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Jean Paul Sartre – Reflexões na tarde – 29/03/2015

O ser e o nada Jean Paul Sartre ¹ Mas se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço do existencialismo é o de pôr todo homem no domínio do que ele é e de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens. (…) Realmente, só pelo fato de ser consciente das causas que inspiram minhas ações, estas causas já são objetos transcendentes para minha consciência; elas estão fora. Em vão tentaria apreendê-las. Escapo delas pela minha própria existência. Estou condenado a existir para sempre além da minha essência, além das causas e motivos dos meus atos. Estou condenado a ser livre. Isso quer dizer que nenhum limite para minha liberdade pode ser estabelecido exceto a própria liberdade, ou, se você preferir; que nós não somos livres para deixar de ser livres. ¹ Jean-Paul Sartre, in O Ser e o Nada * Paris, 21 de Junho de 1905 d.C + Paris, 15 de Abril de 1980 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Renata Villela – Reflexões na tarde – 18/01/2015

Deficiente Renata Villela ¹ “Deficiente” é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino. “Louco” é quem não procura ser feliz com o que possui. “Cego” é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores. “Surdo” é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês. “Mudo” é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. “Paralítico” é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. “Diabético” é quem não consegue ser doce . “Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer. E “Miserável” somos todos que não conseguimos falar com Deus. ¹ Renata Villela Nascida no Rio de Janeiro, é professora especializada em educação infantil para portadores de necessidades especiais. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Reflexões na tarde – Eça de Queiroz – 30/11/2014

Eça de Queirós ¹ “Só quando crescemos, e da animalidade penetramos na humanidade, é que desponta em nós esse fermento da tristeza, por muito tempo indesenvolvido no tumulto das primeiras curiosidades, e que depois alastra-nos, invade-nos todo, torna-se consubstancial como o sangue de nossas veias. Miséria do corpo, tormento da vontade, fastio da inteligência, amargura das desilusões, o orgulho chocando com os obstáculos. Eis a tristeza, caro amigo!” ¹ José Maria Eça de Queirós * Póvoa de Varzim, Portugal – 25 de Novembro de 1845 d.C + Paris, França – 16 de Agosto de 1900 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Paulo Mendes Campos – Reflexões na tarde – 27/10/2014

Acorrentados Paulo Mendes Campos ¹ Quem coleciona selos para o filho do amigo; quem acorda de madrugada e estremece no desgosto de si mesmo ao lembrar que há muitos anos feriu a quem amava; quem chora no cinema ao ver o reencontro de pai e filho; quem segura sem temor uma lagartixa e lhe faz com os dedos uma carícia; quem se detém no caminho para ver melhor a flor silvestre; quem se ri das próprias rugas; quem decide aplicar-se ao estudo de uma língua morta depois de um fracasso sentimental; quem procura na cidade os traços da cidade que passou; quem se deixa tocar pelo símbolo da porta fechada; quem costura roupa para os lázaros; quem envia bonecas às filhas dos lázaros; quem diz a uma visita pouco familiar: meu pai só gostava desta cadeira; quem manda livros aos presidiários; quem se comove ao ver passar de cabeça branca aquele ou aquela, mestre ou mestra, que foi a fera do colégio; quem escolhe na venda verdura fresca para o canário; quem se lembra todos os dias do amigo morto; quem jamais negligencia os ritos da amizade; quem guarda, se lhe deram de presente, o isqueiro que não mais funciona; quem, não tendo o hábito de beber, liga o telefone internacional no segundo uísque a fim de conversar com amigo ou amiga; quem coleciona pedras, garrafas e galhos ressequidos; quem passa mais de dez minutos a fazer mágicas para as crianças; quem guarda as cartas do noivado com uma fita; quem sabe construir uma boa fogueira; quem entra em delicado transe diante dos velhos troncos, dos musgos e dos líquens; quem procura decifrar no desenho da madeira o hieróglifo da existência; quem não se acanha de achar o pôr-do-sol uma perfeição; quem se desata em sorriso à visão de uma cascata; quem leva a sério os transatlânticos que passam; quem visita sozinho os lugares onde já foi feliz ou infeliz; quem de repente liberta os pássaros do viveiro; quem sente pena da pessoa amada e não sabe explicar o motivo; quem julga adivinhar o pensamento do cavalo; todos eles são presidiários da ternura e andarão por toda a parte acorrentados, atados aos pequenos amores da armadilha terrestre. Texto extraído do livro “O Anjo Bêbado”, Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1969, pág. 105. ¹ Paulo Mendes Campos * Belo Horizonte,MG – 28 Fevereiro 1922 d.C + Belo Horizonte,MG – 01 Julho 1991 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Schopenhauer – Reflexões na tarde – 26/09/2014

