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Os segredos do poder de manipulação

Em geral, nós gostamos da ideia de sermos donos de nossas próprias escolhas. Mas será que somos mesmo? Jay Olson, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá, acredita que não. “O que a Psicologia está descobrindo cada vez mais é que muitas decisões que tomamos são influenciadas por fatores dos quais não temos consciência”, explica. Recentemente, Olson desenvolveu um engenhoso experimento que demonstra como é fácil manipular alguém mesmo com uma persuasão quase imperceptível. Praticante de truques de mágica desde os 7 anos, Olson notou, quando começou a estudar Psicologia, que muito do que aprendia sobre a mente humana casava com aquilo que seu hobby já o tinha ensinado, principalmente no que se refere à atenção e à memória. Questão de segundos O toque e o contato visual são maneiras de fazer alguém baixar a guarda Em seu mestrado, ele realizou vários truques com voluntários, mas um em particular o ajudou a concluir fatos importantes sobre a influência e a persuasão. A mágica consiste em rapidamente manipular um baralho na frente de um voluntário e depois pedir para que ele escolha uma carta qualquer. O ilusionista, então, tira uma carta idêntica de seu bolso – para a surpresa e deleite da plateia. O segredo do mágico é já escolher ele mesmo uma carta e passar alguns milésimos de segundo a mais com ela na mão enquanto o baralho é manipulado. Isso influencia o voluntário a pegar justamente aquela carta. Olson percebeu que conseguiu direcionar 103 de 105 participantes. Mas foi a segunda parte da experiência que mais surpreendeu o psicólogo. Quando interrogou os voluntários depois, viu que 92% deles não tinham ideia de que estavam sendo manipulados e acharam que estavam no total controle de suas próprias decisões. O pesquisador também descobriu que aspectos como a personalidade do voluntário não tinham relação com o quanto ele pode ser influenciado – todos pareciam igualmente vulneráveis. Mensagens sutis Experimento mostrou que clientes compraram mais vinhos franceses ao ouvir música francesa As implicações dessa experiência vão muito além do palco e deveriam servir para reconsiderarmos nossas percepções sobre nossa vontade própria. Apesar de termos uma grande sensação de liberdade, nossa capacidade de tomar decisões deliberadas pode ser uma ilusão. “A liberdade de escolha é só um sentimento – não está ligada à decisão em si”, afirma Olson. Não acredita nele? Lembre-se quando você for a um restaurante. Segundo Olson, o cliente tem mais chances de pedir o prato que está no topo ou na parte de baixo do cardápio porque essas são as áreas que mais atraem o olhar. “Mas se alguém perguntar o porquê da sua escolha, você dirá que está com vontade de comer aquilo, sem perceber que o restaurante deu uma forcinha”, diz. A psicóloga Jennifer McKendrick, da Universidade de Leicester, na Grã-Bretanha, concluiu, em um estudo, que o simples fato de um supermercado tocar uma música ambiente francesa ou alemã fazia as pessoas comprarem vinhos desses países. Segundo membros da campanha de Al Gore à Presidência dos Estados Unidos em 2000, seus rivais republicanos faziam a palavra “RATS” (“ratazanas”) aparecer por milésimos de segundos em anúncios que traziam imagens do democrata, o que teria espantado muitos de seus eleitores. O psicólogo Drew Westen, da Emory University, em Atlanta, criou um candidato fictício e inseriu a suposta mensagem subliminar em seus anúncios, notando que voluntários o avaliavam negativamente. Outra experiência mostrou ainda que representantes de vendas por telefone registraram uma performance melhor apenas por ter visto a foto de um atleta ganhando uma corrida – mesmo sem se lembrarem dela depois. Como perceber a manipulação Fazer uma ideia sua parecer de outra pessoa também é uma maneira de influenciar Evidentemente, esse tipo de conhecimento pode ser usado para a coerção se cair nas mãos erradas. Por isso, é importante saber quando outras pessoas estão tentando convencê-lo de algo sem que você perceba. Com base em artigos científicos, aqui estão quatro atitudes manipuladoras fáceis de identificar: 1 – O poder do toque Um tapinha nas costas seguido por um contato visual pode levar uma pessoa a baixar mais a guarda. É uma técnica que Olson usa em seus truques, mas que pode funcionar no cotidiano. 2 – A velocidade da fala Olson diz que mágicos sempre tentam apressar seus voluntários para que eles escolham a primeira coisa que vem à sua mente – em geral a ideia que ele plantou. Uma vez que a pessoa fez sua opção, o performer passa a falar de maneira mais relaxada. Ao se lembrar da experiência, o voluntário tende a pensar que o tempo todo foi livre para tomar suas próprias decisões, em seu ritmo. 3 – Atenção a seu campo de visão Ao passar mais tempo manipulando uma determinada carta de baralho, Olson a torna mais “saliente”, fazendo-a se fixar na mente do voluntário sem que este perceba. Há muitas outras maneiras de fazer coisas semelhantes: colocar um objeto na linha do olhar da outra pessoa ou mover algo ligeiramente mais perto de um alvo, por exemplo. Pelos mesmos motivos, acabamos escolhendo a primeira coisa que nos é oferecida. 4 – Algumas perguntas plantam ideias Quando alguém faz uma sugestão e pergunta aos demais coisas como “Por que você acha que isso é uma boa ideia?” ou “Na sua opinião, quais as vantagens disso?”, está, na realidade, deixando os outros se convencerem a respeito de certas questões por conta própria. Pode parecer óbvio, mas fazer com que as pessoas reflitam a partir de ideias embutidas nas perguntas significa que elas ficarão mais confiantes em tomar decisões de longo prazo – mesmo não tendo sido ideia delas. BBC/David Robson

