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H.Dobal – Versos na tarde

Ruínas H. Dobal¹ Estas velhas paredes não confessam à brisa sem memória os seus segredos. A pedra construída sobre a pedra, numa estranha argamassa reforçada por suor de escravo e óleo de baleia, como se alguém quisesse levantar, contra o sereno da noite, contra a ferrugem do mar, uma alvenaria libertada de tudo o que a morte corrompe. Mas pouco permanece. Estas paredes vão-se abatendo semi-destruídas pelo puro movimento dos dias. Bate na tarde um vento claro, bate no peito uma lembrança que estas paredes não confessam: A vida. A mágoa sem remédio. O jogo do amor, talvez mais difícil naquele tempo. ¹Hindemburgo Dobal Teixeira (H. Dobal) * Teresina, PI. – 17 de Outubro de 1927 d.C + 2008 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Affonso Romano de Sant’Anna – Versos na tarde – 04/10/2013

Conjugação Affonso Romano de Sant’Anna¹ Eu falo tu ouves ele cala. Eu procuro tu indagas ele esconde. Eu planto tu adubas ele colhe. Eu ajunto tu conservas ele rouba. Eu defendo tu combates ele entrega. Eu canto tu calas ele vaia. Eu escrevo tu me lês ele apaga. ¹Affonso Romano de Sant’Anna * Belo Horizonte, MG. – 27 de Março de 1937 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Gregório de Matos – Versos na tarde – 22/09/2013

Soneto Gregório de Matos¹ Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: Com sua língua ao nobre o vil decepa: O Velhaco maior sempre tem capa. Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa: Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por Tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa: Mais isento se mostra, o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazio a tripa, E mais não digo, porque a Musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa. ¹ Gregório de Matos e Guerra * Salvador,BA – 1636 d.C + Salvador,BA – 1695 d.C >> Biografia de Gregório de Matos [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Gonçalves Dias – Versos na tarde – 24/08/2013

Seus Olhos Gonçalves Dias¹ Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, De vivo luzir, Estrelas incertas, que as águas dormentes Do mar vão ferir; Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, Têm meiga expressão, Mais doce que a brisa, – mais doce que o nauta De noite cantando, – mais doce que a frauta Quebrando a solidão, Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, De vivo luzir, São meigos infantes, gentis, engraçados Brincando a sorrir. São meigos infantes, brincando, saltando Em jogo infantil, Inquietos, travessos; – causando tormento, Com beijos nos pagam a dor de um momento, Com modo gentil. Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, Assim é que são; Às vezes luzindo, serenos, tranqüilos, Às vezes vulcão! Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco, Tão frouxo brilhar, Que a mim me parece que o ar lhes falece, E os olhos tão meigos, que o pranto umedece Me fazem chorar. Assim lindo infante, que dorme tranqüilo, Desperta a chorar; E mudo e sisudo, cismando mil coisas, Não pensa – a pensar. Nas almas tão puras da virgem, do infante, Às vezes do céu Cai doce harmonia duma Harpa celeste, Um vago desejo; e a mente se veste De pranto co’um véu. Quer sejam saudades, quer sejam desejos Da pátria melhor; Eu amo seus olhos que choram em causa Um pranto sem dor. Eu amo seus olhos tão negros, tão puros, De vivo fulgor; Seus olhos que exprimem tão doce harmonia, Que falam de amores com tanta poesia, Com tanto pudor. Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, Assim é que são; Eu amo esses olhos que falam de amores Com tanta paixão. ¹Antônio Gonçalves Dias * Caxias, MA. – 10 de Agosto de 1823 d.C + Gumarães, Portugal – 13 de Novembro de 1864 d.C >> Biografia de Gonçalves Dias [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Casimiro de Abreu – Versos na tarde – 02/05/2014

Desejo Casimiro de Abreu¹ Se tivesse a tez morena, Os olhos com expressão, Negros, negros, que matassem, Que morressem de paixão, Impondo sempre tiranos Um jugo de sedução; Se as tranças fossem escuras, Lá castanhas é que não, E que caíssem formosas Ao sopro da viração, Sobre uns ombros torneados, Em amável confusão; Se a fronte pura e serena Brilhasse d’inspiração, Se o tronco fosse flexível Como a rama do chorão, Se tivesse os lábios rubros, Pé pequeno e linda mão; Se a voz fosse harmoniosa Como d’harpa a vibração, Suave como a da rola Que geme na solidão, Apaixonada e sentida Como do bardo a canção; E se o peito lhe ondulasse Em suave ondulação, Ocultando em brancas vestes Na mais branda comoção Tesouros de seios virgens, Dois pomos de tentação; E se essa mulher formosa Que me aparece em visão, Possuísse uma alma ardente, Fosse de amor um vulcão; Por ela tudo daria… – A vida, o céu, a razão! ¹Casimiro José Marques de Abreu * Barra de S. João, RJ – 1893 d.C + Rio de Janeiro – 18 de Outubro de 1860 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Raul de Leoni – Versos na tarde – 26/04/2013

Argila Raul de Leoni¹ Nascemos um para o outro, dessa argila De que são feitas as criaturas raras; Tens legendas pagãs nas carnes claras E eu tenho a alma dos faunos na pupila… Às belezas heróicas te comparas E em mim a luz olímpica cintila, Gritam em nós todas as nobres taras Daquela Grécia esplêndida e tranquila… É tanta a glória que nos encaminha Em nosso amor de seleção, profundo, Que (ouço ao longe o oráculo de Elêusis) Se um dia eu fosse teu e fosses minha, O nosso amor conceberia um mundo E do teu ventre nasceriam deuses… ¹Raul de Leoni * Rio de Janeiro, RJ. – 1895 d.C + Itaipava, RJ. – 1926 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Carlos Drummond de Andrade – Versos na tarde – 16/03/2013

Poema Carlos Drummond de Andrade¹ A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional. ¹Carlos Drummond de Andrade * Itabira do Mato Dentro, MG. – 31 de Outubro de 1902 d.C + Rio de Janeiro RJ. – 17 de Agosto de 1987 d.C. >> Biografia de Carlos Drummond de Andrade [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Vinícius de Moraes – Prosa na tarde

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana. A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro. O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre. Marcus Vinicius de Mello Moraes * Rio de Janeiro, RJ, – 19 Outubro 1913 d.C. + Rio de Janeiro, RJ, 09 Julho 1980 d.C. >> biografia de Vinícius de Moraes

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