Papa Francisco,Gaza e ateus
Em “Southern Banânia”, ateus – todos homens de bem, né não? – estão defendendo o Papa de ataques de católicos enfurecidos a favor da vida porque ele pediu Paz em Gaza para salvar vidas.
Em “Southern Banânia”, ateus – todos homens de bem, né não? – estão defendendo o Papa de ataques de católicos enfurecidos a favor da vida porque ele pediu Paz em Gaza para salvar vidas.
Em artigo recente, neste espaço, aludimos de passagem a uma frase do papa Francisco em que ele descreve o perfil do cidadão corrupto. Indagações de alguns leitores, interessados em se inteirarem de mais detalhes do pronunciamento, estimularam-nos a retornar ao assunto. O jornalista italiano Andrea Tornielli, vaticanista, redator do La Stampa, é responsável pelo siteVatican Insider e colaborador de várias revistas internacionais. Escreveu a primeira biografia de Francisco, o grande estadista mundial providencialmente alçado ao cargo de Pontífice da Igreja Católica. O livro Francisco, a vida e as ideias do papa latino-americano foi traduzido para 16 idiomas. “O corrupto tem sempre a cara de quem diz: Não fui eu!” (Papa Francisco) Uma outra publicação, de autoria do mesmo jornalista, intitulada O nome de Deus é Misericórdia, nasceu de uma entrevista de Andrea com Francisco em julho do ano passado, poucos dias depois da visita papal ao Equador, Bolívia e Paraguai.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A conversa girou em torno da “misericórdia de Deus”, classificada por Francisco como “a mensagem mais forte do Senhor.” É do livro mencionado, de enriquecedora leitura, o substancioso trecho da fala de Francisco, referente à corrupção. Reveste-se de refulgente atualidade nestes tempos tumultuados de agora. A máscara do corrupto O papa com a palavra: “A corrupção não é um ato, mas uma condição, um estado pessoal e social, no qual a pessoa se habitua a viver. O corrupto está tão fechado e satisfeito em alimentar a sua autossuficiência que não se deixa questionar por nada nem por ninguém. Construiu uma autoestima que se baseia em atitudes fraudulentas: passa a vida buscando os atalhos do oportunismo, ao preço de sua própria dignidade e da dignidade dos outros. O corrupto tem sempre a cara de quem diz: ‘Não fui eu!’ Aquele que minha avó chamava ‘cara de santinho’.” O corrupto é aquele que se indigna porque lhe roubam a carteira e se lamenta pela falta de policiais nas ruas, mas depois engana o Estado, sonegando impostos, e talvez demita os empregados a cada três meses para evitar contratá-los por tempo indeterminado, ou então possui trabalhadores não registrados. E depois conta vantagem de tudo isso diante dos amigos. É aquele que talvez vá à missa todo domingo, mas não vê nenhum problema em aproveitar a sua posição de poder, para exigir o pagamento de propinas. A corrupção faz perder o pudor que protege a verdade, a bondade, a beleza. O corrupto muitas vezes não se dá conta do seu estado, do mesmo modo que quem tem mau hálito e não se dá conta. E não é fácil para o corrupto sair dessa condição por um remorso interior. Geralmente, o Senhor o salva por meio das grandes provas da vida, situações que não pode evitar e que destroem a máscara construída pouco a pouco, permitindo assim à graça de Deus entrar.” Animamo-nos a perguntar ao distinto leitor, depois de visto o texto acima, se não lhe ocorreu, como aconteceu conosco, identificar, na descrição feita pelo papa Francisco sobre o comportamento habitual de muita gente na vida mundana, certos personagens com os quais esbarramos frequentemente em situações rotineiras da convivência comunitária? Por Cesar Vanucci
