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John Keats – Poesia – 28/11/24

Ode sobre uma urna grega John Keats¹ Tradução: Augusto de Campos I Inviolada noiva de quietude e paz, Filha do tempo lento e da muda harmonia, Silvestre historiadora que em silêncio dás Uma lição floral mais doce que a poesia: Que lenda flor-franjada envolve tua imagem De homens ou divindades, para sempre errantes. Na Arcádia a percorrer o vale extenso e ermo? Que deuses ou mortais? Que virgens vacilantes? Que louca fuga? Que perseguição sem termo? Que flautas ou tambores? Que êxtase selvagem? II A música seduz. Mas ainda é mais cara Se não se ouve. Dai-nos, flautas, vosso tom; Não para o ouvido. Dai-nos a canção mais rara, O supremo saber da música sem som: Jovem cantor, não há como parar a dança, A flor não murcha, a árvore não se desnuda; Amante afoito, se o teu beijo não alcança A amada meta, não sou eu quem te lamente: Se não chegas ao fim, ela também não muda, É sempre jovem e a amarás eternamente. III Ah! folhagem feliz que nunca perde a cor Das folhas e não teme a fuga da estação; Ah! feliz melodista, pródigo cantor Capaz de renovar para sempre a canção; Ah! amor feliz! Mais que feliz! Feliz amante! Para sempre a querer fruir, em pleno hausto, Para sempre a estuar de vida palpitante, Acima da paixão humana e sua lida Que deixa o coração desconsolado e exausto, A fronte incendiada e língua ressequida. IV Quem são esses chegando para o sacrifício? Para que verde altar o sacerdote impele A rês a caminhar para o solene ofício, De grinalda vestida a cetinosa pele? Que aldeia à beira-mar ou junto da nascente Ou no alto da colina foi despovoar Nesta manhã de sol a piedosa gente? Ah, pobre aldeia, só silêncio agora existe Em tuas ruas, e ninguém virá contar Por que razão estás abandonada e triste. V Ática forma! Altivo porte! em tua trama Homens de mármore e mulheres emolduras Como galhos de floresta e palmilhada grama: Tu, forma silenciosa, a mente nos torturas Tal como a eternidade: Fria Pastoral! Quando a idade apagar toda a atual grandeza, Tu ficarás, em meio às dores dos demais, Amiga, a redizer o dístico imortal: “A beleza é a verdade, a verdade a beleza” – É tudo o que há para saber, e nada mais. ¹John Keats * Londres, Inglaterra – 31 de Outubro de 1795 + Londres, Inglaterra – 23 de Fevereiro de 1821

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Elizabeth Barrett Browning – Poesia – Como te amo?

Como te amo? Elizabeth Barrett Browning Como te amo? Deixa-me contar de quantas maneiras. Amo-te até ao mais fundo, ao mais amplo e ao mais alto que a minha alma pode alcançar buscando, para além do visível dos limites do Ser e da Graça ideal. Amo-te até às mais ínfimas necessidades de todos os dias à luz do sol e à luz das velas. Amo-te com liberdade, enquanto os homens lutam pela Justiça; Amo-te com pureza, enquanto se afastam da lisonja. Amo-te com a paixão das minhas velhas mágoas e com a fé da minha infância. Amo-te com um amor que me parecia perdido – quando perdi os meus santos – amo-te com o fôlego, os sorrisos, as lágrimas de toda a minha vida! E, se Deus quiser, amar-te-ei melhor depois da morte.

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Shakespeare – Versos na tarde – 14/06/2015

Soneto XVIII Shakespeare ¹ Se te comparo a um dia de verão És por certo mais belo e mais ameno O vento espalha as folhas pelo chão E o tempo do verão é bem pequeno Às vezes brilha o Sol em demasia Outras vezes obscurece com frieza; O que é belo declina num só dia, Na eterna mutação da natureza. Mas em ti o verão será eterno, E a beleza que tens não perderás; Nem chegarás exausta ao triste inverno: Nestas linhas com o tempo crescerás. E enquanto nesta terra houver um ser, Meus versos ardentes te farão viver. ¹ William Shakespeare * Stratford-Avon, Inglaterra – 23 de Abril de 1564 d.C + Londres, Inglaterra – 23 de Abril de 1616 d.C ->> biografia [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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John Donne – Versos na tarde – 08/06/2015

