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Petróleo e o surgimento, “súbito”, de ditadores

No reino da hipocrisia e dos interesses, nunca disfarçados, do complexo industrial militar — expressão usada pela primeira vez por Eisenhower —, cada vez se torna mais incisiva uma outra expressão: “é a economia, estúpido”. Essa citação de James Carville, assessor de Bill Clinton durante a campanha eleitoral que o levou à Casa Branca em 1992, é util para explicar o inexplicável que está acontecendo nesse momento nas arábias. Que outra maneira de entender porque durante décadas chefes de Estado tenham confraternizado com ditadores e cleptocratas aos abraços e beijos? De repente, não mais que de repente, os democratas ocidentais “descobriram” que existem ditadores sentados sobre reservas estratégicas de petróleo, e que agora, tais ditadores, não são mais confiáveis. Simples assim! O Editor De volta à guerra O ataque das potências às tropas de Kadafi modifica a situação da revolta nos países árabes. O objetivo, agora, é assegurar que as reservas de petróleo da Líbia permaneçam em mãos seguras. Antes, era Kadafi quem dava essa segurança aos governos da Italia, da Inglaterra, da França. Com a revolta, e a possibilidade de que a principal riqueza do país caia em outras mãos, as potencias européias querem chegar a um entendimento com as forças capazes de formar um novo governo. Passaram a combater Kadafi depois de protegê-lo ao longo dos anos.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] O argumento de que se pretende salvar vidas humanas e proteger a população civil é bom demais para ser verdade. A população da Líbia tem o direito de livrar-se de um ditador corrupto, sem compromissos com a democracia nem com o bem-estar da maioria. É uma luta heróica e justa. Não custa lembrar, contudo, que considerações humanitárias ou democráticas não fazem parte dos argumentos reais das potencias que iniciaram os ataques. Se fosse assim, estes mesmos governos teriam agido para impedir, por exemplo, os ataques da aviação israelense à população civil de Gaza no final de 2008, não é mesmo? Em tempos recentes, também poderiam ter agido contra o rei amigo do Barheim ou contra o ditador do Iemen. As causas dessa intervenção na Libia devem ser procuradas na situação interna dos países envolvidos. Sob o risco de ser expulso da Casa Branca em 2012, Barack Obama vê na operação uma oportunidade raríssima para se recompor. Já perdeu apoio entre eleitores jovens e democratas que garantiram a vitoria em 2008 e agora tenta seduzir aquela fatia de conservadores que não se deixa convencer pelos argumentos extremistas de republicanos no estilo Tea Party e talvez possa ser arrebatada para apoiar um candidato centrista. Não sei se Obama será capaz de realizar tamanha ginástica — mas esta é sua estratégia. A Inglaterra tem uma longa folha de serviços prestados à Kadafi e enxerga nessa ação uma oportunidade para formar novos aliados junto a um país com matéria prima tão preciosa e necessária. As relações entre Londres e Tripoli foram muito além do interesse comercial. Chegaram ao mundo acadêmico inglês, onde intelectuais prestigiados recebiam recompensas graudas para fazer a defesa da ditadura de Kadafi num serviço que hoje adquire a fisionomia de escândalo ético. Nicolas Sarkozy, o presidente frances, anda tão por baixo que as pesquisas informam que teria menos votos do que uma candidatura fascista nas próximas eleições. A raiz da guerra é esta: petróleo e votos. Conhecido por sua indepedência de pensamento num universo onde não faltam autores à soldo, o professor Edward Luttwak, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington, adverte para as chances de se abrir um novo conflito — sem solução à vista. Num artigo publicado em 10 de março, com o sugestivo titulo “Intervencionite” ele se deu ao trabalho de reunir várias razões capazes de explicar por que uma ação militar na Líbia só poderia dar errado. Uma das principais é a falta de apoio internacional. “Boa parte da opinião mundial não pode conceber que um governo seja suficientemente humanitário e generoso para derramar sangue e gastar dinheiro para ajudar cidadãos estrangeiros de forma desinteressada que, além disso, professam outra fé,” escreve Luttwak, sem esconder a ironia. Lembrando a experiência do Iraque, ele recorda que a invasão daquele país teve a capacidade de unir aliados e adversários de Saddam Husein, pois colocava em questão um tema sempre delicado em qualquer ponto do planeta, que é a soberania nacional. O mais duro adversário dos soldados americanos, hoje, é um lider muçulmano cujo pai foi assassinado pelos homens de Saddam. Paulo Moreira Leita/Época