Combinação explosiva do desequilíbrio emocional com a influência nociva e distorcida de ideologias A sequência quase vertiginosa, nos quatro cantos do mundo, de ataques e ameaças de ataques atribuídos a terroristas mergulha o Ocidente na histeria e na paralisia, diante da absoluta imprevisibilidade das ações. Nem mesmo a Jornada Mundial da Juventude, maior evento católico do mundo, com a presença do próprio Papa Francisco, e que este ano está sendo realizada na Polônia reunindo milhões de fiéis, ficou imune. Apesar do caráter pacífico e de fé da celebração, a divulgação de ameaças de ataques se repetiu, inclusive com a prisão de um iraquiano, na véspera da JMJ, por posse de material explosivo.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A escalada frenética dos episódios protagonizados pelos chamados “lobos solitários”, e nos mais distantes pontos do planeta, levanta uma questão: ou o chamado Estado Islâmico possui uma sofisticada, eficiente e incomparável estrutura, ou a iniciativa individual – tendência que cresce cada vez mais – tem motivações muito mais complexas e ainda não investigadas de forma adequada, e que se travestem de luta ideológica. Tragicamente, nos dois casos o resultado é morte, dor e perplexidade. Na totalidade das ações dos “lobos solitários”, o ataque termina em suicídio. Resta às investigações traçar supostos roteiros e juntar peças para tentar elucidar o caso. Diante do evidente silêncio do autor do atentado, o Estado Islâmico não hesita em tomar para si a autoria. Afinal, quem poderá negar? Relatório divulgado neste mês pelo Serviço Europeu de Polícia (Europol) aponta que os “lobos solitários”, na verdade, sofrem de problemas emocionais, que podem se agravar por aspectos ideológicos ou religiosos, o que os torna capazes de cometer esses crimes e de se suicidar. O relatório destaca que, apesar de o Estado Islâmico ter reivindicado os recentes ataques em Orlando, Nice e Alemanha, nenhum dos quatro atentados foram planejados pelo grupo, nem apoiados logisticamente. Por outro lado, se o suicídio seria uma marca destas ações, e estaria supostamente ligado à total entrega do seu autor à ideologia e à causa do Estado Islâmico, por que os grandes líderes terroristas não estão entre os que se matam? Quais foram os líderes destes grupos extremistas que se suicidaram? Quais foram os chefes que fizeram o que eles recomendam que seus comandados façam? Osama Bin Laden, o terrorista de maior notoriedade em todo o mundo, foi incansavelmente caçado durante dez anos, e lutou por sua sobrevivência nos mais improváveis esconderijos até ser morto em 2011, por forças dos Estados Unidos, num bunker no Paquistão. O que todos esses indícios, e até o relatório do Serviço Europeu de Inteligência, mostram é que as ações individuais suicidas que têm se multiplicado no mundo são impulsionadas muito mais por uma combinação explosiva de desequilíbrio emocional com a influência nociva de mandamentos ideológicos do que propriamente por razões políticas. Neste mês de julho, a Academia Nacional de Medicina promoveu um seminário debatendo exatamente os mitos e tabus do suicídio. O acadêmico e psiquiatra Antônio Nardi explorou novas questões sobre o tema, ressaltando que o suicídio é, além de um problema mental, um problema social, pouco abordado tanto na sociedade quanto no curso médico de forma geral. O psiquiatria destacou ainda que o suicídio está invariavelmente ligado a doenças mentais, dentre as quais é possível destacar a depressão. Nesse aspecto, é possível falar sobre casos que chamam a atenção, tanto na história mundial como nos noticiários atuais, como os Kamikazes e os chamados homens-bomba. Nardi chamou a atenção para o fato de que, apesar da narrativa apresentada para estes casos – de que há uma motivação política para o suicídio – estudos apontam que as pessoas ligadas a esses casos apresentam indicadores de doenças mentais.
