Os peitos de Kate e o futuro do jornalismo: aviões de controle remoto Kate Middleton tem uns peitinhos pequenos, clarinhos, simpáticos. Sem grande personalidade. Não impressionam pela aerodinâmica, volume, coloração ou “empinância”. Kate é uma inglesa jovem, magrinha e atlética. Suas “mamicas” não causariam sensação numa praia qualquer da França, onde o topless é praticamente norma, tanto de mocinhas como de velhinhas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Na Europa, é difícil praia onde não se vê uns peitos de fora, e em algumas os mamilos expostos preponderam. A gente acostuma. Depois de uns 15 minutos, o brasileiro mais tarado já se esqueceu do topless, e está reparando mais é nas partes de baixo, enormes, tampando o traseiro todo. Cadê aquelas bundinhas bronzeadas e torneadas a la carioca? Fora o choque de ver os peitões caídos e cheios de veias das vovós. Como Kate resolveu se casar com o herdeiro do trono da Inglaterra, não faz como boa parte das moças da sua idade. Não faz topless na praia. Mas de férias no sul da França, em companhia do marido, tirou a parte de cima pra curtir o sol e a piscina. William nem tchuns. Imagino que aprecie ver a mulher pelada, mas não é exatamente novidade. Um fotógrafo capturou as imagens a distância. Tentou vender para os jornais ingleses. Se recusaram. Sabiam que vinha bala. Vendeu para uma revistinha francesa. Processo à vista. Vão perder uma fortuna. Kate é figura pública, mas estava em espaço privado. Não tem volta: as fotos caíram na internet. Também não tem importância: amanhã teremos esquecido. Mas a história tem outras implicações. Vai lá ver, depois volta. A revista colocou umas legendas bem temperadas. Tenta elevar a temperatura do conteúdo. Veja as fotos sensuais do príncipe William e Kate! Veja a futura rainha da Inglaterra, como ela nunca mais será vista! Bem, o casal aparece sozinho na piscina. Podiam ter dado uns amassos, ou quem sabe algo mais, por que não? Férias é pra essas coisas… Mas as fotos são totalmente casalzinho, William besuntando a mulher de filtro solar, os dois papeando, erotismo zero. Comentando o caso, o colunista do jornal britânico Telegraph Willard Foxton levanta o principal ponto do caso. Essa não será a última vez que veremos as “peitolas” de Kate, ou as escapadas de Harry, ou outros famosos e poderosos aparecendo como não queriam. Porque todo celular é uma câmera faz tempo. Agora eles são ótimas câmeras, com capacidade de zoom, de controlar a luz e de focar, que antigamente só fotógrafos profissionais tinham à disposição. Ontem mesmo, a Apple mostrou ao mundo o novo iPhone, que vem com uma câmera de oito megapixels. Tem mais, diz o colunista. Tem drones. Sabe o que é? Aviõezinhos de controle remoto, contendo câmeras. Drone journalism: a utilização de drones para captação de fotos, vídeos, dados. Foxton cita o Team Blacksheep, uma equipe de hobbistas americanos, que criaram seus próprios drones em garagens. E o caso do vídeo feito na Polônia por um drone, registrando um quebra-quebra. Olha o bicho pegando em Varsóvia. A conclusão dele: daqui para frente, ninguém está a salvo de ter sua vida registrada, exposta e comercializada. A minha: não há legislação que segure a onda. O texto completo está aqui. Eu vinha procurando uma chance de tocar nesse assunto, e chegou. Drone journalism vem sendo saudado como o futuro do jornalismo por publicações como Wired e Fast Company. O assunto já tem um ano, pelo menos. Já existem ONGs dedicadas ao jornalismo drone. Um centro de drone journalism na Universidade de Nebraska recebeu um prêmio da Knight Foundation, instituição americana dedicada à inovação no jornalismo. Tá pegando. Drone journalism tem uma série de vantagens. Dá para cobrir esportes, shows e tal. Mas também desastres naturais, revoluções, abusos policiais, e muitas outras coisas. Um drone baratinho custa US$ 6 mil dólares, os mais sofisticados dez vezes mais. Os preços estão caindo. Em Moscou, protestos na última eleição de Putin foram registrados por um drone. Os cupinchas do presidente tentaram abater o helicopterozinho a bala, mas não conseguiram. As fotos são incríveis. Dão um peso enorme ao protesto. Drones são ótimos porque permitem a gente comum cobrir o que as grandes empresas de comunicação muitas vezes preferem ignorar, ou manipular. Veja as fotos de Moscou e comprove. Há questões de legislação. Países diferentes têm regras diferentes sobre a utilização de drones, ou nenhuma. Nos EUA, o FAA, órgão público que regulamenta a aviação, tem até 2015 para propor novas regras para seu uso. É certo que os drones serão liberados. Eles têm muitas utilizações potenciais, e