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Bárbara Lia – Poesia – 18/02/24

Boa noite Azul Noturno Bárbara Lia ¹ O anjo louco do casario deserto. Era invisível feito música. De noite subia na árvore. De dia descia ao poço. A voz – imã de luz. O perfume – avenca suave. A sombra – azul noturno. O olhar de mar – salgado. Anjo sem céu. Anjo da terra. Enlouquecido de som e luz. ¹ Bárbara Lia * Assai, PR. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Bárbara Lia é professora de História e escritora. Nasceu em Assai, norte do Paraná, e vive em Curitiba-PR, com os filhos Paula, Tahiana e Thomas. Publicou poemas no jornal Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros. Finalista do Prêmio Sesc de Literatura 2004, com o romance Cereja & Blues e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada. Em 1997, recebeu menção honrosa no Projeto Orpheu da UBE-RJ (crônica). Finalista dos concursos de poesia Leminski (2000) e Pinheiro do Paraná (2002). Publicou os livros de poesia O sorriso de Leonardo (Curitiba: Kafka Edições Baratas, 2004); Noir (Curitiba: Ed. independente, 2006) e O sal das rosas (São Paulo, Lumme Editor, 2007). Publicou os livros de poesia O sorriso de Leonardo (Curitiba: Kafka Edições Baratas, 2004); Noir (Curitiba: Ed. independente, 2006) e O sal das rosas (São Paulo, Lumme Editor, 2007). Fonte Germina.

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Vicente Augusto de Carvalho – Versos na tarde – 18/02/2016

Felicidade Vicente de Carvalho¹ Só a leve esperança, em toda a vida, Disfarça a pena de viver, mais nada; Nem é mais a existência, resumida, Que uma grande esperança malograda O eterno sonho da alma desterrada, Sonho que a traz ansiosa e embevecida, É uma hora feliz, sempre adiada E que não chega nunca em toda a vida Essa felicidade que supomos, Árvore milagrosa que sonhamos Toda arreada de dourados pomos, Existe, sim mas nós não a alcançamos Porque está sempre apenas onde a pomos E nunca a pomos onde nós estamos. ¹ Vicente Augusto de Carvalho * Santos,SP – 05 Abril 1866 d.C + Santos,SP – 22 Abril 1924 d.C Vicente de Carvalho, foi advogado, jornalista, político, magistrado, poeta e contista. Poeta parnasianista, seu grande tema era o mar. Obras principais: RELICÁRIO, 1888; ROSA, ROSA DE AMOR, 1902; POEMAS E CANÇÕES, 1908; VERSO E PROSA, 1909; VERSO DA MOCIDADE, 1912. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Crônica – Raquel Naveira

Cabeleira Rachel Naveira¹ A moça estava sentada à minha frente no ônibus. Os cabelos longos, castanhos como mel, desabando em cachos. Que cabelo lindo, pensei, parece que tem ânimo próprio, balançando a um leve meneio da cabeça. Não é à toa que na história bíblica de Sansão, ele perdeu toda a sua força quando Dalila cortou seus cabelos. Uma cabeleira como essa tem poder de sedução e, com certeza, essa jovem se sente confiante para amar e ser amada. Baudelaire, o poeta maldito, escreveu um poema chamado “A Cabeleira”, versos tórridos e eróticos em que ele canta os cabelos negros da mulata Jeanne Duval, a sua “Vênus Negra”. Diz que o cabelo dela é tosão deslizando até a nuca; que, de noite, enche de êxtase e perfume o quarto inteiro; que é mar de ébano, contendo um sonho de remadores, naus, bandeiras e mastros; que é pavilhão de trevas. O poeta se embriaga das essências de “vago óleo de coco, almíscar e alcatrão” exaladas dos cabelos da musa. Semeia pérolas, rubis e safiras pelas mechas ondulantes. Num dia desses, convencida que um corte curto me deixaria mais nova, cortei o cabelo. Depois veio o arrependimento. Sou romântica, amo cabelos compridos. Lamentei então minha juventude perdida, quando eu sacudia a crina como égua musculosa. Lamentei não ser mais princesa usando tiaras, arrastando o cabelo como a cauda de um cometa. Lembrei-me daquele véu natural, pura potência, com que eu penetrava câmaras ardentes. Sim, arrependi-me de ter cortado o cabelo. Não importa que ele esteja branco, um pouco seco. Poderia penteá-los em forma de coque, com a gravidade de uma mulher bela e digna que envelhece. À minha frente, ignorando meu drama e minha finitude, segue a moça com sua cabeleira castanha. A luz da manhã põe reflexos dourados nos fios. O ônibus lotado para. Ela desce, de repente. Os cabelos dançam às suas costas, com vitalidade. Pena que não vi seu rosto. * Campo Grande, Mato Grosso do Sul – 23 de setembro de 1957 d.C Formou-se em Direito e Letras pela FUCMT, atual Universidade Católica Dom Bosco, onde exerce o magistério (Literatura Portuguesa e Literatura Latina), desde 1987, pertencendo ao Departamento de Letras. Mestre em Comunicação e Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. Doutoranda em Literatura Portuguesa na USP. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Ponto de vista: Zika e esgoto – Por que matamos tantas pessoas na loteria do saneamento?

