Como os líderes dos protestos estão enterrando seu próprio movimento

Surdos Blog do MesquitaApesar da grande quantidade de pessoas nas ruas nesse domingo – 25 mil pessoas ainda é sinal de grande força política – ficou claro que os protestos contra Dilma estão diminuindo e tendem a decair ainda mais.

Por Rafael Bruza

Trata-se de uma tendência normal nos movimentos que provém da Crise de Representatividade. O protesto espanhol dos Indignados de la Plaza del Sol, por exemplo, que também surgiu nessa crise política das democracias ocidentais, foi massivo no começo e caiu com o passar do tempo, até deixar totalmente as ruas. Algo parecido vem ocorrendo com as manifestações brasileiras.

A diferença é que os principais organizadores dos protestos espanhóis souberam dar os passos seguintes e, no final das contas, chegaram a uma proposta que mudou o cenário político do país: o partido “Podemos”, um dos líderes nas pesquisas eleitorais no momento.

O movimento espanhol realizou diversos debates abertos, coletou milhares de propostas, uniu cidadãos em torno de um projeto unificado e, dessa forma, conseguiu um respaldo popular que garantiu o posterior êxito do Podemos.

Com isso, surgiu essa legenda política que já ameaça os dois principais partidos da Espanha, o governista conservador PP, e o oposicionista progressista PSOE.

Mas os protestos brasileiros, encabeçados pelo “Movimento Brasil Livre”, o “Vem pra Rua”, entre outros, estão preocupados demais em criticar inflexivelmente e em exigir pautas que não serão atendidas no momento.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”]

Com isso, perdem a oportunidade de crescer com propostas, argumentos e debates públicos.

Ora, se o problema é a classe política que não representa os cidadãos e que abusa de ilegalidades diariamente, é preciso encontrar uma nova forma de fazer política no Brasil. E esse objetivo só se concretiza com diálogo, organização e propostas claras.

Insatisfação mal canalizada só gera atos simbólicos, mas sem nenhum tipo de consequência positiva para o país.

Levar pessoas às ruas é um primeiro passo, mas se o movimento estancar nisso, desaparecerá de forma tão natural quanto surgiu.

Os movimentos mundiais que provém da Crise de Representatividade – problema em que os cidadãos não sentem confiança na classe política, exigindo sua retirada imediata – tendem a cair naturalmente devido à falta de foco, à carência de resultados imediatos e ao contato próximo a grupos políticos extremistas. Foi assim na Espanha, Itália, Grécia, etc. e está sendo assim no Brasil.

Mas os organizadores brasileiros simplesmente não aproveitam sua força política para estudar e propor mudanças realistas. Estão perdidos em meio a pautas dispersas, a exaltações liberais desfocadas e despretensiosas e a críticas pessoais inúteis – como a discussãorecíproca entre Kim Kataguri, um dos líderes do Movimento Brasil Livre, e o deputado Jean Willys.

Essa postura é ótima para vender camisetas e ganhar repercussão na Internet, onde reina a informação parcial e a ideologia intolerante, mas nunca mudará o país como esperam muitos manifestantes. Nunca mesmo.

E com isso, o movimento não mantém o estímulo aos cidadãos, caindo naturalmente sem oferecer nenhuma perspectiva de mudança ao país.

Ninguém gosta de gritar “Fora Dilma” sem ver qualquer efeito imediato na Política. E menos ainda ao lado de extremistas sem capacidade de entendimento objetivo da realidade.

Com essa postura dos organizadores, portanto, o movimento pelo Impeachment está fadado ao fracasso total, pois além de não obter o que esperam – a retirada do PT do poder -, não oferecerá nada novo à Política nacional.

E, então, a tendência é o desaparecimento absoluto do movimento sem nenhum tipo de concretização política. Sem dúvida uma derrota para a Direita brasileira, que hoje tem maior capacidade de mobilização que a Esquerda.

Então, pelo bem do movimento, seria preciso dar novos passos, seguindo exemplo do partido Podemos.

Urge a realização de debates públicos, a busca por uma melhora na consciência política dos manifestantes, a organização em torno de novas propostas, a revisão das intenções do movimento, a procura por algum tipo de representatividade dentro do universo político – seja em organizações, partidos ou qualquer instituição – e a mudança de discurso, pretendendo algo mais construtivo e menos populista.

Caso isso seja feito, o movimento pode gerar um forte grupo formador de opinião, alguma organização política ou algum partido novo, ou seja, elementos que realmente exercem influência na Política nacional.

Mas, se manter a estratégia atual, as manifestações serão derrotadas por seus pontos fracos: discurso ideológico inflexível e excessivamente crítico, falta de representatividade, de propostas, de críticas construtivas, de  foco claro, de organização, de resultados e de perspectiva de futuro.

Tendo em vista a atual postura dos líderes do movimento, a tendência é a perda total de mobilização política com o consequente desaparecimento do movimento.

E nesse caso, é melhor economizar o dinheiro da venda de camisetas, pois esse será o único fruto dessas massivas manifestações políticas.

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