Disfarces da dor Schopenhauer ¹ Nossos esforços para banir a dor de nossa vida não conseguem outro resultado senão o de fazê-la mudar de forma. Em sua origem tomam o aspecto da necessidade, cuidado, para atender as coisas materiais da vida, e quando, após um trabalho incessante e penoso, conseguimos afastar a horrível máscara da dor neste determinado aspecto, adquire outros mil disfarces, segundo a idade e as circunstâncias: o instinto sexual, o amor apaixonado, a inveja, o rancor, os ciúmes, a ambição, a avareza, o temor, a enfermidade, etc. Toma o aspecto triste e desolado do tédio, da sociedade, quando não encontra outro modo de se apresentar. E se com novas armas conseguimos afastá-la novamente, recuperará sua antiga máscara, e a dança recomeça. ¹ Arthur Schopenhauer * Danzig,Prússia, atual Gdansk, Polônia – 1788 d.C + Frankfurt,Alemanha – 1860 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Jorge Luis Borges – Reflexões na tarde – 16/09/2014

O labirinto Jorge Luis Borges ¹ Este é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos naquela manhã e continuamos perdidos no tempo, esse outro labirinto. ¹ Jorge Luis Borges * Buenos Aires, Argentina – 24 de Agosto de 1899 d.C + Genebra, Suíça – 14 de Junho de 1986 d.C >>biografia [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Fiódor Dostoievsky – Reflexões na tarde – 15/08/2014

O Grande Inquisidor Sobre um trecho do livro os “Irmãos Karamazov” Fiódor Dostoievsky ¹ Ocasionalmente grafado como Dostoievsky …( Jesus havia voltado à terra e andava incógnito entre as pessoas Todos o reconheciam e sentiam o seu poder, mas ninguém se atrevia a pronunciar o seu nome. Não era necessário. De longe o Grande Inquisidor o observa no meio da multidão e ordena que ele seja preso e trazido à sua presença.. Então, diante do prisioneiro silencioso, ele profere a sua acusação )…“ “Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de consciência, mas também não há nada mais terrível. Em lugar de pacificar a consciência humana, de uma vez por todas, mediante sólidos princípios, Tu lhe ofereceste o que há de mais estranho, de mais enigmático, de mais indeterminado, tudo o que ultrapassava as forças humanas: a liberdade. Agiste, pois, como se não amasses os homens… Em vez de Te apoderares da liberdade humana, Tu a multiplicaste, e assim fazendo, envenenaste com tormentos a vida do homem, para toda a eternidade…” Os homens dizem amar a liberdade, mas, de posse dela, são tomados por um grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade dá medo. Os homens são pássaros que amam o vôo, mas têm medo dos abismos. Por isso abandonam o vôo e se trancam em gaiolas. Somos assim : sonhamos o vôo mas tememos a altura . Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram. É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas estivessem abertas. A verdade é oposto. Não há carcereiros. Os homens preferem as gaiolas aos vôos. São eles mesmos que constroem as gaiolas em que se aprisionam…” Deus dá a nostalgia pelo vôo. As religiões constroem gaiolas Os hereges são aqueles que odeiam as gaiolas e abrem as suas portas para que o Pássaro Encantado voe livre. Esse pecado, abrir as portas das gaiolas para que o Pássaro voe livre, não tem perdão. O seu destino é a fogueira. Palavra do Grande Inquisidor. 1 Fiódor Mikhailovich Dostoiévski * Moscou, Rússia – 11 de novembro de 1821 d.C + São Petersburgo, Rússia – 9 de Fevereiro de 1881 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Albert Camus – Reflexões na tarde – 10/08/2014

O Estrangeiro – extrato Albert Camus ¹ … “Caminhamos ao encontro do amor e do desejo. Não buscamos lições, nem a amarga filosofia que se exige da grandeza. Além do sol, dos beijos e dos perfumes selvagens, tudo o mais nos parece fútil. Quando a mim, não procuro estar sozinho nesse lugar. Muitas vezes estive aqui com aqueles que amava, e discernia em seus traços o claro sorriso que neles tomava a face do amor. Deixo a outros a ordem e a medida. Domina-me por completo a grande libertinagem da natureza e do mar. Nunca conseguira arrepender-me verdadeiramente de nada. Assaltaram-me as lembranças de uma vida que já não me pertencia, mas onde encontrara as mais pobres e as mais tenazes das minhas alegrias: cheiros de verão, o bairro que eu amava, um certo céu de entardecer, o riso e os vestidos de Marie. Respondi que nunca se muda de vida; que, em todo caso, todas se equivaliam, e que a minha, aqui, não me desagradava em absoluto. — Não, não consigo acreditar. Tenho certeza de que já lhe ocorreu desejar uma outra vida. Respondi-lhe que naturalmente, mas que isso era tão importante quanto desejar ser rico, nadar muito de pressa ou ter uma boca mais bem feita. Era da mesma ordem. Mas ele me deteve e quis saber como eu imaginava essa outra vida. Então gritei: — Uma vida na qual me pudesse lembrar desta vida. Também eu me sinto pronto a reviver tudo. Como se esta grande cólera me tivesse purificado do mal, esvaziado de esperança, diante desta noite carregada de sinais e de estrelas, eu me abria pela primeira vez à tenra indiferença do mundo. Por senti-lo tão parecido comigo, tão fraternal, enfim, senti que fora feliz e que ainda o era.” Albert Camus ¹ * Mondovi, Argélia – 7 de novembro de 1913 d.C + Villeblevin, França – 4 de janeiro de 1960 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Mário Quintana – Reflexões na tarde – 14/06/2014