A frase premonitória que Fidel nunca disse sobre Obama, o Papa e CubaA frase, atribuída ao líder cubano em 1973, é boa, mas era só uma piada Com a visita de Barack Obama a Cuba, voltou a circular na Internet um comentário sarcástico supostamente feito por Fidel Castro em 1973 e que teria de transformado em uma assombrosa premonição involuntária: “Os Estados Unidos só irão dialogar conosco quando tiverem um presidente negro e houver no mundo um Papa latino-americano”. O problema é que Castro nunca disse isso. Este é um dos memes que estão sendo compartilhados no Twitter, em espanhol. Segundo o site Snopes, que se dedica a investigar e desmentir lendas urbanas, essa frase começou a ser espalhada como verídica por causa de um artigo do escritor argentino Pedro Jorge Solans publicado no jornal El Diario, também da Argentina, há pouco mais de um ano.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Nesse texto, Solans diz que a história lhe foi contada por Eduardo de la Torre, então estudante universitário e hoje taxista em Cuba. Fidel Castro teria dito a frase numa entrevista coletiva, em resposta a uma pergunta do jornalista britânico Bryan Davis. – Quando o senhor acha que poderão ser restabelecidas as relações entre Cuba e Estados Unidos, dois países tão distantes apesar da proximidade geográfica? Fidel Castro, segundo essa versão, o olhou fixamente e respondeu para todos os que estavam na sala: – Os Estados Unidos só irão dialogar conosco quando tiverem um presidente negro e houver no mundo um Papa latino-americano. Em meados de 2015, a frase foi publicada como verídica na imprensa da Espanha e América Latina, como recorda o site argentino Periodismo.com. O problema é que não há nenhuma outra fonte nem qualquer registro oficial da frase, segundo o Snopes. Tampouco se sabe qualquer coisa a respeito de Bryan Davis, o jornalista que teria feito a pergunta a Castro, segundo o site Skeptics. E tampouco há rastro dessa frase antes de dezembro de 2014, como recordam oThe Guardian e o Periodismo.com. Ou seja, ela surgiu na mesma época em que Estados Unidos e Cuba anunciaram o restabelecimento das suas relações diplomáticas. Na verdade, todas as referências anteriores ao artigo do El Diario apresentam a frase como uma piada que era contada naqueles dias na ilha, como no caso da coluna publicada em 22 de dezembro pelo jornalista Ortiz Tejeda, no jornal mexicano La Jornada. Nessa versão, Castro não responde a nenhum jornalista, e sim ao próprio Che Guevara, e a conversa ocorre em 1961: – Fidel, alguma vez voltaremos a ter relações diplomáticas com os ianques? Fidel responde: – Isso só será possível no dia em que o presidente dos Estados Unidos for negro e o Papa argentino, como você… O jornal Havana Times também menciona o ocorrido alguns dias mais tarde, em 27 de dezembro de 2014, afirmando se tratar de uma piada que aproveita a coincidência de três fatos que todos antes consideravam impensáveis. “Washington e Havana só retomarão as relações ‘no dia em que o presidente dos Estados Unidos for negro e o Papa argentino”, diz uma piada comum nos últimos dias na ilha, colocada na boca de um fictício Fidel Castro dos anos sessenta, e que resume muito bem as mudanças que ocorreram no mundo desde então e a imensa agitação política presenciada agora. El País/Jaime Hancock
Chiquinho não perde uma. Incomoda aos montes. Os esquerdistas estão adorando o Papa Francisco e os de direita estão detestando, isso diz alguma coisa? Os neoconservadores em sua esmagadora maioria dizem professar a fé Católica. São católicos e pasmem, considerarem o Papa Francisco um comunista. Não somente a Igreja, mas o mundo estava precisando de um homem como o Papa Francisco. Ele está resgatando a Igreja ao pregar o verdadeiro cristianismo. José Mesquita Como explicar que um Papa, pela primeira vez, fala de ecologia num documento do “magistério” da Igreja? O Papa é o chefe espiritual (e político) de mais de um bilhão de homens e mulheres católicos em todos os continentes. Compartilha, com o outro bilhão de cristãos (evangélicos, protestantes, anglicanos, ortodoxos), a narração bíblica da criação (no Gênesis), que impõe ao homem dominar e proteger a terra e todos os frutos de uma natureza criada por Deus.