Cultura Zero
Nelson Valente – professor universitário, jornalista e escritor.
Um nazista foi enfático ao se deparar com a palavra cultura: – “Quando a ouço, tenho vontade de puxar o revólver e sair atirando”.
Tornou-se clássico o desprezo totalitário pelo conceito de cultura e os seus naturais desdobramentos.
Hoje, cultura merece o respeito das nações pós-industrializadas. É pensada, como ocorre nos Estados Unidos, até como próspero negócio, onde circulam bilhões de dólares. Como seria natural, no mundo cultural também se busca o aumento da eficiência, o banimento do amadorismo, enfim a qualidade total.
Para que isso ocorra, são necessários dois pré-requisitos essenciais: a sensibilização humana e a capacitação técnica. Os especialistas em marketing cultural proclamam que os empresários da área têm essas duas qualificações, o que infelizmente nem sempre é verdadeiro.
Há filmes abaixo da crítica e peças teatrais que jamais deveriam ter sido montadas. Essas obras “geniais” muitas vezes contam com expressivos recursos de patrocínio oficial, que costuma premiar os filhotes costumeiros.
O curioso é que se reclama do montante de recursos disponíveis para o financiamento de tais produções. Como não existe uma política cultural digna do nome, a premiação é feita por critérios estritamente pessoais, muitas vezes aquinhoando elementos conhecidos das “panelas” que se estabeleceram para disputar esse tipo de paternalismo.
O presidente da República não tem planos concretos para a área cultural, como não poderia deixar de ser, tendo ele a biografia de um permanente comprometimento no campo das idéias: cultura zero.
Com Ministério ou Secretaria será possível criar fatos novos na área, a começar pelo desmantelamento da influência dos produtos culturais de gabinete. Não se deseja paternalismo, nem assistencialismo, nem protecionismo. A partir daí será possível criar um esquema novo de trabalho, nesse importante setor da vida brasileira.