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Obama: visita “dá um polimento” na imagem de Dilma Rousseff

Obama, o Barack, que de tolo não tem nada, veio afagar o ego dos Tupiniquins e ao mesmo tempo, como fazia Lula, mostra o seu (dele) lado mascate no cenário globalizado. Além de querer vender as bugigangas ‘gringas’, veio garantir o petróleo, uma vez que os ditadores amigos das arábias estão despencando do poder. Mas, não se enganem os descendentes da pátria lusa: ainda vai nascer o país que leve vantagem comerciando com o grande irmão do norte. O Editor Obama vira ‘cereja’ do plano de marketing de Dilma A visita de Barack Obama ao Brasil desce à crônica dos primeiros três meses do governo Dilma Rousseff como “cereja” de um bolo levado ao forno em janeiro. Dilma executa um plano de marketing concebido por João Santana. Responsável pela campanha do PT, ele se tornou conselheiro de imagem da presidente. Desde a posse, age para converter traços da personalidade de Dilma num ativo político que a distinga de Lula. A política externa é parte da estratégia. E a passagem relâmpago de Obama pelo país é celebrada como um divisor de águas. Opera-se uma guinada que distancia Dilma do “terceiro-mundismo” de Lula. Sem renegar África e Oriente Médio, a nova gestão prioriza Amérca do Sul, EUA e China. Sob Dilma, o Itamaraty iça à superfície o pragmatismo comercial que a ideologia da Era Lula havia soterrado. Em movimentos calculados, Dilma tomou distância do ditador iraniano Marmud Armadinejad, personagem ao qual Lula se achegara.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] No Planalto, atribui-se a visita de Obama ao reconhecimento dos gestos de Dilma. Em conversa com o blog, um auxiliar da presidente celebrou um detalhe: “Sempre que um novo presidente assumia no Brasil, a primeira providência era agendar uma visista aos EUA. Agora, a Casa Branca veio ao nosso reino”. O vocábulo “reino” orna à perfeição com o conceito que norteia a marquetagem de João Santana, um jornalista de formação. O escultor da imagem de Dilma costuma dizer que Lula, dono de popularidade lunar, deixou no imaginário popular um “vazio oceânico”. Acha que a eleição de uma mulher abriu espaço para acomodar na presidência algo inteiramente novo. Santana chama a “cadeira vazia” de Lula de “cadeira da rainha”. Na campanha, Dilma era vista pelo eleitorado pobre como espécie de “esposa do rei”. Tenta-se agora grudar nela a imagem de “soberana” com qualidades próprias –uma gestora capaz de combinar a sensibilidade feminina com o rigor administrativo. Um rigor que a faz contrariar as centrais sindicais (salário mínimo), impor limites ao rateio de cargos (Furnas e Eduardo Cunha)… …Passar a lâmina no Orçamento (corte de R$ 50 bilhões) e fixar prioridades (adiamento da compra dos caças da FAB). Tudo isso sem descuidar do essencial (combate à miséria) e sem fechar os olhos para novas demandas (promesa de dar atenção à classe média). Neste sábado, Lula deu uma inestimável contribuição à estratégia de sua sucessora. O ex-soberano faltou ao almoço em homenagem a Obama. Melhor: à ausência de Lula somou-se a presença de FHC, inserido na lista de convidados como evidência da “vocação republicana” de Dilma. Melhor ainda: ao discursar para empresários, em Brasília, Obama reconheceu o novo status que o Brasil adquiriu no mundo. Atribuiu a nova condição de sétima economia do planeta ao trabalho dos brasileiros e à combinação das políticas implementadas sob FHC e Lula. Citou ambos. E afirmou que, sob Dilma, a Casa Branca tem de dispensar ao Brasil um tratamento análogo ao da China e Índia, as outras nações emergentes. De olho nas obras da Copa e da Olimpíada, atento às oportunidades do pré-sal, Obama abriu em Brasília a maleta de mascate. Em termos práticos, a visita do presidente americano não produziu nada além de um comunicado conjunto com cara de carta de intenções. No campo da simbologia, porém, injetou-se na atmosfera uma aura de prestígio que coroa a estratégia propagandística “da nova cara”, blog Josias de Souza