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Cinco técnicas para lidar melhor com suas preocupações

As preocupações, queiramos ou não, fazem parte do nosso dia a dia. Excesso de preocupação é contraproducente, diz especialista Image copyright thinkstock Nos preocupamos com o passado e com o futuro; com a saúde, o trabalho e a família; com coisas que afetam a nós mesmos e aos demais. Em demasia, porém, elas prejudicam o descanso e a saúde mental, alerta o psicólogo Ad Kerkhof, da Universidade Virje de Amsterdã, na Holanda, que investiga o fenômeno há mais de 30 anos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “As pessoas geralmente pensam que, ao se preocupar com o futuro, vão conseguir encontrar soluções para os problemas”, afirma o especialista à BBC. Segundo ele, trata-se de um processo que causa ansiedade e pode levar à depressão. E, nos casos mais extremos, até mesmo ao suicídio. “Preocupar-se é algo normal. Mas se você tem os mesmos pensamentos todos os dias e já não consegue controlá-los, então claramente está passando do limite”, diz. O especialista lista cinco técnicas simples que ajudam a acabar com a preocupação – ou pelo menos a aprender a lidar melhor com ela: Criar uma ‘rotina’ para pensar nos problemas pode ser um começo Image copyright thinkstock 1. Estabeleça a ‘hora da preocupação’ De acordo com Kerkhof, o que a maioria das pessoas faz para tentar deixar de se preocupar é repetir, a si mesmas, que devem deixar de fazê-lo. Esse método, porém, não funciona, conta. Na verdade, produz o mesmo efeito de quando nos ordenamos “não pense em um elefante rosa”: o cérebro elimina a palavra “não” desta mensagem. A estratégia proposta pelo psicólogo está baseada em terapias cognitivo-comportamentais (TCC), que exploram vínculos entre os pensamentos e as emoções para provocar mudanças psicológicas. A primeira delas consiste em estabelecer um determinado momento ao longo do dia para lidar com essas preocupações, em dois períodos de 15 minutos – um pela manhã e outro pela tarde. “Você deve dedicar esse tempo apenas a preocupar-se. Desta maneira, estabelecerá uma missão e depois poderá se desconectar disso até a sua próxima hora da preocupação”, explicou. Assim, sempre que uma preocupação invadir sua cabeça, repita a si mesmo: “Agora não. Ainda não é o momento de se preocupar”. Preocupações e lençóis não combinam, diz psicólogo – Image copyright thinkstock 2. Poupe seus lugares de descanso Não se preocupe na cama ou em sua poltrona favorita. Lide com suas preocupações como se elas fossem um trabalho, e não como parte de seus momentos de ócio ou descanso. Desse modo, ao pensar nelas, tente encontrar uma solução para cada uma. Segundo Kerkhof, pode ajudar imaginar que essas preocupações são como “nuvens que pairam sobre a sua cabeça” – você deve deixar que elas fiquem ali apenas durante a “hora da preocupação”, e expulsá-las depois. E, é claro: sempre em lugares que não estejam associados com o tempo usado para relaxar. Também é preciso dedicar um tempo aos bons pensamentos Image copyright thinkstock 3. Lance mão de memórias positivas Muitas das preocupações invadem a nossa mente à noite e, com isso, tiram o nosso sono. Se esse é o seu caso, o especialista aconselha dedicar dez minutos para pensar em recordações positivas para cada cinco minutos gastos com preocupações – e isso imediatamente na sequência. Pense em um momento em que você se sentiu feliz, orgulhoso ou relaxado, e lide com essa sensação da mesma forma que faz com as preocupações. “Repita esse instante umas vezes em sua cabeça, de maneira que continue preocupado, mas desta vez com algo positivo”, diz Kerkhof. Analise todos os detalhes dessa experiência: relembre sons, cores e cheiros desse momento feliz. Isso vai te encher de emoções boas, garante ele. Você pode substituir a preocupação por um telefonema, por exemplo Image copyright thinkstock 4. Busque distrações Quando você se preocupar fora da sua “hora da preocupação”, busque distrações que permitam entreter sua mente e livrá-lo da ansiedade. Por exemplo: ler um bom livro, ligar para um amigo ou simplesmente ouvir sua música favorita. É importante lembrar que essa técnica não consiste em ignorar os problemas, mas sim em enfrentá-los no momento e na hora adequados. A maioria de nós pensa mais no que há de negativo a nosso redor do que no que há de positivo. Por isso, devemos dar às nossas preocupações a atenção que elas merecem – e nada além disso. “Quando a preocupação provoca angústia, pode levar a transtornos de ansiedade, afetar a eficiência cognitiva e, como consequência, a produtividade no trabalho e as relações pessoais”, afirma Graham Davey, professor de psicologia da Universidade de Sussex, no Reino Unido. Não adianta ter pressa: mudar demanda tempo – Image copyright thinkstock 5. Leve o tempo necessário Ainda que você aplique todas essas dicas, deve ter em mente que os efeitos não são imediatos. Kerkhof testou a técnica com 200 pessoas que sofriam do problema, e elas conseguiram, em média, reduzir suas preocupações em cerca de 50%. “Preocupar-se é como um vício. Se quer acabar com isso, precisa de tempo para ensinar a si mesmo, pouco a pouco, como deixar de fazê-lo.” BBC

