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Elisa Lucinda – Poesia – 08/09/24

Boa noite. Da Chegada do Amor Elisa Lucinda ¹ Sempre quis um amor que falasse que soubesse o que sentisse. Sempre quis um amor que elaborasse Que quando dormisse ressonasse confiança no sopro do sono e trouxesse beijo no clarão da amanhecice. Sempre quis um amor que coubesse no que me disse. Sempre quis uma meninice entre menino e senhor uma cachorrice onde tanto pudesse a sem-vergonhice do macho quanto a sabedoria do sabedor. Sempre quis um amor cujo BOM DIA! morasse na eternidade de encadear os tempos: passado presente futuro coisa da mesma embocadura sabor da mesma golada. Sempre quis um amor de goleadas cuja rede complexa do pano de fundo dos seres não assustasse. Sempre quis um amor que não se incomodasse quando a poesia da cama me levasse. Sempre quis uma amor que não se chateasse diante das diferenças. Agora, diante da encomenda metade de mim rasga afoita o embrulho e a outra metade é o futuro de saber o segredo que enrola o laço, é observar o desenho do invólucro e compará-lo com a calma da alma o seu conteúdo. Contudo sempre quis um amor que me coubesse futuro e me alternasse em menina e adulto que ora eu fosse o fácil, o sério e ora um doce mistério que ora eu fosse medo-asneira e ora eu fosse brincadeira ultra-sonografia do furor, sempre quis um amor que sem tensa-corrida-de ocorresse. Sempre quis um amor que acontecesse sem esforço sem medo da inspiração por ele acabar. Sempre quis um amor de abafar, (não o caso) mas cuja demora de ocaso estivesse imensamente nas nossas mãos Sem senões. Sempre quis um amor com definição de quero sem o lero-lero da falsa sedução. Eu sempre disse não à constituição dos séculos que diz que o “garantido” amor é a sua negação. Sempre quis um amor que gozasse e que pouco antes de chegar a esse céu se anunciasse. Sempre quis um amor que vivesse a felicidade sem reclamar dela ou disso. Sempre quis um amor não omisso e que sua estórias me contasse. Ah, eu sempre quis uma amor que amasse. ¹ Elisa Lucinda * Vitória, ES. – 2 de Fevereiro de 1958 d.C

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Adalgisa Nery – Poesia – 25/08/2024

Boa noite Escuro Adagisa Nery¹ Que estranho terreno inexplorado Na área escura do meu cérebro Impede o conhecimento de mim mesma? Muralha intransponível Que frustra o meu acordar Para retroceder ao princípio do princípio Das coisas irrepetidas. Estranha área do escuro Onde estaria o berço da luz única Fechada em mão intocável, Luz que explicaria a vida na escuridão, e Não vedaria o despertar de mim mesma. Que estranha área de trevas no meu cérebro Impede o meu espírito de receber a luz divina? ¹Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira * Rio de Janeiro, RJ. – 29 de outubro de 1905 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 7 de junho de 1980 d.C

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Dante Milano – Poesia – 23/08/24

Boa noite. Poema do falso amor Dante Milano ¹ O falso amor imita o verdadeiro Com tanta perfeição que a diferença Existente entre o falso e o verdadeiro É nula. O falso amor é verdadeiro E o verdadeiro falso. A diferença Onde está? Qual dos dois é o verdadeiro? Se o verdadeiro amor pode ser falso E o falso ser o verdadeiro amor, Isto faz crer que todo amor é falso Ou crer que é verdadeiro todo amor. Ó verdadeiro Amor, pensam que és falso! Pensam que és verdadeiro, ó falso Amor! ¹Dante Milano * Barra de S. João, RJ – 16 de Janeiro de 1899 d.C + Petrópolis, Rio de Janeiro – 15 de Abril 1991 d.C

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Ferreira Gullar – Poesia – 16/08/24

Boa noite. Um Ferreira Gullar¹ Aqui me tenho Como não me conheço nem me quis sem começo nem fim aqui me tenho sem mim nada lembro nem sei à luz presente sou apenas um bicho transparente ¹José Ribamar Ferreira * São Luiz, MA. – 10 de Setembro de 1930 d.C

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João Cabral de Melo Neto – Poesia – 08/08/24

