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Paulo Maldonado – Versos na tarde – 16/04/2015

Quando velha Paulo Maldonado ¹ quando velha, dia e noite diante da tv, indiferente à matéria das coisas reais (tudo era e não é mais) e às 1001 fêmeas encantadoras, como você foi para tantos mas à vera só eu fruí, recorda: em vigília ou sono sonha o nosso imenso amor e sexo e maldiga a lei da gravidade, cedo e tarde a todos ela atrai e abate; caduque e nunca afague, dedos bambos, a juventude esfuziante lembra cada um de nós dois em minudências: o que somos, fomos e perdemos; com raiva até a ira – única seiva renovada na velhice ¹ Paulo Maldonado * Minas Gerais Escritor com 3 livros publicados, já lecionou na faculdade de comunicação social da PUC-RJ, foi diretor das Faculdades Latino-Americanas de Ciências Sociais, diretor de dois Festivais Brasileiros de Cinema Publicitário e diretor da ABP – Associação Brasileira de Publicidade. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Redução da maioridade penal: quando eu tenho medo da maioria

Pesquisa Datafolha, divulgada nesta quarta (15), aponta que 87% da população é a favor da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Ao todo, 11% são contrários à alteração, 1% foi indiferente e outro 1% não soube responder. A maior rejeição à proposta está entre os que têm ensino superior (23%) e os mais ricos (25%). E 74% da população apoia a redução para qualquer tipo de crime e não apenas os hediondos. A análise que já fiz, neste blog, permanece atual. Não fiquei surpreso com o índice de 87% – ainda mais com redes sociais, listas de WhatsApp e determinados programas “jornalísticos” na TV batendo bumbo, dia e noite, a favor da proposta. O que me surpreende, de verdade, é ainda termos 11% de pessoas que não se deixaram levar por soluções fáceis, que vão atacar consequências e não as causas. Primeiro, vale a pena sempre lembrar: uma democracia verdadeira passa pelo respeito à vontade da maioria, desde que garantindo a dignidade das minorias. Até porque, como sabemos, a maioria pode ser avassaladoramente violenta. Se não forem garantidos os direitos fundamentais das minorias (e quando digo “minoria”, não estou falando de uma questão numérica mas, sim, do nível de direitos efetivados, o que faz das mulheres uma minoria no país), estaremos apenas criando mais uma ditadura.[ad name=”Retangulos – Direita”] Não se governa por plebiscito. Porque ao jogar para a massa, a dignidade de um grupo pode ir para o chinelo. Porque não são minorias as responsáveis por fazerem as perguntas levadas à consulta, mas, pelo contrário, quem está no poder. O direito ao aborto e à eutanásia, a redução da maioridade penal e a descriminalização da maconha, se levadas a plebiscito, hoje, perderiam. Mas, olhe que interessante: a taxação de grandes fortunas, a auditoria na dívida brasileira ou mesmo a rejeição ao projeto que amplia a terceirização (4330/2004) certamente ganhariam. Agora me digam: qual estaria mais perto de ir a uma consulta? Por quê? Fico minimamente aliviado que decisões do Supremo Tribunal Federal sobre a interpretação da Constituição Federal visando à garantia desses direitos não têm sido tomadas necessariamente com base em pesquisas de opinião ou para onde sopra a opinião pública em determinado momento depois de um crime bárbaro. Pois, quando isso acontece, a população, feito uma horda desgovernada, pede um misto de Justiça e de vingança com as histórias de violência. Olho por olho, dente por dente, para a felicidade de Hamurabi. Afinal de contas, aquele bando de assassinos da Fundação Casa deveria é ser transferido para a prisão e apodrecer por lá, não é mesmo? Não importa que menos de 1% dos jovens internados na antiga Febem estão envolvidos com latrocínios. Se a gente diz que a culpa é deles, é porque alguma coisa fizeram de errado. A Fundação Casa, do jeito que está, não reintegra, apenas destrói. A prisão, então, nem se fala. Mandar um jovem para lá e desistir dele, para quê? Para que, daqui a 30 anos, ele volte e desconte tudo? Reduzir a maioridade penal para 16 anos só fará com que pessoas aprendam mais cedo a se profissionalizar no crime. E se jovens de 14 começarem a roubar e matar, podemos mudar a lei no futuro também. E daí se ousarem começar antes ainda, 12. E por que não dez, se fazem parte de quadrilhas? Aos oito já sabem empunhar uma arma. E, com seis, já se vestem sozinhos. Um dos maiores acertos de nosso sistema legal é que, pelo menos em teoria, protegemos os mais jovens – que ainda não completaram um ciclo de desenvolvimento mínimo, seja físico ou intelectual, a fim de poderem compreender as consequências de seus atos. Completar 18 anos não é uma coisa mágica, não significa que as pessoas já estão formadas e prontas para tudo ao apagarem as 18 velinhas. Mas é uma convenção baseada em alguns fundamentos biológicos e sociais. E, o importante, é que as pessoas se preparam para essa convenção e a sociedade se organiza para essa convenção. Podemos mudar a convenção, mas isso não garante que a sociedade mude junto e se adapte a essa nova realidade. Pois o problema não é a idade, mas qual destino possibilitamos a esses jovens. Ninguém está defendendo o crime, muito menos bandidos. Até porque, adolescentes que cometeram infrações são internados por até três anos e eles efetivamente são. O que está em jogo aqui é que tipo de sociedade estamos nos tornando ao defendermos a redução da maioridade penal. Decretamos a falência do Estado e a inviabilidade do futuro e assumimos o “cada um por si e o sobrenatural por todos”? Do que estamos abrindo mão ao pregar que as falhas na formação da juventude sejam corrigidas de uma forma que, como já ficou provado, não funciona, é apenas vingança? Blog do Sakamoto