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Psicologia: Solidão, uma nova epidemia

Uma em cada três pessoas sente-se sozinha na sociedade da hiperconexão e das redes sociais ‘Reflexo em uma janela de Altamira’ (Caracas), do fotógrafo Christopher Anderson. Magnum Qualquer um pode sofrer com solidão crônica: uma criança de 12 anos que muda de escola; um jovem que depois de crescer em uma pequena comunidade sente-se perdido em uma grande cidade; uma executiva que está ocupada demais com sua carreira para manter boas relações com seus familiares e amigos; um idoso que sobreviveu a sua parceira e cuja saúde fraca dificulta fazer visitas. A generalização do sentimento de solidão é surpreendente. Vários estudos internacionais indicam que mais de uma em cada três pessoas nos países ocidentais sente-se sozinha habitualmente ou com frequência. Um estudo de 10 anos que iniciamos em 2002 em uma grande área metropolitana indica que, na verdade, essa proporção aproxima-se mais de uma em cada quatro pessoas em alguns locais, uma taxa que segue sendo muito alta.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] MAIS INFORMAÇÕES O cupim do ressentimento O que queremos dizer quando falamos de felicidade? Saber escutar Felicidade express: truques para levantar o astral em 30 segundos Aos 95 anos, Twitter contra a solidão Por que as mentes mais brilhantes precisam de solidão A maioria dessas pessoas talvez não seja solitária por natureza, mas sente-se socialmente isolada, embora esteja rodeada de gente. O sentimento de solidão, no começo, faz com que a pessoa tente estabelecer relações com outras, mas, com o tempo, a solidão pode acabar em reclusão, porque parece uma alternativa melhor que a dor, a rejeição, a traição ou a vergonha. Quando a solidão se torna crônica, as pessoas tendem a se resignar. Podem ter família, amigos ou um grande círculo de seguidores nas redes sociais, mas não se sentem verdadeiramente em sintonia com ninguém. Uma pessoa que se sente sozinha geralmente está mais angustiada, deprimida e hostil, e tem menos probabilidades de realizar atividades físicas. Como as pessoas solitárias tendem a ter mais relações negativas com os outros, o sentimento pode ser contagioso. Os testes biológicos realizados mostram que a solidão tem várias consequências físicas: elevam-se os níveis de cortisol – o hormônio do estresse –, a resistência à circulação de sangue aumenta e certos aspectos da imunidade diminuem. E os efeitos prejudiciais da solidão não terminam quando se apaga a luz: a solidão é uma doença que não descansa, que aumenta a frequência dos pequenos despertares durante o sono, e faz com que a pessoa acorde esgotada. O motivo é que, quando o cérebro entende o seu entorno social como algo hostil e pouco seguro, permanece constantemente em alerta. E as respostas do cérebro solitário podem funcionar para a sobrevivência imediata. Mas, na sociedade contemporânea, em longo prazo, cobra um preço da saúde. Quando nossos motores estão constantemente acelerados, deixamos nosso corpo exausto, reduzimos nossa proteção contra os vírus e inflamações e aumentamos o risco e a gravidade de infecções virais e de muitas outras doenças crônicas. Quando uma pessoa está triste e irritada, talvez esteja pedindo que alguém a ajude Uma análise recente – de 70 estudos combinados, com mais de três milhões de participantes – demonstra que a solidão aumenta o risco de morte em 26%, aproximadamente o mesmo que a obesidade. O fato de que mais de uma em cada quatro pessoas em países industrializados pode estar vivendo na solidão, com consequências certamente devastadoras para a saúde, deveria nos preocupar. Em nossas investigações, também observamos que cada medida positiva para melhorar a qualidade das relações sociais melhora a pressão arterial, os níveis de hormônios do estresse, os padrões de sono, as funções cognitivas e o bem-estar geral. Com frequência, as pessoas solitárias não estão conscientes de muitas das coisas que estão acontecendo: não percebem. Por exemplo, a hipervigilância é aguçada de forma implícita em busca de ameaças sociais e a capacidade de controlar os impulsos é reduzida. Mas, assim como acontece com a dor física que nos informa de uma possível lesão em nosso corpo, o sentimento de solidão nos indica a necessidade de proteger ou consertar nosso corpo social. Josef Koudelka (Magnum)  Os familiares e amigos geralmente são os primeiros a detectarem os sintomas de solidão crônica. Quando uma pessoa está triste e irritável, talvez esteja pedindo, em silêncio, que alguém a ajude e se conecte com ela. A paciência, a empatia, o apoio de amigos e familiares, compartilhar bons momentos com eles, tudo isso pode fazer com que seja mais fácil recuperar a confiança e os vínculos e, por fim, reduzir a solidão crônica. Infelizmente, para muitos, falar com sinceridade sobre a solidão continua sendo difícil, porque é uma condição mal compreendida e estigmatizada. No entanto, dadas sua frequência e suas repercussões na saúde, teria que ser reconhecida como um problema de saúde pública. Deveria receber mais atenção nas escolas, nos sistemas de saúde, nas faculdades de medicina e em asilos para garantir que os professores, os profissionais de saúde, os trabalhadores de creches e de abrigos de terceira idade saibam identificá-la e abordá-la. As redes sociais podem abrir novas vias para conectar-se com os demais? Depende de como forem utilizadas. Quando as pessoas usam as redes para enriquecer as interações pessoais, isso pode ajudar a diminuir a solidão. Mas, quando servem de substitutas de uma autêntica relação humana, causam o resultado inverso. Imagine um carro. Se uma pessoa o conduz para compartilhar um passeio agradável com seus amigos, certamente se sentirá menos sozinha; se dirige sozinho para cumprimentá-los de longe e ver como os demais estão se divertindo, sua solidão certamente seguirá igual ou até mesmo pior. Falar com franqueza sobre a solidão continua sendo difícil, mas é um problema de saúde pública Infelizmente, muitas pessoas solitárias tendem a considerar as redes sociaiscomo um refúgio relativamente seguro para se relacionar com os outros. Como é difícil julgar se as outras pessoas são dignas de confiança no ciberespaço, a relação é superficial. Além disso, uma conexão pela internet não substitui uma real. Quando uma criança cai e machuca