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A Líbia após Kadafi

O vácuo de poder após a possível saída de Kadafi. Líbia carece de instituições que possam assumir o poder. Por: Neil Macfarquhar – correspondente no Cairo/The Times Tradução de Celso M. Pacionik O coronel Muamar Kadafi fez uma advertência estrondosa, exortando seus minguantes seguidores à guerra civil. “No momento apropriado, abriremos os depósitos de armas para que todos os líbios e tribos sejam armados para que a Líbia fique vermelha em chamas!”, vociferou num microfone portátil no entardecer de sexta-feira. É esse, aliás, o medo dos que observam a carnificina na Líbia, pois Kadafi passou os últimos 40 anos esvaziando cada instituição que pudesse desafiar sua autoridade.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Diferentemente dos vizinhos Egito e Tunísia, a Líbia carece da mão estabilizadora de um corpo militar para escorar um governo em colapso. Ela não tem Parlamento, sindicatos, partidos políticos, sociedade civil, nem agências não governamentais. Seu único ministério forte é a companhia petrolífera estatal. O fato de alguns especialistas acharem que o próximo governo poderá ser construído em cima do Ministério do Petróleo salienta a pobreza de opções. O pior cenário se a rebelião derrubar Kadafi, e um que preocupa autoridades antiterrorismo americanas, seria o de um Afeganistão ou Somália – um Estado falido onde a Al-Qaeda ou outros grupos radicais poderiam aproveitar o caos e operar impunemente. Mas há outros que poderiam ocupar um vácuo, incluindo tribos poderosas ou uma coalizão pluralista de forças de oposição que se apossaram do leste do país e estão apertando o cerco perto da capital. Os otimistas esperam que a deliberação da oposição persista; os pessimistas temem que a unidade só dure até Kadafi partir, e uma caça às bruxas sangrenta virá em seguida. “Vai haver um vácuo político”, disse Lisa Anderson, presidente da American University no Cairo e especialista em Líbia, sugerindo que são altas as possibilidades de um período violento de acerto de contas. “Não acho provável que as pessoas vão querer abaixar suas armas e voltar a ser burocratas.” Há uma pequena lista de instituições líbias, mas cada uma delas é limitada. Nenhuma tribo tem alcance nacional, e Kadafi deliberadamente jogou umas contra as outras, desenterrando rivalidades seculares mesmo em seus últimos discursos. Há alguns membros respeitados, mas anciãos, do Conselho de Comando Revolucionário original de 12 membros que se uniram a Kadafi no destronamento do rei, em 1969. Alguns intelectuais no país e exilados esperam que a Líbia possa ressuscitar a sociedade pluralista vislumbrada pela Constituição de 1951, embora sem um monarca. E há o imponderável, como o feito do coronel Kadafi que, aos 27 anos e como oficial inferior, arquitetou um golpe sem derramamento de sangue contra uma monarquia enfraquecida. O maior medo – e um sobre o qual os especialista divergem – é que a Al-Qaeda ou grupos islâmicos da própria Líbia, que suportaram uma feroz repressão e podem ter as melhores habilidades de organização entre a oposição, possam chegar ao poder. “Estivemos preocupados desde o início da agitação que a Al-Qaeda e suas filiais procurem oportunidades para se aproveitar de qualquer desordem”, disse uma autoridade de contraterrorismo dos Estados Unidos. Dessas filiais, ele mencionou o Grupo de Combate Islâmico Líbio, formado pelos veteranos que combateram os soviéticos no Afeganistão, e a Al-Qaeda no Magreb Islâmico, a filial norte-africana da rede, que se apressou em endossar o levante líbio na semana passada. Esses grupos “poderiam ser mais bem-sucedidos” na Líbia do que os militantes foram até agora no Egito, segundo a mesma fonte. “Nossos especialistas em contraterrorismo estão procurando sinais de que esses grupos possam ganhar um novo ponto de apoio ali.” Frederic Wehrey, um analista sênior de política na RAND Corporation que voltou recentemente de uma viagem à Líbia, disse que a Al-Qaeda poderia tentar explorar a agitação tribal e conquistar pontos de apoio nos vastos espaços desgovernados do sudoeste da Líbia, perto da fronteira argelina. No entanto, acrescentou que o islamismo sufista, uma forma mística da religião popular entre os líbios, tem sido resistente às formas mais extremas de salafismo defendidas pela Al-Qaeda. “A Al-Qaeda é muito hábil na exploração de ressentimentos tribais, de modo que há uma preocupação com o sul”, disse Wehrey. “Mas em termos de se os líbios estão prontos para receber o discurso da Al-Qaeda, não acho que isso seja tão ameaçador quanto alguns poderiam suspeitar.” Há muito que Kadafi viu a Al-Qaeda como uma grave ameaça a seu regime, e ele foi o primeiro a pedir uma ordem de prisão para Osama bin Laden via Interpol, disse Bruce Hoffman, diretor do centro para estudos sobre paz e segurança da Universidade Georgetown. Mas a realidade é mais nuançada. Para responder às ameaças de que após Kadafi virá um dilúvio islâmico ou tribal, Mustafa Mohamed Abud al-Jeleil, o ministro da Justiça que fugiu para o leste, realizou um fórum na semana passada na cidade oriental de Baida. O fórum reuniu líderes tribais, ex-comandantes militares e outros que se comprometeram em cooperar no futuro “Nós queremos um país – não há nenhum emirado islâmico ou a Al-Qaeda em parte alguma”, disse Abud al-Jeilel. “Nosso único objetivo é libertar a Líbia desse regime e permitir que as pessoas escolham o governo que quiserem.” Mas foi justamente nos arredores de Baida, uma cidade a nordeste de Benghazi, que a insurgência islâmica alcançou seu auge nos anos 90. Kadafi bombardeou pesadamente a cidade de Darnah, também no nordeste, nos anos 90, para eliminar a insurgência, e prendeu os membros que não foram mortos. Seu filho e aparente herdeiro, Saif al-Islam Kadafi, chefiou uma muito divulgada campanha para afastá-los da violência enquanto estavam presos, mas não há nenhuma garantia de que os ensinamentos prevalecerão quando estiverem livres. Entre esses grupos está uma Irmandade Muçulmana Líbia com laços com organizações similares no Egito e na Argélia, que é basicamente moderada com algumas facções radicais.

