Arquivo

T.S.Eliot – Poesia – tarde – 26/04/24

Boa noite. Gerontion’s – Parte I T.S.Eliot Thou hast nor youth nor age, But, as it were, an after dinner’s sleep, Dreaming on both. (William Shakespeare, Measure for Measure, “Não és jovem nem velho, / mas como, se após o jantar adormecesses,/ Sonhando que ambos fosses.”) Eis-me aqui, um velho em tempo de seca, Um jovem lê para mim, enquanto espero a chuva. Jamais estive entre as ígneas colunas Nem combati sob as centelhas de chuva Nem de cutelo em punho, no salgado imerso até os joelhos, Ferroado de moscardos, combati. Minha casa é uma casa derruída, E no peitoril da janela acocora-se o judeu, o dono, Desovado em algum barzinho de Antuérpia, coberto De pústulas em Bruxelas, remendado e descascado em Londres. O bode tosse à noite nas altas pradarias; Rochas, líquen, pão-dos-pássaros, ferro, bosta. A mulher cuida da cozinha, faz chá, Espirra ao cair da noite, cutucando as calhas rabugentas. E eu, um velho, Uma cabeça oca entre os vazios do espaço. Tomaram-se os signos por prodígios: “Queremos um signo!” A Palavra dentro da palavra, incapaz de dizer uma palavra, Envolta nas gazes da escuridão. Na adolescência do ano Veio Cristo, o tigre. Em maio cqrrupto, cornisolo e castanha, noz das faias-da-judéia, A serem comidas, bebidas, partilhadas Entre sussurros; pelo Senhor Silvero Com suas mãos obsequiosas e que, em Limoges, No quarto ao lado caminhou a noite inteira; Por Hakagawa, a vergar-se reverente entre os Ticianos; Por Madame de Tornquist, a remover os castiçais No quarto escuro, por Fraülein von Kulp, A mão sobre a porta, que no vestíbulo se voltou. Navetas ociosas Tecem o vento. Não tenho fantasmas, Um velho numa casa onde sibila a ventania Ao pé desse cômoro esculpido pelas brisas Tradução Ivan Junqueira 1 Thomas Stearns Eliot * Nuneaton, Reino Unido – 22 de novembro de 1819 + Chelsea, Londres, Reino Unido – 22 de dezembro de 1880 Gerontion é um poema feito por T. S. Eliot que foi primeiramente publicado em 1920. O especialista de obras de Eliot, Grover Smith, disse sobre o poema: “Se alguma noção continuou disto nos poemas de 1917, Eliot estava sentimentalmente contrastando um passado resplendor com um presente triste, Gerontion veio para dissipar isto.” Outros poetas e artistas anglófonos utilizam trechos do poema para citar em suas obras. São formas de comunicação que Eliot estabelece com seu público para que este entenda que há algo maior em jogo. E o que é que está em jogo? Nada menos que todo o problema da tradição, considerada já em inícios do século XX como um cadáver que precisava ser eliminado da cultura ocidental e substituído por uma nova maneira de olhar o mundo – o modernismo revolucionário que viria a transformar a estrutura da realidade em um pesadelo. De suas janelas ventosas Gerontion olha para uma colina estéril: mais uma vez o olho sobe para descer em um abismo, revertendo o movimento de Dante e os santos cristãos que seguiram a “Descida de Santo Agostinho para que possa subir”. A mente de Gerontion vaga para trás, no entanto, não para cima – já em 480 aC ea batalha de Thermopylae (que se traduz como “portões quentes”), em seguida, avançar através de uma série de guerras que Gerontion sente teria compensado ele se ele tivesse estado lá lutar. Ele pensa na história como um sistema de corredores engenhosamente planejados para confundir e finalmente corromper a raça humana. História é uma “ela” – como sua velha governanta, cutucando um dreno entupido; Também como Fräulein von Kulp (para culpa?) Que se voltou sedutoramente no corredor; Ou a mística Madame de Tornquist (um torniquete, ou parafuso para parar o sangue?). Como essas mulheres, a história não leva a nada senão a corrupção. Ela “dá muito tarde ou muito cedo”, como uma mulher frustrante, e ela deixa seu amante não só de má vontade, mas assustado. Os esforços heróicos para satisfazer as exigências obscuras da história levaram a nada além de crueldade e ódio. E nesta história “veio Cristo o tigre”. Gerontion pensa da vinda de Christ em duas maneiras, primeiramente como um infante inútil e então como um tigre caçado. Esta parte do poema costuma ser mal interpretada, porque ninguém observa que Eliot deixou intencionalmente a frase emprestada de Lancelot Andrewes com “a Palavra” sem capitalização. Assim, em “Gerontion” lemos apenas de “A palavra dentro de uma palavra, incapaz de falar uma palavra.” Eliot sabia o que ele era quando ele restaurou a capital em “A Song for Simeon” e “Ash-Wednesday” (1930): “A palavra dentro da palavra [bíblica], incapaz de falar uma palavra”. Como Gerontion reflete, a resposta ao clamor dos filisteus por um “sinal” foi decepcionante Uma criança sem palavras, que passou da escuridão do inverno e das faixas para uma mola “depravada”, quando se transformou em um tigre ravening – um animal sacrificial que na vida contemporânea é caçado e comido por transientes bloodless como os pensionistas Silvero, Hakagawa, Fräulein von Kulp, e Madame de Tornquist. “O tigre nasce no ano novo” faz “molas” uma syllepsis, ou trocadilho, significando tanto “surge como uma primavera rejuvenescedora” e “pounces como um animal assassino”. Em João 6: 52-58, Jesus diz que aqueles que levam seu corpo e sangue para se tornarem um com ele em comunhão viverão eternamente, enquanto aqueles que o rejeitam morrerão. Gerontion conclui que esta doutrina moribunda veio devorar aqueles que não devoram “o tigre”, como fazem os pensionistas de Gerontion. Para eles, a refeição ritual não é “comunhão”, mas um canibal “divisão”. “Depois de tal conhecimento”, de fato, “que perdão?” Eloise Knapp Hay – Da maneira negativa de TS Eliot . Harvard University Press, 1982

