Arquivo

Fernando Pessoa – Reflexões na tarde – 16/02/2016

Natural Fernando Pessoa¹ É natural desejar as coisas que nos são necessárias. É natural desejar as coisas que não nos são necessárias mas que são desejáveis. A doença é desejar as duas coisas com a mesma intensidade. ¹ Fernando Antonio Nogueira Pessoa * Lisboa, Portugal – 13 de Junho de 1888 d.C + Lisboa, Portugal – 30 de Novembro de 1935 d.C >>biografia [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

Leia mais »

Eleições nos USA:Bernie Sanders e a rebelião contra o “establishment”

A cobertura do que vem ocorrendo nas eleições primárias para o cargo de presidente dos Estados Unidos por parte dos principais meios de informação da Espanha, como limitadíssimas exceções, é muito tendenciosa, traduzindo a orientação conservadora e/ou neoliberal que caracteriza a grande maioria dos jornais. A bem conhecida (no plano internacional) falta de diversidade ideológica na televisão e rádio, assim como na imprensa escrita, com escassíssima presença de vozes críticas é um reflexo do estado da informação jornalistica no continente europeu. De uma maneira geral, seus correspondentes nos Estados Unidos limitam-se a traduzir o que dizem os principais meios de informação norte-americanos, sem aprofundar criticamente aquilo que é dito. E, para complicar ainda mais, copiam literalmente o que se escreve naqueles jornais, sem compreender que alguns termos têm um significado oposto dos dois lados do Atlântico.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O termo “liberal”, por exemplo, é utilizado nos Estados Unidos para definir um político que apoia o intervencionismo do Estado na atividade econômica, propondo medidas redistributivas e a expansão dos gastos públicos. Liberal, nos EUA, quer dizer o que na Europa se conhece como social-democrata, enquanto no Velho Mundo, liberal define um político que se opõe ao intervencionismo do Estado, que desaprova as políticas redistributivas e promove as privatizações. Definir os políticos da esquerda norte-americana como liberais, cria enormes confusões (vide, como exemplo, desse tipo de erro, o artigo da correspondente de El País em Washington, Amanda Mars, “Sanders centra sua estratégia em associar Clinton com o poder financeiro”, El País, 06/02/2016). O que acontece nos Estados Unidos? Atualmente, a principal notícia que existe nos Estados Unidos é que um candidato à presidência do país, que se apresenta (abertamente e com orgulho de ser) como socialista, e que pede uma revolução política – utilizando essa expressão em cada atividade eleitoral – está causando um tsunami político semelhante ao que ocorreu na Espanha com o partido Podemos, ou com o candidato trabalhista britânico Jeremy Corbyn. Nas primeiras eleições primárias para o cargo presidencial, que se realizaram no estado de Iowa, o candidato socialista empatou com a candidata claramente apoiada pelo aparelho do Partido Democrata, Hillary Clinton, que não só contava com o apoio daquele aparelho, mas também do establishment político e midiático daquele partido. E essa quase vitória de Bernie Sanders, que é o candidato socialista, ocorreu apesar da clara hostilidade que sofreu sua candidatura por parte dos meios de comunicação (imprensa e televisão) daquele país, (tal como também ocorreu com o Podemos, na Espanha, e com Corbyn no Reino Unido). Previsivelmente, tal hostilidade, ou animosidade, não só apareceu nos principais meios de informação dos Estados Unidos, como também da Espanha, cuja cobertura da vida política dos Estados Unidos, como foi dito no parágrafo anterior, limita-se, na maioria