não só no jornalismo. Podem ser combinados com GPS. Podem ter algum nível de inteligência artificial. Podem revolucionar a meteorologia, o controle de tráfego, a guerra, a segurança. Também podem servir para a manutenção de um estado policial, ou para desintegrar nossos conceitos de privacidade. Quer comprar um drone? Esses robokopters parecem bem legais. Veja aqui. Os drones vão longe. Até onde? Não faço ideia. Sei que as Kates e todos os famosos e importantes terão que se acostumar com o fato de que não terão mais vida privada. E sei que os drones são poderosos demais para ficar na mão dos poderosos. Os abusos virão. Mas abusos também há na imprensa e na internet, como provam os peitinhos da princesa. E como a imprensa e a internet, os drones dão poder a nós, os plebeus. Viva a revolução! AndreForestier/R7
Empresa enfrenta com urgência “uma mudança radical” e espera que as saídas sejam voluntárias Katharine Viner. Gorka Lejarcegi O jornal britânico The Guardiananunciou planos de cortar 250 postos de trabalho para equilibrar contas que resultaram no último ano em perdas de 58,6 milhões de libras (307 milhões de reais). No total, a equipe do diário no Reino Unido se reduzirá em 18%, o equivalente a 310 empregos, já que outros 60 postos permanecerão sem reposição porque não será renovado o contrato dos atuais ocupantes. A empresa acredita, segundo informação publicada em sua edição online, que todos os cortes serão alcançados com saídas voluntárias. Os planos da editora de The Guardian e The Observer, a edição dominical do jornal, incluem a reestruturação das partes menos rentáveis do negócio para tentar sair dos números vermelhos em três anos. Entre outras medidas, a empresa abandona o projeto de transformar um galpão ferroviário em um espaço para eventos. O Guardian Media Group conta com uma equipe de 1.960 pessoas. Um total de 750 pertence à área editorial, da qual serão cortados 100 funcionários. Os outros 150 postos serão eliminados em outras áreas do negócio. Os 210 trabalhadores fora do Reino Unido não estão incluídos nas previsões de redução do quadro. Os custos trabalhistas do grupo representam a metade do total.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Em um correio eletrônico à equipe, a diretora de The Guardian, Katherine Viner, e o diretor-executivo, David Pemsel, afirmam que “o volátil ambiente dos meios” desencadeou “uma necessidade urgente de atuação radical”. “Nosso plano de ação tem um objetivo: garantir a integridade jornalística e a independência financeira de The Guardian para a perpetuidade”, acrescentam. Em janeiro, The Guardian apresentou um plano de três anos com o objetivo de conseguir o saneamento das contas para o exercício 2018-2019. As medidas incluem reduzir em 20% os custos, o que equivale a 262 milhões de reais, potencializar novas fontes de receita e um novo modelo de assinatura. A ediçãoonline de The Guardian é aberta e gratuita, e conta com 7,35 milhões de usuários únicos por dia. É o segundo jornal diário britânico com mais tráfego, depois doMail Online. The Guardian está com perdas há mais de uma década, mas a empresa se encontra entre as editoras mais seguras financeiramente no país. O Guardian Media Group possui importante receita procedente do Auto Trader, negócio de anúncios classificados da indústria automobilística. A propriedade do grupo está em mãos do Scott Trust, cujo compromisso é garantir a independência financeira e editorial de The Guardian. O ano de 2015 foi devastador para o setor dos meios de comunicação. Segundo explica o próprio jornal, “grandes empresas, como Google e Facebook, monopolizaram o mercado de publicidade” e “o crescimento das empresas de telefonia móvel torna mais difícil obter ganhos econômicos”. As receitas com publicidade impressa no Reino Unido caíram 25%. O jornal The Independent deixará de ser publicado em papel na semana que vem e outros grupos jornalísticos também fizeram cortes em sua equipe. Os lucros dos jornais líderes do mercado, The Daily Telegraph, The Sun e The Daily Mail, caíram 40% na última década. E o Financial Times, por sua vez, foi vendido no final do ano passado para o grupo japonês Nikkei. Há apenas duas semanas, porém, foi colocado no mercado um novo jornal impresso no Reino Unido. Trata-se de The New Day, propriedade do Trinity Mirror, o maior grupo editorial britânico. É o primeiro diário impresso lançado no país em 30 anos, tem 40 páginas, sai a um preço inicial de 25 pences (1,3 real) e não possui edição online. ElPaís