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PSDB propõe que Petrobras jamais seja privatizada

O deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) protocolou na noite de ontem junto à Secretaria-Geral da Câmara Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que impede a qualquer tempo a privatização da Petrobras. A PEC, que ganhou o número 370, acrescenta um quinto parágrafo ao artigo 177 da Constituição. O parágrafo diz assim: “A empresa estatal de petróleo brasileiro, Petrobras, cujas atividades econômicas se relacionam ao disposto no presente artigo, terá o controle exclusivo da União, sendo vedada alienação que implique na perda do mesmo”. Até há pouco, 225 deputados haviam assinado a PEC de Leite – 44 do PMDB, 38 do PSDB, 29 do PT, e os demais de outros partidos. Há uma intenção por trás da PEC: acabar com a história espalhada pelo PT de que a Petrobras será privatizada caso no próximo ano se eleja presidente da República o candidato do PSDB. blog do Noblat

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General Motors, adeus

Adeus, GM por Michael Moore ¹ Escrevi isso na manhã do fim da antes poderosa General Motors. Por volta do meio-dia, o presidente dos Estados Unidos tornaria oficial: a GM, tal como a conhecemos, teve perda total. Enquanto estou aqui sentado no berço da GM, em Flint, Estado de Michigan, estou cercado de amigos e famílias cheios de ansiedade pelo que acontecerá com eles e com sua cidade. Quarenta por cento das casas e negócios da cidade foram abandonados. Imaginem como seria viver numa cidade em que quase metade das casas está vazia. Qual seria seu estado de espírito? É uma triste ironia que a companhia que inventou a “obsolescência planejada” – a decisão de construir carros que se desmantelariam após alguns anos para que o consumidor tivesse de comprar um novo – agora se tornou obsoleta. Ela se recusou a fabricar automóveis que o público queria, carros mais econômicos, que fossem tão seguros quando poderiam, e fossem expressivamente confortáveis de dirigir. Oh… e que não começariam a se desmanchar depois de dois anos. A GM teimosamente combateu regulamentos ambientais de segurança. Seus executivos arrogantemente ignoraram os carros japoneses e alemães “inferiores”, carros que se tornariam o padrão ouro para compradores de automóveis. E ela foi determinada em punir sua força de trabalho sindicalizada, cortando milhares de empregos por nenhuma boa razão além de “melhorar” os resultados financeiros de curto prazo da corporação. A partir dos anos 80, quando a GM registrou lucros recordes, ela deslocou incontáveis empregos para o México e outros lugares, destruindo assim as vidas de dezenas de milhares de americanos que trabalhavam duro. A flagrante estupidez dessa política foi que, quando eles eliminaram a renda de tantas famílias de classe média, quem vocês acham que seria capaz de comprar seus carros? A história registrará essa trapalhada da mesma maneira como escreve hoje sobre a construção francesa da Linha Maginot ou de como os romanos envenenaram inadvertidamente seu próprio sistema de água com chumbo letal em seus canos. Então, aqui estamos ao pé do leito de morte da GM. O corpo da companhia ainda não esfriou, e eu me vejo cheio de – ousaria dizê-lo – alegria. Não é a alegria da vingança contra uma corporação que arruinou minha cidade natal e trouxe miséria, divórcio, alcoolismo, sem-teto, debilitação física e mental, e vício em drogas para as pessoas com as quais cresci. Eu não tenho, obviamente, nenhuma alegria em saber que mais 21 mil trabalhadores da GM serão informados de que também eles estão sem trabalho. Mas