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A atualidade chocante de ‘Admirável Mundo Novo’

Oito décadas depois, romance de Huxley ganha nova atualidade, ao alertar que sociedades de controle podem apoiar-se, além da repressão, na tecnologia e culto do “progresso” Breve, terão se completado 75 anos da primeira edição brasileira (1941) de Admirável Mundo Novo1, grande romance perturbador lançado em 1932, na Inglaterra, pelo visionário filósofo e escritor Aldous Huxley. Diante de tanta “felicidade artificial” em nossos dias, tantas manipulações e tantos condicionamentos contemporâneos, cabe perguntar: seria útil reler Admirável Mundo Novo? Acaso é necessário retomar um livro escrito há mais de oito décadas, numa época tão distante que a Internet não existia e sequer a TV havia sido inventada? Seria este romance algo mais que uma curiosidade sociológica, um best-seller ordinário e efêmero, de que se venderam, em inglês, mais de um milhão de exemplares, já no ano de sua publicação? Estas questões parecem ainda mais pertinentes porque o gênero a que pertence a obra – ficção científica, distopia, fábula de antecipação, a utopia científico-técnica – possui um grau muito elevado de obsolescência. Nada envelhece mais rápido que o futuro, sobretudo na literatura.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] No entanto quem, superando estas reticências, mergulhar nas páginas do romance ficará chocado por sua surpreendente atualidade. Ficará claro que, pelo menos uma vez, o passado capturou o presente. Recordemos que o autor, Aldous Huxley (1894-1963), narra uma história que transcorre num futuro muito distante, próxima ao ano 2500 ou, mais precisamente “no ano 600 da Era Fordiana”, em alusão satírica a Henry Ford (1863-1947), pioneiro norte-americano da indústria automobilística e inventor de um método de organização de trabalho para a fabricação em série e padronização de peças. Tal método, conhecido como “fordismo”, transformou os trabalhadores em algo inferior a autômatos, robôs que repetiam, ao longo da jornada de trabalho, um único gesto. Sua emergência suscitou, à época, críticas violentas: pensemos, por exemplo, nos filmes Metropolis (1926), de Fritz Lang, ou Tempos Modernos (1935), de Charles Chaplin. Aldous Huxley escreveu Admirável Mundo Novo, visão pessimista do futuro e crítica feroz do culto positivista à ciência, num momento em que as consequências sociais da grande crise de 1929 afetavam em cheio as sociedades ocidentais, e em que a crença no progresso e nos regimes democráticos parecia vacilar. Publicado em inglês antes da chegada de Hitler ao poder na Alemanha (1933),Admirável Mundo Novo denuncia a perspectiva “de pesadelo” de uma sociedade totalitária fascinada pelo progresso científico e convencida de poder oferecer a seus cidadãos uma felicidade obrigatória. Apresenta a visão alucinada de uma humanidade desumanizada pelo condicionamento pavloviano2 e pelo prazer ao alcance de uma pílula (o “soma”). Num mundo horrivelmente perfeito, a sociedade decide totalmente, com fins eugenistas e produtivistas, a sexualidade da procriação. É uma situação não tão distante da que se vive hoje em alguns países (sobretudo na Europa), em que os efeitos da crise de 2008 estão provocando o ascenso de partidos de extrema direita, xenófobos e racistas. Onde os anticoncepcionais