das vezes, à tradução para o espanhol (ou para o catalão) daquilo que dizem os principais meios de informação norte-americanos. O surgimento deste movimento anti-establishment liderado por Bernie Sanders tem características semelhantes ao que vem acontecendo na Espanha e no Reino Unido e reflete uma situação comum nos três países: as classes populares estão cansadas da crescente integração entre os interesses econômicos e financeiros das grandes corporações multinacionais e as instituições governamentais transformadas em representantes do setor economico privado. Tal situação se tornou possível devido à privatização do processo eleitoral nos Estados Unidos, onde qualquer candidato pode receber tanto dinheiro quanto pode gerar e, através dos chamados Super PACs (Political Action Committees), financiar sua campanha, comprando espaço na televisão pelo tempo que queira, sem que exista regulação alguma sobre o acesso a esses meios. A maioria dos financiamentos que a classe política recebe tem origem nas grandes empresas da classe corporativa – o 1% da sociedade que, por seu nível de renda, controla ou exerce enorme influência também sobre a maioria dos meios de informação e de persuasão do país. A consequência deste alinhamento entre o mundo do capital e as instituições políticas é que as políticas aprovadas no Congresso dos Estados Unidos (hoje controlado pela ultra-direita norte-americana, financiada maciçamente por empresas poderosas do mercado de capitais) favorecem sistematicamente seus interesses às custas daqueles do mundo do trabalho, que constitui a maioria das classes populares dos Estados Unidos. Tal situação também afeta em grande parte o Partido Democrata. Foi justamente o presidente Clinton que desregulou o sistema financeiro (sendo seu ministro de Finanças, Robert Rubin, um dos maiores banqueiros de Wall Street), criando as bases para o que viria a ser a principal crise financeira que o país viveu desde a Grande Depressão, uma crise que ampliou a desigualdade economica na população norte-americana. Como Bernie Sanders destaca constantemente, “uma décima parte do 1% mais rico da população controla 90% da riqueza do país”. E os dados, facilmente acessíveis, apontam a veracidade e a credibilidade de sua mensagem. A revolta popular contra o establishment político-midiático Resultado dessa situação: a legitimidade e a popularidade das instituições políticas estão no fundo do poço. A enorme abstenção da população no processo eleitoral (e muito especificamente das classes populares) é um indicador da perda de fé no establishment. A palavra de ordem “Não nos representam”, do 15 M (Movimento 15-M, também chamado Movimento dos Indignados na Espanha), teve grande ressonância também nos Estados Unidos através do movimento Occupy Wall Street, inspirado, em parte, pelo M 15 espanhol. Daí que a convocação, pelo candidato Bernie Sanders, a uma revolução política que quebre este alinhamento entre a classe corporativa e as instituições que se definem – sem o ser – como democratas, é um elemento central de sua mensagem. Sua tese, facilmente sustentável, é a de que sem tal revolução política não acontecerão as mudanças políticas que está propondo, que são, simplesmente, propostas características da social-democracia, antes que esta se transformasse no social-liberalismo, como ocorreu na maioria dos países europeus. Um indicador dessa situação é que o candidato a presidente do governo espanhol Pedro Sánchez, pelo Partido Socialista, pediu a assessoria de Larry Summers, que, junto com Robert Rubin, foi o arquiteto da desregulação do sistema financeiro quando

