Arquivo

Cecília Meireles – Poesia – 20/01/24

Boa noite Agitado Cecília Meireles Os violinos choram, soturnos, Dentro da noite morta e triste, Elegias vãs de Noturnos… E nada existe… nada existe… Sombras. A câmara apagada… Sombras… Meu vulto é longe… ausente… Silencio… Calma… Sonho… Nada… Vago, leve, indecisamente… Noite. Que noite!… Pelas bordas Das jarras negras, morrem lírios… Chopin. Falecem pelas cordas Tremulas trêmulos martírios… Andam, no vento, aromas soltos, Saudades lentas… Alto, passa O véu do luar nos céus revoltos, Cheiros de signos de desgraça… No livro “Nunca mais… e poema dos poemas”. 1923.

Leia mais »

Silvia Plath – Poesia – 16/01/24

Boa noite Palavras Sylvia Plath¹ Golpes, De machado na madeira, E os ecos! Ecos que partem A galope. A seiva Jorra como pranto, como Água lutando Para repor seu espelho sobre a rocha Que cai e rola, Crânio branco Comido pelas ervas. Anos depois, na estrada, Encontro Essas palavras secas e sem rédeas, Bater de cascos incansável. Enquanto Do fundo do poço, estrelas fixas Decidem uma vida. ¹Sylvia Plath * Boston, Usa – 1932 d.C + Primrose Hill, Londres – 11 de fevereiro de 1963 d.C

Leia mais »

Mário Quintana – Poesia – 14/01/24

Boa noite Tempo perdido Mário Quintana Havia um tempo de cadeiras na calçada. Era um tempo em que havia mais estrelas. Tempo em que as crianças brincavam sob a clarabóia da lua. E o cachorro era um grande personagem. E também no relógio de parede! Ele não media o tempo simplesmente: ele meditava o tempo.

Leia mais »

Abgar Renault – Versos na tarde – 18/02/2017

Boa noite. Encantamento Abgar Renault¹ Ante o deslumbramento do teu vulto sou ferido de atônita surpresa e vejo que uma auréola de beleza dissolve em lua a treva em que me oculto. Estás em cada reza do meu culto, sonhas na minha lânguida tristeza, e, disperso por toda a natureza, paira o deslumbramento do teu vulto. É tua vida a minha própria vida, e trago em mim tua alma adormecida… Mas, num mistério surdo que me assombra, Tu és, às minhas mãos, fluida, fugace, como um sonho que nunca se sonhasse ou como a sombra vã de uma outra sombra… ¹Abgar de Castro Araújo Renault * Barbacena, MG. – 15 de abril de 1901 + Rio de Janeiro, RJ. – 31 de dezembro de 1995

Leia mais »

Helena Verdugo Afonso – Poesia – 12/01/24

Boa noite Insatisfeita Helena Verdugo Afonso Enfim, posso morrer! Já te beijei a linda boca perfumada e quente, num beijo longo, divinal, fremente, um beijo aonde toda me entreguei… Não me conheço agora. Já nem sei se fiz bem, se fiz mal. Minha alma ardente sofria por um bem que tinha ausente, e morro na ventura em que fiquei… É assim, o meu amor: eu, que vivera, na crença de esperança já perdida, tenho de ti o bem que apetecera! Por esse beijo, vivo tão dorida, que, para ser feliz, antes valera ficar a desejá-lo toda a vida! Helena Verdugo Afonso * Angola

Leia mais »

Pablo Neruda – Poesia – 09/01/24

Boa noite Teu riso Pablo Neruda Tira-me o pão, se quiseres, tira-me o ar, porém nunca me tires o teu riso. Não me tires a rosa, a lança que debulhas, a água que de repente em tua alegria estala, essa onda repentina de prata que te nasce. De áspera luta volto com olhos fatigados por vezes de ter visto a terra que não muda, mas ao chegar teu riso sobe ao céu me buscando, e abre para mim todas as portas desta vida. Amor meu, no momento mais escuros desata o teu riso, e se acaso vês que meu sangue mancha as pedras do caminho, ri, porque teu riso será, em minhas mãos, como uma espada fresca. Junto ao mar, no outono, teu riso deve erguer sua cascata de espuma, e em primavera, amor, quero teu riso como a flor que eu esperava, a flor azul, a rosa da minha pátria sonora. Que te rias da noite, ri do dia, da lua, das ruas tortas da ilha, ri do desajeitado rapaz que te quer tanto, porém quando mal abro os olhos, quando os fecho, quando os meus passos vão, quando os meus passos voltam, nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera, mas nunca o teu riso, senão, amor, eu morro.

Leia mais »

Vinicius de Moraes – Poesia – 06/01/24

Boa noite Soneto da separação Vinicius de Moraes De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto De repente dá calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E dá paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente Fez-se do amigo próximo, o distante Fez-se dá vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente.

Leia mais »

Valter Hugo Lemos – Poesia – 05/01/24

Boa noite Vou buscar-te ao fim da tarde Valter Hugo¹ vou buscar-te ao fim da tarde, porque a noite só escurece contigo ao meu lado, porque a noite aprende por ti o caminho aberto das estrelas vou buscar-te ao fim da tarde, e verás como preparei a casa, como escolhi a música, como, enfim, espalhei os objectos mais impressionados contigo, os que ganharam vida por se interporem na espessura estreita que vai do meu ao teu coração e não mais te devolvo, correndo todos os riscos de não amanhecer nunca numa loucura propositada por ti não mais te devolvo, ocuparás o mundo debaixo e sobre mim, e não haverá mais mundo sem que seja assim ¹Valter Hugo Lemos *Saurimo, Angola – 25 de setembro de 1971

Leia mais »

T.S.Eliot – Poesia – 02/01/24

Boa noite. O Tempo T.S.Eliot¹ O infinito ciclo da idéia e da ação, Infinita invenção, experiência infinita, Traz o conhecimento do vôo, mas não o do repouso; O conhecimento da fala, mas não o do silêncio; O conhecimento das palavras e a ignorância do Verbo. Todo o nosso conhecimento nos aproxima da ignorância, Toda a nossa ignorância nos avizinha da morte, Mas a iminência da morte não nos acerca de Deus. Onde a vida que perdemos quando vivos? Onde a sabedoria que perdemos no saber? Onde o conhecimento que perdemos na informação? Os ciclos do Céu em vinte séculos Afastaram-nos de Deus e do Pó nos acercaram. ¹Thomas Stearns Eliot * St Louis, Usa – 26,Setembro 1888 d.C + Londres, Inglaterra – 4,Janeiro 1965 d.C

Leia mais »