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Ópio, USA e a família Sackler

Quem é a família de bilionários acusada de se beneficiar da crise de drogas nos EUA Direito de imagemREUTERSO comércio e marketing do OxyContin gerou um aumento nas prescrições de opióides nos Estados Unidos e pode estar na origem da epidemia de dependência Eles deram o sobrenome a universidades, salas de museus, centros de pesquisa, galerias e até a um planeta fora do Sistema Solar. São uma das famílias mais poderosas dos Estados Unidos- mais rica que os Rockefeller- e também das mais discretas e filantrópicas, a ponto de serem chamados de os “Médici do século 20”. Mas o que poucos sabem é que a enorme fortuna dos Sackler – com a qual compram arte, criam fundações e instituições, patrocinam salas no Louvre e no Museu Britânico, abrem escolas em Israel e fundam dezenas de programas científicos e culturais por todos os lados – tem um passado obscuro. É uma história e uma fortuna que começam com três irmãos, passam por uma campanha de marketing e chega a uma epidemia sem precedentes de consumo e dependência de drogas opioides. Uma crise de saúde que levou os Estados Unidos a declarar, na semana passada, uma emergência de saúde pública que tem deixado mais mortos que a guerra do Vietnã e do Afeganistão juntos, sem que um tiro fosse disparado. O começo da fortuna Tudo começa no final do século 19, quando Arthur, Mortimer e Raymon Sackler, três irmãos psiquiatras do Brooklyn, fundaram em Greenwich Village, em Nova York, uma pequena empresa de medicamentos. Viram nela uma possibilidade de um negócio familiar e, em 1950, compraram, com os lucros, a Purdue Pharma, uma farmacêutica que, no início, gerava recursos com a venda de removedores de cera de ouvido, laxantes e o antisséptico de cor laranja iodopovidona, usado em cirurgias. Mas a entrada de dinheiro da produção de analgésicos na década de 1980 catapultou o negócio dos Sackler. Pouco menos de um século depois de sua fundação, a empresa era um gigante farmacêutico mundial e havia transferido sua sede para Stamford, em Connecticut. Direito de imagemGETTY IMAGESOs Sacklers financiaram um pátio futurista no Museu Britânico, que foi batizado com o nome da família No entanto, o grande êxito comercial veio em 1995, quando lançaram no mercado o OxyContin, um medicamento para a dor, com base em opioides, que era quase três vezes mais forte que a poderosa morfina. “O OxyContin é um analgésico que se sintetiza a partir da tebaína, uma substância presente no ópio. Ou seja, é da família da heroína”, explica à BBC Mundo o médico Brandon Marshall, professor de epidemiologia da Universidade de Brown, em Rhode Island. Além da capacidade de neutralizar a dor, esse remédio tem um potencial perigosamente alto de gerar dependência, ressalta Marshall. “Antes do surgimento do OxyContin, era muito raro os médicos prescreverem opiodes para combater a dor, mas foi tão grande a campanha de marketing realizada pela Pardue Pharma que o OxyContin se converteu num êxito de venda”, diz Marshall. As autoridades dos Estados Unidos aprovaram o medicamento naquele mesmo ano, em 1995, e já em 2001 as vendas alcançaram US$ 1,6 bilhão, superior às vendas do Viagra, e representavam cerca de 80% da receita da empresa dos Sackler. Direito de imagemGETTY IMAGESTrump declou na quinta que a crise de dependência em substâncias derivadas do ópio nos Estados Unidos, como a heroína, é uma emergência de saúde pública Uma investigação realizada por Marshall e publicada no American Journal of Public Healthindica que, desde a aprovação do OxyContin, várias farmacêuticas se engajaram em ações de marketing e “subornos” para convencer os médicos a prescrever opioides. Vários especialistas consultados pelas publicações New Yorker e Enquire também argumentam que a campanha levada a cabo pela Pardue Pharma contribuiu para que a prescrição desse tipo de medicamento fosse menos rigorosa, aumentando o número de dependentes entre a população. Só em 2012, médicos prescreveram mais de 282 milhões de receitas de analgésicos opioides, incluindo OxyContin, Vicodin e Percocet, uma quantidade que equivale a quase um frasco para cada habitante dos Estados Unidos. De acordo com pesquisa de Marshall, entre agosto de 2013 e dezembro de 2015, várias empresas farmacêuticas, entre elas a Pardue Pharma, pagaram mais de US$ 46 milhões a 68 mil médicos em todo o país por meio de refeições, viagens e honorários para os incitar a receitar opioides. A fortuna dos Sacklers se multiplicou e, em 2016, elas foram classificadas entre as famílias mais ricas dos Estados Unidos, com uma fortuna em ascensão, segundo cálculos da revista Forbes, de US$ 13 bilhões. Mas à medida que o consumo desses medicamentos aumentava nos EUA – e a fortuna dos Sackers disparava -, o uso de opioides causava uma catastrófica epidemia com uma magnitude de mortes sem precedentes. Epidemia Segundo Marshall, a história dos Sakler está atrelada à origem da atual crise de opioides. Uma situação que saiu tanto do controle que o presidente Donald Trump precisou declarar emergência de saúde pública. Dados fornecidos pela Agência de Investigação e Qualidade de Assistência Médica dos Estados Unidos indicam que, no ano passado, mais de 60 mil pessoas morreram no país por overdose de opiáceos (substâncias derivadas do ópio). Em 2014, cerca de 1,3 milhão de pessoas foram tratadas por esse motivo em clínicas e emergência de hospitais. Não foi o OxyContin, porém, a droga mais usada naquele ano, mas sim, a heroína e o fentanilo, uma droga de produção caseira 50 vezes mais poderosa quer a primeira. “Mas o OxyContin está na base de tudo”, assegura Marshall. Mais de 60 mil pessoas morreram por overdose de substâncias derivadas de ópio “Agora sabemos que as agressivas estratégias de marketing implementadas pela Purdue Pharma (e outras empresas) para promover o tratamento de dores crônicas com opioides receitados e as táticas que minimizaram as informações sobre risco de dependência foram o fator chave da crise atual”, assegura. De acordo com especialistas, estes medicamentos estão na base do surto de dependência e a epidemia de opiáceos vivida hoje pelos Estados Unidos. Organizações como