Todos os anos, nós matamos milhares de pessoas no Brasil por falta de saneamento básico e de água encanada. São pessoas que caem em córregos contaminados, bebem água podre ou definham daquelas doenças doloridas que nos destroem aos poucos. Falta de saneamento leva à proliferação de mosquito transmissor da dengue e da zika – Image copyright AP Nós também deixamos outras tantas, incontáveis, de cama, incapazes, num efeito impossível de mensurar – perdem dias de trabalho, de estudo, de bloquinho de Carnaval, de horas com os filhos e com os pais. Até agora, esse descaso não tinha rosto. É difícil contar as mortes provocadas pela falta de estrutura. Mas, em 2016, esse descaso ganhou um nome e a face de um bebê com microcefalia. O zika também é fruto da nossa insensatez.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Agora acredita-se que o Aedes aegypti, transmissor da dengue e da zika, possa se adaptar para viver também na água suja, e não apenas em água limpa, segundo pesquisa recente da Universidade Estadual da Paraíba. Na prática, isso significa que todo córrego, até aqueles mais fedorentos, pode ser um criadouro em potencial. Além disso, nosso desperdício de água potável, entre os reservatórios e as nossas casas, cria grandes fazendas de proliferação de mosquito. Temos fábricas de matar aos poucos. Na última terça-feira, isso foi confirmado por um diagnóstico do Ministério das Cidades, que apontou que quase metade da população do país não tem acesso a rede de esgoto. O descaso com infraestrutura, assim como o combate frouxo ao mosquito, é um daqueles absurdos difíceis de explicar. Ninguém acorda de manhã pensando “vou deixar o país sem esgoto” ou “tudo bem se algumas pessoas pegarem dengue”. Mas também pouquíssimas pessoas levantam com a ideia fixa de passar um cano embaixo da terra ou de colocar dinheiro em borrifador contra o mosquito. Mais de 3.800 casos suspeitos de microcefalia estão sendo investigados Image copyright Reuters Até virar tragédia, não é tema, não é prioridade. Enquanto é um grande número, fica invisível. Só ganha urgência quando ganha um rosto. O único legado positivo no caso do zika é nos deixar uma multidão de rostos que sempre vão nos lembrar deste verão. Porque, na prática, nós só damos valor àquilo que vemos. É mais fácil mobilizar o país para grandes obras sobre a terra, por mais inúteis que sejam, do que para evitar tragédias invisíveis. É uma variação da máxima “o que os olhos não veem o eleitor não sente”. Só que essa cegueira tem graves consequências, ainda mais quando se acumula por gerações. Leia também: Entenda a tecnologia radioativa que promete conter o Aedes aegypti Grandes tragédias, assim como grandes progressos, nunca são fruto de um governo só. Para o bem e para o mal, na alegria e na tristeza, somos o acúmulo das nossas escolhas. Só para ficar nos grandes números, fruto de levantamento do Instituto Trata Brasil, eis o panorama hoje, neste comecinho de 2016: • 35 milhões de brasileiros não têm água tratada • 39%, isso, apenas 39% do nosso esgoto passa por tratamento Ainda segundo o Instituto Trata Brasil, seria necessário investir R$ 508 bilhões entre 2014 e 2033 para chegar a 100% em todos os itens. Esse descaso histórico com serviços básicos cria uma forma perversa de desigualdade, causada pelo Estado e ausente dos debates públicos. Falta de infraestrutura faz pessoas estocarem água – o que pode dar origem a criadouros – Image copyright AP Ao não passar cano embaixo da terra, nós deixamos a loteria da vida ainda mais cruel. Quem é agraciado por essas fantásticas tecnologias do começo do século 20 tem menos chance de morrer ou de perder dias de trabalho ou de estudo. No caso do zika, quem tem sorte de viver perto de um programa de prevenção não corre riscos de ter filhos com microcefalia. Quem não tem fica exposto à sorte. Nossa cegueira deixa a vida ainda mais injusta. Esse assunto me deixa particularmente comovido porque, quando eu era criança, cai num rio-esgoto-a-céu-aberto duas vezes, dois anos seguidos. Uma em Pirituba, bairro de São Paulo onde morei até os cinco anos. A outra em Franco da Rocha, cidade da região metropolitana em que vivi por um ano, em 1988. Eu tinha entre cinco e seis anos nessas quedas. Lembro bem das ratazanas em Pirituba, mas não tenho nenhuma memória de Franco da Rocha. É o contrário da minha mãe, que ainda se lembra bem de uma criança com cabelo de cachinhos molhados sendo levada pela água suja ao logo do córrego cheio até parar num amontoado de plástico, madeira e barro. Graças à densidade do material, vamos ver por esse lado, hoje estou aqui falando de assuntos fedorentos com você. Se não fosse o acaso (e o plano de saúde dos meus pais), talvez este texto nunca fosse escrito. Mas quantas pessoas, bem melhores do que eu, não tiveram essa chance? ‘Precisamos (…) colocar esgoto em pauta, borrifador na área.’ Image copyright EPA Por isso, eu decidi fazer uma coisa simples, coisa que nunca tinha pensado até o começo desse ano – apesar do meu pesadelo de infância. Eu sempre votei com base em propostas e grandes programas. Devo confessar que nunca prestei atenção no detalhe – o que é um erro meu. Por isso, decidi por um critério bem simples para 2016 em diante. Só voto em candidatos que tenham plataformas vida real, Brasil de verdade, longe da marquetagem que mobiliza todos os nossos sentimentos e nenhuma das nossas razões. Gente que realmente tenha história de fazer coisas com impacto, comprometida com o médio e com o longo prazo. Precisamos mostrar, ao longo dos próximos anos, que valorizamos, sim, políticos que fazem grandes obras que não vemos. Precisamos, nas organizações das quais fazemos parte, colocar esgoto em pauta, borrifador na área. Sim, eles não são bonitos nem rendem grandes fotos, mas têm um efeito fabuloso ao longo do tempo. Já tentei até pensar em como deixar esgoto bonito ou borrifador charmoso, para ver se aceleramos esse processo. Se tiver