Com o tempo você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o alguém da sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você. O segredo é não correr atrás das borboletas… é cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você! Mário de Miranda Quintana * Alegrete, RS. – 30 de Julho de 1906 d.C + Porto Alegre, RS. – 5 de Maio de 1994 d.C >> biografia de Mário Quintana [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Aíla Sampaio – Reflexões na tarde – 12/06/2014

Namorar… Aíla Sampaio 12 de junho, dia dos namorados. A gente sabe que é mais uma data para movimentar o comércio, alimentar o consumo, mas nem se rebela, por que é tão sublime a causa… namorar é bom demais. É colocar o pé no acelerador da vida. Olhar nos olhos e ter vontade de atravessar o mundo de mãos dadas, a pé, a pão e água. Dormir ao relento e não adoecer com o sereno. Abrir o mar com o pensamento, andar sobre as águas, pairar nas nuvens com a leveza dos deuses. Namorar é atravessar esquinas perigosas sem medo, é sobreviver ao perigo das epidemias, estar acima do bem e do mal. Essa visão romântica do namoro é a forma mais sutil de dizer que todas as catástrofes têm menor impacto quando estamos amando e sendo amados. Quando incontestavelmente admitimos que o outro não é perfeito e, nem por isso, seu beijo perde o sabor; quando não o enxergamos como um deus todo-poderoso – incorruptível pelas limitações humanas – mas apenas como um ser vulnerável, capaz de errar. Aceitamos suas manias, seus ranços, porque o amor ensina a respeitar sem autoflagelação. Aceitamos suas falhas e notamos que as nossas também são aceitas, conversadas sem dor. Sabe-se que a pessoa nem tem a beleza do Brad ou da Jolie, mas é muito mais poderosa que eles, porque nos arrebata com um simples olhar. Namorar é injetar sangue novo nas veias, ingerir um complexo vitamínico sem problema de superdosagem, recarregar as baterias gastas, reciclar as turbinas maltratadas em tantos pousos forçados. Namorar é partilhar emoções, gostos, cheiros; olhar o horizonte perdido na linha entre o céu e o mar, e crer que se pode chegar lá. Namorar é dividir pra somar, multiplicando-se. É segurar a mão pra atravessar a rua ou para ajudar a suportar uma derrota. É olhar nos olhos e ver o mundo num caleidoscópio mágico que gira sem parar e nunca perde as cores, nunca apaga a luz. É abraçar apertado com vontade de não soltar mais, mas soltar sempre, respeitar as distâncias, os silêncios, dar liberdade sem cobranças e ficar seguro. Só vale a pena namorar quem nos considera, nos dá tranquilidade e uma paz infinita; quem não representa, não age como se a vida fosse um jogo e você só uma peça dele. Às vezes nem é preciso o toque físico, namoramos uma fotografia, uma imagem guardada na memória, o flash de um momento mágico em que captamos a alma de alguém. Alguém que preenche as nossas lembranças, que nos acompanha nos pensamentos… basta tocar ‘aquela’ música, sentir ‘aquele’ cheiro… basta simplesmente acordar o desejo de estar perto, e tudo em volta cria ‘aquele’ rosto amado que nunca se mistura à multidão. Somos capazes de identificá-lo em qualquer tribo, em qualquer lugar, em qualquer tempo, entre milhares, milhões. E namoramos de olhos fechados, por conta das artimanhas da imaginação que funde real e fantasia. Mas o amor não é fantasia, não a que se usa quando se quer, pra representar o teatro da vida. O amor é a pele que veste nossa alma, é o sangue que escorre em nossas veias. Ninguém ama pela metade ou só de vez em quando. Quem ama sabe do poder das tempestades, dos cataclismas, dos avassaladores riscos de sofrer, mas ama, namora o amor e o dono desse amor. Pode até desistir do amado… nunca do sentimento que tem por ele. Namora a incerteza e a desilusão, mas lava-as com as lágrimas e namora a esperança, essa velhinha de cabelos brancos e óculos, que nos motiva a sonhar mesmo quando os pesadelos se anunciam. Aíla Sampaio * Fortaleza, Ce. Mestra em Literatura. Professora do Curso de Letras da Unifor [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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