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A Islândia sabe como acabar com as drogas entre adolescentes, mas o resto do mundo não escuta

Nos últimos anos, o país reduziu drasticamente o consumo de tabaco, drogas e álcool entre os jovens Meninas numa academia de Reykjavik Dave Imms para Mosaic. Falta pouco para as 15h de uma ensolarada tarde de sexta-feira, e o parque de Laugardalur, perto do centro de Reykjavik, está praticamente deserto. De vez em quando, um adulto passa empurrando um carrinho de bebê. Mas, se os jardins estão rodeados de casas e edifícios residenciais, e os meninos já saíram do colégio, onde estão as crianças? Sou acompanhada em meu passeio por Gudberg Jónsson, um psicólogo islandês, e Harvey Milkman, professor de psicologia norte-americano que leciona na Universidade de Reykjavik durante uma parte do curso. Há 20 anos, conta Gudberg, os adolescentes islandeses estavam entre os que mais bebiam na Europa. “Nas noites de sexta, você não podia andar pelas ruas do centro de Reykjavik porque não se sentia seguro”, diz Milkman. “Havia uma multidão de adolescentes se embebedando diante de todos.” Chegamos perto de um grande edifício. “E aqui temos a pista de patinagem coberta”, informa Gudberg. Minutos atrás, passamos por duas salas onde se joga badminton e tênis de mesa. No parque também há uma pista de atletismo, uma piscina com aquecimento geotérmico e, finalmente, um grupo de crianças jogando futebol com entusiasmo sobre grama sintética. Não há jovens passando a tarde no parque neste momento, explica Gudberg, porque eles se encontram nas instalações fazendo atividades extra-escolares ou em clubes de música, dança e arte. Talvez também tenham saído com os pais. A Islândia ocupa hoje o primeiro lugar no ranking europeu sobre adolescentes com um estilo de vida saudável. A taxa de meninos de 15 e 16 anos que consumiram grande quantidade de álcool no último mês caiu de 42% em 1998 para 5% em 2016. Já o índice dos que haviam consumido cannabis alguma vez passou de 17% para 7%, e o de fumantes diários de cigarro despencou de 23% para apenas 3%. A Islândia ocupa hoje o primeiro lugar no ranking europeu sobre adolescentes com um estilo de vida saudável. O país conseguiu mudar a tendência por uma via ao mesmo tempo radical e empírica, mas se baseou, em grande medida, no que se poderia denominar de “senso comum forçado”. “É o estudo mais extraordinariamente intenso e profundo que já vi sobre o estresse na vida dos adolescentes”, elogia Milkman. “Estou muito bem impressionado com seu funcionamento.” Se fosse adotado em outros países, diz ele, o modelo islandês poderia ser benéfico para o bem-estar psicológico e físico geral de milhões de jovens. Isso sem falar dos orçamentos dos organismos de saúde e da sociedade como um todo. Um argumento que não pode ser ignorado. “Estive no olho do furacão da revolução das drogas”, diz Milkman, enquanto tomamos um chá em seu apartamento em Reykjavik. No início dos anos setenta, quando trabalhava como residente no Hospital Psiquiátrico Bellevue de Nova York, “o LSD já estava na moda, e muita gente fumava maconha. Havia um grande interesse em saber por que as pessoas consumiam certas drogas.” Em sua tese de doutorado, Milkman concluiu que as pessoas escolhiam a heroína ou as anfetaminas dependendo de como queriam lidar com o estresse. Os consumidores de heroína preferiam se insensibilizar, enquanto os usuários de anfetaminas optavam por enfrentar o estresse ativamente. Quando o trabalho foi publicado, Milkman entrou para um grupo de pesquisadores recrutados pelo Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas dos EUA para que respondessem a determinadas perguntas. Entre elas, por que as pessoas começam a consumir drogas, por que continuam consumindo, quando atingem o limite do abuso, quando deixam de consumi-las e quando têm recaída. “Qualquer aluno da faculdade poderia responder à pergunta sobre por que começa: é que as drogas são fáceis de conseguir e os jovens gostam de riscos. Também é preciso levar em conta o isolamento e talvez a depressão”, afirma. “Mas, por que continuam consumindo? Por isso, passei à pergunta sobre o limite do abuso… e me iluminei. Vivi minha própria versão do ‘eureka!’. Os garotos podiam estar à beira da dependência inclusive antes de tomar a droga, pois o vício estava na maneira como enfrentavam seus problemas.” Na Universidade Estatal Metropolitana de Denver, Milkman foi fundamental para o desenvolvimento da ideia de que a origem dos vícios estava na química cerebral. Os menores “combativos” procuravam ter “sensações intensas” e podiam consegui-las roubando calotas de carro, rádios e depois os próprios carros – ou através das drogas estimulantes. Claro que o álcool também altera a química cerebral. É um sedativo, mas primeiro seda o controle do cérebro, o que por sua vez pode suprimir as inibições e, em doses limitadas, reduzir a ansiedade. “As pessoas podem se tornar dependentes de bebida, carro, dinheiro, sexo, calorias, cocaína… de qualquer coisa”, diz Milkman. “A ideia da dependência comportamental se transformou no traço que nos caracteriza.” Dessa ideia nasceu outra. “Por que não organizar um movimento social baseado na embriaguez natural, em que as pessoas ‘sintam barato’ com a química de seu cérebro – porque me parece evidente que as pessoas desejam mudar seu estado de consciência – sem os efeitos prejudiciais das drogas?” “Por que não organizar um movimento social baseado na embriaguez natural, em que as pessoas sintam barato com a química de seu cérebro – porque me parece evidente que as pessoas desejam mudar seu estado de consciência – sem os efeitos prejudiciais das drogas?” Em 1992, sua equipe de Denver obteve uma subvenção de 1,2 milhão de dólares (3,7 milhões de reais) do Governo para criar o Projeto Autodescoberta, que oferecia aos adolescentes maneiras naturais de se embriagar, alternativas aos entorpecentes e ao crime. Os cientistas pediram aos professores, assim como às enfermeiras e aos terapeutas de centros escolares, que lhes enviassem alunos. E incluíram no estudo meninos de 14 anos que não achavam que precisavam de tratamento, mas que tinham problemas com as drogas ou com crimes leves. “Não lhes contamos que vinham para uma terapia, e sim que lhes ensinaríamos algo que quisessem aprender: música, arte, dança, hip hop ou artes marciais”, explica. A