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Conheça Bob e seus amigos: um golden retriever, 8 passarinhos e um hamster

Em um dia, essa turminha conquistou mais de 20 mil seguidores no Instagram Bob e sua turma (Foto: Reprodução/Instagram) Bob tem 1 ano e nove meses e já virou uma celebridade da internet. E não só por ser um cãozinho que chama a atenção pela beleza e simpatia. O golden retriever convive harmoniosamente com oito passarinhos (2 calopsitas, 4 piriquitos e 2 mandarins) e um hamsterem sua casa em São Paulo. “Eles se divertem juntos. É muito engraçado”, diz o comerciante Luiz Higa Júnior, dono de Bob e dos demais bichinhos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Júnior conta que Bob chegou na nova casa quando dois passarinhos já estavam lá. Veio, segundo o dono, na tentativa de suprir a falta de um outro cão que o comerciante perdeu. Júnior tentou se contentar com os pássaros, mas sentia falta de um cachorro. Comprou Bob e colocou os três para conviver. Deu certo. E a “família” foi aumentando. “Eu já tive um pastor alemão que convivia com um coelho. E um golden que brincava com um hamster”, diz. A relação inusitada fez Júnior, um frequentador assíduo das redes sociais, criar um perfil exclusivo para Bob no Instagram. Lá posta fotos e vídeos diários sobre a rotina do cão e de seus parceiros. A página, criada há um ano, foi ganhando seguidores aos poucos. Mas começou a bombar neste domingo (5). Em um dia, segundo o comerciante, Bob ganhou mais de 20 mil seguidores — nesta segunda-feira (6) já eram 55 mil! Júnior se viu surpreso diante da repercussão. “Desde ontem não paro de receber emails e pedidos de entrevistas para publicações brasileiras e estrangeiras”, afirma Luiz. Bob nem sabe, mas virou uma celebridade ao lado da sua turminha.   Confira abaixo alguns dos registros fofíssimos do grupo: “Amontoado de gente, ou melhor, de bichos!”, disse o amigo humano da turma no Instagram (Foto: Reprodução/Instagram) O amor entre um golden e um periquito (Foto: Reprodução/Instagram) “Amigo, eu acho que você está me esmagando… Pode ir um pouquinho pra lá?” (Foto: Reprodução/Instagram) Bob: “Aumigos, vocês viram o hamster por aí?! A calopsita e os periquitos estão me ajudando a procurar” (Foto: Reprodução/Instagram) Conchinha de três! (Foto: Reprodução/Instagram) Aqui a turma toda junta (Foto: Reprodução/Instagram) O golden retriever adora um carinho (Foto: Reprodução/Instagram) Bob e sua amiga calopsita (Foto: Reprodução/Instagram) Época

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A doméstica brasileira que virou líder trabalhista nos EUA