Leia mais »

Adélia Prado – Poesia – 23/04/24

Boa noite Contramor Adélia Prado¹ O amor tomava a carne das horas e sentava-se entre nós. Era ele mesmo a cadeira, o ar, o tom da voz: Você gosta mesmo de mim? Entre pergunta e resposta, vi o dedo, o meu, este que, dentro de minha mãe, a expensas dela formou-se e sem ter aonde ir fica comigo, serviçal e carente. Onde estás agora? Sou-lhe tão grata, mãe, sinto tanta saudade da senhora… Fiz-lhe uma pergunta simples, disse o noivo. Por que esse choro agora? ¹Adélia Luzia Prado Freitas * Divinópolis, MG. – 13 de Dezembro de 1935 d.C

Leia mais »

Jorge Luis Borges – Poesia – 21/04/24

Boa noite. Aqui. Hoje Jorge Luis Borges ¹ Já somos o esquecimento que seremos. A poeira elementar que nos ignora e que foi o ruivo Adão e que é agora todos os homens e que não veremos. Já somos na tumba as duas datas do princípio e do término, o esquife, a obscena corrupção e a mortalha, os ritos da morte e as elegias. Não sou o insensato que se aferra ao mágico sonido de teu nome: penso com esperança naquele homem que não saberá que fui sobre a Terra. Embaixo do indiferente azul do céu esta meditação é um consolo. (Tradução: Charles Kiefer) ¹ Jorge Luis Borges * Buenos Aires, Argentina – 24 de Agosto de 1899 d.C + Genebra, Suíça – 14 de Junho de 1986 d.C

Leia mais »

Miguel Torga – Poesia – 18/04/24

Boa noite. Recomeça Miguel Torga¹ Se puderes Sem angústia E sem pressa. E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro Dá-os em liberdade. Enquanto não alcances Não descanses. De nenhum fruto queiras só metade.   E, nunca saciado, Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. Sempre a sonhar e vendo O logro da aventura. És homem, não te esqueças! Só é tua a loucura Onde, com lucidez, te reconheças…   ¹Adolfo Correia da Rocha *Sabrosa, Portugal – de agosto de 1907 +Coimbra, Portugal – 17 de janeiro de 1995

Leia mais »

Carol Ann Duffy – Poesia – 05/04/24

Boa noite. Namorada Carol Ann Duffy ¹ Não uma rosa vermelha ou um coração de cetim. Ofereço-te uma cebola. É uma lua embrulhada em papel castanho. Promete luz tal como o cuidadoso desnudamento do amor. Aqui. Vai cegar-te com lágrimas tal como um amante. Vai fazer do teu reflexo uma fotografia tremida de dor. Tento ser verdadeira. Não uma carta engraçada ou uma quantidade de beijos. Ofereço-te uma cebola. Os seus beijos violentos permanecerão nos teus lábios, possessivos e fiéis como nós somos, enquanto continuarmos a ser. Aceita-a. Se o desejares os seus anéis de platina servem de alianças. Letais. O seu cheiro vai agarrar-se aos teus dedos, agarrar-se à tua faca. ¹ Carol Ann Duffy * Glasgow, Escócia – 23 de dezembro de 1955 d.C

Leia mais »

