “Fui levado para o departamento pessoal da Volkswagen. Ali mesmo começaram as torturas” Bellentani, ex-funcionário, foi espancado na frente dos seguranças da Volks durante a ditadura. “Trabalhei na Volkswagen de 1964 até as 23h30 do dia 28 de julho de 1972.” Assim Lúcio Bellentani, um antigo ferramenteiro da montadora alemã no Brasil começa a contar sobre o dia em que foi retirado de seu posto de trabalho pela polícia política da ditadura militar, sob os olhares coniventes dos funcionários da segurança da empresa. “Eram 23h30 exatamente. Eu estava trabalhando quando fui surpreendido com um cano de uma metralhadora nas minhas costas. Me algemaram com as mãos para trás e me levaram para o departamento pessoal da empresa. Ali mesmo começaram as torturas. Comecei a ser espancado dentro da empresa, dentro do departamento pessoal da Volkswagen. Por policiais do DOPS [Departamento de Ordem Política e Social] e na frente do chefe da segurança e dos outros seguranças da fábrica”, conta ele, cujo depoimento foi utilizado pelo historiador. Bellentani era militante do Partido Comunista brasileiro e ajudava a organizar a base do movimento na fábrica. Foi detido porque os policiais queriam que ele dissesse o nome de seus companheiros que desempenhavam atividades sindicais ou políticas. “O sério de tudo, além do fato da tortura começar dentro da própria fábrica, é que a prisão aconteceu sem mandado judicial. No meu caso e nas outras que ocorreram lá dentro. Isso prova a grave violação de direitos humanos cometida pela empresa”, diz. O ex-funcionário conta que depois da detenção na fábrica foi levado até a sede do DOPS, onde continuaram as torturas.”Neste mesmo dia fui espancado com palmatórias e socos”, conta. “E durante 48 dias minha esposa ficou a minha procura. Ela ia diariamente na fábrica, perguntava do meu paradeiro e eles não diziam onde eu estava. Após os 48 dias, ela disse para a empresa que acionaria o seguro de vida e foi quando eles disseram para que ela me procurasse no DOPS e deram o nome do delegado da prisão. Só assim ela me encontrou. Fiquei ali por mais oito meses”, conta. Ele foi julgado e absolvido em primeira instância, por insuficiência de provas. Mas acabou condenado nas instâncias superiores. “Fui transferido para o presídio, onde fiquei um ano e meio preso.” O ex-funcionário conta que o clima da fábrica na época da ditadura era de vigilância constante. “Começaram a surgir lá dentro boletins políticos e sindicais e a gente sentiu que a vigilância aumentou. Para ir de uma sessão para outra era preciso ter um passe assinado pelo chefe. Tinha um guarda que registrava sua saída e, no outro setor, um que registrava a sua entrada”, relembra. “Os banheiros e vestuários passaram a ter visitas constantes. Os guardas faziam rondas de hora em hora. As portas dos banheiros foram diminuídas de tamanho. Eram portas pequenas em que os guardas conseguiam olhar por cima. Algumas tinham um buraco no meio, na altura do cabeça. Assim eles viam se a pessoa que estava dentro estava fazendo as necessidades ou não”. Na época, conta o ex-ferramenteiro, eles não tinham certeza de que tipo de colaboração a Volkswagen tinha com o regime militar. “O conhecimento que eu tinha era que haviam sido efetuadas mais prisões dentro da empresa”, diz. “Mas depois, em 2014, com os arquivos da ditadura liberados, a gente começou a investigar e ir ao arquivo do DOPS e do SNI [Serviço Nacional de Informações, órgão de inteligência da ditadura]. E a gente se deparou com uma farta documentação que prova a relação bastante íntima com os órgãos de repressão da época. Mais de 400 documentos que a gente levantou assinados por responsáveis da empresa como chefe de segurança, diretor de Recursos Humanos, do Departamento Pessoal.” Ele explica que, entre estes documentos, haviam papéis em que a empresa comunicava o departamento policial das atividades de ativistas sindicais e políticos que trabalhavam na empresa. Também constavam dados pessoais de funcionários, que contribuíram, segundo ele, para a prisão dessas pessoas. “Tem o caso de um companheiro que trabalhou na Volkswagen em 1970/71. O nome desse ex-companheiro apareceu nas investigações com o DOPS e da OBAN [Operação Bandeirante, centro de investigação da ditadura em São Paulo]. Os investigadores entraram em contato com a empresa, que entregou a ficha funcional, com o endereço da casa dele, e a polícia foi até lá e prendeu o companheiro. Ele nem trabalhava mais lá e mesmo assim a Volkswagen entregou ele”, conta. “Temos a ficha de outro companheiro que estudava na escolinha de formação da Volkswagen, se formou e passou a ser um dos instrutores. A ficha de estudante dele estava no arquivo do DOPS.” Segundo ele, há ainda documentos que comprovam atas de reuniões que a montadora coordenava com um grupo de empresas. “Eram reuniões periódicas onde eram elaboradas aquelas listas sujas de trabalhadores, nomes de ativistas sindicais e políticos que trabalhavam dentro das empresas. Isso corria entre elas, para não admitirem essas pessoas. Temos companheiros que ficaram 10, 15 anos sem arrumar emprego”, relata ele. Bellentani conta que se frustrou com o relatório apresentado na última quinta-feira pela empresa, em que um historiador externo contratado afirma que houve uma colaboração entre a segurança industrial da Volkswagen e a polícia política do Governo brasileiro entre 1969 e 1979 e que ela ocorreu especialmente através do chefe do departamento de segurança industrial Ademar Rudge, que “agia por iniciativa própria, mas com o conhecimento tácito da diretoria” Para ele, o relatório é “fraco” e “não condizente com a documentação em relação a acusação sobre a Volkswagen”. “Ele não cita nem a documentação que levantamos no DOPS. Embora ele coloque que a empresa é culpada, que teve participação, não apresenta documentação sobre isso. É muito mais sério e muito mais grave do que está relatado e a Volkswagen está se omitindo”, afirma ele. Procurada, a empresa não quis comentar as críticas ao relatório. Para o ex-funcionário, a

