Edmund Waller – Versos na tarde – 08/01/2015

Canção
Edmund Waller ¹

Vai, rosa linda,
a quem, sem dó de mim, protela
o amor ainda,
diz-lhe que te comparo a ela
porque eu a julgo doce e bela.

Diz-lhe em seguida,
pois moça e avessa a ser olhada,
que a flor nascida
nalgum deserto em meio ao nada
há de morrer sem ser louvada.

Longe da luz,
beleza alguma tem valor:
por isso a induz
a que se deixe amar, a expor
os seus encantos sem rubor.

E morre para
que ela então veja o fim das coisas
— mesmo a mais rara —;
que, embora durem quanto as rosas,
são belas, doces e graciosas.

Tradução de Nelson Ascher in Poesia Alheia, 1988

¹ Edmund Waller
Inglaterra 1606 – 1687 d.C


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