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Saiu na midia – 24/07/06 – O Globo On Line.

Tecnologia é só um meio.André Machado – amachado@oglobo.com Proferi este mês uma conferência sobre tecnologia e comportamento no Business Club One, no Centro do Rio. Aproveitei para relembrar a época em que escrevia estas mal traçadas nas chamadas máquinas “de tração animal”, ou máquinas de escrever. Como o computador mudou nossas vidas desde então! Entre o momento em que a notícia surge e o momento em que chega ao leitor, hoje o intervalo de tempo é quase inexistente. A vertiginosidade em que vivemos envolvidos nesta era de pouca reflexão me fez pensar no papel da tecnologia e o que ela representa para nós, personagens e testemunhas da Revolução da Informação. Na conferência, eu disse que uma coisa a lembrar quando falamos de tecnologia é que ela não pode ser transformada em vida. O que quero dizer com isso? Que toda tecnologia é um meio para se chegar a um fim, nunca o fim em si. A internet é a maior ferramenta de comunicação jamais criada pelo homem, mas ainda assim permanece uma ferramenta. Embora haja nela mundos virtuais onde podemos viver vidas diferentes das nossas, como um role playing game (RPG) em tempo real, elas permanecem virtuais; a vida real, por seu lado, é bem outra coisa. Um fenômeno recente que vejo se abater sobre muitas pessoas é a mania de filmar e fotografar tudo o tempo todo. A facilidade cada vez maior de acesso a câmeras digitais, em máquinas fotográficas propriamente ditas ou em PDAs e telefones celulares, criou uma obsessão com o registro ao vivo de tudo e de todos. Ouso dizer que, se isso continuar assim, dentro de algumas décadas não precisaremos mais de nossa memória inata. Porque as pessoas estão se esquecendo de olhar as coisas com seus próprios olhos e preferem a eles a realidade das lentes digitais. Ninguém mais pára para apreciar um crepúsculo, para observar as emoções dos convidados de uma discreta cerimônia de casamento. Não; todos levantam suas câmeras e telefones celulares e fotografam sem parar, deixando de acompanhar o momento e depois elaborando-o na própria memória, que é, ao menos para este humilde escriba, parte do que faz a História com H maiúsculo ser escrita. A tecnologia deve ter o lugar que merece em nossas vidas: o de utilidade. Certamente ela ajuda a mudar comportamentos e gerar novas formas de organização, mas ainda assim o faz como uma ferramenta. E, de qualquer forma, encantar-se com uma tecnologia específica e aferrar-se a ela é, na prática, viver no passado, porque as tecnologias mudam o tempo todo, ainda mais agora. André Kischinevsky, diretor do Infnet, tem a teoria de que no futuro todas as coisas serão virtuais, e que não haverá mais objetos, apenas formas impalpáveis 3D e redes neurais conectadas a a elas. Apesar desse caminho em busca do virtual, a vida real continua a ser bem mais do que zeros e uns, sim ou não, preto ou branco. É por isso que se estuda, no Massachusetts Institute of Technology e em outros lugares, a chamada computação afetiva, que quer ensinar sistemas de informação a entenderem melhor as reações humanas, e a se comportarem de acordo com elas. A computação afetiva quer criar uma relação mais íntima com o usuário. Porque, em última análise, são as máquinas que realmente têm que nos entender, e não o contrário. A chamada usabilidade de sistemas e programas ainda tem um longo caminho pela frente. Eu sempre digo que, quando tivermos com o computador a intimidade que temos com a televisão e a geladeira, nossos problemas acabarão. Contudo, depois de refletir sobre esses temas, fui à exposição Interface Cibernética (veja a capa) em São Paulo e percebi que, ao menos no campo da arte, os bits e bytes estão virando mais do que ferramentas; eles podem se transformar nas próprias obras de arte, em certo grau. Os artistas — sempre à frente de seus contemporâneos, em todas as épocas — perceberam que a relação de utilidade com a tecnologia poderia ser subvertida e não hesitaram em criar obras e instalações para celebrar novos relacionamentos entre nós e o software, o hardware e tudo em que podem se transformar. Vai dar uma nova conferência, sem dúvida.

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Olhe essa – Renda e educação.

A cidade de Macaé, Rio de Janeiro, nomeada a capital do petróleo, na bacia de Campos, apresenta dados impressionantes.Em todos os sentidos. A renda média anual por habitante é de R$96.000,00.Para efeito de comparação, a renda média por habitante no Brasil é 10 vêzes menor ou R$9.600,00/ano. O orçamento anual dessa cidade com cerca de 130 mil habitantes é de R$700 milhões.Campo Grande, com aproximadamente o mesmo número de habitantes, tem um orçamento de 400 milhões/ano. Apesar desse crescimento exponencial, a população de Macaé, em sua maioria, não tira proveito desse extraordinário crescimento econômico. Na cidade, o crescimento de favelas, também, é exponencial. Porque? Falta educação e, consequentemente, a população não tem qualificação para atender a demanda do mercado de trabalho, principal e majoritariamente, o associado à indústria do petróleo.

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Argh!

Pérola de autoria do sociólogo José de Souza Martins: CONFLITO SOCIAL RITUALIZADO:“O futebol exorciza o conflito da ruptura estrutural e torna-se embate reparatório, de reconstituição cíclica do tecido social.” Tal luminar opinião inscreve o autor como sério concorrente ao troféu “Gilberto Gil de Enrolês”.