O auditório da Assembleia Legislativa do Estado de Massachusetts estava cheio quando uma mulher com uma camiseta verde-amarela foi chamada ao microfone. Natalícia Tracy chegou aos EUA como doméstica e, hoje, está em curso de obter um pós-doutorado. Diretora executiva do Centro do Trabalhador Brasileiro em Boston, Natalícia Tracy pediu aos legisladores que aprovassem uma lei em discussão que impediria policiais de prender imigrantes só por estarem no país ilegalmente. Horas antes, Tracy falara num evento da prefeitura de Boston e, após deixar a assembleia, ainda participou de um painel sobre trabalho doméstico na Universidade Harvard, uma das mais prestigiadas do mundo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A movimentada agenda reflete a projeção alcançada pela brasileira, que se mudou para os Estados Unidos em 1989 e se tornou uma destacada líder nos movimentos de trabalhadores e imigrantes do país. Leia também: ‘Americano não manda, pede’: a experiência de brasileiras que foram ser domésticas nos EUA Hoje com 45 anos, Tracy foi recrutada aos 19 em São Paulo para acompanhar uma família brasileira numa temporada de dois anos em Boston. Além de cuidar de um bebê de dois anos, desempenhava todas as tarefas domésticas da casa. A jornada, diz ela, ia das seis da manhã às onze da noite. “De acordo com as leis trabalhistas dos Estados Unidos, eu estava num trabalho considerado escravo”, ela afirma à BBC Brasil. Tracy diz que dormia numa “varanda fechada com cimento grosso no chão” e que não podia usar o telefone nem receber cartas. “Eles não me deixavam pôr meu nome na caixa de correio, e o carteiro não entregava.” Ela conta que, muitas vezes, não sobrava comida após cozinhar para os patrões. “Fiquei doente e não me levaram ao médico. Era um ser humano que estava sob a responsabilidade deles: não falava inglês, não tinha família aqui.” A pior parte, diz ela, era o pagamento: US$ 25 por uma jornada de 90 horas semanais, valor muito abaixo do salário mínimo local. Encerrado o contrato com a família, os patrões voltaram ao Brasil, e Tracy resolveu ficar. Um ano depois, “estava morando num subúrbio americano, casada com um americano e vivendo uma vida americana”. Com o ensino médio incompleto, ela se dedicou aos estudos. Graduou-se em psicologia e sociologia e se tornou mestre pela Universidade de Massachusetts. Hoje Tracy leciona na universidade e se prepara para obter o título de PhD com um estudo que relaciona imigração, raça, família e classe. Ao mergulhar nos estudos e abraçar a vida americana, Tracy se afastou do Brasil e dos compatriotas que tornaram Massachusetts o Estado com a maior população brasileira nos Estados Unidos. Estima-se que ao menos 200 mil brasileiros vivam no Estado, a maioria em situação irregular. Hoje ela fala português com um leve sotaque americano e titubeia na escolha de algumas palavras. Ao se comunicar com a BBC Brasil durante a realização desta reportagem, quase sempre enviava mensagens em inglês. Virar brasileira de novo Tracy dirige um centro que auxilia imigrantes em questões legais Quinze anos após se mudar para Boston, Tracy começou a se reaproximar da comunidade brasileira