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Da noite dos tempos, o Papa intervém, em tempo oportuno (e com frequência inoportuno!), nos afazeres terrestres, fala de tudo o que diz respeito à humanidade, sua grandeza e suas fraquezas, condena as guerras e a opressão, exalta os pobres, milita “pela vida”, prega a favor da justiça social, por um mundo mais justo, um gênero humano mais solidário. E precisamos esperar este dia 18 de junho de 2015 para que um Papa publicasse, finalmente, uma encíclica, quase inteiramente escrita por seu próprio punho, dedicada ao ambiente, à “salvaguarda da Criação” e daquela que com razão define “a casa comum”, com as relações entre os seres vivos num mundo vivo, as ameaças ecológicas e climáticas que pesam sobre o futuro do planeta e sobre o destino da humanidade. Tomada de consciência Alguns o deplorarão, como aqueles bons católicos tradicionalistas (não necessariamente integralistas) que ainda identificam a ecologia com uma batalha dos “esquerdistas”, dos filhos do ’68 e do Larzac. São a favor de uma “ecologia humana” (defesa da vida, da lei natural, da família, luta contra o aborto e o matrimônio para todos), mas desconfiam de uma “ecologia ambiental e global”. O Papa será também criticado – e a coisa já começou nos Estados Unidos – por todos os conservadores céticos sobre as causas das mudanças climáticas, para os quais o aquecimento não é, em primeiro lugar, o resultado da atividade humana e social, mas de dados puramente naturais. Mas muitos outros ficarão bem felizes com esta (tardia) tomada de consciência na cúpula da Igreja. Todos aqueles, certamente, crentes e ateus, que, no mundo militante, estão na vanguarda das batalhas ecológicas. Também todos aqueles que, nas comunidades cristãs, têm uma experiência direta, em particular no mundo rural, no qual se protege – ou se destrói – o elo com a vitalidade dos seres da natureza. Enfim, todos aqueles que compartilham desta sensibilidade cristã ao tema bíblico da “salvaguarda da Criação”, indissociável das outras lutas evangélicas pela “paz” e a “justiça”. Sobre isto, os cristãos protestantes e ortodoxos sempre estiveram mais na frente dos católicos. Desde 1990, o Conselho mundial das Igrejas (com sede em Genebra) reunia em Seul uma assembleia geral sobre o tema “Justiça, paz e salvaguarda da Criação”. Os católicos não estavam presentes. A eclipse, sobre este tema, da doutrina católica, demasiado presa apenas pela “ecologia humana”, iludiu por muito tempo os teólogos da vanguarda. Como o patriarca ortodoxo de Constantinopla, chamado o “patriarca verde”, está na chefia de muitas associações de defesa do ambiente. Certamente se poderá dizer que os predecessores do Papa Francisco foram totalmente mudos sobre o argumento. Mas Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI ligavam os desafios ecológicos à esfera da “moral”, ou seja, dos interrogativos sobre a família e sobre a bioética. Para eles, a “degradação” do mundo era uma constatação entre as outras, consciente ou não, do projeto de Deus para a humanidade e para a Criação. Em sua encíclica sobre a “caridade” (Caritas in veritate [Caridade na verdade] de junho de 2009, Bento XVI punha em discussão os entusiasmos de uma globalização que perturba todos os esquemas de desenvolvimento, os modelos econômicos e as estruturas sociais até as “bases” materiais da existência do planeta. Mas defendia em primeiro lugar uma “ecologia do homem”, no qual a liberdade e a responsabilidade individual se articulavam com o desenvolvimento. “Existe uma ecologia do homem”, sublinhava ele ainda em 2011, diante do Bundestag em Berlim. Ecologia global O Papa atual ultrapassa um novo limiar. Passa da ecologia do homem à ecologia global. Não é por nada que ele escolheu, na tarde de sua eleição, o nome de Francisco, alusão a Francisco de Assis, santo patrono dos ecologistas, símbolo de fraternidade universal, que dedicou sua vida à reconciliação de todo o mundo criado, terra e céu Acumular bens era para ele uma loucura. Francisco de Assis percorria as estradas, mendigava o seu pão, pregava a conversão. Antes de morrer, compôs o