já permitem um amplo controle da natalidade. E onde novas pílulas (como o Viagra e a femininaLybrido) dopam o desejo sexual e o prolongam até além da terceira idade. Ao mesmo tempo, as manipulações genéticas permitem cada vez mais aos pais a seleção de embriões, para engendrar filhos em função de critérios pré-determinados – inclusive estéticos. Outra relação surpreendente com a atualidade é que o romance de Huxley apresenta um mundo onde o controle social não dá espaços ao acaso, onde, formadas a partir do mesmo molde, as pessoas são “clônicas”, produzidas em série. A maioria tem garantidos o conforto e a satisfação dos únicos desejos que está condicionada a experimentar, mas perdeu-se, como diria Mercedes Sosa, a razón de vivir3. Em Admirável Mundo Novo, a americanização do planeta está completa, a História acabou (como afirmaria, mais tarde, Francis Fukuyama4), tudo foi padronizado e “fordizado” – tanto a produção dos seres humanos, resultado de puras manipulações genético-químicas, quanto a identidade das pessoas, produzida durante o sonho por hipnose auditiva: a “hipnopedia”, qualificada por um personagem do livro como “a maior força socializante e moralizante de todos os tempos”. Os seres humanos são “produzidos” no sentido industrial do termo, em fábricas especializadas – os “centros de incubação e condicionamento” – segundo modelos variados, que dependem das tarefas muito especializadas que serão atribuídas a cada um, e que são indispensáveis para uma sociedade obcecada pela estabilidade. Desde seu nascimento, cada ser humano é, além disso, educado em “centros de condicionamento do Estado”. Em função dos valores específicos de seu grupo, e por meio do recurso maciço à hipnopedia, criam-se nele os “reflexos condicionados definitivos” que o fazem aceitar seu destino. Aldous Huxley ilustrava assim os riscos implícitos na tese que vinha sendo formulada, desde 1924, por John B. Watson, o pai do “condutivismo”5, esta suposta “ciência da observação e controle do comportamento”. Watson afirmava com frieza que podia escolher na rua, ao acaso, uma criança saudável e convertê-la, à sua vontade, em médico, advogado, artista, mendigo ou ladrão, independentemente de seu talento, inclinações, capacidades, gostos e origem de seus ancestrais. Em Admirável Mundo Novo, que é fundamentalmente um manifesto humanista, alguns viram também, com razão, uma crítica ácida à sociedade stalinista, à utopia soviética construída com mão de ferro. Mas também há, claramente, uma sátira à nova sociedade mecanizada, padronizada, automatizada que se criva à época nos Estados Unidos, em nome da modernidade técnica. Extremamente inteligente e admirador da ciência, Huxley expressa no romance, no entanto, um profundo ceticismo em relação à ideia de progresso, e desconfiança diante da razão. Frente à invasão do materialismo, o autor engendra uma interpretação feroz às ameaças do cientificismo, do maquinismo e do desprezo à dignidade individual. Claro que a técnica assegurará aos seres humanos um conforto exterior total, de notável perfeição, estima Huxley com desesperada lucidez. Todo desejo, na medida em que possa ser expresso e sentido, será satisfeito. Os seres humanos terão, nesse ponto, perdido sua razão de ser. Terão transformado a si mesmos em maquinas. Já não se poderá falar, em sentido estrito, de

