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Jorge Luiz Borges – Poesia – 08/11/24

Boa noite Sou Jorge Luiz Borges Sou o que sabe não ser menos vão Que o vão observador que frente ao mudo Vidro do espelho segue o mais agudo Reflexo ou o corpo do irmão. Sou, tácitos amigos, o que sabe Que a única vingança ou o perdão É o esquecimento. Um deus quis dar então Ao ódio humano essa curiosa chave. Sou o que, apesar de tão ilustres modos De errar, não decifrou o labirinto Singular e plural, árduo e distinto, Do tempo, que é de um só e é de todos. Sou o que é ninguém, o que não foi a espada Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada.Jorge Luis Borges, in “A Rosa Profunda” ¹Jorge Luis Borges  * Buenos Aires, Argentina – 24 de Agosto de 1899 + Genebra, Suíça – 14 de Junho de 1986

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Vicente Huidobro – Poesia – 03/11/24

Boa noite! Canto II (Fragmento) Vicente Huidobro ¹ As planícies se perdem sob tua graça frágil Se perde o mundo sob teu andar visível Pois todo é artifício quando tu te apresentas Com tua luz perigosa Inocente harmonia sem fadiga nem esquecimento Elemento de lágrimas que roda para adentro Construído de medo altivo e de silêncio Fazes duvidar ao tempo E ao céu com instintos de infinito Longe de ti todo é mortal Lanças a agonia pela terra humilhada de noites Só o que pensa em ti tem sabor a eternidade Tenho aqui tua estrela que passa Com tua respiração de fadigas longínquas Com teus gestos e teu modo de estar com o espaço magnetizado que te saúda Que nos separa com léguas de noite. ¹ Vicente Huidobro * Chile – 1893 d.C + Chile – 1947 d.C

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Emily Dickinson – Poesia – 29/10/24

Boa noite Poema Emily Dickinson A água se ensina pela sede; A terra, por oceanos navegados; O êxtase, pela aflição; A paz, pelos combates narrados; O amor, pela cinza da memória E, pela neve, os pássaros.

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Flávio Palhari – Poesia – 22/10/24

Boa noite Curta Flávio Palhari Curta muitas vezes em um curto espaço de tempo em um breve e tenso movimento tão leve que até se mistura ao vento quem sabe ventania chuva fria da manhã a pele se arrepia com a curta luz do dia já que o cinza tomou conta do lugar chuva fria fria chuva lágrimas…

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John Keats – Poesia – 21/10/24

Boa noite A Bela Dama Sem Piedade John Keats (English *1795 +1821) Oh! O que pode estar perturbando você, Cavaleiro em armas, Sozinho, pálido e vagarosamente passando? As sebes tem secado às margens do lago, E nenhum pássaro canta. Oh! O que pode estar perturbando você, Cavaleiro em armas? Sua face mostra sofrimento e dor. A toca do esquilo está farta, E a colheita está feita. Eu vejo uma flor em sua fronte, Úmida de angústia e de febril orvalho, E em sua face uma rosa sem brilho e frescor Rapidamente desvanescendo também. Eu encontrei uma dama nos campos, Tão linda… uma jovem fada, Seu cabelo era longo e seus passos tão leves, E selvagens eram seus olhos. Eu fiz uma guirlanda para sua cabeça, E braceletes também, e perfumes em volta; Ela olhou para mim como se amasse, E suspirou docemente. Eu a coloquei sobre meu cavalo e segui, E nada mais vi durante todo o dia, Pelos caminhos ela me abraçou, e cantava Uma canção de fadas. Ela encontrou para mim raízes de doce alívio, mel selvagem e orvalho da manhã, E em uma estranha linguagem ela disse… “Verdadeiramente eu te amo.” Ela me levou para sua caverna de fada, E lá ela chorou e soluçou dolorosamente, E lá eu fechei seus selvagens olhos Com quatro beijos. Ela ela cantou docemente para que eu dormisse E lá eu sonhei…Ah! tão sofridamente! O último dos sonhos que eu sempre sonhei Nesta fria borda da colina. Eu vi pálidos reis e também príncipes, Pálidos guerreiros, de uma mortal palidez todos eles eram; Eles gritaram…”A Bela Dama sem Piedade Tem você escravizado!” Eu vi seus lábios famintos e sombrios, Abertos em horríveis avisos, E eu acordei e me encontrei aqui, Nesta fria borda da colina. E este é o motivo pelo qual permaneço aqui Sozinho e vagarosamente passando, Descuidadamente através das sebes às margens do lago, E nenhum pássaro canta