Como qualquer um entre os quase cem milhões de brasileiros usuários de redes sociais, oscilo diariamente entre o desejo abandonar de vez o hábito de consultar o púlpito alheio virtual e o de reconectar-me a ele compulsivamente. Recentemente fui informado de que há rumores dando conta de que, entre a magnitude de adeptos das redes, poderia existir um remotíssimo e obscuro percentual de usuários que conseguiriam, nestes dias de turbulência política, passar infensos à esta bipolaridade. Eu digo com tranquilidade que nunca vi essas pessoas nem na minha timeline nem no meu feed de notícias e isso, pelo menos no meu universo de observação, reforça a ideia de que, diante da atual crise política, todos sucumbiram ao delírio voluntário – ao próprio e ao alheio – ainda que por motivos e em graus diferentes.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Não obstante a possibilidade acima estar mesmo correta, o número de pessoas que não resiste à opção de abandonar o uso das redes sociais ou pelo menos suspendê-lo é cada vez maior, principalmente entre os mais jovens. E isto é tão mais real quanto se pense no Facebook, entre todas a mais usada das redes em todo o mundo. Isso é o que aponta, por exemplo, recente reportagem da Folha de São Paulo, segundo a qual, para além do acirramento político, outros fenômenos parecem competir na ampliação do desinteresse juvenil, tais como a presença dos chamados “textões” e a repetição persistente de conteúdo. Seriam fenômenos que estariam colaborando com o cenário de evasão. A reportagem dá conta de outras explicações também, de natureza mais psicológica, além de apontar a preferência crescente pelo uso de redes de conteúdo mais visual ou expresso, como o Instagram e o Snapchat. A bem da verdade, esta parece ser uma tendência anterior aos eventos políticos mais recentes, mas que agora se acentua mais ou menos na mesma proporção em que evoluem as repercussões políticas e a subsequente histeria virtual. Não é muito difícil entender as motivações do abandono, uma vez que a temática política, pelo menos a realizada nos moldes tradicionais, é vista com grande desconfiança pelo público adolescente e jovem adulto. Quem imaginar, entretanto, que no principal concorrente do Facebook a situação esteja diferente, pode estar muito enganado. No Twitter, veículo preferencial entre os adultos e o meio político, a pancadaria ideológica e a proliferação da agressividade têm sido predominante e até mesmo as redes baseadas em imagens, como o Instagram, têm sido tomadas de assalto pelos grandes “significantes” das redes: os memes. Para este caso, majoritariamente aqueles com motivos políticos. Mais que a constatação tácita da reprodução massiva de memes e do irrefreável potencial discursivo das redes, interessa notar que o arsenal argumentativo individual costuma valer-se também de fontes externas ou, como querem os sociólogos, de discursos de autoridade ou “produtores de interesse”. Desta prática diária, constante, costumam desfilar regularmente no meu feed de notícias e no de qualquer pessoa com um mínimo de diversidade de conexões pessoais, fontes bastante heterogêneas. São fontes que costumam ir desde veículos consagrados de imprensa, passando por fontes menos usuais, como blogues e até mesmo opiniões de intelectuais e artistas que emitem opiniões na rede. O festival de opiniões costuma ser farto e enlouquecedor, principalmente porque mixam-se nele as opiniões mais ou menos elaboradas das próprias pessoas. Embora presentemente exista uma polarização evidente entre o que se poderia chamar de “governismo” e “oposição”, o leque de nuances no campo das opiniões é muito maior do que essa divisão oferece. A “opinião formada” das redes costuma partir da reprodução comentada de crenças políticas consolidadas e fontes identificadas com meios formais, partidos políticos ou movimentos organizados, enquanto que o dissenso é essencialmente anárquico. É natural: há quem diga, por exemplo, que não existiria Facebook sem o “compartilhar” nem o Twitter sem o “retweet”. Ainda assim, é nesse caldeirão de ideias emprestadas e opiniões desencontradas que vem ganhando cada vez mais forma uma visão multifacetada, ou rashomônica, da realidade e da história presente. Porém, assim como no célebre conto de Akutagawa ou mesmo no filme de Akira Kurosawa, é necessário ao espectador antever na narrativa de cada um que deseja oferecer sua versão dos fatos, uma forma peculiar de dizer a verdade e, ao mesmo tempo, de deliberadamente falseá-la. “Dentro de um bosque” (Yabu no Naka), o conto que deu origem ao Rashomon de Kurosawa, resume-se na história de um assassinato mal explicado que é debatido através de uma sucessão de flashbacks dos personagens, que acabam desmontando-se e remontando-se