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Pablo Neruda – Versos na tarde – 12/09/2014

Soneto XXVII Pablo Neruda ¹ Cantas e a sol e a céu com teu canto tua voz debulha o cereal do dia, falam os pinheiros com sua língua verde: trinam todas as aves do inverno. O mar enche seus porões de passos, de sinos, cadeias e gemidos, tilintam metais e utensílios, chiam as rodas da caravana. Mas só tua voz escuto e sobe tua voz com vôo e precisão de flecha, desce tua voz com gravidade de chuva, tua voz esparge altíssimas espadas volta tua voz pesada de violetas e logo me acompanha pelo céu. ¹ Neftalí Ricardo Reyes * Parral, Chile – 12 de Julho de 1904 d.C + Santiago, Chile – 23 de Setembro de 1973 d.C Prêmio Nobel de Literatura em 1971 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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William Shakespeare – Versos na tarde – 03/09/2014

Soneto 35 William Shakespeare ¹ Não chores mais o erro cometido; Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho; O sol no eclipse é sol obscurecido; Na flor também o inseto faz seu ninho; Erram todos, eu mesmo errei já tanto, Que te sobram razões de compensar Com essas faltas minhas tudo quanto Não terás tu somente a resgatar; Os sentidos traíram-te, e meu senso De parte adversa é mais teu defensor, Se contra mim te escuso, e me convenço Na batalha do ódio com o amor: Vítima e cúmplice do criminoso, Dou-me ao ladrão amado e amoroso. ¹ William Shakespeare * Stratford-Avon, Inglaterra – 23 de Abril de 1564 d.C + Londres, Inglaterra – 23 de Abril de 1616 d.C >> biografia [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Augusto dos Anjos – Versos na tarde – 06/05/2014

Vandalismo Augusto dos Anjos¹ Meu coração tem catedrais imensas, Templos de priscas e longínquas datas, Onde um nume de amor, em serenatas, Canta a aleluia virginal das crenças. Na ogiva fúlgida e nas colunatas Vertem lustrais irradiações intensas Cintilações de lâmpadas suspensas E as ametistas e os florões e as pratas. Como os velhos Templários medievais Entrei um dia nessas catedrais E nesses templos claros e risonhos… E erguendo os gládios e brandindo as hastas, No desespero dos iconoclastas Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos! *Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos * Espírito Santo,Pb – 20 de abril de 1894 + Leopoldina,Mg – 12 de novembro de 1914 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Antônio Botto – Versos na tarde – 26/04/2014

Soneto Antônio Botto ¹ Quanto, quanto me queres? – perguntaste Numa voz de lamento diluída; E quando nos meus olhos demoraste A luz dos teus senti a luz da vida. Nas tuas mãos as minhas apertaste; Lá fora da luz do Sol já combalida Era um sorriso aberto num contraste Com a sombra da posse proibida… Beijámo-nos, então, a latejar No infinito e pálido vaivém Dos corpos que se entregam sem pensar… Não perguntes, não sei – não sei dizer: Um grande amor só se avalia bem Depois de se perder. ¹ Antônio Tomás Botto * Concavada, Abrantes, Portugal – 17 de Agosto de 1897 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 16 de Março de 1959 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Gilka Machado – Versos na tarde – 21/04/2014

Symbolos Gilka Machado ¹ Eu e tu, ante a noute e o amplo desdobramento do mar fero, a, estourar de encontro á rocha nua. Um symbolo descubro aqui, neste momento; esta rocha e este mar… a minha vide e a tua… O mar vem… o mar vae…. nelle ha o gesto violento de quem maltrata e, após, se arrepende e recúa… Como eu comprehendo bem da rocha o sentimento! são bem eguaes, por certo, a minha magua, e a sua! Symbolisa este quadro a nossa propria vida: tu és esse mar bravio, inconstante e inclemente, com carinhos de amante e furias de demente; eu sou a dôr parada, a dôr empedernida, eu sou aquella rocha encravada na areia, alheia ao mar que a punge, ao mar que a afaga alheia… In Estados da alma: poesias. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1917. (conservando a ortografia original…) ¹ Gilka da Costa de Melo Machado *Rio de Janeiro, RJ – 1893 d.C + Rio de Janeiro, RJ – 1980 d.C Casou-se com o poeta Rodolfo de Melo Machado em 1910. Teve dois filhos: Helio e Eros. O marido, Rodolfo, faleceu em 1923. Seu primeiro livro de poesia, “Cristais Partidos”, foi publicado em 1915. Em 1916 foi publicada sua conferência “A Revelação dos Perfumes”, no Rio de Janeiro. Em 1917 publicou “Estados de Alma” e, em seguida, no ano de 1918, “Poesias, 1915/1917”, “Mulher Nua”, em 1922, “O Grande Amor”, “Meu Glorioso Pecado”, em 1928, e “Carne e Alma”, em 1931. Em 1932, foi publicada em Cochabamba, Bolívia, a antologia “Sonetos y Poemas de Gilka Machado”, com prefácio Antonio Capdeville. No ano seguinte, a escritora foi eleita “a maior poetisa do Brasil”, por concurso da revista “O Malho”, do Rio de Janeiro. “Sublimação” foi publicada em 1938, “Meu Rosto” em 1947, “Velha Poesia” em 1968 e suas “Poesias Completas” editadas em 1978. Em 1979, foi agraciada com o prêmio Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras. Nesse mesmo ano a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro prestou homenagem à mulher brasileira na pessoa da poeta. Escreveu versos, sendo simbolista, considerados escandalosos no começo do século XX, por seu marcante erotismo. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Anibal Beça – Versos na tarde – 19/04/2014