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O direito à tristeza

As crianças têm dois deveres. Um, salutar, é o dever de crescer e parar de ser crianças. O outro, mais complicado, é o de ser felizes, ou melhor, de encenar a felicidade para os adultos. Esses dois deveres são um pouco contraditórios, pois, crescendo e saindo da infância, a gente descobre, por exemplo, que os picolés não são de graça. Portanto, torna-se mais difícil saltitar sorrindo pelos parques à espera de que a máquina fotográfica do papai imortalize o momento. Em suma, se obedeço ao dever de crescer, desobedeço ao dever de ser feliz.A descoberta dessa contradição pode levar uma criança a desistir de crescer. E pode fazer a tristeza (às vezes o desespero) de outra criança, incomodada pela tarefa de ser, para a família inteira, a representante da felicidade que os adultos perderam (por serem adultos, porque a vida é dura, porque doem as costas, porque o casamento é tenso, porque não sabemos direito o que desejamos). A ideia da infância como um tempo específico, bem distinto da vida adulta, sem as atrapalhações dos desejos sexuais, sem os apertos da necessidade de ganhar a vida, é recente. Tem pouco mais de 200 anos. Idealizar a infância como tempo feliz é uma peça central do sentimento e da ideologia da modernidade.É crucial lembrar-se disso na hora em que somos convidados a espreitar índices e sinais de depressão nas nossas crianças. O convite é irresistível, pois a criança deprimida contraria nossa vontade de vê-la feliz. Um menino ou uma menina tristes nos privam de um espetáculo ao qual achamos que temos direito: o espetáculo da felicidade à qual aspiramos, da qual somos frustrados e que sobra para as crianças como uma tarefa.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “Meu filho, minha filha, seja feliz por mim.”É só escutar os adultos falando de suas crianças tristes para constatar que a vida da criança é sistematicamente desconhecida por aqueles que parecem se preocupar com a felicidade do rebento. “Como pode, com tudo que fazemos e fizemos por ela?” ou “Como pode, ele que não tem preocupação nenhuma, ele que é criança?”. A criança triste é uma espécie de desertor; abandonou seu lugar na peça da vida dos adultos, tirou sua fantasia de palhaço.Conselho aos adultos (pais, terapeutas etc.): quando uma criança parece estar deprimida, o mais urgente não é reconhecer os “sinais” de uma doença e inventar jeitos de lhe devolver uma caricatura de sorriso. O mais urgente, para seu bem, é reconhecer que uma criança tem o DIREITO de estar triste, porque ela não é apenas um boneco cuja euforia deve nos consolar das perdas e danos de nossa existência; ela tem vida própria.Mais uma observação para evitar a precipitação. Aparentemente, nas últimas décadas, a depressão se tornou uma doença muito comum. Será que somos mais tristes que nossos pais e antepassados próximos? Acredito que não. As más línguas dizem que a depressão foi promovida como doença pelas indústrias farmacêuticas, quando encontraram um remédio que podiam comercializar para “curá-la”. Mas isso seria o de menos. É mais importante notar que a depressão se tornou uma doença tão relevante (pelo número de doentes e pela gravidade do sofrimento) porque ela é um pecado contra o espírito do tempo. Quem se deprime não pega peixes e ainda menos sobe no bonde andando.Será que vamos conseguir transformar também a tristeza infantil num pecado?Claro que sim. Aliás, amanhã, quando seu filho voltar da escola, além de verificar se ele não está com frieiras, veja também se ele não pegou uma deprê. E, se for o caso, dê um castigo, pois, afinal, como é que ele ousa fazer cara feia quando acabamos de lhe comprar um gameboy? Ora! E, se o castigo não bastar, pílulas e terapia nele. Qualquer coisa para evitar de admitir que a infância não é nenhum paraíso. Por: Contardo Calligaris – Texto via Laboratório de Sensibilidade

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Internet: Estudo vincula uso intensivo da internet à depressão

Alguns internautas desenvolvem uma compulsão na qual substituem a interação da vida real por salas de bate-papo e sites de relacionamento social. Quem passa muito tempo na internet tem mais propensão a apresentar sintomas de depressão, disseram cientistas britânicos. Não está claro, no entanto, se a internet causa depressão ou se a rede atrai os deprimidos. Psicólogos da Universidade de Leeds disseram ter notado uma “impressionante” evidência de que alguns internautas desenvolvem uma compulsão na qual substituem a interação da vida real por salas de bate-papo e sites de relacionamento social. “Este estudo reforça a especulação pública de que o excesso de engajamento em sites que servem para substituir a função social normal poderia levar a transtornos psicológicos correlatos, como depressão e dependência”, disse a principal autora do estudo, Catriona Morrison, em artigo na revista Psychopathology. “Este tipo de ‘surfe aditivo’ pode ter um sério impacto sobre a saúde mental.” No primeiro grande estudo com jovens ocidentais sobre essa questão, os pesquisadores analisaram o uso da Internet e os níveis de depressão entre 1.319 britânicos de 16 a 51 anos de idade. Concluíram que 1,2% deles eram viciados em internet.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] De acordo com Morrison, esses dependentes passavam proporcionalmente mais tempo em sites com conteúdo sexual, de games ou de comunidades online. Tinham também uma incidência maior de depressão moderada ou severa do que a média dos usuários normais. “O uso excessivo da internet está associado à depressão, mas o que não sabemos é o que vem primeiro – as pessoas deprimidas são atraídas para a internet, ou a Internet causa depressão?”, escreveu Morrison. “O que está claro é que para um pequeno subconjunto de pessoas o uso excessivo da internet poderia ser um sinal de alerta para tendências depressivas.” Morrison notou que, embora o percentual de 1,2% de dependentes da internet seja “pequeno”, representa o dobro da incidência dos viciados em jogo na Grã-Bretanha, que é de cerca de 0,6%. Reuters

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Internet – Filósofo cria língua universal para web