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Dica da Rede – Literatura.

www.dominiopublico.gov.br Dom Casmuro de machado de Assis. A Divina Comédia de Dante Alighieri, A megera Domada de Shakespeare, e outras mais 700 obras estão disponíveis para leitura grátis. O banco de dados permite pesquisa por autor, título, pelo conteúdo e baixar tudo em PDF. Embora tenha circulado um “hoax” &#9472 notícia falsa na intenet &#9472 o site continua de pé, porém, está ameaçado pelo baixo índice de visitas.

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Gabeira – Agora somos todos paulistas

Um controle situacional das prisões é limitado; revertida a situação, o perigo volta a existir. Mergulhado nas tarefas cotidianas na CPI dos sanguessugas, meu coração está em São Paulo. Sinto-me responsável por tudo isto que acontece. Sou um dos poucos políticos brasileiros que já foram prisioneiros e conhecem o cotidiano das cadeias, seja pela experiência vivida, seja pelos testemunhos das crises no sistema. Há dois anos, procurei Nilmário Miranda, quando era Secretário de Direitos Humanos, e propus um projeto para prevenir e reduzir motins nos presídios. Voltei ao tema num encontro com o governador Cláudio Lembo. Minha proposta era simples. Começaria instalando uma rede de computadores nos presídios. Formularia um questionário com perguntas a ser respondidas todos os dias. Um centro de inteligência analisaria 20 variáveis e teria condições de prevenir um motim, interferindo nas condições que potencialmente o produziriam. Por exemplo: se estivéssemos trabalhando com denúncias constantes da presença de vidro na comida, evitaríamos a tensão produzida por essa variável. Gastaríamos algum dinheiro, é verdade, mas muito menos que o dinheiro gasto, por exemplo, em Mato Grosso e São Paulo, para reformar presídios destruídos. Uma das muitas fragilidades da minha proposta era a ausência de prática e teoria sobre esse controle situacional das cadeias. As pessoas perguntavam de onde havia tirado isso, e, sinceramente, respondia: da minha cabeça. Com a explosão da nova onda de violência, num dos raros momentos em que reencontrei minha pequena biblioteca, no Rio, fui salvo mais uma vez por ela. Achei, ainda intocado, o livro de Richard Wortley sobre prevenção de crimes na cadeia. Ele contém a prática e a teoria que poderiam fortalecer minha proposta. Os crimes que os estudos de Wortley busca prevenir são estupro e assassinato. Mas a tese é válida para motins. Tanto ele como eu reconhecemos as limitações do método. Um controle situacional das prisões é escandalosamente limitado, na medida em que, revertida a situação, o perigo volta a existir com a mesma intensidade. Ele não visa mudanças nos prisioneiros nem aspira convertê-los por meio de algum processo de salvação psicológica. Parte-se apenas da modesta conclusão de que os criminosos continuam criminosos, mas a mudança de situação pode inibir sua atividade destrutiva. O livro de Wortley, publicado na série de Estudos de Criminologia de Cambridge, traduzido em sabedoria popular, confere com o ditado: às vezes, a ocasião faz o ladrão.Uma das críticas que o próprio Worley menciona à sua tese é a de que o conjunto de estudos e medidas proposto para a prevenção de crimes na cadeia aumenta o controle sobre a vida dos presos, tornando o Estado uma espécie de impiedoso “big brother”, vasculhando todos os detalhes da vida carcerária. Não é preciso ler Foucault para saber que a prisão já é uma situação de controle e que, no caso de um plano para prevenir motins, o caráter provisório é evidente. Não há projetos idênticos nos países do Norte, porque as condições básicas foram mudadas e registraram-se raros motins nas últimas décadas. Quando formulei a proposta, resolvi usar os verbos prevenir e reduzir porque, nas circunstâncias brasileiras, é difícil acabar com os motins. Quando os presos colocam condições imorais ou ilegais, a situação em que vivem não pode ser mudada. Mesmo no caso da existência inevitável do motim, esse controle por um centro de inteligência poderia anexar mapas do prédio, indicações sobre os registros de água, estudos sobre possíveis rotas de fuga, contatos com eventuais associações de familiares dos presos, perfis psicológicos dos líderes. Prefiro evitar debater esse tema com a inútil clivagem linha dura/liberais. Uma política unicamente repressiva conduz a enormes prejuízos financeiros, e isso já é um dado importante para considerar alternativas. Muitos dirão: com o controle que os líderes têm sobre os outros presos, fazem motins na prisão que quiserem, na hora que escolherem. Aí entram minhas dúvidas. Os líderes não são onipotentes. Trabalham com as pequenas frustrações cotidianas. Num simples raciocínio de custo benefício, muitos podem negar apoio aos motins. Posso estar equivocado. Gostaria de verificar isso num processo de discussão com as pessoas que têm alguma experiência de cadeia. A ausência desse processo é também de minha responsabilidade. São Paulo dói, e, mais do que nunca, é hora de nos declararmos paulistas

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Internet – Blog provoca demissão.

A inglesa Catherine mora em Paris onde é secretária de uma empresa de contabilidade.Catherine mantém um blog que foi inspirado no blog de uma prostituta francesa chamada de “Belle de Jour”. www.belledejour-uk.blogspot.com O blog da inglesa, www.petiteanglaise.com foi citado como destaque pelo jornal The Guardian. Agora, ela foi demitida por justa causa, alegando, a empresa, que o blog – embora ela escrevesse sob pseudônimo – comprometia o nome da empresa. No blog, Catherine posta comentários sobre o seu relacionamento com o pai de sua filha de 3 anos, que ela conheceu através de comentários que ele, identificado como “Mr.Frog”, postava no blog. Catherine entrou na Justiça contra a empresa e o caso acabou ganhando as páginas dos sites de notícias e jornais europeus. Para saber mais:http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/5195714.stm

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