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A guerra pelo poder na Rocinha

Traficante, ‘primeira-dama’ e ex-guarda-costas em guerra por poder na Rocinha: a visão de biógrafo de Nem Danúbia é mulher e ‘herdeira’ de Nem | Foto: Reprodução/ Facebook De um lado, o antigo guarda-costas e atual desafeto, que assumiu o poder do morro depois da prisão do mentor. De outro, a mulher do ex-chefe, condenada por tráfico, foragida, mas que, nas redes sociais, ostenta os cabelos pintados bem louros, o corpo bronzeado com biquínis e decotes, óculos escuros de grife e colares de ouro com pingente de coroa.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Ainda é cedo para concluir que a disputa de poder na Rocinha, zona sul do Rio, e a violência detonada na área, que culminou em novo tiroteio na manhã desta sexta-feira e com a decisão de intervenção do Exército, tenham sido ordenadas pelo traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, vulgo Nem, de dentro de uma prisão de segurança máxima, considera o jornalista britânico especializado em crime organizado Misha Glenny. Mas o racha interno e a crescente tensão entre a mulher e “herdeira” de Nem, Danúbia Rangel, e seu ex-aliado e sucessor, Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, precedem o conflito, em uma disputa de protagonismo que pode ajudar a explicar o embate – que gerou fortes tiroteios e imagens de guerra de domingo para cá na maior favela do Rio. Glenny conta a história de Nem no livro O Dono do Morro: um homem e a batalha pelo Rio (Companhia das Letras), lançado no ano passado. Em entrevista à BBC Brasil, ele considera que ainda há lacunas a se preencher sobre o papel que o ex-chefe do morro, preso em 2011 e atualmente em um presídio de segurança máxima em Porto Velho, Rondônia, teve no episódio. Mas diz que Nem continua sendo “extremamente influente” na Rocinha e que Danúbia vinha buscando maior protagonismo na comunidade, com uma divisão de forças entre ela e Rogério 157. “Claramente havia muita tensão entre o Rogério e a Danúbia. A única coisa que eu ainda não entendi é se a Danúbia estava agindo motivada por sua própria ambição, ou se estava representando, de fato, o Nem”, considera Glenny. “Eu suspeito que se trate mais da primeira opção, mas essa é só uma interpretação minha.” Glenny aponta para tensão entre Danúbia e Rogério 157, ex-aliado de Nem | Foto: Divulgação/ Ivan Gouveia Danúbia teria sido expulsa da Rocinha a mando de Rogério, e ambos estão foragidos. Ela, porém, parece se manter ativa nas redes sociais, onde, na segunda-feira, em uma conta que acredita-se ser dela, gabou-se de um perfil publicado no jornal O Globo. Postou o link da matéria destacando um trecho que a compara com a Bibi Perigosa vivida por Juliana Paes na novela A Força do Querer. “Viu só como estou poderzão ainda?”, escreveu com um emoji de sorriso escancarado. Na semana anterior, essa conta postou um panfleto do disque-denúncia com sua foto e de outras mulheres procuradas pela polícia, fazendo troça: “Eu e minha coleguinhas bombando por aí”, diz, ao lado de carinhas chorando de tanto rir. Glenny diz que Danúbia não é muito popular na Rocinha, sendo uma “forasteira” que veio da Maré, complexo de favelas na zona norte do Rio. Teria autoridade na favela não por sua personalidade, mas por ser mulher de Nem, tornando-se uma rara liderança feminina no mundo do tráfico – que lhe rendeu a alcunha de “Xerife da Rocinha”. Ela é a quarta esposa de Nem – que, segundo Glenny, sempre se mostrou “muito apaixonado” por ela. Antes, foi mulher de dois traficantes na Maré, ambos mortos pela polícia. Daí também o apelido de “viúva negra”. No domingo, a Rocinha foi invadida por dezenas de traficantes de morros como o São Carlos e o Vila Vintém, favelas controladas, assim como a Rocinha, pela facção criminosa conhecida como Amigos dos Amigos (ADA). O bando estaria, a pedido de Nem – segundo os jornais -, tentando tomar o controle das mãos de Rogério 157, em uma disputa interna da favela por integrantes da mesma organização. Glenny, que se encontra em Londres, diz que segue acompanhando de perto a escalada de violência no Rio e considera que os governos estadual e federal tem sido “incapazes” de lidar com a guerra de facções no Rio, que as Unidades de Polícia Pacificadora só continuam existindo “no papel” e que o envio do Exército para o Rio “não teve qualquer impacto na redução da criminalidade”. Leia abaixo os principais trechos da entrevista. BBC Brasil – O seu livro narra desde a ascensão de Nem a “dono do morro” à sua prisão em 2011. Ele agora está em um presídio de segurança máxima em Rondônia – que papel você acha que ele desempenhou nessa disputa? Misha Glenny – Citando fontes da polícia e do sistema prisional, os jornais dos últimos dias têm dado como certo que Nem comandou a invasão da Rocinha através da Danúbia (Rangel, sua mulher). Para mim, isso ainda é uma questão em aberto. Não digo que não aconteceu, mas não está comprovado. O Nem continua sendo uma figura incrivelmente influente e popular na Rocinha, e as pessoas o ouvem muito, mas não sabemos ainda até que ponto ele está envolvido. Se a ordem partiu dele, para quem teria dado a mensagem? Desde o início do mês ele não teve visitas da família, e só na terça desta semana foi visitado por seu advogado. Danúbia, que aparece em conta no Facebook que seria sua, é a quarta esposa de Nem | Foto: Reprodução/Facebook BBC Brasil – Sempre vemos disputas entre facções rivais no Rio, mas o que parece notável neste caso é que a disputa é entre integrantes da mesma facção (a ADA). O que precipitou esse conflito interno? Glenny – Na última vez que estive no Rio, em dezembro, já tinha havido um racha entre a Danúbia e o Rogério (Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, sucessor de Nem no comando do tráfico da Rocinha). A Danúbia havia criado seu próprio bonde e tinha seus próprios seguranças. E havia um terceiro