os Estados Unidos agora possuem uma empresa automobilística! Eu sei, eu sei… quem, na terra, quer gerir uma montadora de carros? Quem de nós quer 50 bilhões de nossos dólares atirados no buraco sem fundo para tentar ainda salvar a GM? Salvar a nossa preciosa infraestrutura industrial, porém, é outra questão e deve ser uma alta prioridade. Se permitirmos o fechamento e desmantelamento de nossas plantas automotivas, nós dolorosamente desejaremos ainda as possuir quando percebermos que essas fábricas poderiam ter construído os sistemas de energia alternativa de que hoje desesperadamente precisamos. E quando percebermos que a melhor maneira de nos fazer transportar é em trens-bala e de superfície e ônibus mais limpos, como faremos isso se tivermos permitido que nossa capacidade industrial e sua força de trabalho especializada desapareçam? Tal como fez o presidente Roosevelt após o ataque a Pearl Harbor, o presidente Obama precisa dizer à nação que estamos em guerra e precisamos imediatamente converter nossas fábricas de automóveis em fábricas que produzam veículos de transporte de massa e dispositivos de energia alternativa. Em poucos meses de 1942, em Flint, a GM paralisou toda a produção de carros e usou imediatamente as linhas de montagem para construir aviões, tanques e metralhadoras. A conversão não tomou nenhum tempo. Todos se empenharam. Os fascistas foram destruídos. Estamos agora num tipo diferente de guerra – uma guerra que foi conduzida contra os ecossistemas e foi movida por nossos líderes corporativos. Essa guerra atual tem duas frentes. Uma tem seu quartel-general em Detroit. Os produtos construídos nas fábricas de GM, Ford e Chrysler estão entre as maiores armas de destruição em massa responsáveis pelo aquecimento global e o derretimento de nossas calotas polares. As coisas a que chamamos “carros” podiam ser divertidas de guiar, mas são como um milhão de adagas no coração da mãe natureza”. Persistir na sua fabricação só levará à ruína de nossa espécie e de boa parte do planeta. A outra frente nessa guerra está sendo travada pelas companhias de petróleo contra você e eu. Elas estão empenhadas em nos depenar sempre que puderem, e têm sido as gerentes implacáveis da quantidade finita de petróleo que está localizado sob a superfície da terra. Elas sabem que o estão sugando até o bagaço. E como os magnatas da madeira no início do século 20, que não davam a mínima para futuras gerações quando derrubaram as florestas, esses barões do petróleo não estão dizendo ao público o que eles sabem que é verdade – que existem apenas algumas poucas décadas de petróleo aproveitável. E à medida que os últimos dias do petróleo se aproximam, nos preparar para algumas pessoas muito desesperadas dispostas a matar e ser mortas apenas para pôr as mãos num galão de gasolina. Há 100 anos, os fundadores da GM convenceram o mundo a desistir de seus cavalos, selas e carruagens para tentar uma nova forma de transporte. Agora chegou a hora de nós dizermos adeus ao motor de combustão interna. Ele pareceu nos servir tão bem por tanto tempo. Nós gostávamos de fazer malabarismos com os carros, tanto sentados no banco da frente como no de trás. Assistíamos filmes em grandes telas ao ar livre, íamos as corridas da Nascar por todo o país. E víamos o Oceano Pacífico pela primeira vez através da janela na Highway 1. E agora isso acabou. Este é um novo dia e um novo século. ¹ Michael Moore é o cineasta americano de Roger and Me sobre a indústria automotiva

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Objetivo do PSDB era quebrar o monopólio da Petrobras, dividi-la e privatizar uma parte