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Petróleo e Cuba ajudam EUA a retomar protagonismo na América Latina

Três meses após assumir a Presidência dos Estados Unidos, Barack Obama afirmou, em sua primeira Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, que inauguraria um novo capítulo nas relações entre seu país e a América Latina. Presidentes posam para foto na Cúpula das Américas (EPA) Seis anos depois e encerrada no sábado a primeira edição da cúpula com a presença de Cuba, no Panamá, ele parece mais próximo de cumprir o objetivo, segundo analistas e diplomatas. Eles afirmam que a reaproximação entre Washington e Havana, que culminou no sábado na primeira reunião entre os presidentes americano e cubano em mais de meio século, esfriou uma das principais contendas entre os Estados Unidos e nações latino-americanas. Na mesma semana, a Casa Branca ainda consolidou acordos que fortalecem sua posição na América Central e no Caribe e, ao anunciar a visita de Dilma Rousseff a Washington em 30 de junho, afastou a crise com a segunda maior economia das Américas, o Brasil. Embora avaliem que Obama mereça créditos pelos feitos, especialistas afirmam que seus gestos foram facilitados por mudanças no cenário econômico das Américas: enquanto o Brasil e a Venezuela enfrentam problemas na economia e reduzem suas operações na vizinhança, os Estados Unidos voltam a crescer e ganham mais tração para atuar na região. Leia mais: Em reunião histórica, Obama e Raúl Castro trocam afagos Efeitos em cadeia Presidente do Inter-American Dialogue, um centro de pesquisas e debates em Washington, Michael Shifter diz que a retomada do diálogo entre Cuba e os Estados Unidos ajudará a melhorar as relações do governo americano com a maior parte da América Latina. “Por décadas, a questão cubana foi bastante problemática, causando muito desgaste nos assuntos interamericanos”, diz Shifter, que acompanhou o evento no Panamá. Especulava-se que Obama pudesse anunciar na cúpula a retirada de Cuba da lista americana de Estados patrocinadores do terrorismo, o que não ocorreu. Mesmo assim, os afagos trocados entre o americano e o líder cubano, Raúl Castro, ao longo do encontro sinalizam que os dois estão empenhados em aproximar seus países. Shifter afirma, porém, que a mudança na política americana para Cuba “não significa que a relação de Washington com a região será livre de tensões e desconfiança”. “Suspeitas e ressentimentos antigos não desaparecem da noite para o dia”. Leia mais: O que Che Guevara diria sobre a reaproximação EUA-Cuba Na cúpula, muitos líderes esquerdistas – entre os quais Nicolás Maduro (Venezuela), Rafael Correa (Equador) e Daniel Ortega (Nicarágua) – celebraram a presença de Cuba no evento, mas fizeram duros discursos contra os Estados Unidos, destacando seu histórico de intervenções na região. O maior alvo das críticas – endossadas inclusive por líderes mais moderados, como Dilma e Juan Manuel Santos (Colômbia) – foram as sanções que Washington aplicou no mês passado a sete autoridades venezuelanas. Segundo o governo americano, os funcionários sancionados violaram direitos humanos. Shifter diz que criticar os Estados Unidos em eventos como esse ainda rende dividendos políticos a líderes latino-americanos, e que o tema venezuelano mostra que ainda há muitas