consecutivamente, como se num puzzle interminável. Trata-se de uma narrativa que evoca as escassas possibilidades de buscar-se a verdade dos fatos, a verdade filosófica, a partir de relatos de pessoas diretamente interessadas, mas que também não se furta a investigar e esclarecer o caráter que move as decisões humanas. Evidentemente ninguém espera atualmente encontrar a natureza humana vagando entre os memes das redes sociais e suas opiniões cabais, mas, olhando bem, como naquele templo, as “armas” empunhadas para muitos dos debates acalorados de agora às vezes também parecem, aos olhos de quem quer que seja, feitas de pura mentira e invencionice, ao invés do aço desejável dos samurais. Por isso há tantos que consideram que os debates virtuais são “falsos debates” e deles procurem se afastar como o diabo foge da cruz. É um comportamento a que, lógico, ninguém cabe recusar, mas sobre o qual podem recair dúvidas e para o qual alguns questionamentos tornam-se possíveis. Talvez bem mais simples fosse adotar a interpretação do recém falecido Umberto Eco, que afirmou no recebimento de uma de suas últimas condecorações que as “mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel”. Mais simples, menos sério e possivelmente mais sem graça. Afinal, o atrativo dos debates online reside no mais das
Não é de hoje que a mídia conservadora age como nos últimos dias e meses. Lembrei de um fato que fui protagonista, em 1987. Um programa na rádio Roquette Pinto, emissora do governo do Estado, todo sábado ao meio dia debatia política internacional. Nome: Tome Ciência Internacional. Num desses programas fiz uma entrevista em Montevidéu com o ex-capitão Jeronimio Cardoso, que sobrevoava a fazenda de Jango no Uruguai, durante a época inicial do exílio do Presidente deposto. Pois bem, o programa foi ao ar diretamente de Montevidéu, via telefônica. Fazíamos jornalismo. Findo o governo Brizola, o jornal O Globo acusou o ex governador de ter feito ligações pessoais de Montevidéu creditadas na radio Roquete Pinto.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O Globo sabia que era mentira, mas insistiu na cascata com o visível objetivo de incriminar Brizola. Falamos de 1987, deu até inquérito administrativo e ficou comprovado que Brizola não tinha nada a ver com a mentira assacada pelo jornal de Roberto Marinho. Escrevi para o jornal O Globo esclarecendo tudo, mas o democrático jornal ignorou. Ou seja, não lhe interessa a verdade, mas sim fatos para incriminar quem não reza pela cartilha reacionária da elite brasileira que abomina o povo. Achei por bem lembrar este fato no momento que que visivelmente se tenta linchar um ex-presidente. Agora, pensem bem, antes de 1979, quando houve a anistia em setembro, os golpistas tentaram de todas as formas incriminar Brizola, mas não conseguiram. Nem por isso desistiram e uma semana antes de Brizola morrer, o Ali Kamel, diretor executivo de jornalismo da Rede Globo, o mesmo que publicou um livro dizendo que no Brasil não há racismo, escrevia em O Globo que o culpado pela violência no Rio era Brizola. Agora, os jornalões e telejornalões repetem o mesmo estilo histórico de sempre, que vai do mar de lama ao triplex do Guarujá, passando por um pedalinho em um sítio em Atibaia. Insistem nas cascatas ao estilo Goebels, o cara da propaganda nazista (uma mentira repetida inúmeras vezes acaba virando uma verdade). Quando tudo se esclarecer e as cascatas caírem por terra, como no caso a Rádio Roquette Pinto em 1987, o esquema Globo vai ignorar. É o jornalismo “imparcial”, que tem seguidores fiéis, do gênero senso comum, repetindo as mentiras de O Globo e outros jornalões e telejornalões nas filas de bancos e de supermercados. São os tais que se comportam como papagaios de pirata. Não raciocinam, não refletem e só reproduzem as baboseiras de O Globo e da Rede do mesmo nome. Mas a bem da verdade, não é só O Globo que delira no esquema da perseguição. Outro dia, no portal UOL Notícias foi divulgada uma mentira absurda que dizia que a Ministra da Saúde da Venezuela, Luziana Melo, afirmara que os venezuelanos escovam os dentes em demasia, três vezes ao dia, o que provocava a falta de pasta de dentes no país. Pouco depois a mentira caiu por terra. E pior, foi revelado claramente a quantas anda o jornalismo naquele portal associado ao Grupo Folha. Foi eclarecido que a “informação”(entre aspas, claro) não só era mentirosa como foi colhida em um site humorístico venezuelano. Só que na ânasia de queimar o governo venzuelano, UOL Notícias divulgou a piada do site intitulado “Um mundo triangular”, como se fosse uma verdade absoluta. A mediocridade