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Cultos Africanos – Narcotráfico

Ataque às religiões de matriz Africanas fazem parte da nova dinâmica do tráfego no Rio. Traficantes destroem terreiros de umbanda candomblé. Foto: reprodução de vídeo divulgado no youtube “TODO O MAL tem que ser desfeito, em nome de Jesus”, diz um traficante, ordenando que uma yalorixá destrua as imagens do seu terreiro em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, divulgado na quarta-feira (13). Em outro vídeo que circula nas redes sociais, um homem “lembra” a um pai de santo que o chefe não quer macumba no local: “É só um diálogo [segurando um taco de baseball escrito diálogo] que eu tô tendo com vocês.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Da próxima vez eu mato”, diz. As cenas  absurdas  são uma amostra de uma onda de ataques a terreiros de umbanda e candomblé comandados por traficantes que seguem acontecendo no Rio de Janeiro. Até o momento, só em setembro, foram oito casos registrados apenas em Nova Iguaçu. O Disque 100, serviço de denúncias de violações de direitos humanos do Governo Federal, recebeu, entre 2011 e 2016, 175 denúncias de intolerância religiosa no estado – 10% do total no país. Há relatos de ataques e perseguições em toda a  Região Metropolitana. No Rio, traficantes proíbem a prática das religiões e o uso de roupas brancas, levando filhos de santos a deixarem as favelas. Na Cidade Alta, após a troca de comando no morro em novembro do ano passado, imagens de santos foram retiradas de comércios locais.Os casos mencionados aconteceram em lugares dominados pela mesma facção criminosa, o Terceiro Comando Puro. As investigações correm em sigilo e parte dos envolvidos já foi identificada. Como resposta ao crescente número de casos de intolerância, a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública acenam com  a criação de uma delegacia especializada até o fim do ano. A conversão religiosa dos “homens do tráfico” não é um fenômeno novo, e esse tipo de perseguição acontece há mais de 10 anos nas favelas cariocas. Para ajudar a entender essa dinâmica em que traficantes que se denominam evangélicos tentam combater outras religiões nos territórios que dominam, The Intercept Brasil conversou com a professora de sociologia da UFF e autora do livro “Oração de traficante: uma etnografia” Christina Vital da Cunha, que pesquisa o tema há 23 anos. The Intercept Brasil: Por que é comum que traficantes busquem ajuda religiosa? Christina Vital da Cunha: Tanto policiais quanto traficantes, sempre estão no limite. Então, buscam proteção na religião. O salmo 91 é usado por policiais e traficantes, por exemplo. Assim como são Jorge foi e ainda é. O que acontece com essa proximidade mais recente dos traficantes com esse universo evangélico é que a igreja se apresenta como uma rede que os auxilia em diferentes questões da vida, como a preparar a saída do tráfico. O que os pastores chamam de libertação de traficantes. TIB: Como aconteceu essa aproximação com os evangélicos? CC: A primeira coisa que a gente tem que pensar quando vai se analisar essa situação é que os traficantes são formados em um caldo cultural que é comum hoje às pessoas de favelas e periferias. Eles sempre são produto de um meio. A gente vem observando com o passar das décadas, sobretudo dos anos 1990, um crescimento muito expressivo no número de templos religiosos evangélicos. Muitos deles são de famílias evangélicas, então já foram educados com referencial religioso. “O pastor Marcos Pereira teve grande influência sobre a conversão de vários chefes do tráfico, a partir da ação dele nos presídios”. Somado a isso, os pentecostais têm por característica a realização de missões com grupos marginalizados, entre eles os traficantes, oferecendo rede de proteção espiritual, psicológica e também material. Isso tem efetividade nessas localidades, assim como no sistema prisional. O pastor Marcos Pereira teve grande influência sobre a conversão de vários chefes do tráfico, a partir da ação dele nos presídios. Mas não só ele, traficantes convertidos, a Universal do Reino de Deus e a Assembleia de Deus também participam dessas ações em favelas e periferias. TIB: Como os líderes religiosos enxergam esses traficantes que se denominam evangélicos? CC: Há muitos nessa comunidade moral que é a comunidade religiosa, que negam o pertencimento do traficante, pois ele não pode dizer que é evangélico porque ele não tem uma conduta correta. Dizem que eles estão em um processo. Tem muita gente séria que leva a palavra de Deus a essas pessoas, pois acreditam que elas podem e devem se libertar. Mas também tem os que usam o dinheiro do tráfico. A coisa é complexa e tem de tudo. TIB: A figura de traficantes evangélicos é exclusiva do TCP? CC: Nos anos 2000, houve a conversão de um dos chefes do Terceiro Comando. Essa conversão atualiza comportamentos no crime. Havia uma orientação que levava a menos confrontos, menos mortes e também se referia às sucessões na hierarquia do tráfico baseada em uma visão que uma pessoa teve na igreja. A partir daí, traficantes de lugares diferentes da hierarquia do crime passam a se vincular ao universo religioso e ter o comportamento orientado por esse conjunto de valores evangélicos. Agora, não podemos afirmar que todo traficante evangélico pertence a uma única facção. É verdade que os casos midiatizados nos últimos dias são em localidades da mesma facção. Mas, por exemplo, no Complexo da Maré [no Rio], na parte do território do Comando Vermelho é comum as pichações com salmos e orações nas paredes. É algo que faz parte da cultura da periferia. TIB: Em que momento as religiões de matriz africana passam a ser perseguidas? CC: Existem líderes religiosos que incentivam a partir dos seus discursos nas igrejas atos de combate a inimigos espirituais e terrenos. Isso é uma prática que não acontecem só em igrejas de denominação única [independentes] em favelas e periferias. Isso acontece também com lideranças que estão aparecendo na mídia, e a gente vai encontrar isso em diferentes denominações e camadas sociais. A partir da valorização de uma teologia do domínio, insuflam o combate ao inimigo, o combate das forças do bem contra o mal. E o mal está localizado em determinados símbolos, signos, grupos, religiões e comportamentos que devem ser combatidos com