Por quem os sinos dobram John Donne ¹ ELEGIA: INDO PARA O LEITO Vem, Dama, vem, que eu desafio a paz; Até que eu lute, em luta o corpo jaz. Como o inimigo diante do inimigo, Canso-me de esperar se nunca brigo. Solta esse cinto sideral que vela, Céu cintilante, uma área ainda mais bela. Desata esse corpete constelado, Feito para deter o olhar ousado. Entrega-te ao torpor que se derrama De ti a mim, dizendo: hora da cama. Tira o espartilho, quero descoberto O que ele guarda, quieto, tão de perto. O corpo que de tuas saias sai É um campo em flor quando a sombra se esvai. Arranca essa grinalda armada e deixa Que cresça o diadema da madeixa. Tira os sapatos e entra sem receio Nesse templo de amor que é o nosso leito. Os anjos mostram-se num branco véu Aos homens. Tu, meu anjo, és como o céu De Maomé. E se no branco têm contigo Semelhança os espíritos, distingo: O que o meu anjo branco põe não é O cabelo mas sim a carne em pé. Deixa que a minha mão errante adentre Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre. Minha América! Minha terra à vista, Reino de paz, se um homem só a conquista, Minha mina preciosa, meu Império, Feliz de quem penetre o teu mistério! Liberto-me ficando teu escravo; Onde cai minha mão, meu selo gravo. Nudez total! Todo o prazer provém De um corpo (como a alma sem corpo) sem Vestes. As jóias que a mulher ostenta São como as bolas de ouro de Atalanta: O olho do tolo que uma gema inflama Ilude-se com ela e perde a dama. Como encadernação vistosa, feita Para iletrados, a mulher se enfeita; Mas ela é um livro místico e somente A alguns (a que tal graça se consente) É dado lê-la. Eu sou um que sabe; Como se diante da parteira, abre- Te: atira, sim, o linho branco fora, Nem penitência nem decência agora. Para ensinar-te eu me desnudo antes: A coberta de um homem te é bastante. Tradução: Augusto de Campos ¹ John Donne * Londres, Inglaterra – 1572 d.C + Londres, Inglaterra – 1631 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Shakespeare – Versos na tarde – 29/04/2015

Soneto XVIII Shakespeare¹ Se te comparo a um dia de verão És por certo mais belo e mais ameno O vento espalha as folhas pelo chão E o tempo do verão é bem pequeno. Ás vezes brilha o Sol em demasia Outras vezes desmaia com frieza; O que é belo declina num só dia, Na terna mutação da natureza. Mas em ti o verão será eterno, E a beleza que tens não perderás; Nem chegarás da morte ao triste inverno: Nestas linhas com o tempo crescerás. E enquanto nesta terra houver um ser, Meus versos vivos te farão viver. ¹William Shakespeare * Stratford-Avon, Inglaterra – 23 de Abril de 1564 d.C + Londres, Inglaterra – 23 de Abril de 1616 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Shakespeare – Prosa na tarde – 12/04/2015

A Tempestade Shakespeare ¹ — (…)  “Pois o mesmo comigo vai se dar. Sendo ar, apenas, como és, revelas tanto sentimento por suas aflições; e eu, que me incluo entre os de sua espécie, e as dores sinto, como os prazeres, tão profundamente tal como qualquer deles, não podia me mostrar agora menos abalado. Muito embora seus crimes me tivessem tocado tão de perto, em seu auxílio chamo a nobre razão, para sofrearmos de todo minha cólera. É mais nobre o perdão que a vingança. Estando todos arrependidos, não se estende o impulso do meu intento nem sequer a um simples franzir do sobrecenho. Vai, liberta–os, meu Ariel. Vou romper o encantamento, a razão restituir–lhes e fazê–los voltar a ser o que eram” (…) Próspero in A Tempestade – Ato V – Cena I ¹ William Shakespeare * Stratford-Avon, Inglaterra – 23 de abril 1564 d.C + Londres, Inglaterra – 23 abril 1616 d.C >> biografia [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Edmund Waller – Versos na tarde – 24/02/2015