Leia mais »

Tempestade perfeita: podemos estar caminhando para uma nova crise global?

Não faz nem uma década que as bolsas em todo o mundo desabaram com o anúncio da quebra do banco Lehman Brothers, nos Estados Unidos, e já há quem sinta as vibrações de um novo terremoto financeiro de proporções globais. Sobre a freada da economia da China, George Soros diz que o país ‘tem um grande problema de adaptação’ – Image copyright Reuters Não faz nem uma década que as bolsas em todo o mundo desabaram com o anúncio da quebra do banco Lehman Brothers, nos Estados Unidos, e já há quem sinta as vibrações de um novo terremoto financeiro de proporções globais. Diante da freada da economia chinesa, da brusca queda do preço do petróleo e da expansão do fenômeno dos juros negativos em países ricos, alguns economistas têm defendido que uma nova crise como a de 2008 estaria se avizinhando.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O megainvestidor George Soros, por exemplo, levantou essa possibilidade durante um evento no Sri Lanka, no mês passado. “Quando olho para os mercados financeiros há um sério desafio que me faz lembrar da crise de 2008”, disse. Há, certamente, quem considere as comparações exageradas – ou mesmo perigosas, como afirmou o Secretário do Tesouro americano, Jacob Lew. “Adoto um otimismo cauteloso ao olhar essas muitas áreas (da economia global) em que há riscos”, disse Lew em entrevista a BBC News. “Acho importante não permitir que esses riscos se tornem profecias autoanunciadas.” No entanto, mesmo autoridades e economistas mais céticos sobre um novo crash global admitem que 2016 começou com um perigoso “coquetel” de ameaças econômicas – como definiu recentemente o ministro das Finanças britânico, George Osborne. Mas, afinal, quais são os sinais que estão gerando tanta incerteza no que diz respeito à economia internacional? E como essas turbulências poderiam afetar o Brasil em um momento em que o país tenta superar dificuldades internas? Para o professor de economia da PUC Antônio Carlos Alves dos Santos, a economia internacional enfrenta uma espécie de “tempestade perfeita”. As dificuldades começaram com o desaquecimento da China e seu impacto sobre os preços das commodities. No início do ano, uma grande instabilidade da bolsa de Xangai reforçou as suspeitas de que a economia chinesa poderia ter uma desaceleração drástica – o que no jargão econômico é conhecido como “hard landing”. Soros, ao fazer o paralelo com 2008, mencionou justamente as incertezas sobre o gigante asiático. “A China tem um grande problema de adaptação”, disse, explicando que o país está com dificuldades para encontrar um novo modelo de crescimento. Petróleo e juros Queda no preço do barril de petróleo amplia a incerteza para 2016 Image copyright Thinkstock A queda do preço do barril de petróleo para abaixo dos US$ 30 também foi um fator que ampliou o clima de incertezas em 2016. O produto já acumula uma desvalorização de 70% desde 2014. Primeiro, em função de uma demanda fraca – para a qual também contribuiu o desaquecimento chinês. Segundo, porque o período de bonança do setor impulsionou uma série de investimentos em novas áreas de exploração e fontes alternativas de combustível fóssil – o que acabou levando a uma superprodução. “Agora, a incógnita é como as empresas do setor e seus credores serão afetados por esse novo patamar de preços”, diz Santos. “Temos rumores, por exemplo, de que produtoras de gás de xisto nos EUA estão passando por sérias dificuldades financeiras”, completa Wilber Colmerauer, diretor do Emerging Markets Funding, em Londres. “E também há dúvidas sobre o impacto desse novo cenário nos bancos que emprestam para empresas e países produtores.” A terceira fonte de incertezas no cenário global são as taxas de juros negativas adotadas por alguns países para seus títulos e depósitos das instituições financeiras nos Bancos Centrais. Colmerauer explica que essas taxas negativas comprimem as margens de lucro dos bancos – então há quem acredite que alguns deles podem ter problemas. “A verdade é que nunca vimos tantos países adotarem essa política de juros negativos, trata-se de um fenômeno novo. Então há muita incerteza sobre quais podem ser suas consequências”, diz. Segundo o banco J.P. Morgan, há hoje cerca de US$ 6 trilhões em títulos públicos com juros negativos, o dobro do que há dois meses. Na semana passada, até o FED, o Banco Central americano, anunciou que deixaria em aberto a possibilidade de adotar os juros negativos em função das adversidades da economia global, gerando grande alvoroço nos mercados que esperam um aumento da taxa este ano. Já praticam juros negativos em seus títulos ou como taxa de referência o Banco Central Europeu, a Suécia, a Dinamarca e a Suíça, além do Japão, que recentemente emitiu pela primeira vez um título de longo prazo com rentabilidade negativa. Se um país adota os juros negativos, na prática os investidores têm de pagar para emprestar seu dinheiro – em vez de receber uma remuneração. Os bônus de dez anos do governo do Japão, por exemplo, foram negociados por -0,035%, o que significa que quem emprestar para o país hoje, daqui a uma década poderá reaver um pouco menos do valor investido. O fenômeno é impulsionado por uma corrida por economias de baixo risco. A lógica é que há tanta instabilidade no mercado que os investidores não se importam em perder um pouco de dinheiro pela certeza de que seus ativos estarão seguros. Do lado das autoridades financeiras, o objetivo é estimular investimentos na economia real e, em alguns casos, combater a deflação – ou seja, a queda sistemática dos preços. O fato de o FED ter mencionado taxa de juros negativa como opção é sinal de que banco não considera retomada da economia dos EUA segura O problema é que muitos interpretam essa política como um sinal de que as autoridades financeiras do país em questão não acreditam que sua economia vá melhorar tão cedo – e continuam preferindo perder pouco sem risco a arriscar perder muito investindo em uma economia pouco dinâmica. O fato do FED ter mencionado a taxa de juros negativa como uma opção, por exemplo, acabou

Leia mais »

Como reconhecer o fundo do poço?