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Drogas – Heroína está afundando os Estados Unidos

Os EUA nas garras da heroína Luis Orozco, 24 anos, nesta semana em Miami P. D. LL. Nesse gueto de Miami, a cocaína é chamada de girl – menina — e a heroína, de boy – menino. Presidente Donald Trump declara epidemia de opiáceos como emergência nacional. O EL PAÍS conversou com três dependentes químicos e com um quarto que superou o vício. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] “Quer boy?”, pergunta um traficante. Pois todos os brancos que aparecem nas ruas desoladas do bairro negro de Overtown querem, precisam urgentemente do boy. Manhã úmida, nublada, quente. Um ruivo anda de bicicleta. Não consegue parar. Está atrás da sua dose. “Depois, se você quiser, dou cem entrevistas”. E sai pedalando. Jason, filho de cubanos, 30 anos. Não revela o sobrenome. Não quer ser fotografado. Mas conta: “Comecei com os comprimidos e depois passei para a manteiga. E quando você experimenta a manteiga, não quer mais saber dos comprimidos”. “Manteiga” é o boy. Jason jogava beisebol. Vem “de boa família”. Sua irmã está se formando em advocacia. Jason: “Ainda estou tentando entender que merda que aconteceu com a minha vida!”.´ São os Estados Unidos. É a epidemia de heroína, de opiáceos sintéticos que vem da China como mísseis tomahawk em pó, dos analgésicos viciantes da indústria farmacêutica receitados como se fossem balas – cerca de 300 milhões de comprimidos por ano desde 2000. A epidemia que Trump decretou como emergência nacional em 10 de agosto. É essa torrente numérica: 35.000 mortos – cerca de cem por dia — por causa de overdose de heroína e outros opiáceos em 2016, ano que bateu um recorde histórico de mortes causadas por drogas: 60.000, mais do que em toda a Guerra do Vietnã; no Estado de West Virginia, em 2015, o índice foi de 36 mortos por opiáceos para cada 100.000 habitantes, superior ao de 30 por 100.000 homicídios registrados na Guatemala no mesmo ano. Um assessor de Trump sintetiza: “É um 11 de Setembro a cada três semanas”. “Sou uma menina de vilarejo” Cary Morissette, 28 anos P. D. LL. Estava comprometida, ia me casar, ter filhos. Era gerente de um Wendy’s… Cary Morissette tem 28 anos, é dependente desde os 20. Está cansada: “Quando você acorda de manhã, primeiro toma o café da manhã e depois escova os dentes. Eu acordo suando, primeiro vomito e depois, se não guardei nada do dia anterior, saio para comprar a minha dose”. Passa um outro traficante, oferece a sua droga, mostra seus dentes cheios de ouro. Cary, com seus dentes estropiados, é de Maine. Belo, cheio de florestas, na fronteira com o Canadá, um dos Estados mais atingidos pela epidemia. “Sou uma menina de vilarejo, o típico lugar onde todos se conhecem”. Pupilas dilatadas. Como no caso de Jason, ela conta que a sua é uma “boa família americana”. “Que fazia esporte – softball –, tinha “um pai incrível”, “irmãs maravilhosas”. De repente, um dia, começou a fumar cocaína em pedra feito uma desesperada e depois passou a ingerir heroína na veia. “Estava comprometida, ia me casar, ter filhos. Era gerente de um Wendy’s [dá uma risada, desdenhando o mérito de seu cargo na rede de hambúrgueres], mas ia abrir a minha própria doceria para fazer bolos de casamento”. Ela sua, sua muito. “Veja como estou agora. Cheia de infecções”. Uma amiga, bastante pálida, se aproxima. “Eu comecei com comprimidos”. Característica típica da questão: brancos que se viciaram em pílulas. E daí passaram para o cavalo. Cary não quer parar para pensar sobre o motivo dessa epidemia nos EUA. Simplesmente diz: “Isso é nojento”. Mas sua amiga comenta: “É porque nós somos os mais viciados do mundo e só sabemos desfrutar em excesso. Como os obesos são com a comida, nós somos com isso”. Jesse Thompson, 24 anos P. D. LL. Você não faz ideia de como o Hermitage é bonita. Mas, se eu tivesse ficado mais um dia ali, acabaria morto “Os comprimidos eram o céu” Ele tem 24 anos, não consegue entender como não morreu e agradece a Deus por já estar limpo há um ano e meio. Jesse Thompson, “inter-racial, pai branco e mãe negra”, nascido em Hermitage (Pensilvânia, outro estado afetado). Graciosa, cheia de sol, um verdadeiro pomar de centros de reabilitação, confim peninsular aonde fugir para tentar renascer é um ponto de atração para drogados de todo o país. Foi aqui que Thompson se livrou das “garras da heroína” e agora trabalha ajudando dependentes. “Você não faz ideia de como Hermitage é bonita. Mas, se eu tivesse ficado mais um dia ali, estaria morto”. Jogava futebol americano. Foi operado. Deram-lhe analgésicos. “Com os primeiros comprimidos, eu entendi que tinha encontrado o que precisava. Eu me sentia no céu, invencível, como se ninguém pudesse me atingir”. Depois de alguns meses as receitas acabaram e ele foi tentar comprar comprimidos de um amigo do colégio. “Ele não tinha mais e disse: ‘mas tenho heroína’. Eu não estava aguentando a crise de abstinência das pílulas e então respondi: ‘Me dá isso já’”. E, como um “animal viciado”, chegou a gastar mais de 200 dólares por dia com heroína. Queimava todo o salário ganho como funcionário de uma construtora e ainda roubava mais mil por semana do cartão de crédito da mãe. Luis Orozco, 24 anos ANTONI BELCHI Tudo que lhe vendem agora, mesmo dizendo que é heroína, é fentanil. É terrível Jesse foi frequentador assíduo de Overtown. Agora não é mais. A entrevista foi dada em um bairro tranquilo, enquanto desfrutava de um hambúrguer com bacon. Acompanha tudo sobre a epidemia, combate na linha de frente contra ela e prevê: “Isso não vai parar. Vai piorar. Pode acreditar”. “Ando entre a vida e a morte” Carly diz seu nome, mas não o sobrenome. “Coloque Carly R.”. Tem 36 anos, usa drogas desde os 19, é de Miami. Já esteve 11 vezes em clínicas de reabilitação. Tem rosto de criança. Chora ao falar da família. “Tive tudo o que queria, mas era uma menina problemática”. Por mais nociva que a droga seja, ela se queixa de que a heroína anda escassa. “Tudo que vendem para você hoje,