jornalística não parou aí. Desmentida oficialmente a notícia, o portal publicou o erro meio escondido, talvez com vergonha do jornalismo xinfrim. Os leitores que tomaram conhecimento da “informação” não tiveram conhecimento na mesma proporção do erro confirmado. Em suma, assim caminha, ou vomita, a mídia conservadora, que ainda por cima diz a todo momento que faz jornalismo imparcial. E para finalizar: sugere-se aos que estão tentando apresentar na academia teses de mestrado, doutorado ou pós-doutorado que pesquisem com profundidade o que vem sendo feito pelo chamado jornalismo da mídia conservadora. Eis um tema que os brasileiros minimamente conscientes aplaudirão quem fizer isso. Mario Augusto Jakobskind/Tribuna da Imprensa
Os autores divergem. Além dos raros sobreviventes, as vicissitudes são tamanhas que poucos se animam a revivê-las. Menos ainda são os que têm fôlego para teorizar sobre o dantesco percurso. Dante inclusive. O fundo do poço é irreconhecível – ou para usar uma expressão recuperada pelo escritor-filósofo Garcia Rosa em recente entrevista ao Observatório da Imprensa – é imperscrutável. Além da falta de referências o próprio conceito de fundo do poço é diabolicamente kafkiano. Elástico, portanto absurdo — chegamos ou ainda não? Agora ou daqui a pouco? Real ou imaginário ? Reversível ou irrecorrível?[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Emérito sambófilo e sambólogo carioca, impregnado pelo Zeitgueist momesco afirma categórico que o fundo do poço será facilmente reconhecível pela trilha sonora: quando os blocos de rua começarem a entoar o inesquecível lamento atribuído a Wilson Batista – “Quero chorar, mas não tenho lágrimas! ” – será o sinal de que chegamos lá. Hora de encarar a tristeza brasileira que apenas Paulo Prado conseguiu enxergar. Ou tomar a saideira. Economistas gabam-se do arsenal de exatidões para reconhecer as características e o cenário do fundo do poço. Talvez pela extensão das ruínas e o teor dos escombros. Mas não explicam como, em apenas setenta anos Alemanha e Japão, igualmente arrasados, arruinados e derrotados escapuliram do fundo do poço — sem recorrer às tentações totalitárias. Fácil: o fundo do poço localiza-se no mapa da subjetividade e o caminho da volta, idem. Essencial: jamais resignar-se às “décadas perdidas” nem forçar prazos para coincidir com mandatos políticos ou o calendário eleitoral. O fundo do nosso poço é constituído de material fatigado, com validade vencida, irrecuperável. Dentro de dias, com o início do ano real, assustador, carregado de ameaças e urgências jamais vistas ou experimentadas – entre elas a quarta maldição do aedes egypti, o vírus da zika — nossas históricas carências em matéria de formação, treinamento e competência serão testadas continuamente. Para sair do fundo do poço faz-se necessária uma receita clara, direta, minimalista, capaz de ser compartilhada e compreendida. O clima de paroxismo que uma imprensa simplista, aprisionada pela inércia, só sabe amplificar, o fundo do poço afunda, movediço fica mais traiçoeiro, remoto. Com as pífias expectativas político-eleitorais do momento, é suicida esperar das urnas em Outubro algo inovador. Se o poder central se reconhece perplexo e a sociedade o vê impotente, as possibilidades de uma ação municipal efetiva são nulas. Zerar o placar político, estimular algum tipo de empate, igualar vencidos aos vencedores, abortar as desforras que se anunciam — o fundo do poço se reconhece no exato momento em que o retorno à superfície começa a angustiar. Outro lado: o zika rachou o lobby dos jornais O surpreendente incentivo do “Globo” ao debate sobre a legalização do aborto em fetos microcefálicos evoluiu rapidamente para tornar-se posição do jornal. Inacreditável que um jornal tão chegado à Cúria e depois tão próximo à Opus Dei tenha superado sua histórica subserviência aos dogmas para assumir uma posição mais secularista e liberal. Para diferenciar-se, a “Folha” rapidamente pulou para o outro lado, o lado pior: deu enorme destaque à inflexível condenação do aborto pela CNBB divulgada nos jornais de sexta-feira, 5/2. Jogada de marketing do “Globo”? Possivelmente. Mas também uma reversão política que não pode passar desapercebida – o Globo exibe uma elasticidade que poderá mostrar-se valiosa caso sua esmagadora hegemonia na praça do Rio venha a ser eventualmente contestada nos órgãos que fiscalizam a concorrência. Se pretende efetivamente diferenciar-se no lobby de jornalões a “Folha” deveria ter optado por questões onde sua autonomia diante dos parceiros de “O Globo” pudesse fazer a diferença em benefício dos leitores e do pluralismo do sistema de comunicação social.. *** Alberto Dines é jornalista, escritor e co-fundador do Observatório da Imprensa