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Florbela Espanca – Poesia – 12/10/24

Boa noite As Quadras D’Ele II Florbela Espanca Eu sei que me tens amor, Bem o leio no teu olhar, O amor quando é sentido Não se pode disfarçar. Os olhos são indiscretos, Revelam tudo que sentem, Podem mentir os teus lábios, Os olhos, esses, não mentem.

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Fernando Pessoa – Alberto Caeiro – Poesia – 11/10/24

Boa noite. Aí,Margarida Fernando Pessoa/Alberto Caeiro Ai, Margarida, Se eu te desse a minha vida, Que farias tu com ela? — Tirava os brincos do prego, Casava c’um homem cego E ia morar para a Estrela. Mas, Margarida, Se eu te desse a minha vida, Que diria tua mãe? — (Ela conhece-me a fundo.) Que há muito parvo no mundo, E que eras parvo também. E, Margarida, Se eu te desse a minha vida No sentido de morrer? — Eu iria ao teu enterro, Mas achava que era um erro Querer amar sem viver. Mas, Margarida, Se este dar-te a minha vida Não fosse senão poesia? — Então, filho, nada feito. Fica tudo sem efeito. Nesta casa não se fia.

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William Blake – Poesia – 21/09/2024

Boa noite. O Preço da experiência William Blake Qual é o preço da experiência? Os homens a compram com uma canção? Adquirem sabedoria dançando nas ruas? Não, ela é comprada pelo preço De tudo que um homem possui, sua casa, sua esposa, seus filhos. A sabedoria é vendida num mercado sombrio onde ninguém vem comprar, E no campo infecundo que o fazendeiro ara em vão por seu pão. É fácil triunfar sob o sol do verão E na colheita cantar na carroça cheia de grão. É fácil falar de prudência aos aflitos, Falar das leis da prudência ao andarilho sem teto, Ouvir o grito faminto do corvo na estação invernal Quando o sangue vermelho mistura-se ao vinho e ao tutano do cordeiro É tão fácil sorrir diante da ira da natureza Ouvir o uivo do cão diante da porta no inverno, e o boi a mugir no matadouro; Ver um deus em cada brisa e uma bênção em cada tempestade. Ouvir o som do amor no raio que arrasa a casa do inimigo; Rejubilar-se diante do praga que cobre seu campo, e da doença que ceifa seus filhos, Enquanto nossas oliveiras e nosso vinho cantam e riem diante da porta, e nossos filhos nos trazem frutas e flores. Então o lamento e a dor estão quase esquecidos, bem como o escravo que gira o moinho, E o cativo acorrentado, o pobre prisioneiro, e o soldado no campo de batalha Quando os ossos rompidos deixam-no gemendo à espera da morte feliz. É fácil rejubilar-se sob a tenda da prosperidade: Eu poderia cantar e me rejubilar deste modo: mas eu não sou assim. ¹William Blake * Londres, Inglaterra – 28 de Novembro de 1757 d.C + Londres, Inglaterra – 12 de Agosto de 1827 d.C Poeta, pintor inglês, sendo sua pintura definida como pintura fantástica, e tipógrafo. Blake nasceu na “28ª Broad Street”, no Soho, Londres, numa família de classe média. Seu pai era um fabricante de roupas e sua mãe cuidava da educação de Blake e seus três irmãos. Logo cedo a bíblia teve uma profunda influência sobre Blake, tornando-se uma de suas maiores fontes de inspiração. Desde muito jovem Blake dizia ter visões. A primeira delas ocorreu quando ele tinha cerca de nove anos, ao declarar ter visto anjos pendurando lantejoulas nos galhos de uma árvore. Mais tarde, num dia em que observava preparadores de feno trabalhando, Blake teve a visão de figuras angelicais caminhando entre eles. Com pouco mais de dez anos de idade, Blake começou a estampar cópias de desenhos de antigüidades Gregas comprados por seu pai, além de escrever e ilustrar suas próprias poesias. Aprendizado com Basire Em 4 de agosto de 1772, Blake tornou-se aprendiz do famoso estampador James Basire. Esse aprendizado, que estendeu-se até seus vinte