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Artur da Távola – Poesia – 18/10/23

Boa noite Quem namora Artur da Távola¹ Quem namora agrada a Deus. Namorar é uma forma bonita de viver um amor. Namorados que se prezem gostam de beijos, suspiros, morderem o mesmo pastel, dividir a empada, beber no mesmo copo. Namora quem sonha, quem teima, quem vive morrendo de amor e quem morre vivendo de amar. ¹Paulo Alberto Monteiro de Barros * Rio de Janeiro, RJ. – 3 de janeiro de 1936 + Rio de Janeiro, RJ. – 8 de maio de 2008

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Kalew Nicholas – Poesia – 17/10/23

Boa noite Luz Kalew Nicholas Eu olho pras estrelas e gosto do que dizem as luzes, mesmo que eu saiba que esses astros já morreram. Ignorá-las seria tornar vã a sua morte. Sangue do meu sangue, osso dos meus ossos. Eu rasguei a cicatriz pra ver se, sangrando, eu te encontrava na ferida; eu exalo um odor pútrido após tanta hemorragia. Mas qual é a razão de tanta dor? Compensar que o mundo queimava enquanto eu sorria? A relva cresce sobre túmulos como se a vida, cansada da inadimplência, expulsasse a morte-inquilina. É aí que te encontro: ao descobrir que luz é luz e ainda brilha.

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Caio Fernando de Abreu – Poesia – 16/10/23

Boa noite Faz anos navego o incerto. Caio Fernando de Abreu Não há roteiros nem portos. Os mares são de enganos e o prévio medo dos rochedos nos prende em falsas calmarias. As ilhas no horizonte, miragens verdes. Eu não queria nada além de olhar estrelas como quem nada sabe para trocar palavras, quem sabe um toque com o surdo camarote ao lado Mas tenho medo do navio fantasma perdido em pontas sobre o tombadilho dou a face e forma a vultos embaçados. A lua cheia diminui a cada dia. Não há respostas. Queria só um amigo onde pudesse jogar o coração como uma âncora.

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Manuel Bandeira – Poesia -15/10/23

Boa noite A doce tarde morre Manuel Bandeira¹ A doce tarde morre E tão mansa Ela esmorece, Tão lentamente no céu de prece, Que assim parece, toda repouso, Como um suspiro de extinto gozo De uma profunda, longa esperança Que, enfim cumprida, morre, descansa… E enquanto a mansa tarde agoniza, Por entre a névoa fria do mar Toda minh’alma foge na brisa: Tenho vontade de me matar! Oh, ter vontade de se matar… Bem sei é cousa que não se diz, Que mais a vida me pode dar? Sou tão feliz!— Vem, noite mansa… ¹Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho * Recife, PE. – 19 Abril 1886 d.C + Rio de Janeiro, RJ. – 13 Outubro 1968 d.C

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Eugenio de Andrade – Poesia – 14/10/23

Boa noite Hoje deitei-me ao lado da minha solidão. Eugenio de Andrade Hoje deitei-me ao lado da minha solidão O seu corpo perfeito, linha a linha derramava-se no meu, e eu sentia nele o pulsar do próprio coração. Moreno, era a forma das pedras e das luas Dentro de mim alguma coisa ardia: a brancura das pedras maduras ou o medo de perder quem me perdia. Hoje deitei-me ao lado da minha solidão e longamente bebi os horizontes, E longamente fiquei até sentir O meu sangue jorrar nas próprias fontes.

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Louise Glück

R.I.P. Louise Glück, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura Glück ficou conhecida ao publicar, em 1992 “The Wild Iris”, que lhe rendeu um prêmio Pulitzer

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Medeea Latour – Poesia – 13/10/23

Boa noite. Obstáculos Medeea Latour¹ Eis aí como se comportam os muros: o semblante fechado e o rosnar do portão com o dedo apontando os cães medievais comumente liberados da ternura para exercer, à la Munch o grito de más-vindas ante o romeu inconcluso sedendo de julietas intramuros. ¹ Medeea Latour * Opatija, Croácia

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João Cabral de Melo Neto – Poesia – 12/10/23

Bom dia Poema João Cabral de Melo Neto¹ O amor, esse sufoco, agora há pouco era muito, agora, apenas um sopro ah, troço de louco, corações trocando rosas, e socos ¹João Cabral de Melo Neto * Recife, Pernambuco – 9 de janeiro de 1920 + Rio de Janeiro, RJ. – 9 de outubro de 1999

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T.S.Eliot – Poesia – 10/10/23

Boa noite Lírica T.S.Eliot¹ Se o tempo e o espaço, como os sábios dizem São coisas que não podem ser, O sol que não percebe o seu declínio Não é maior do que nós somos. Então, por que, Amor, imploraríamos Por vivermos todo um século? A borboleta que só vive um dia Viveu por toda a eternidade. As flores que te dei quando o rocio Estremecia sobre a vinha Murcharam antes que a abelha voasse Para sugar a madressilva. Que então nos deixem as colher ainda Sem lamentar sua agonia, E embora sejam poucos os dias de amor Deixemo-los ao menos ser divino ¹ Thomas Stearns Eliot – Prêmio Nobel de Literatura de 1948 * St. Louis, Missouri, EUA – 26 de setembro de 1888 +Kensington, Londres, Reino Unido – 4 de janeiro de 1965 [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Eduardo Galeano – Poesia – 08/10/23

Boa noite Os ninguéns Eduardo Galeano¹ As pulgas sonham com comprar um cão, e os ninguéns com quem deixar a pobreza, que em algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura. Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada. Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos: Que não são, embora sejam. Que não falam idiomas, falam dialetos. Que não praticam religiões, praticam supertições. Que não fazem arte, fazem artesanato. Que não são seres humanos, são recursos humanos. Que não têm cultura, têm folclore. Que não têm cara, têm braços. Que não têm nome, têm número. Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local. Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata. (In O livro dos abraços) ¹Eduardo Hughes Galeano * Montevidéu, Uruguai – 3 de setembro de 1940 + Montevidéu, Uruguai – 13 de abril de 2015

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