diferenças entre Washington e a América Latina. Ele diz acreditar, no entanto, que o acerto com Cuba deve ajudar a diminuir essas diferenças. Queda no petróleo Analistas avaliam que os ganhos americanos na vizinhança também refletem a queda nos preços do petróleo e seus impactos na Venezuela, um dos seus maiores desafetos na região. Dona das maiores reservas petrolíferas do mundo e valendo-se dos altos preços da matéria-prima na última década, Caracas forjou uma aliança com vizinhos caribenhos, entre os quais Cuba, baseada na venda subsidiada do bem. Em 2013, essa aliança – batizada de Petrocaribe – se associou à Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), bloco fundado uma década antes pelo então presidente venezuelano Hugo Chávez e que se tornara o principal bastião antiamericano da região. A drástica queda no preço do petróleo nos últimos dez meses, porém, afetou a assistência venezuelana aos vizinhos e fragilizou a lealdade deles ao projeto político de Caracas, diz Ted Piccone, analista da Brookings Institution, em Washington. Em artigo publicado em fevereiro, ele diz que a crise na Venezuela facilitou a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos ao forçar Havana a buscar alternativas à sua aliança econômica com Caracas. A Venezuela vende a Cuba cerca de 100 mil barris de petróleo ao dia por preços preferenciais. Segundo um relatório do Banco Barclays, o colapso econômico na Venezuela também tem afetado o envio de petróleo subsidiado a outras nações caribenhas. Atentos ao cenário, os Estados Unidos mexem suas peças. Em janeiro, o vice-presidente americano recebeu líderes caribenhos em Washington para discutir segurança energética. E na véspera da cúpula no Panamá, Obama anunciou na Jamaica programas para financiar e transferir tecnologias em energia limpa e reduzir a dependência por combustíveis fósseis entre países da região. Além de minar a “diplomacia petroleira” de Caracas, a iniciativa se alinha com uma das principais bandeiras do presidente americano: a necessidade de combater as mudanças climáticas e privilegiar fontes de energia limpa. Leia mais: Favorita entre democratas, Hillary anuncia pré-candidatura à Presidência dos EUA Acredita-se ainda que o fraco desempenho da economia brasileira nos últimos anos e a desaceleração na China tenha facilitado a superação das diferenças entre Brasília e Washington, causadas pelas denúncias de que Dilma fora espionada pela agência de segurança americana. O episódio fez com que ela cancelasse uma visita que faria aos Estados Unidos em 2013, agora reagendada para o fim de junho. Entre empresários brasileiros, vinham crescendo as cobranças para que o país se voltasse aos Estados Unidos para voltar a crescer. O governo brasileiro chegou a condicionar a remarcação da visita a um pedido de desculpas da Casa Branca, mas acabou cedendo na posição. Mudanças demográficas Segundo um diplomata brasileiro nos Estados Unidos, a mudança da política americana para a região reflete ainda mudanças demográficas no país. Há 50 anos, havia poucos milhões de hispânicos ou latinos nos Estados Unidos. Por causa da imigração e de taxas de natalidade acima da média, o grupo hoje soma 57

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Como os líderes dos protestos estão enterrando seu próprio movimento