‘Independent’ deve se tornar o primeiro jornal britânico a ficar apenas na edição digital. A ideia é usar os 25 milhões de libras da venda do jornal para melhorar o site (Foto: Wikimedia) É esperado que Evgeny Lebedev anuncie o fim das edições impressas do jornal britânico Independent nesta sexta-feira, 12. Ele está na etapa final de fechar negócio para vender o i, um jornal popular que financia o Independent desde seu lançamento em 2010. A ideia é usar os 25 milhões de libras da venda do jornal no site. O Independent deve se tornar o primeiro jornal nacional a ficar apenas na edição digital na Inglaterra.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Muitos dos 150 funcionários que trabalham nas publicações do i correm o risco de perder seus empregos. Espera-se que 20 a 40 funcionários trabalhem no grupo Johnston Press, dono da Scotsman, que deve comprar o i. Um número desconhecido deve ficar para trabalhar na expansão do site. O editor do i, Oliver Duff, disse que o novo proprietário deve continuar com o “ethos” do jornal e com o “DNA da publicação”. Fontes: The Guardian-Independent expected to announce closure of print editions The Guardian-Evgeny Lebedev in talks to sell i newspaper to Johnston Press
A imprensa sempre teve uma posição política desde os primórdios de sua existência. Ao longo dos 200 anos de história do jornalismo brasileiro sempre tivemos jornais e revistas que não fazem parte do esquema das classes dominantes; sempre tivemos veículos ligados às lutas dos trabalhadores e às correntes de pensamento contrárias ao capitalismo. Sempre tivemos imprensa libertária, anarquista, socialista e comunista, seja no campo dos jornais alternativos, e mesmo na chamada grande imprensa. Mas a partir da ditadura militar-empresarial apoiada pela CIA (1964-1985), com patrulhamento ideológico permanente nos grandes jornais, censura, perseguição e mortes, surgiu um tipo de pensamento único, e se consolidou o jornalismo “chapa branca”, pautado pela versão dos vitoriosos. Nesse período de nossa história a imprensa contra-hegemônica ou alternativa, que também foi chamada de nanica, assumiu a luta pela democracia, contra o autoritarismo e as violências do Estado. Os veículos de comunicação que resistiam acabaram fechados por falta de publicidade.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Hoje, a imprensa de mercado, se afigura a um instrumento de Estado ou de grupos econômicos, uma poderosa ferramenta a serviço das classes dominantes. O jornalista virou um funcionário burocrata. A única saída digna é ocupar os espaços da imprensa alternativa, seja pela internet, pelos movimentos sociais, ou pelos partidos legitimamente de esquerda. Este jornalismo que se consolidou nas grandes Redações, nas revistas semanais, é cada vez pior, profissional, política e culturalmente. A perda do senso crítico é um fato. A última grande geração de jornalistas militantes do nacionalismo de esquerda, foi derrotada com o golpe de 1964 e ficou relegada ao segundo plano. Osvaldo Costa, Lourival Coutinho, Fernando Segismundo, João Antonio Mesplé, Gumercindo Cabral, Edmar Morel, entre outros, foram profissionais que trabalhavam com ética, sinônimo de integridade e lisura profissional, interesse público e dignidade pessoal. Helio Fernandes, para não ficar relegado ao segundo plano, fez da Tribuna da Imprensa sua trincheira de luta e resistência ao autoritarismo. As novas gerações de jornalistas, e estudantes de comunicação, na maioria não sabem nem que um dia existiu jornalismo assim. Edmar Morel, é um ótimo exemplo dessa geração. Começou fazendo reportagem, depois fez livro-reportagem e, em seguida, jornalismo histórico. Fazia não só um livro sobre determinada reportagem, mas também, se dedicava a pesquisa histórica a partir do jornalismo. Fazia a pesquisa histórica e, ao mesmo tempo, escrevia de uma maneira jornalística com texto mais agradável, mais claro, fácil de entender. Atualmente podemos citar, dentre outros cada vez mais raros, Fernando Moraes nesta linha de trabalho. A partir de 1964, foram criadas gerações de jornalistas que não tiveram contato com essa geração anterior, criando este vácuo, um enorme vazio. Ao mesmo tempo, a ditadura foi cerceando o perfil de jornalista mais crítico, mais investigativo. Não apenas a ditadura, mas também a “evolução” das empresas jornalísticas sob a forte influência do grande capital. A “reinvenção” do jornalismo A mídia dominante usa seu poder para sustentar ideologicamente o sistema capitalista, são necessárias