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Narcotráfico e a nova guerra do ópio

“Apenas” 272 Toneladas de Crack foram apreendidas no Rio de Janeiro em 2016. De janeiro a maio de 2017 as apreensões aumentaram 72% em relação ao mesmo período em 2016. Agora vão imaginando p que passa em helicópteros, jatinhos… Nos anos 80, o General norte americano Paul Gorman, comandante de tropas americanas sediadas no Panamá, declarou: “O povo norte-americano deve compreender que nossa segurança e a de nossos filhos está ameaçada pelos cartéis latinos da droga que tem mais êxito subversivo nos EUA do que tudo o que vem de Moscou (…) Para empreender uma ação armada com qualquer fim, o lugar propício para encontrar dinheiro e fuzis é o mundo das drogas.” Em 1985, um grupo de investigadores da Intellience Review, publicou um livro intitulado NARCOTRÁFICO S.A. – A NOVA GUERRA DO ÓPIO”- recomendo a leitura. Disponível na Amazon, mas somente em inglês e espanhol, onde lemos a afirmação: “Os herdeiros da velha Companhia Britânica das Ìndias Orientais – a mesma monarquia britânica e algumas das mesmas casas bancárias – iniciaram a nova Guerra do Ópio, exatamente com o mesmo objetivo da primeira vez: saquear as nações, destruí-las e sobretudo manter o poder do império”. No Brasil, enquanto nos ocupamos, inútil e quixotescamente, com a invencível corja de ratos politicos, o povo, do topo à base da pirâmide, somos bucha de canhão em uma guerra assimétrica, que nos aterroriza e que nos faz reféns das drogas e das quadrilhas que se multiplicam, cooptando a infância e a juventude, destruindo famílias e matando mais gente de fome, doença, tiroteios, assaltos e acidentes de trânsito, que em guerras declaradas. PS.1.E ainda há inocentes que acreditam que um apocalipse dessa dimensão pode ser resolvido com pena de morte e Polícia. Os policiais são heróis, mas não podem fazer milagres. PS.2. O nome George Soros não ficaria estranho nesse texto. E o mantra é simples na seara da ciência econômica; sem demanda não há oferta.