Apesar da grande quantidade de pessoas nas ruas nesse domingo – 25 mil pessoas ainda é sinal de grande força política – ficou claro que os protestos contra Dilma estão diminuindo e tendem a decair ainda mais. Por Rafael Bruza Trata-se de uma tendência normal nos movimentos que provém da Crise de Representatividade. O protesto espanhol dos Indignados de la Plaza del Sol, por exemplo, que também surgiu nessa crise política das democracias ocidentais, foi massivo no começo e caiu com o passar do tempo, até deixar totalmente as ruas. Algo parecido vem ocorrendo com as manifestações brasileiras. A diferença é que os principais organizadores dos protestos espanhóis souberam dar os passos seguintes e, no final das contas, chegaram a uma proposta que mudou o cenário político do país: o partido “Podemos”, um dos líderes nas pesquisas eleitorais no momento. O movimento espanhol realizou diversos debates abertos, coletou milhares de propostas, uniu cidadãos em torno de um projeto unificado e, dessa forma, conseguiu um respaldo popular que garantiu o posterior êxito do Podemos. Com isso, surgiu essa legenda política que já ameaça os dois principais partidos da Espanha, o governista conservador PP, e o oposicionista progressista PSOE. Mas os protestos brasileiros, encabeçados pelo “Movimento Brasil Livre”, o “Vem pra Rua”, entre outros, estão preocupados demais em criticar inflexivelmente e em exigir pautas que não serão atendidas no momento.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Com isso, perdem a oportunidade de crescer com propostas, argumentos e debates públicos. Ora, se o problema é a classe política que não representa os cidadãos e que abusa de ilegalidades diariamente, é preciso encontrar uma nova forma de fazer política no Brasil. E esse objetivo só se concretiza com diálogo, organização e propostas claras. Insatisfação mal canalizada só gera atos simbólicos, mas sem nenhum tipo de consequência positiva para o país. Levar pessoas às ruas é um primeiro passo, mas se o movimento estancar nisso, desaparecerá de forma tão natural quanto surgiu. Os movimentos mundiais que provém da Crise de Representatividade – problema em que os cidadãos não sentem confiança na classe política, exigindo sua retirada imediata – tendem a cair naturalmente devido à falta de foco, à carência de resultados imediatos e ao contato próximo a grupos políticos extremistas. Foi assim na Espanha, Itália, Grécia, etc. e está sendo assim no Brasil. Mas os organizadores brasileiros simplesmente não aproveitam sua força política para estudar e propor mudanças realistas. Estão perdidos em meio a pautas dispersas, a exaltações liberais desfocadas e despretensiosas e a críticas pessoais inúteis – como a discussãorecíproca entre Kim Kataguri, um dos líderes do Movimento Brasil Livre, e o deputado Jean Willys. Essa postura é ótima para vender camisetas e ganhar repercussão na Internet, onde reina a informação parcial e a ideologia intolerante, mas nunca mudará o país como esperam muitos manifestantes. Nunca mesmo. E com isso, o movimento não mantém o estímulo aos cidadãos, caindo naturalmente sem oferecer nenhuma perspectiva de mudança ao país. Ninguém gosta de gritar “Fora Dilma” sem ver qualquer efeito imediato na Política. E menos ainda ao lado de extremistas sem capacidade de entendimento objetivo da realidade. Com essa postura dos organizadores, portanto, o movimento pelo Impeachment está fadado ao fracasso total, pois além de não obter o que esperam – a retirada do PT do poder -, não oferecerá nada novo à Política nacional. E, então, a tendência é o desaparecimento absoluto do movimento sem nenhum tipo de concretização política. Sem dúvida uma derrota para a Direita brasileira, que hoje tem maior capacidade de mobilização que a Esquerda. Então, pelo bem do movimento, seria preciso dar novos passos, seguindo exemplo do partido Podemos. Urge a realização de debates públicos, a busca por uma melhora na consciência política dos manifestantes, a organização em torno de novas propostas, a revisão das intenções do movimento, a procura por algum tipo de representatividade dentro do universo político – seja em organizações, partidos ou qualquer instituição – e a mudança de discurso, pretendendo algo mais construtivo e menos populista. Caso isso seja feito, o movimento pode gerar um forte grupo formador de opinião, alguma organização política ou algum partido novo, ou seja, elementos que realmente exercem influência na Política nacional. Mas, se manter a estratégia atual, as manifestações serão derrotadas por seus pontos fracos: discurso ideológico inflexível e excessivamente crítico, falta de representatividade, de propostas, de críticas construtivas, de  foco claro, de organização, de resultados e de perspectiva de futuro. Tendo em vista a atual postura dos líderes do movimento, a tendência é a perda total de mobilização política com o consequente desaparecimento do movimento. E nesse caso, é melhor economizar o dinheiro da venda de camisetas, pois esse será o único fruto dessas massivas manifestações políticas.

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