Canção Edmund Waller ¹ Vai, rosa linda, a quem, sem dó de mim, protela o amor ainda, diz-lhe que te comparo a ela porque eu a julgo doce e bela. Diz-lhe em seguida, pois moça e avessa a ser olhada, que a flor nascida nalgum deserto em meio ao nada há de morrer sem ser louvada. Longe da luz, beleza alguma tem valor: por isso a induz a que se deixe amar, a expor os seus encantos sem rubor. E morre para que ela então veja o fim das coisas – mesmo a mais rara – que, embora durem quanto as rosas, são belas, doces e graciosas. Tradução de Nelson Ascher Edmund Waller ¹ * Londres, Inglaterra – 1606 d.C + Londres, Inglaterra – 1687 d.C [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Edmund Waller – Versos na tarde – 08/01/2015

Canção Edmund Waller ¹ Vai, rosa linda, a quem, sem dó de mim, protela o amor ainda, diz-lhe que te comparo a ela porque eu a julgo doce e bela. Diz-lhe em seguida, pois moça e avessa a ser olhada, que a flor nascida nalgum deserto em meio ao nada há de morrer sem ser louvada. Longe da luz, beleza alguma tem valor: por isso a induz a que se deixe amar, a expor os seus encantos sem rubor. E morre para que ela então veja o fim das coisas — mesmo a mais rara —; que, embora durem quanto as rosas, são belas, doces e graciosas. Tradução de Nelson Ascher in Poesia Alheia, 1988 ¹ Edmund Waller Inglaterra 1606 – 1687 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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William Blake – Versos na tarde – 05/10/2014

O preço da experiência William Blake¹ Qual é o preço da experiência? Os homens a compram com uma canção? Adquirem sabedoria dançando nas ruas? Não, ela é comprada pelo preço De tudo que um homem possui sua casa, sua esposa, seus filhos. A sabedoria é vendida num mercado sombrio aonde ninguém vem comprar, E no campo infecundo que o fazendeiro ara em vão por seu pão. É fácil triunfar sob o sol do verão E na colheita cantar na carroça cheia de grão. É fácil falar de prudência aos aflitos, Falar das leis da prudência ao andarilho sem teto, Ouvir o grito faminto do corvo na estação invernal Quando o sangue vermelho mistura-se ao vinho e ao tutano do cordeiro É tão fácil sorrir diante da ira da natureza Ouvir o uivo do cão diante da porta no inverno, e o boi a mugir no matadouro; Ver um deus em cada brisa e uma bênção em cada tempestade. Ouvir o som do amor no raio que arrasa a casa do inimigo; Rejubilar-se diante do praga que cobre seu campo, e da doença que ceifa seus filhos, Enquanto nossas oliveiras e nosso vinho cantam e riem diante da porta, e nossos filhos nos trazem frutas e flores. Então o lamento e a dor estão quase esquecidos, bem como o escravo que gira o moinho, E o cativo acorrentado, o pobre prisioneiro, e o soldado no campo de batalha Quando os ossos rompidos deixam-no gemendo a espera da morte feliz. É fácil rejubilar-se sob a tenda da prosperidade: Eu poderia cantar e me rejubilar deste modo: mas eu não sou assim ¹William Blake * Londres, Inglaterra – 28 de Novembro de 1757 d.C + Londres, Inglaterra – 12 de Agosto de 1827 d.C [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]

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Shakespeare – Versos na tarde – 05/03/2014

Soneto 29 William Shakespeare ¹ Quando, malquisto da fortuna e do homem, Comigo a sós lamento o meu estado, E lanço aos céus os ais que me consomem, E olhando para mim maldigo o fado; Vendo outro ser mais rico de esperança, Invejando seu porte e os seus amigos; Se, invejo de um a arte, outro a bonança, Descontente dos sonhos mais antigos; Se, desprezado e cheio de amargura, Penso um momento em vós logo, feliz, Como a ave que abre as asas para a altura, Esqueço a lama que o meu ser maldiz: Pois tão doce é lembrar o que valeis Que está sorte eu não troco nem com reis. ¹ William Shakespeare * Stratford-Avon, Inglaterra – 23 de Abril de 1564 d.C + Londres, Inglaterra – 23 de Abril de 1616 d.C >> biografia de Shakespeare [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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