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Economia – Maconha medicinal fatura mais que Viagra

Maconha legal já é mercado maior que viagra e tequila nos EUA Maconha: Ministro da Justiça quer erradicar uso e comércio no Brasil (OpenRangeStock/Thinkstock) O mercado legal de maconha (medicinal e recreativa) nos Estados Unidos cresceu 30% em 2016 e ficou entre US$ 4 bilhões e US$ 4,5 bilhões.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] É mais do que movimentado por bebidas como tequila (US$ 2,3 bilhões), serviços pagos de streaming de música (US$ 2,5 bilhões) e medicamentos como o Viagra e Cialis (US$ 2,7 bilhões, incluindo o Canadá). A maconha legalizada também se aproxima do tamanho do mercado de pizza congelada (US$ 4,4 bilhões) e de sorvete no varejo (US$ 5,1 bilhões). Os números são da última edição do Marijuana Business Factbook, lançado anualmente pela publicação Marijuana Business Daily. O mercado recreativo no país foi liderado pelos estados de Washington e Colorado, que legalizaram esse tipo de uso em 2012, e impulsionado definitivamente em 2016 por outros sete estados. A Califórnia, onde as vendas devem começar no ano que vem, é o estado mais populoso dos Estados Unidos e se fosse um país, teria a sexta maior economia do planeta. A estimativa é que o mercado nacional triplique até 2021, quando chegaria a US$ 17 bilhões, menos da metade de uma demanda total hoje estimada em US$ 40 bilhões. Também ajuda que 6 em cada 10 americanos já apoiam a legalização, a mais alta proporção já registrada. Mas há algumas preocupações. Em alguns locais a produção cresceu mais rápido do que a demanda, o que derrubou demais o preço, e o governo de Donald Trump dá sinais contraditórios sobre o tema  no nível federal, o que faz aumentar o medo de intervenção nos produtores. Na América Latina, o pioneiro na legalização é o Uruguai, que está registrando os cidadãos interessados no produto para começar as vendas em julho. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária decidiu na última terça-feira classificar oficialmente a a Cannabis sativa como uma planta medicinal. Legalizar o uso recreativo poderia render entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões por ano para os cofres públicos, de acordo com um estudo divulgado pela Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Por João Pedro Caleiro

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Os riscos das ‘drogas legais’, agora proibidas no Reino Unido

Depois de anos de polêmica, a proibição das chamadas “legal highs” (“drogas legais”, em tradução livre) entrou em vigor em todo o Reino Unido nesta quinta-feira. As substâncias imitam os efeitos de drogas como ecstasy e maconha Image copyright PA Leis agora proíbem a produção, distribuição e comércio desses produtos muitas vezes dispostos em embalagens coloridas, desenvolvidos para imitar os efeitos de drogas como maconha, cocaína e ecstasy. Para isso, contêm várias substâncias químicas, parte delas ilegais.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Também conhecidas como “novas substâncias psicoativas”, essas drogas são vendidas sob nomes como spice (especiaria) ou black mamba (mamba-preta, nome de uma cobra venenosa africana). São geralmente engolidas ou inaladas – embora já existam relatos de versões injetáveis -, e provocam efeitos estimulantes, sedativos ou psicodélicos. Entre elas, está a sálvia (planta da espécie Salvia divinoru, proibida no Brasil) e o óxido nitroso, conhecido como “gás do riso”, comumente inalado a partir de balões de festa e que pode ser fatal se usado em excesso. Óxido nitroso dá aos usuários uma sensação de euforia, que dura alguns segundos – Image copyright AFP/GETTY IMAGES No ano passado, as “drogas legais” foram ligadas às mortes de mais de cem pessoas no Reino Unido, assim como ao aumento da violência em prisões. Segundo as autoridades de saúde, podem levar a quadros de paranoia, convulsões e coma, principalmente se misturadas com álcool ou outras drogas. Pessoas que desrespeitarem a proibição serão enquadradas na Lei de Substâncias Psicoativas. A pena é de até sete anos de prisão. Buscas policiais Com a mudança, os policiais britânicos também poderão fechar headshops (lojas que vendem produtos relacionados a drogas) e sites que oferecem tais drogas. Eles passam ainda a ter poder para apreender e destruir substâncias psicoativas, além de revistar pessoas, imóveis e veículos. Se um detento for flagrado portando uma dessas “drogas legais”, estará sujeito a ter até dois anos de prisão adicionados a sua sentença. Após 9 pessoas ficarem doentes, polícia da Grande Manchester prendeu dono de loja – Image copyright GMP Proposta no ano passado pelo governo, a nova legislação passou por um intenso escrutínio. As expectativas eram de que as medidas entrariam em vigor em abril, mas a data acabou adiada. Mark Easton, editor de assuntos domésticos da BBC, explica que os conservadores – partido do primeiro-ministro David Cameron – costumam ser refratários a criar novas regras que atinjam negócios ou proíbam produtos que especialistas acreditam ser prejudiciais à saúde. Mesmo assim, diz, o governo lançou mão da legislação mais “radical e abrangente” já vista com o objetivo de resolver os problemas que essas “drogas legais” têm causado. Embora fossem apontados como responsáveis por problemas sociais e de saúde, esses produtos não eram cobertos por nenhuma lei existente. Estimulantes “spice” à venda em uma loja londrina –  – Image copyright GMP Antes da proibição, uma pesquisa realizada pela YMCA (organização cristã que atua com adolescentes) apontou que cerca de dois terços dos jovens que utilizam essas drogas tendem a continuar a fazer uso delas no futuro. Há o temor de que o banimento leve as pessoas que vendem as “drogas legais” à chamada “dark web”, área da internet em que estão hospedados sites cujos responsáveis são difíceis de descobrir e que não são localizáveis pelos sistemas tradicionais de busca. As novas regras entram em vigor um dia após o dono e um funcionário de uma loja terem sido presos na região de Manchester – nove pessoas ficaram doentes após usarem substâncias que seriam vendidas ali. BBC

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Uma atleta baleada na cabeça e outras histórias do ‘inferno’ da insegurança no Rio às vésperas dos Jogos