famoso Cântico das criaturas, universalmente conhecido, no qual convidava o “irmão Sol” e “nossa mãe Terra” e todas as criaturas a louvarem Deus. O título da encíclica do Papa Francisco, “Louvado seja”, é inspirado neste Cântico das criaturas de Francisco de Assis. O Papa Francisco – Jorge Mario Bergoglio – vinha de um continente, a América Latina, no qual as urgências ecológicas estão entre as mais graves. Já tinha mostrado sua grande sensibilidade aos problemas do ambiente por ocasião da conferência dos bispos latino-americanos de Aparecida, no Brasil, em 2007. “Eu ouvia os bispos brasileiros falarem do desflorestamento da Amazônia”, contará ele mais tarde. Como arcebispo de Buenos Aires, apresentou recursos diante da Corte suprema da Argentina para bloquear empresas de desflorestamento no norte de seu país. Hoje se diz em Roma que, para a redação da encíclica, ele consultou padres empenhados em todas as lutas da terra da Amazônia. Mas, não basta. Tornado Papa, o bispo jesuíta latino-americano fez da luta à pobreza o objetivo prioritário de seu pontificado. A crítica violenta do “neocapitalismo selvagem”, que formula regularmente, do “neocapitalismo selvagem”, do modelo econômico ultraliberal e produtivista, do acúmulo de
Em resposta a Papa que repercute mal-estar com o capitalismo e busca de alternativas, poder global adotou estratégia astuta: em vez da polêmica, o silêncio… Laudato Si, a encíclica social apresentada por Francisco, foi recebida por um sugestivo coro de elogios. Só destoaram alguns representantes da direita norte-americana, como Jeb Bush, Rick Santorum e outros, católicos e republicanos, para os quais “o Papa está vendendo uma linha de socialismo de estilo latino-americano” e deveria ocupar-se de “fazer as pessoas melhores, ao invés das questões que têm a ver com política”. Tanta unanimidade no elogio a um documento que critica com dureza o sistema capitalista e o consumismo parece, pelo menos, estranha. Mais natural seria que uma encíclica para a qual a solução da crise é política, já que “o próprio mercado não garante o desenvolvimento humano integral, nem a inclusão social” recebesse também a crítica de uma longa fila de políticos, empresários, economistas, jornalistas e religiosos que se alimentam do sistema e agora se fazem de distraídos, ou lançam elogios formais.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Gerentes, representantes e defensores do sistema mencionado pela encíclica como causador de desastre humanitário e ecológico – a quem seguramente não faltam motivos para mandar o Papa “ocupar-se de outras coisas” – foram mais astutos que Jeb Bush. Calam-se e esperam que a inércia conservadora, que também arrasta a igreja católica, termine por inviabilizar a Laudato Si, como aliás já fez com outro documento de Francisco com fortes definições sociais, a Evangelii Gaudium. Para comprovar a vigência desta estratégia, basta reparar nos elogios parciais com que a encíclica foi recebida por empresários e jornalistas que desde sempre defenderam as supostas virtudes da desregulamentação liberal. Basta ver os sonoros silêncios dos políticos e meios de comunicação que apregoam a necessidade de um retorno – este, sim, disfarçado de “mudança” – às políticas de mercado e de ajuste dos anos 1990. Aconselhados pela “prudência política”, calam e esperam. Confiam que Laudato Si será em pouco tempo, por ação ou omissão da igreja, tão invisível como Evangelii Gaudium. Um ano e meio depois de sua publicação, já poucos nos lembramos deste documento, que também fez os acomodados rangerem dentes. TEXTO-MEIO Evangelli Gaudium, é preciso recordar, é o documento em que Francisco diz que o desequilíbrio entre ricos e pobres “provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso negam o direito de controle dos Estados, quando estes se encarregam de velar pelo bem comum”. Que fez a igreja, que fizeram os bispos e padres para que esta ideia penetre na consciência e resulte em ação? Uma primeira impressão é que fizeram pouco ou nada. Esta atitude é demonstrada pela afirmação do diretor de uma importante editora católica argentina, ao explicar sua decisão de não publicar um livro sobre a encíclica. “Não