mais vozes críticas ao modelo de sociedade hegemônico, precisamos “reinventar” o jornalismo. Falta na grande imprensa, hoje, uma proposta editorial no campo da esquerda, que paute as mazelas produzidas pelo capitalismo, que priorize a defesa da igualdade e os direitos humanos (moradia, saúde, educação, cultura, comunicação, lazer, etc) atuando na oposição ao neoliberalismo. Defendendo o fim dos privilégios e das discriminações, dos preconceitos e da violência do Estado contra todos que lutam por seus direitos fundamentais. Após o fim da ditadura, que durou 21 anos, não surgiu nenhum homem de mídia ousado, que investisse e apostasse na criação de um grande veículo de comunicação com uma linha editorial mais independente em relação aos Governos e grupos empresariais; que produza um conteúdo com mais qualidade jornalística, com boas reportagens e entrevistas, com material mais crítico e mais comprometimento com as posições dos trabalhadores e movimentos sociais. Continuamos vivendo uma grande contradição: de um lado o modelo econômico favorece a concentração dos meios em poucos oligopólios, que dominam e controlam a informação que circula no mundo; de outro lado existe uma pressão cada vez maior da sociedade para que o Estado adote medidas no sentido da democratização, já que a mídia dominante usa seu grande poder para a sustentação ideológica do sistema. É preciso que os meios de comunicação (tvs, rádios, jornais e revistas) assumam compromissos com a transformação social, econômica e política do Brasil. Ficou apenas para a imprensa alternativa, cada vez mais nanica, fazer o contraponto a imprensa dominante, de mercado, ligada ao capital. A publicidade privada procura fortalecer os veículos do mercado, a mídia neoliberal concentra a maior fatia das verbas privadas de publicidade nos veículos que defendem a sociedade capitalista. Quem tem o dever de democratizar as verbas publicitárias são os poderes públicos, na medida em que deveriam contemplar todos os veículos da sociedade, sem discriminação, inclusive aqueles que acreditam num outro sistema político-econômico. Defendo que as verbas publicitárias sejam distribuídas de forma equitativa para todos os meios de comunicação. Isso seria o início de um processo de democratização da comunicação, necessário e fundamental para a sociedade brasileira. A internet e o papel da universidade A internet ainda tenta escapar do controle do sistema, mas também já se apresenta como uma ferramenta a mais para fortalecer o capitalismo. As mensagens comerciais ganham em muito das mensagens de conteúdo libertário, independente e contra-hegemônico. Hoje, a internet já é o segundo faturamento publicitário brasileiro. Os sites mais visitados são os mesmos da mídia empresarial tradicional. É preciso reforçar e defender o espaço de liberdade na internet, especialmente o que está ligado às lutas dos trabalhadores e às transformações sociais e políticas. Outro problema crucial é a formação dos estudantes de Jornalismo e o papel que a universidade precisa cumprir. Lamentavelmente as universidades brasileiras estão perdidas porque não estão sintonizadas com nenhum projeto de nação. Estão apenas formando mão-de-obra para o mercado, o que significa não se preocupar com a pesquisa, a experimentação, a inovação e o contato com o povo brasileiro. Raras universidades se relacionam com os movimentos sociais, poucas interagem com os excluídos, explorados e oprimidos. Os cursos
O oportuno festival de resenhas, reflexões, crônicas e reminiscências que antecipou a aula-magna sobre jornalismo investigativo produzida pela equipe do Globe, de Boston, sugeriu a existência simultânea de consensos retóricos, informais e drásticos dissensos, enrustidos. Saudado em prosa e verso pelo primeiro escalão de pensadores da imprensa, o “bom jornalismo” revivido no admirável filme não conseguiu materializar-se como conceito. O bom jornalismo seria o que se convencionou designar como tal ou exige qualificações mais estritas e critérios menos vagos ?