Jorge Luiz Borges – Poesia – 08/11/24

Boa noite
Sou
Jorge Luiz Borges

Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.

Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada.Jorge Luis Borges, in “A Rosa Profunda”

¹Jorge Luis Borges
 * Buenos Aires, Argentina – 24 de Agosto de 1899

+ Genebra, Suíça – 14 de Junho de 1986

Share the Post:

Artigos relacionados