vai vender, porque a Evangelii Gaudium não foi incorporada pelos agentes pastorais”, afirmou ele. O diretor não o disse, mas é claro que esta falta de penetração é consequência ou de uma decisão expressa, ou do desinteresse de quem define as formas de agir da instituição. Apesar desta confissão, seria interessante comprovar a hipótese por meio de um trabalho de sociologia religiosa, que verifique quantos cursos ou seminários sobre a Evangelii Gaudium foram organizados pela igreja católica; quantos documentos ou pregações dedicaram-lhe os bispos; em quantas instruções pastorais sua difusão foi estimulada; em quantas matérias das universidades católicas ela é estudada; quantas paróquias organizaram alguma atividade inspirada na encíclica; quantas organizações de laicos a tomam como referência para sua ação; de que forma as Comissões de Justiça e Paz vêm trabalhando com ela etc etc etc. Seria de esperar que a igreja, seus bispos e instituições trabalhassem de maneira que a Laudato Si não seguisse o mesmo caminho obscuro e, pelo contrário, se convertesse no que deve ser: um novo paradigma de evangelização. Mas é algo que está por acontecer. Enquanto isso, a invisiblização da Evangelii Gaudim é muito recente, e muito evidente, para não temermos que a história se repita. E que se justifique, assim, a estratégia dos poderosos, que mentem adesão ou calam… e esperam. Por Rodolfo Luís Brardinelli/Tradução: Antonio Martins
Na primeira encíclica papal dedicada ao meio ambiente, Francisco defende fim da “cultura do consumo descartável” e chama aquecimento global de um dos principais desafios da humanidade. Papa critica a “cultura do consumo descartável” Benhur Arcayan / Malacañang Photo Bureau O papa Francisco apresentou nesta quinta-feira 18 a primeira encíclica dedicada ao meio ambiente, na qual exige dos líderes globais uma ação rápida para salvar o planeta da destruição e defende uma mudança no que chamou de “cultura do consumo descartável” dos países desenvolvidos. Na encíclica Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum, Francisco defende “ações decisivas, aqui e agora,” para interromper a degradação ambiental e o aquecimento global e apoia explicitamente os cientistas que afirmam que o planeta está se aquecendo principalmente por causa da ação humana. Ele afirma que se baseia “nos resultados da melhor investigação científica disponível” e chama o aquecimento global de “um dos principais desafios que a humanidade enfrenta em nossos dias”, destacando que os países pobres são os mais afetados.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “A humanidade é chamada a reconhecer a necessidade de mudanças de estilo de vida, produção e consumo, a fim de combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou agravam”, afirma. Francisco defende que os países ricos devem sacrificar parte do seu crescimento e assim liberar recursos necessários aos países mais pobres. “Chegou a hora de aceitar crescer menos em algumas partes do mundo, disponibilizando recursos para outras partes poderem crescer de forma saudável”, escreveu o papa. Ele apela às potências mundiais para salvarem o planeta, considerando que o consumismo ameaça destruir a Terra – transformada num “depósito de porcarias” – e denunciando o egoísmo econômico e social das nações mais ricas. “Hoje, tudo o que é frágil, como o ambiente, está indefeso em relação aos interesses do mercado divinizado, transformado em regra absoluta.” No texto, Francisco critica um sistema econômico que aposta na mecanização para reduzir custos de produção e faz com que “o ser humano se vire contra si próprio”, defendendo que o valor do trabalho tem que ser respeitado numa “ecologia integral”. Ele rejeita o argumento de que a tecnologia vai resolver todos os problemas ambientais (e que) a fome e a pobreza serão eliminadas simplesmente pelo crescimento do mercado. “Uma vez mais, temos de rejeitar uma concepção mágica de mercado, que sugere que problemas possam ser resolvidos simplesmente por meio de um aumento nos lucros de empresas ou indivíduos.” O papa estabelece uma relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta. “A convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do paradigma que deriva da tecnologia, a busca de outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a grave responsabilidade da política, a cultura do descartável e a proposta de um novo estilo de vida são os eixos desta encíclica, inspirada na sensibilidade ecológica de Francisco de Assis”, lê-se no 16.