Aos 27 anos, Anna Paula Cotta sonha em ser uma atleta olímpica, mas, para os Jogos do Rio, na sua cidade natal, ela tem um desafio maior: recuperar-se do tiro que levou na cabela durante um assalto. Atleta de tiro esportivo, Anna Paula Cotta levou um tiro na cabeça durante um assalto “É uma coisa meio pesada pela qual muita gente passa. Você vê na televisão todos os dias… Todos os dias, alguém morre”, diz Cotta, que pratica tiro esportivo, em voz baixa. “Mas, graças a Deus, estou aqui”, acrescenta ela durante uma entrevista concedida à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, na intimidade de sua casa, a primeira depois de se tornar mais uma vítima da violência carioca, há menos de um mês. O crime ocorreu em 9 de junho em plena avenida Martin Luther King, uma importante artéria viária da Zona Norte do Rio, a menos de 500 metros da delegacia de polícia do bairro de Inhaúma. Por volta das 5h00 da manhã, Cotta estava dirigindo sozinha em um pequeno carro amarelo para ajudar na empresa de transportes de seu pai, que, aos 63 anos, luta contra um câncer. Ressonância magnética mostra o dano causado pela bala no crânio de Cotta Logo, ela se deparou com um grupo de assaltantes armados que haviam parado o trânsito para roubar dinheiro e celulares de motoristas, uma prática frequente na cidade. Ela tentou passar. Os ladrões abriram fogo. Seu automóvel foi alvejado seis vezes. Um dos tiros atingiu o osso frontal de seu crânio. O carro seguiu em frente por vários metros até bater contra um muro. Cotta ficou ali, imóvel, sangrando e indefesa. ‘Bem-vindos ao inferno’ Falta praticamente um mês para o começo dos Jogos Olímpicos Rio 2016, e os índices de criminalidade sobem de forma alarmante no Estado anfitrião do evento. Só em maio, foram denunciados 9.968 roubos nas ruas, 42,9% acima do mesmo mês do ano anterior, indica o Instituto de Segurança Pública (ISP), vinculado ao governo fluminense. Houve 2.083 homicídios dolosos no Estado do Rio entre janeiro e maio, um aumento de 13,6% em relação ao mesmo período de 2015. ‘Bem-vindos ao inferno’, dizia a faixa em protesto contra o atraso de salários de policiais e bombeiros do Rio – Image copyright AP Quebrado financeiramente, o governo do Rio decretou em junho “estado de calamidade pública”, para receber R$ 2,9 bilhões do governo federal, destinados à area de segurança, o que inclui o pagamento de salários atrasados de policiais. “Bem-vindos ao inferno”, dizia em inglês uma faixa que, nesta segunda-feira, voltou a ser exibida por um grupo de policiais no aeroporto internacional do Rio para protestar contra o atraso dos salários. “Policiais e bombeiros não estão sendo pagos, quem vier ao Rio de Janeiro não estará seguro.” O ato foi idêntico ao realizado uma semana antes, e, apesar de bastante criticado por empresários de turismo, está evidente a deterioração da segurança para quem vive na cidade ou acompanha as notícias locais. Só na última semana de junho, morreu baleado em um assalto um policial que integrava a equipe de segurança do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e um cadáver mutilado apareceu nas areias de Copacabana, onde serão realizadas as disputas de vôlei de praia. Além disso, uma médica que dirigia pela Linha Vermelha, na Zona Norte da cidade foi assassinada com um tiro na cabeça. A polícia investiga se foi uma execução ou um assalto com um desfecho mais triste que o de Cotta. Boa pontaria Além de atleta, Cotta é psicóloga da Marinha e cursa um mestrado em Administração de Empresas “Sempre quis competir nos Jogos. Tentei em várias modalidades, e nunca fui boa em nada”, diz a atleta, que tem olhos negros e um sorriso generoso. Mas, um dia, ela descobriu o tiro esportivo. Assistia às transmissões de Olimpíadas pela TV junto com sua mãe quando “apareceu um senhor de idade gordinho atirando”. “Isso! Encontrei”, lembra-se de ter dito na ocasião. Até aquele momento, as armas nunca haviam despertado seu interesse. Quando passou a praticar o esporte, em 2010, começou com uma pistola de ar comprimido, porque achava que seria menos perigosa do que uma de fogo. Quase imediatamente, notou que tinha boa pontaria. Subiu no ranking, entrou para a Confederação Brasileira de Tiro Esportivo e, em maio, participou da Copa do Mundo, na Alemanha. Queria se classificar para os Jogos, mas não conseguiu. Acredita que faltou tempo: com algumas competições e pontos a mais somados no ranking, talvez tivesse obtido a classificação. Tempo sempre foi algo que faltou no dia a dia de Cotta: além de ser atleta e ajudar o pai, é psicóloga da Marinha e cursa um mestrado em Administração de Empresas. Sua mãe, Jussara, uma aposentada de 64 anos, lembra que, na noite de 8 de junho, Cotta disse estar cansada e a surpreendeu com perguntas de teor filosófico: “Para que nascemos? Para que estudamos tanto? Para que trabalhamos?” “Você nasceu para fazer coisas boas”, respondeu sua mãe. Seis horas despois, a jovem levou um tiro. Resgate de cinema e ‘pacificação’ em xeque Alguns acontecimentos recentes no Rio ligados à violência tiveram aspectos cinematográficos. Em 19 de junho, um domingo, cerca de 20 homens armados resgataram um narcotraficante internado em um hospital sob custódia policial, matando uma pessoa e deixando outras duas feridas. O hospital, localizado no Centro do Rio, é uma das unidades de referência para os 700 mil turistas esperados na cidade durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. As mortes pelas mãos de policiais também têm aumentado neste ano: apenas em maio, foram 84 em todo o Estado, 90,9% acima do mesmo mês do ano passado, segundo dados do ISP, que inquietam defensores de direitos humanos. Por sua vez, seis policiais morreram em serviço naquele mês, um a mais tendo como base a mesma comparação. Nos últimos dias, a polícia realizou uma série de operações para capturar criminosos em favelas da cidade, gerando cenas de pânico. A polícia tem realizado operações em favelas do Rio para combater a

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