Boa noite. A Educação pela Pedra João Cabral de Melo Neto Uma educação pela pedra: por lições; Para aprender da pedra, frequentá-la; Captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria Ao que flui e a fluir, a ser maleada; A de poética, sua carnadura concreta; A de economia, seu adensar-se compacta: Lições da pedra (de fora para dentro, Cartilha muda), para quem soletrá-la. Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, E se lecionasse, não ensinaria nada; Lá não se aprende a pedra: lá a pedra, Uma pedra de nascença, entranha a alma. *João Cabral de Melo Neto * Recife,PE. – 9 de janeiro de 1920 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 9 de outubro de 1999 d.C

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J.G de Araújo Jorge – 01/08/24

Boa noite Bilhete J.G. de Araújo Jorge¹ O teu vulto ficou na lembrança guardado, vivo, por muitas horas!… e em meus olhos baços Fitei-te – como alguém que ansioso e torturado Tentasse inutilmente reavivar teus traços… Num relance te vi – depois, quase irritado Fugi, – e reparei que ao marcar os meus passos ia a dizer teu nome e a ver por todo lado o teu vulto… o teu rosto… e o clarão dos teus braços! Talvez eu faça mal em querer ser sincero, censurarás – quem sabe? Essa minha ousadia, e pensarás até que minto, e que exagero… Ou dirás, que eu falar-te nesse tom, não devo, que o que escrevo é infantil e absurdo, é fantasia, e afinal tens razão… nem sei por que te escrevo! Extraído do livro “Meu Céu Interior” 1ª edição, setembro,1934 ¹José Guilherme de Araújo Jorge * Taraucá, AC. – 20 de Maio de 1914 + Rio de Janeiro, RJ. – 27 de Janeiro 1987

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Luis Carlos Mordegane – Versos na tarde – 07/08/2016

Boa noite Carinho Luis Carlos Mordegane ¹ São massagens que recebemos em nosso ego, Com as mãos delicadamente deslizando Por nosso eu, com toque suave… Toque este tão indispensável, Tão necessário às nossas vidas. Quem, em sã consciência, Não gosta de ser amado, Querido, desejado? Quando tocamos alguém É sinal que estamos felizes com sua presença, Felizes por tê-la ali naquele momento… Falar daquele jeitinho e com certo dengo, É uma forma de carinho. Quando então acariciamos alguém E somos por ele acariciados, É tão bom! E nos alivia a alma… Sendo a voz, a mais eloqüente forma De propagar amor e carinho. E quando é sussurrada aos nossos ouvidos, Com toda pujança e carinho, Por quem amamos, transforma-se Em mensagem de ternura, Em canto e acordes musicais, Levando ao nosso coração, A mais suave canção melódica… Luis Carlos Mordegane * São Bernardo do Campo. SP. – 28 de Maio

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Miguel Torga – Poesia – 19/07/24

Boa noite Poema Miguel Torga ¹ A jovem deusa passa Com véus discretos sobre a virgindade; Olha e não olha, como a mocidade; E um jovem deus pressente aquela graça.   Depois, a vide do desejo enlaça Numa só volta a dupla divindade; E os jovens deuses abrem-se à verdade, Sedentos de beber na mesma taça.   É um vinho amargo que lhes cresta a boca; Um condão vago que os desperta e toca De humana e dolorosa consciência.   E abraçam-se de novo, já sem asas. Homens apenas. Vivos como brasas, A queimar o que resta da inocência.   ¹ Adolfo Correia da Rocha * Saborosa, Portugal – 12 de agosto de 1907 + Coimbra, Portugal – 17 de janeiro de 1995

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Mia Couto – Poesia – 13/07/24

Boa noite Beijo Não quero o primeiro beijo: Basta-me O instante antes do beijo.   Quero-me Corpo ante abismo, Terra no rasgão do sismo.   O lábio ardendo Entre tremor e temor, O escurecer da luz No desaguar dos corpos: O amor Não tem depois.   Quero o vulcão Que na terra não toca: O beijo antes de ser boca.   ¹Antônio Emílio Leite Couto *Beira, Moçambique – 5 de Julho de 1955

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Sylvia Plath – Poesia – 01/07/24

Boa noite Canção de Amor da Jovem Louca Sylvia Plath¹ Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer (Acho que te criei no interior da minha mente) Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis, Entra a galope a arbitrária escuridão: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama, Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade. (Acho que te criei no interior de minha mente) Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno: Retiram-se os serafins e os homens de Satã: Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro. Imaginei que voltarias como prometeste Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome. (Acho que te criei no interior de minha mente) Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro: (Acho que te criei no interior de minha mente.) Tradução de Maria Luíza Nogueira ¹Sylvia Plath * Boston,Massachusetts – 27 de outubro de 1932 +Londres, Reino Unido – 11 de fevereiro de 1963

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