e um anos, fez de Blake um profissional na arte. Segundo seus biógrafos, sua relação era harmoniosa e tranqüila. Dentre os trabalhos realizados nesta época, destaca-se a estampagem de imagens de igrejas góticas Londrinas, particulamente da iggreja Westimnster Abbey, onde o estilo próprio de Blake floresceu. Aprendizado na The Royal Academy Em 1779, Blake começou seus estudos na The Royal Academy, uma respeitada instituição artística Londrina. Sua bolsa de estudos permitia que não pagasse pelas aulas, contudo, o material requerido nos seis anos de duração do curso deveria ser providenciado pelo aluno. Este período foi marcado pelo desenvolvimento do caráter e das idéias artísticas de Blake, que iam de encontro às de seus professores e colegas. Casamento Em 1782, após um relacionamento infeliz que terminou com uma recusa à sua proposta de casamento, Blake casou-se com Catherine Boucher. Blake ensinou-a a ler e escrever, além de tarefas de tipografia. Catherine retribuiu ajudando Blake devotamente em seus trabalhos, durante toda sua vida. Trabalhos Blake escreveu e ilustrou mais de vinte livros, incluindo “O livro de Jó” da Bíblia, “A Divina Comédia” de Dante Alighieri – trabalho interrompido pela sua morte – além de títulos de grandes artistas britânicos de sua época. Muitos de seus trabalhos foram marcados pelos seus fortes ideais libertários, principalmente nos poemas do livro Songs of Innocence and of Experience (“Cancoes da Inocência e da Experiência”), onde ele apontava a igreja da inglaterra e a alta sociedade como exploradores dos fracos. Apesar de seu talento, o trabalho de gravador era muito concorrido em sua época, e os livros de Blake eram considerados estranhos pela maioria. Devido a isto, Blake nunca alcançou fama significativa, vivendo muito próximo à pobreza. No dia de sua morte, Blake trabalhava exaustivamente em A Divina Comédia de Dante Alighieri, apesar da péssima condição física que culminaria no seu fim. Seu funeral, bastante humilde, foi pago pelo responsável pelas ilustrações do livro, e apesar de sua situação financeira constantemente precária, Blake morreu sem dívidas. Hoje Blake é reconhecido como um santo pela Igreja Gnóstica Católica, e o prêmio Blake Prize for Religious Art (Prêmio Blake para Arte Sacra) é entregue anualmente na Austrália em sua homenagem. * Poetical Sketches (1783) * There is no Natural Religion (1788) * All Religions Are One (1788) * Songs of Innocence (1789) * Book of Thel (1789) * The French Revolution: A Poem in Seven Books (1791) * A Song of Liberty (1792) * The Marriage of Heaven and Hell (1793) * Visions of the Daughters of Albion (1793) * America, A Prophecy (1793) * Songs of Experience (1794) * Songs of Innocence and of Experience (1794) * Europe, a Prophecy (1794) * The Book of Urizen (1794) * The Song of Los (1794) * The Book of Ahania (1795) * The Book of Los (1795) * Night Thoughts (1797) (ilustrações) * Milton (1804) * Grave (1808) * Everlasting Gospel (1818) * Jerusalem (1820) * The Ghost of Abel (1822) * Dante’s Divine Comedy (1825) (ilustrações) * O livro de Jó da Bíblia (1826) (ilustrações) filme “Quatro casamentos e um funeral

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Archibald Mcleish – Poesia – 20/09/24

Boa noite. O vôo dos corvos Archibald Mcleish ¹ O vôo dos corvos Haverá pouca coisa a esquecer: O vôo dos corvos, Uma rua molhada, O modo do vento soprar, O nascer da lua, o pôr do Sol, Três palavras que o mundo sabe, Pouca coisa a esquecer. Será bem fácil de esquecer. A chuva pinga Na argila rasa E lava lábios, Olhos e cérebro. A chuva pinga na argila rasa. ¹ Archibald Mcleish * Glencoe, Illinois – Usa – 7 de maio de 1892 d.C + Boston, Massachusetts – Usa – 20 de abril de 1982

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