Simples soneto Anibal Beça ¹ Desejado soneto este que é escrito sem as firulas graves do solene, que leva na palavra o simples rito da fala cotidiana. Não condene no entanto, a falta de um estro especioso, nem de brega rotule esse meu vezo. Apenas sinta o som oco e poroso do fundo mar de anêmonas, o peso rarefeito das algas nos peraus. Essa cantiga filtra nossos medos, as culpas e os tabus, e dá-me o aval para buscar o simples e em querê-lo ornamento de estética espartana na faxina ao supérfluo que se espana. ¹ Anibal Augusto Ferro de Madureira Beça Neto * Manaus, AM. – 13 de setembro de 1946 d.C Anibal Beça é o nome literário de Anibal Augusto Ferro de Madureira Beça Neto. Poeta, tradutor, compositor, teatrólogo e jornalista brasileiro. Trabalhou como repórter, redator e editor, em todos os jornais de Manaus. Foi diretor de produção da TV Cultura do Amazonas, Conselheiro de Cultura, consultor da Secretaria de Cultura do Amazonas. Vice-presidente da UBE-AM União Brasileira de Escritores, presidente da ONG “Gens da Selva”, onde atualmente exerce o cargo de vice-presidente, bem como de presidente do Sindicato de Escritores do Estado do Amazonas e presidente do onselho Municipal de Cultura é membro da Academia Amazonense de Letras. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Petrarca – Versos na tarde – 14/04/2014

Soneto #256 Petrarca ¹ Bendito o dia e o mês, o ano e a estação, e o tempo e a hora e o ponto e o bel país, e esse lugar, onde alcançar me fiz por belos olhos pondo-me em prisão; e bendita a primeira turvação que por ligado a Amor tive infeliz, e o arco e as setas que a pungir-me quis e as chagas vindo ao fim ao coração. Bendita tanta voz que em chamamento do nome a minha dama eu espalhei, e suspiros, desejos e lamento; e benditos papéis em que ganhei a fama que hoje tenho e o pensamento que é tão bela que a mais nenhuma o dei. ¹ Francisco Petrarca * Arezzo, Itália – 20 de Julho de 1304 d.C + Pádua, Itália – 19 de Julho de 1374 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Shakespeare – Versos na tarde – 05/03/2014

Soneto 29 William Shakespeare ¹ Quando, malquisto da fortuna e do homem, Comigo a sós lamento o meu estado, E lanço aos céus os ais que me consomem, E olhando para mim maldigo o fado; Vendo outro ser mais rico de esperança, Invejando seu porte e os seus amigos; Se, invejo de um a arte, outro a bonança, Descontente dos sonhos mais antigos; Se, desprezado e cheio de amargura, Penso um momento em vós logo, feliz, Como a ave que abre as asas para a altura, Esqueço a lama que o meu ser maldiz: Pois tão doce é lembrar o que valeis Que está sorte eu não troco nem com reis. ¹ William Shakespeare * Stratford-Avon, Inglaterra – 23 de Abril de 1564 d.C + Londres, Inglaterra – 23 de Abril de 1616 d.C >> biografia de Shakespeare [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Pierre de Ronsard – Versos na tarde – 28/05/2013

Soneto a Helena Pierre de Ronsard¹ Quando fores bem velha, à noite, á luz da vela Junto ao fogo do lar, dobando o fio e fiando, Dirás, ao recitar meus versos e pasmando: Ronsard me celebrou no tempo em que fui bela. E entre as servas então não ha de haver aquela Que, já sob o labor do dia dormitando, Se o meu nome escutar não vá logo acordando E abençoando o esplendor que o teu nome revela. Sob a terra eu irei, fantasma silencioso, Entre as sombras sem fim procurando repouso: E em tua casa irás, velhinha combalida, Chorando o meu amor e o teu cruel desdém. Vive sem esperar pelo dia que vem; Colhe hoje, desde já, colhe as rosas da vida. (Ronsard, tradução de Guilherme de Almeida). ¹Pierre de Ronsard * França – 1524 d.C + França -1585 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Raul de Leoni – Versos na tarde – 26/04/2013

Argila Raul de Leoni¹ Nascemos um para o outro, dessa argila De que são feitas as criaturas raras; Tens legendas pagãs nas carnes claras E eu tenho a alma dos faunos na pupila… Às belezas heróicas te comparas E em mim a luz olímpica cintila, Gritam em nós todas as nobres taras Daquela Grécia esplêndida e tranquila… É tanta a glória que nos encaminha Em nosso amor de seleção, profundo, Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis) Se um dia eu fosse teu e fosses minha, O nosso amor conceberia um mundo E do teu ventre nasceriam deuses… ¹Raul de Leoni * Rio de Janeiro, RJ. – 1895 d.C + Itaipava, RJ. – 1926 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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