A Petrobrás em tempos de FHC por Suely Caldas Jornalista, professora de Comunicação da PUC-Rio E-mail: sucaldas@terra.com.br Com o propósito político de derrubar a CPI da Petrobrás, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e outros integrantes do governo Lula têm declarado que a verdadeira intenção do PSDB é enfraquecer a maior empresa do País para, em seguida, realizar antigo projeto do governo FHC de privatizá-la. As declarações chegam em tom emocional e condenatório, como se a privatização em si fosse um demônio que precisa ser exorcizado, extirpado da alma humana. Esquecem que o governo Lula tem privatizado rodovias, usinas elétricas, linhas de transmissão, empresas e outros tantos projetos de investimento que implicam concessão pública. Ou seja, condenam verbalmente o que praticam na vida real. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso logo veio a público negar, em nota oficial, ter sido sua intenção vender a Petrobrás ao capital privado, mas não esclareceu o projeto de seu governo, que não era uma privatização clássica, mas tinha por objetivo quebrar o monopólio e provocar concorrência. E nem foi adiante. Mas existia, era real. O PSDB mais calou do que esclareceu. A primeira parte do projeto foi revelada ao País no final de outubro de 1997 pelo então presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. A segunda parte é tornada pública agora, neste texto, por meio do mesmo Mendonça de Barros, em conversa que mantivemos na quinta-feira. “O modelo não era privatizar, mas criar uma segunda empresa com um pedaço da Petrobrás, com a finalidade de romper o monopólio, criar competição e avaliar eficiência em gestão”, explicou o ex-presidente do BNDES na conversa. Na época a estatal ainda não era uma empresa pública com 500 mil acionistas como é hoje e seu presidente era Joel Rennó, de quem eram cobradas eficiência e transparência na gestão. Com o título Governo vai iniciar gestão privada na Petrobrás, a entrevista de Mendonça de Barros anunciava o plano para a estatal: numa primeira etapa seriam vendidos 30% do capital votante (que excediam os 51% do controle estatal) a grandes grupos nacionais privados. “Pensávamos em Grupo Ultra, Odebrecht, Votorantim, grupos fortes de capital nacional, capazes de competir com empresas estrangeiras”, conta hoje Mendonça de Barros. Em 1997 ele afirmava: “A Petrobrás é diferente da Vale, é uma empresa estratégica para o País e precisa ficar em poder do capital nacional. Quando for considerada a privatização, ela precisa ser olhada com cuidado especial.” Só agora revelado pelo ex-presidente do BNDES, numa segunda etapa a Petrobrás seria dividida em duas empresas: a primeira, estatal, sob controle da União e detentora de 70% de todos os ativos (as reservas petrolíferas, as refinarias, os oleodutos, gasodutos, etc.). A segunda, controlada pelos grandes grupos nacionais que haviam adquirido 30% do controle na primeira etapa, começaria a operar com 30% dos ativos da antiga Petrobrás. Segundo Mendonça de Barros, o verdadeiro objetivo não era vender a Petrobrás, muito menos desnacionalizá-la, mas resolver o dilema da falta de competição, por entender que todo monopólio, seja estatal ou privado, é nocivo aos interesses da população. Naquele outubro de 1997 a entrevista de Mendonça de Barros caiu como uma bomba no Congresso. O senador gaúcho Pedro Simon exigiu do presidente Fernando Henrique um desmentido público às declarações. Pressionado, FHC enviou carta ao então presidente do Senado, José Sarney, garantindo que a Petrobrás não seria privatizada “em hipótese alguma”. A pressão política sobre FHC e a transferência de Mendonça de Barros para o Ministério das Comunicações para substituir Sergio Motta, que faleceu logo depois, acabaram por enterrar o projeto. Em março de 1999 FHC substituiu Joel Rennó por Henri Philippe Reichstul na presidência da Petrobrás e iniciou uma nova estratégia, que consistia em fortalecer a estatal e prepará-la para competir com as grandes petrolíferas estrangeiras – no Brasil e no exterior. O choque de gestão valorizou as ações, multiplicou o valor de mercado da Petrobrás e deu a partida para o modelo de empresa pública que é hoje, com capital pulverizado e mais de 500 mil acionistas privados, mas sob controle estatal. O curioso é que nessa entrevista de 1997 Mendonça de Barros defendia a ideia de formar grandes grupos nacionais por meio de fusões e incorporações, argumentando ser “essa a tendência do capitalismo moderno”. Argumento defendido pela ministra Dilma Rousseff, 11 anos depois.

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