[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Tomando a antológica produção como referência — o bom jornalismo seria o esforço para investigar, coletar e dar sentido a informações sigilosas e depois escancará-las para que tudo se esclareça ? Ou é um ato de bravura para desmascarar poderosos interesses escondidos nos bastidores do poder ? Em outras palavras: bom jornalismo é o empenho de proclamar verdades ou a capacidade de juntar os elementos de uma história de modo torná-la credível e correta, dentro de uma preocupação básica com a ética. Fazer barulho ou fazer justiça, eis a questão. A revista Época ofereceu excelente contribuição ao debate sobre a natureza do bom jornalismo nas duas edições mais recentes. Em matéria de capa e grande estardalhaço na edição 918 de 18/1 o semanário denunciou a participação de pessoas próximas da presidente Dilma Roussef — seu ex-marido e amigo, o advogado gaúcho Carlos Araújo — intermediando a obtenção de favores oficiais para socorrer um dos empreiteiros encalacrados no petrolão. Matéria precária, ligeira, claramente insuficiente, exigiu do diretor de redação da revista uma embalagem caprichada: aproximar a façanha do Globe à de Época através de um texto introdutório redigido com rara modéstia — “Em busca da história completa”. Se no lançamento do filme resenhistas e opinionistas não conseguiram definir em que consiste o bom jornalismo, agora experimentava-se esclarecer segunda abstração — a história completa. Quem é que define o momento em que uma carga de informações está pronta para ser publicada e produzir os imperiosos desdobramentos ? O enredo de “Spotlight” é extremamente simples, despretensioso: resume-se à descrição do trabalho anônimo, penoso e solitário da força-tarefa do Globe ao longo de seis meses para investigar, coletar, encadear e formatar as denúncias contra os 87 padres-pedófilos de Boston e os seus protetores na hierarquia católica dos EUA e da Santa Sé. Quando as rotativas começam a imprimir as primeiras revelações, acaba o filme. Seguiram-se outras 599 reportagens no mesmo jornal. Com simplicidade exemplar, diretor, roteiristas, atores e personagens reais explicaram como é possível identificar a essência do bom jornalismo. A reportagem de capa da Época edição 918 não obteve qualquer repercussão. Na edição seguinte da revista, a de número 919″, nem uma palavra. Evidentemente não era uma história completa. Alberto Dines/Observatório da Imprensa
A crise dos jornais está na agenda, e a dos jornalistas? O grande assunto atual em todas as rodas de jornalistas é o futuro dos jornais. Todo mundo está preocupado com o possível desaparecimento da imprensa escrita, mas até agora poucos se deram conta de que a atividade jornalística também está em questão. A preocupação da maioria dos jornalistas com a crise dos jornais está ligada diretamente à insegurança sobre o futuro de empregos, da estabilidade salarial e do guarda chuva de garantias sociais. É natural que seja assim, porque afinal de contas um emprego na industria de jornais, revistas, rádio e televisão é uma espécie de âncora num mercado de trabalho marcado pela instabilidade e fluidez. É também um sintoma da dependência que os profissionais criaram em relação às empresas durante a época em que os jornais e os jornalistas tinham a exclusividade na produção de noticias. Os free lancers e autônomos eram uma exceção e de certa forma também um luxo, já que só os mais bem sucedidos na profissão podiam se arriscar a um vôo solo. A internet e a avalancha informativa digital não mudaram apenas o modelo de negócios da imprensa ao causar a queda de receitas tanto com publicidade como em vendagem em quase todo o mundo. A Web, parte da internet, está também alterando a rotina e os valores da atividade jornalística, sem que este tema tenha sido até agora discutido em profundidade.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A maioria dos profissionais talvez ainda espere que os jornais consigam criar um novo modelo de negócios e aí tudo voltaria ao normal. Só que isso é uma ilusão. A imprensa vai descobrir um novo modelo de negócios mas é quase certo que ele terá muito poucas semelhanças com o atual, porque houve uma mudança irreversível na produção de informações. Ela não está mais concentrada nos jornais e assumiu um caráter descentralizado na internet. Tudo indica também que a nova fórmula comercial da imprensa não estará apoiada na formação de grandes redações. Isto significa que a segurança do emprego em empresas jornalísticas deve ser descartada como perspectiva profissional futura, como afirma o professor Mark Deuze[1], autor do livro Media Work e considerado o maior especialista mundial em mercado de trabalho na mídia. Fica fácil então perceber que os jornalistas profissionais terão que enfrentar duas perguntas incômodas: 1) O que o futuro reserva para a atividade, descartada a opção por jornais e revistas no formato tradicional; 2) Como será possível sobreviver numa nova realidade marcada pela participação dos cidadãos como produtores de notícias e pela necessidade de especialização para ocupar nichos informativos vagos até agora pela inexistência de público consumidor significativo? A primeira pergunta é impossível responder dada a sua complexidade e…