Filósofo cria língua universal para web e prevê nova revolução do conhecimento. Para Pierre Lévy, web semântica vai transformar maneira de fazer ciência. Em breve, aposta francês, computadores saberão como ‘traduzir’ conceitos. A internet permitiu que, pela primeira vez na história, se tornasse possível manter um arquivo universal do conhecimento e da produção cultural de nossa espécie. Mas para o filósofo francês Pierre Lévy, esse poder já começa a mostrar limitações, e é hora de promover uma “recauchutagem” na estrutura da rede. Mas para transformar a web em uma máquina capaz de identificar a verdadeira inteligência coletiva, no entanto, Lévy prevê dois grandes desafios: a ausência de profissionais habilitados para trabalharem na organização das informações, e a necessidade da adoção de um padrão para a chamada “web semântica” – que permitirá que todo o conhecimento seja coordenado automaticamente por conceitos, e não mais simplesmente pelos links entre documentos.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A evolução proposta por Lévy – dono de uma bibliografia extensa sobre cibercultura e sobre a relação entre o virtual e o real – passa pela criação de regras para a organização das informações. Para isso, o filósofo desenvolveu uma linguagem universal capaz de compreender as ideias expressas em qualquer idioma e que, ao mesmo tempo, pode ser processada por computadores. “Isso significaria o fim da fragmentação da informação, atualmente dividida por conta de barreiras de linguagem e escolhas diversas de sistemas de organização”, afirma Lévy, em entrevista ao G1. O projeto coordenado pelo francês é desenvolvido por um grupo de pesquisadores na Universidade de Ottawa, no Canadá. A IEML (sigla em inglês para “metalinguagem da economia da informação”) é completamente artificial, e segue, nas palavras de Lévy, “regras bastante estritas”. Conceitos universais são codificados utilizando sequências de seis símbolos com significados primitivos: o código *E:**, por exemplo, significa “vazio”. Os símbolos são organizados em grupos de três, e cada “camada” de informação reúne três grupos anteriores. Termos utilizados constantemente ganham abreviações, o que facilita a criação de frases. “Você está lendo um documento e identifica que ele trata sobre os conceitos ‘x’, ‘y’ e ‘z’. O computador será capaz de identificar que este documento está ligado a outros, e ajudará a filtrar, navegar e expandir seu acesso a conhecimentos correlatos”, afirma Lévy. Ciências como psicologia, economia e sociologia seriam as maiores beneficiadas com a adoção deste código universal. Lévy acredita que as ciências humanas viverão, na próxima geração, uma revolução semelhante à que impulsionou os estudos naturais com a invenção da prensa rotativa por Johannes Gutenberg, no século XV. “Hoje em dia, todos os dados sobre o comportamento humano podem ser reunidos no ciberespaço, o único problema é que ainda não temos a capacidade de explorar essas informações”, explica o francês. “Se alguém escreve um blog em chinês, eu não consigo ler, você não consegue ler e os programas de tradução automática, como do Google, não são muito bons. Portanto, não há comunicação”. Mas há barreiras – reconhecidas pelo próprio criador – para transformar esse “Esperanto eletrônico” em realidade. Há outros projetos que pretendem ocupar essa “quarta camada” da internet (ver infográfico abaixo), alguns deles inclusive apoiados pelo próprio inventor da web, o engenheiro britânico Tim Berners-Lee. “Talvez não seja a língua que eu criei que será a base dessa revolução científica, mas haverá (na web do futuro) algo nesses moldes”, diz Lévy. Se vencer a disputa científica com o diretor do consórcio da World Wide Web, Lévy verá sua linguagem enfrentar um novo problema: embora a IEML tenha sido criada para ser compreendida por computadores, o “dicionário” e a organização dos textos publicados na rede seguem nas mãos de humanos. E o filósofo acredita que, no momento, não há profissionais habilitados disponíveis no mercado para trabalharem com esses conceitos. “É preciso ter um conhecimento muito amplo em ciências humanas, estar ciente da complexidade das culturas, dos significados, e ao mesmo tempo ser capaz de lidar com computação. É preciso ter essas duas habilidades para realizar isso”. É uma missão que tem sido abraçada por engenheiros, embora mesmo estes não estejam, segundo Lévy, totalmente gabaritados para a função. “Geralmente os engenheiros são muito bons em matemática e em lógica, mas se confundem quando o assunto é semântica.” G1  