º parágrafo do documento papal. O papa também aborda diretamente alguns dos principais tópicos ambientais. Ele defende que o consumo de combustíveis fósseis seja banido o mais depressa possível em favor das energias renováveis. Essa mudança, porém, não será possível sem que os países mais ricos aceitem ajudar os mais pobres, escreve. Francisco alerta para o perigo de dar o controle da água às multinacionais, manifestando-se contra a privatização do que chama de direito humano básico. “Enquanto se deteriora constantemente a qualidade da água disponível, em alguns lugares avança a tendência para privatizar este recurso escasso, convertido numa mercadoria que se regula pelas leis do mercado”, critica. O líder da Igreja Católica refere-se ainda aos “pulmões do planeta”, repletos de biodiversidade, como a Amazônia, a bacia hidrográfica do Congo e outros grandes rios ou os glaciares, todos eles lugares importantes para “todo o planeta e para o futuro da humanidade”. Francisco propõe ainda que se comece uma “discussão científica e social responsável e ampla” sobre o desenvolvimento e a utilização dos organismos geneticamente modificados para alimentação ou medicina. “Embora não haja provas definitivas sobre eventuais malefícios dos cereais transgênicos para os seres humanos e estes tenham provocado um crescimento econômico que ajudou a resolver problemas, há dificuldades importantes” sobre o uso destes organismos que não podem ser esquecidas, alerta. Segundo ele, o uso de transgênicos levou a que haja “concentração de terras produtivas nas mãos de poucos e o progressivo desaparecimento de pequenos produtores, que, tendo perdido as suas terras, tiveram que se retirar” da agricultura. O papa também critica o uso excessivo das redes sociais. “A verdadeira sabedoria, produto da reflexão, do diálogo e do encontro generoso entre as pessoas, não se consegue com uma mera acumulação de dados que acabam em saturação e embaçamento, numa espécie de poluição mental”, escreve. O pronunciamento papal mais controverso em meio século já despertou a ira de setores conservadores, incluindo vários candidatos presidenciais republicanos dos Estados Unidos, que criticaram Francisco por se aprofundar em questões científicas e políticas. O apelo papal, porém, ganhou amplos elogios de cientistas, das Nações Unidas e de ativistas ambientais. por Deutsche Welle
O Papa Francisco dirigiu nesta quinta-feira um discurso a uma delegação da Associação Internacional de Direito Penal no qual condenou as execuções extrajudiciais e a pena de morte, medida usada inclusive por regimes totalitários para suprimir a dissidência e perseguir as minorias, e afirmou que o respeito à dignidade humana deve ser o limite a qualquer arbitrariedade e excesso por parte dos agentes do Estado. Discurso à Associação Internacional de Direito Penal / Foto: L’Osservatore Romano No seu discurso o Santo Padre reafirmou a condenação absoluta da pena de morte, que para um cristão é inadmissível; assim como as chamadas “execuções extrajudiciais”, quer dizer, os homicídios cometidos deliberadamente por alguns estados ou seus agentes e apresentados como consequência indesejada do uso aceitável, necessário e proporcional da força para aplicar a lei. Francisco assinalou que os argumentos contra a pena de morte são conhecidos. A Igreja –indicou-, mencionou alguns, como a possibilidade de erro judicial e o uso que lhe dão os regimes totalitários como “instrumento de supressão da dissidência política ou de perseguição das minorias religiosas ou culturais”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Do mesmo modo, expressou-se contra a prisão perpétua por ser “uma pena de morte disfarçada”. O Santo Padre também condenou a tortura e advertiu que a mesma doutrina penal tem uma importante responsabilidade nisto por ter permitido, em certos casos, a