Zé Dirceu e o passado “esquecido”

Zé Dirceu em 1968
Um juiz aposentado, no passado companheiro de treinamento de guerrilha em Cuba, joga mais uma pá de cal na biografia de José Dirceu.

Essa não é a primeira estória a comprometer o passado de “luta pela democracia e contra a ditadura” de uma das mais reluzentes vestais do esquerdismo pátrio.

O passado do outro Zé, o Genoíno, precisa vir a lume para esclarecer as acusações de ‘entreguista’ que lhe foram imputadas.
José Mesquita – Editor


Passado contestado
Adriana Nicacio/Tribuna da Imprensa

José Dirceu, segundo o juiz aposentado Sílvio Mota, seu ex-companheiro no treinamento de guerrilha em Cuba, levou uma vida mansa, protegido e privilegiado por amigos de Fidel.

No fim de semana que antecedeu o início do julgamento do mensalão, o ex-ministro José Dirceu se recusou a participar de uma solenidade destinada a festejar um período obscuro de seu passado.

O ato público, convocado por organizações de esquerda, pretendia relembrar o Movimento de Libertação Popular (Molipo), um grupo formado por 28 exilados brasileiros que treinavam guerrilha em Cuba nos anos 70.

Dirceu, que era um deles, achou mais prudente evitar a aparição pública.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita]

Além do ex-ministro, só há mais dois sobreviventes do Molipo: o juiz aposentado Sílvio Mota e o mestre-de-obras, também aposentado, Otávio Ângelo. Todos os demais foram mortos pela repressão quando retornaram ao Brasil.

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Mota quer distância de Dirceu

Sílvio Mota, contemporâneo das andanças cubanas de Dirceu, acha que o ex-companheiro fez bem em evitar as homenagens:  “Ele nunca combateu de verdade”, diz Mota.

PrivilegiadoSílvio Mota sente-se à vontade para desconstruir a imagem combativa do petista em sua passagem pela ilha de Fidel Castro. Ele guarda na memória a figura de um militante indisciplinado e cheio de privilégios.

Segundo Mota, enquanto os integrantes do Molipo participavam dos exercícios militares pesados, Dirceu levava uma boa vida, protegido por autoridades cubanas. “Ele preferia passar seu tempo nas salas de cinema”, conta.

José Dirceu refugiou-se em Cuba em 1969, depois de ter sido preso no Congresso da UNE, em Ibiúna, no interior de São Paulo, e trocado pelo embaixador americano Charles Elbrick.

Em pouco tempo, tornou-se íntimo do então presidente do Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica, Alfredo Guevara, amigo de Fidel Castro.

De acordo com o relato de Mota, Dirceu passou, então, a se aproveitar dos poderes de seu protetor para fugir do treinamento guerrilheiro.

“Dirceu era indisciplinado. Não combateu no Molipo, como também não havia combatido na ALN (Aliança Libertadora Nacional) no Brasil”, diz Mota.

Segundo o juiz aposentado, Dirceu logo conseguiu abandonar em definitivo o treinamento. Alegava dores nas costas. Assim, pôde livrar-se das horas seguidas de marchas na selva, sem alimentos na mochila e cantis vazios. Em condições insalubres, os militantes do Molipo passavam semanas sem banho, participavam de cursos de tiros e aprendiam a montar explosivos. Todos, menos o ex-ministro, réu do mensalão.

“O projeto de Dirceu sempre foi pessoal. E quis o destino que terminasse aparecendo essa sua verdadeira face oportunista”, diz Mota.

O juiz voltou ao Brasil em 1979, quatro anos depois de Dirceu. Depois da temporada em Cuba, os dois se viram poucas vezes. Mota chegou a se filiar ao PT, mas não seguiu carreira política. De Dirceu, prefere manter distância.

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