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Direito e Força

Por: Antônio T. Praxedes – Mestre em Direito O pensamento analítico ocidental define força como tudo aquilo que possa mudar o estado no qual se encontra um objeto. Para isso, foram formuladas duas classificações na Física, que podem ajudar o jurista a compreender o conceito de força. A primeira, é a força de campo: uma força que age à distância, e provoca uma alteração no estado inicial de um corpo. A segunda, é a força de contato: que necessita de dois objetos em contato, para que possa haver a transferência de energia capaz de alterar o status corporis, pelo contato da matéria. [ad#Retangulo – Anuncios – Esquerda]Mas, por que falar de Física, para comentar acerca do Direito? Por dois motivos. Primeiro, porque precisamos recorrer a conceitos externos à nossa disciplina, que devolvam aquilo que estudamos ao mundo natural; o Direito é um fenômeno social, parte do mundo dos fatos, vez que o ser humano não está dissociado da natureza – embora isso contrarie o pensamento positivista. Segundo, porque a mente humana lida bem com metáforas; o processo cognitivo segue, dentre outros fenômenos menos nobres, algumas etapas racionais: do concreto para o abstrato, do abstrato para o abstrato pensado, e do abstrato pensado para o concreto pensado. O ser humano, portanto, ao passo em que é transformado pelo conhecimento, impregna os objetos do mundo com o seu raciocínio, com significados, modificando a sua forma de percepção do real. Assim, por utilizarmos uma linguagem transversal, podemos atingir objetivos mais amplos do que se utilizarmos apenas a habitual. Dessa forma, podemos assumir que o Direito é um fenômeno do mundo das idéias, que se transfere à realidade por meio da ação humana: atos que são praticados por meio de forças, de razões e, também, de sentimentos ou emoções, do acaso e de contingências sócio-ambientais. Não precisamos dizer que esse fenômenos é registrado documentalmente, dispendendo o trabalho de muitos, quer para sua conservação, quer para sua transformação. As percepções de mundo e ações humanas são traduzidas em forças de campo e forças de contato, respectivamente: aquelas que dirigem a tomada de decisões, controlando ideologicamente as atitudes, são forças de campo, como a Moral, as religiões, o Direito, a Economia, Psicologia, Matemática e tantas outras normas sociais; essas não precisam do contato: são referenciais teóricos que guiam o agir, instituídas quer através do consenso, quer através da violência. E, por falar em violência, as forças de contato são aquelas atribuições exercidas pela Sociedade, amparadas pelas forças de campo: as instituições estatais e empresariais, os agentes estatais, as pessoas incumbidas da função de punir, prender e controlar, que executam suas funções interagindo com os indivíduos, por meio das relações intersubjetivas que colocam as pessoas em contato e, caso as “leis das forças de campo” sejam descumpridas, praticarão atos para reorganizar a matéria. Ocorre que, ao contrário das forças de campo naturais, como a gravidade, o ser humano não é capaz de criar as suas “forças de campo” de forma a que atuem de forma perfeita; por não dispor de uma visão holística do Universo, e por estar limitado aos padrões não só de análise mas por questões biológicas que o impedem de ter uma visão do todo, a humanidade produz leis e códigos de conduta baseados na sua percepção que, sedo muito alargada ou reduzida – não importa -, jamais age prevendo todas as possibilidades e certezas. O mundo natural e o social, o universo circundante, todos os elementos que nos cercam trazem uma infinidade de informações; todas as variantes de uma determinada realidade observada só tornam possível a descoberta de pequenas probabilidades. Mesmo que possamos deduzir um evento imediato a uma determinada ação, já podemos imaginar os infinitos desdobramentos que um simples ato poderá ter no futuro, afetando vários outros atos, em cadeia, até os limites da imponderabilidade – tornando-nos incapazes de prever o futuro. Essa nova forma de observar o mundo foi-nos trazida pela Física quântica, que colocou em causa todos os conhecimentos adquiridos pela Mecânica e, dizem alguns estudiosos, pondo em causa até a Termodinâmica. Medindo as menores partículas que compõem a matéria, os cientistas descobriram que não é possível medir, ao mesmo tempo, a velocidade e a posição de um elétron, por exemplo; isso significa que, todas as vezes que tentamos descobrir a velocidade de um elétron, alteramos a sua posição, e vice-versa. Da mesma forma, se fizermos um furo numa cartolina, e colocarmos uma fonte luminosa (uma lanterna) por detrás dessa cartolina, com os raios de luz incidindo sobre o furo, observaremos uma projeção desfocada, porque fizemos com que o fóton se comportasse, ao mesmo tempo, como onda e como partícula, alterando tanto a onda quanto a partícula. Mas, qual a influência dessa imponderabilidade no Direito e em outras áreas do conhecimento humano? Profunda. Devemos tomar consciência de que todas as tomadas de decisão são tão limitadas quanto nossas percepções; mesmo que dispuséssemos de todas as informações, não teríamos como prever eventos que se encontram adiante da nossa capacidade ante o imponderável. As análises simplistas que juristas, economistas e todos os “istas” disponíveis e de plantão fazem sobre a realidade serão sempre limitadas pelo acaso. Foi por isso que desenvolvemos uma ferramenta bastante útil: o diálogo, no qual cada uma das partes envolvidas por um problema pode apresentar o seu ponto de vista desse mesmo problema, aumentando, assim, o leque de possibilidades de solução. Daí a importância de termos forças de campo que sejam bastante cuidadosas na operacionalização das forças de contato: o mau emprego dos recursos naturais, o mau uso da violência (essa temível e necessária característica bio-antropológica), o mau uso dos recursos econômico-financeiros (…), todos os riscos inerentes às nossas ações devem ser exaustiva e finamente calculados porque, mesmo que ainda nos arvoremos como únicos intérpretes do mundo natural, temos que nos lembrar não só das análises limitadas que fazemos, mas, também, temos que levar em conta o imponderável, o imprevisível. Nesse contexto, nós elegemos o Direito como uma força de campo no controle e prevenção de riscos:

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