legitimação da tortura em determinadas condições, abrindo o caminho para abusos posteriores. No seu discurso, Francisco também exortou os magistrados a adotarem instrumentos legais e políticos que não caiam na lógica do “bode expiatório”, condenando pessoas acusadas injustamente das desgraças que afetam uma comunidade. Além disso, abordou a situação dos presidiários sem condenação e dos condenados sem julgamento. Assinalou que a prisão preventiva, quando usada de forma abusiva, constitui outra forma contemporânea de pena ilícita disfarçada. Também se referiu às condições deploráveis dos penitenciários em boa parte do planeta. Disse que embora algumas vezes isso ocorra devido à carência de infraestruturas, muitas vezes são o resultado do “exercício arbitrário e desumano do poder sobre as pessoas privadas de liberdade”. Francisco não esqueceu a aplicação de sanções penais às crianças e idosos condenando seu uso em ambos os casos. Além disso, condenou o tráfico de pessoas e a escravidão, “reconhecida como crime contra a humanidade e crime de guerra tanto pelo direito internacional como em tantas legislações nacionais”. O Papa também se referiu à pobreza absoluta que sofrem um bilhão de pessoas e a corrupção. “A escandalosa concentração da riqueza global é possível por causa da conivência dos responsáveis pela coisa pública com os poderes fortes. A corrupção, é em si mesmo um processo de morte… e um mal maior que o pecado. Um mal que mais que perdoar é preciso curar”, advertiu. “O cuidado na aplicação da pena deve ser o princípio que rege os sistemas penais… e o respeito da dignidade humana não só deve atuar como limite da arbitrariedade e dos excessos dos agentes do Estado, como também como critério de orientação para perseguir e reprimir as condutas que representam os ataques mais graves à dignidade e integridade da pessoa”, concluiu.
Autoridades do Vaticano informaram na última sexta-feira que o pontífice estuda visitar Cuba no fim de setembro, antes de sua viagem aos Estados Unidos. O papa Francisco está considerando a possibilidade de visitar Cuba durante sua próxima viagem aos Estados Unidos prevista para o fim de setembro, informou nesta sexta-feira (17) a assessoria de imprensa do Vaticano. Em nota, o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, explicou que os contatos com as autoridades cubanas para a possível visita do pontífice à ilha “ainda estão em um momento muito inicial para se falar de uma decisão já tomada ou de um projeto operacional”. O Vaticano divulgou a nota depois de o jornal americano “The Wall Street Journal” ter revelado que o Papa Francisco estava avaliando a possibilidade de visitar Cuba. O trabalho da diplomacia vaticana foi decisivo no histórico processo de reaproximação entre as autoridades de Cuba e dos EUA. A visita a Cuba poderia ser a primeira etapa do périplo pelos EUA, onde Francisco se tornará o primeiro papa da história a discursar no Congresso americano. A possível viagem à ilha seria um dos temas abordados no encontro previsto com o presidente americano, Barack Obama, na Casa Branca, no dia 23 de setembro, assim como no discurso que o pontífice fará na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A viagem será encerrada na Filadélfia, onde o papa participará do Encontro Mundial das Famílias, organizado pela Igreja Católica. Apesar de os contatos com as autoridades cubanas estarem na fase inicial, o Vaticano está se movimentando há muito tempo para viabilizar a visita de Francisco à ilha. O secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, uma espécie de primeiro-ministro do Vaticano, participou da VII Cúpula das Américas, no Panamá, reunião que contou com a presença de Obama e do presidente cubano, Raúl Castro. Além disso, a imprensa italiana informou que entre 22 e 28 de abril outro colaborador próximo ao papa, o prefeito da Congregação para o Clero, o cardeal Beniamino Stella, viajará a Cuba. Ele foi núncio da ilha entre 1993 e 1999. Cuba e a Santa Sé também celebram em 2015 os 80 anos do início de suas relações diplomáticas. O papa Bento VXI viajou a Cuba em março de 2012. Quatorze anos antes, João Paulo II tinha visitado à ilha. Fonte:MPortal