fazendo trabalhos voluntários. “Tinha colocado minha história numa caixinha e trancado. Quando reabri essa caixinha, eu não era mais fraca nem vulnerável: tinha poder econômico e social, e o político eu ia construir.” Em 2010, assumiu a direção do então Centro do Imigrante Brasileiro, cargo que ocupa até hoje. Maior associação brasileira nos Estados Unidos, a entidade assessora imigrantes em questões legais e se sustenta principalmente com doações de empresas. Seu papel na comunidade, somado à experiência como doméstica e à carreira acadêmica, lhe abriram portas. Com o apoio da maior central sindical do país (a American Federation of Labor and Congress of Industrial Organizations), Tracy passou a articular com outras organizações a aprovação, em Massachusetts, de uma das mais avançadas legislações estaduais sobre trabalho doméstico dos Estados Unidos. Sancionada em julho de 2014, a legislação exige, entre outros pontos, que os domésticos – mesmo os indocumentados – sejam pagos pelo total de horas trabalhadas, garante dias mínimos de descanso e cria canais para denunciar abusos. Como representante de imigrantes e trabalhadores domésticos, Tracy participou de eventos e reuniões com altas autoridades, entre as quais a senadora Democrata Elizabeth Warren, o presidente Barack Obama e o papa Francisco. Em 2014, ela foi escolhida por um conjunto de organizações e sindicatos baseados em Washington como uma das 25 principais mulheres na liderança do movimento laboral dos Estados Unidos. “Tive acesso a espaços que antes não eram abertos nem a americanos de cor. Foi poderoso.” Movimento negro Em eventos com autoridades, Tracy representa imigrantes e trabalhadores domésticos A brasileira foi eleita em 2014 uma das principais lideranças entre trabalhadores dos EUA Na universidade, Tracy viu sua história se conectar à luta dos negros americanos por direitos civis. Ela diz que uma de suas maiores referências é a abolicionista Sojourner Truth (1797-1883), que nasceu escrava e se tornou livre ao fugir quando tinha 29 anos. “Ela ajudava os escravos a se moverem à noite através de túneis para o Canadá.” Tracy diz usar histórias como a de Truth para inspirar a comunidade brasileira, por mostrarem o quanto é possível conquistar mesmo em situações adversas. Ela também associa a experiência dos imigrantes aos desafios que negros americanos vivem no presente. No escritório do Centro do Trabalhador Brasileiro, Tracy pendurou um cartaz com o lema “Black Lives Matter” (vidas de negros importam), movimento que alcançou projeção mundial em 2015 após vários negros americanos serem mortos em abordagens policiais. Mulher, negra e imigrante, diz usar a seu favor as três características, “desvalorizadas não só nesta sociedade, mas globalmente”. “Essa consciência de ser mulher, imigrante e negra, eu uso isso como uma arma, de forma que sei quem sou e sei da minha capacidade. E se você disse que eu não posso fazer alguma coisa, eu vou te provar o contrário.” Para Tracy, mesmo a vulnerabilidade vivenciada por imigrantes sem documentos pode ser usada para fortalecê-las. No debate sobre trabalho doméstico

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