Octavio Paz – Poesia – 03/04/24

Boa noite Escrito com tinta verde Octavio Paz¹ A tinta verde cria jardins, selvas, prados, folhagens onde gorjeiam letras, palavras que são árvores, frases de verdes constelações. Deixa que minhas palavras, ó branca, desçam e te cubram como uma chuva de folhas a um campo de neve, como a hera à estátua, como a tinta a esta página. Braços, cintura, colo, seios, fronte pura como o mar, nuca de bosque no outono, dentes que mordem um talo de grama. Teu corpo se constela de signos verdes, renovos num corpo de árvore. Não te importe tanta miúda cicatriz luminosa: olha o céu e sua verde tatuagem de estrelas. (Trad. Haroldo de Campos) ¹Octavio Paz * Cidade do México, México – 31 de Março de 1914 d.C + Cidade do México, México – 20 de Abril de 1998 d.C

Leia mais »

Alfonsina Storni – Poesia – 30/03/24

Boa noite A carícia perdida Alfonsina Storni¹ Sai-me dos dedos a carícia sem causa, Sai-me dos dedos… No vento, ao passar, A carícia que vaga sem destino nem fim, A carícia perdida, quem a recolherá? Posso amar esta noite com piedade infinita, Posso amar ao primeiro que conseguir chegar. Ninguém chega. Estão sós os floridos caminhos. A carícia perdida, andará… andará… Se nos olhos te beijarem esta noite, viajante, Se estremece os ramos um doce suspirar, Se te aperta os dedos uma mão pequena Que te toma e te deixa, que te engana e se vai. Se não vês essa mão, nem essa boca que beija, Se é o ar quem tece a ilusão de beijar, Ah, viajante, que tens como o céu os olhos, No vento fundida, me reconhecerás. Tradução de Carlos Seabra ¹Alfonsina Storni * Sala Capriasca, Suíça 29 de maio de 1892 d.C + Mar del Plata, Argentina; 25 de outubro de 1938 d.C

Leia mais »

Gito Minore – Poesia – 29/03/24

Boa noite. Mar Abierto¹ Gito Minore² Sobre tu piel naufragan restos mortales de antiguos dolores. El mérito de este pirata recaerá en la habilidad de reciclar los viejos trastos para navegarte con incierta elegancia, o bien, en empeñar las últimas balas derrivando los arcaicos vestigios y, una vez, sin horizontes nadar a la deriva tu mar abierto. ¹Não ousei traduzir. ²Gito Minore * Buenos Aires, Argentina – 24 de Abril de 1974 Publicou seu primeiro livro de poesias “Emociones Alternas” em 1995, depois disso publicou outros livros de poesias todos de forma independente. Participa desde 1994 de diversas publicações culturais com poemas, contos e artigos. Em 2002 lançou seu primeiro CD, uma obra musical que inclui 12 dos poemas de seu livro “Fuego en el Pecho”.

Leia mais »

Omar Khayyam – Poesia – 18/03/24

Boa noite Rubaiyat (extrato) Omar Khayyam¹ Noite, silêncio, folhas imóveis; imóvel o meu pensamento. Onde estás, tu que me ofereceste a taça? Hoje caiu a primeira pétala. Eu sei, uma rosa não murcha perto de quem tu agora sacias a sede; mas sentes a falta do prazer que eu soube te dar, e que te fez desfalecer. Acorda… e olha como o sol em seu regresso vai apagando as estrelas do campo da noite; do mesmo modo ele vai desvanecer as grandes luzes da soberba torre do Sultão. ¹Ghiyath Al Din Abul Fateh Omar Ibn Ibrahim Al Khayyam * Nishapur, Pérsia – 18 de maio de 1048 d.C + 4 de dezembro de 1131 d.C

Leia mais »

Masao Kato – Poesia – 17/03/24

Boa noite Para Mônica em quimono, no seu quinto aniversário Masao Kato¹ Como cantar beleza assim tão rara? Vendo-te – a mais formosa entre as formosas – adivinho-te o corpo, a carne clara, no quimono de curvas caprichosas. Com suas cores suaves, harmoniosas, listrado em tons que alguém jamais sonhara: ofusca, em Maio, as cores mais verdosas, com seu frescor que a nada se compara. Nele, teu porte sempre calmo e nobre dá-te ao gesto e às feições toda a expressão: é um símbolo da graça que te cobre com o fascínio da velha tradição! Desejo-te hoje: o sonho já colhido, e o canto da beleza em teu ouvido! Trad. do inglês, de Luís Antônio Pimentel ¹Masao Kato Nota do editor Tomei conhecimento da nova poesia contemporânea do Japão, através de uma coletânea feita por J.G de Araújo Jorge, no livro ” Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou”. Não disponho de dados biográficos desse poeta japonês.

Leia mais »