Leia mais »

Fatos & Fotos – 25/11/2017

Ara San Juan – Argentina Aos “bolsominos”,“Loudspeaker.svg Schutzstaffel” e demais que clamam por intervenções militares. A Argentina saiu da ditadura, das torturas na Escola de Mecânica da Armada, mas a tortura não saiu da Argentina. As autoridades da Armada Argentina esconderam de forma cruel dos parentes dos tripulantes do Submarino San Juan, que o mesmo havia explodido no primeiro dia em que desapareceu no Atlântico Sul. Um tortura inominável manter os parentes na angústia do incerto, e esperança durante mais de uma semana. Isso é crime contra a dignidade humana. Uma crueldade que transforma Stalin e Hitler em querubins. Quando Dante escreveu que o inferno era formado por Nove Círculos, Dez Fosso e quatro Esferas, não imaginava que os militares argentinos colocariam os parentes dos tripulantes nas Portas do Inferno; “Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança.” A justiça do Bananil é uma tragédia. Ao ministro Barroso Barroso não importa o que diz a lei, importa a historia, as experiências e preferências pessoais de quem julga. Hahahahahahahaha! A melancia – verde por fora e vermelha por dentro – freqüentou o mesmo curso de “Dialética do Absurdo” da Dilma e do Gil. No Bananil nada está tão na m**da que não possa ficar pior. Dias Toffoli – ex-PT, atual Temer – será o novo Presidente do STF! É do Baralho! Aumenta assim, minha desmesurada e incontida admiração pelos otimistas. Abaixo meu Auto-Retrato. As universidades brasileiras resistem ao desmonte do liberalismo, do MiShell e ao nefasto “saber” do Banco Mundial. Leiam. A Universidade Federal de Minas Gerais está quase em mãos com a patente de uma molécula que cura vícios de crack e cocaína. Agora é pesquisa com humanos e depois produção em série. Que nos venha essa cura. Seria a reconstrução de tanta gente. Ah quem dera! Indecente o silêncio da mídia sobre o GloboDutoFIFA, e inexplicável a imobilidade do MPF. O cara passa a maior parte da vida sabendo que trabalha em uma fossa, recebendo salário dos Cavalos Marinhos, sabendo que está contribuindo para anestesiar e catequizar o povo, e de repente se mostra surpreso com a m**da? Me poupe “nunseiquem” Cardoso Global. Hahahaha! TSE no Twitter; “A Justiça Eleitoral está em todo o Brasil.” Hahahaha. Haaaaaaaahahahahahaha. Está morta. Morta!

Leia mais »