Os autores divergem. Além dos raros sobreviventes, as vicissitudes são tamanhas que poucos se animam a revivê-las. Menos ainda são os que têm fôlego para teorizar sobre o dantesco percurso. Dante inclusive. O fundo do poço é irreconhecível – ou para usar uma expressão recuperada pelo escritor-filósofo Garcia Rosa em recente entrevista ao Observatório da Imprensa – é imperscrutável. Além da falta de referências o próprio conceito de fundo do poço é diabolicamente kafkiano. Elástico, portanto absurdo — chegamos ou ainda não? Agora ou daqui a pouco? Real ou imaginário ? Reversível ou irrecorrível?[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Emérito sambófilo e sambólogo carioca, impregnado pelo Zeitgueist momesco afirma categórico que o fundo do poço será facilmente reconhecível pela trilha sonora: quando os blocos de rua começarem a entoar o inesquecível lamento atribuído a Wilson Batista – “Quero chorar, mas não tenho lágrimas! ” – será o sinal de que chegamos lá. Hora de encarar a tristeza brasileira que apenas Paulo Prado conseguiu enxergar. Ou tomar a saideira. Economistas gabam-se do arsenal de exatidões para reconhecer as características e o cenário do fundo do poço. Talvez pela extensão das ruínas e o teor dos escombros. Mas não explicam como, em apenas setenta anos Alemanha e Japão, igualmente arrasados, arruinados e derrotados escapuliram do fundo do poço — sem recorrer às tentações totalitárias. Fácil: o fundo do poço localiza-se no mapa da subjetividade e o caminho da volta, idem. Essencial: jamais resignar-se às “décadas perdidas” nem forçar prazos para coincidir com mandatos políticos ou o calendário eleitoral. O fundo do nosso poço é constituído de material fatigado, com validade vencida, irrecuperável. Dentro de dias, com o início do ano real, assustador, carregado de ameaças e urgências jamais vistas ou experimentadas – entre elas a quarta maldição do aedes egypti, o vírus da zika — nossas históricas carências em matéria de formação, treinamento e competência serão testadas continuamente. Para sair do fundo do poço faz-se necessária uma receita clara, direta, minimalista, capaz de ser compartilhada e compreendida. O clima de paroxismo que uma imprensa simplista, aprisionada pela inércia, só sabe amplificar, o fundo do poço afunda, movediço fica mais traiçoeiro, remoto. Com as pífias expectativas político-eleitorais do momento, é suicida esperar das urnas em Outubro algo inovador. Se o poder central se reconhece perplexo e a sociedade o vê impotente, as possibilidades de uma ação municipal efetiva são nulas. Zerar o placar político, estimular algum tipo de empate, igualar vencidos aos vencedores, abortar as desforras que se anunciam — o fundo do poço se reconhece no exato momento em que o retorno à superfície começa a angustiar. Outro lado: o zika rachou o lobby dos jornais O surpreendente incentivo do “Globo” ao debate sobre a legalização do aborto em fetos microcefálicos evoluiu rapidamente para tornar-se posição do jornal. Inacreditável que um jornal tão chegado à Cúria e depois tão próximo à Opus Dei tenha superado sua histórica subserviência aos dogmas para assumir uma posição mais secularista e liberal. Para diferenciar-se, a “Folha” rapidamente pulou para o outro lado, o lado pior: deu enorme destaque à inflexível condenação do aborto pela CNBB divulgada nos jornais de sexta-feira, 5/2. Jogada de marketing do “Globo”? Possivelmente. Mas também uma reversão política que não pode passar desapercebida – o Globo exibe uma elasticidade que poderá mostrar-se valiosa caso sua esmagadora hegemonia na praça do Rio venha a ser eventualmente contestada nos órgãos que fiscalizam a concorrência. Se pretende efetivamente diferenciar-se no lobby de jornalões a “Folha” deveria ter optado por questões onde sua autonomia diante dos parceiros de “O Globo” pudesse fazer a diferença em benefício dos leitores e do pluralismo do sistema de comunicação social.. *** Alberto Dines é jornalista, escritor e co-fundador do Observatório da Imprensa

Leia mais »