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Gás Lacrimogênio, protestos e guerras

Por que o gás lacrimogêneo é usado para dispersar protestos mas é proibido nas guerras? Policial usa gás lacrimogêneo em protesto no Rio na sexta-feira Direito de imagem REUTERS/RICARDO MORAES Comum em protestos ao redor do mundo para dispersar multidões, o gás lacrimogênio é proibido em guerras. [ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Ele foi testado pela primeira vez durante a Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de forçar soldados inimigos a deixar suas trincheiras para serem atacados com artilharia ou outras armas. Com o passar do tempo, foi perdendo seu uso em conflitos armados até ser proibido, em 1997, pela Convenção Sobre Proibição de Armas Químicas, firmado por 178 países. A Convenção proíbe seu uso como arma de guerra, tendo em vista o poder letal do gás quando em alta concentração. “Ele está proibido na guerra porque supostamente não se deve usá-lo como arma ofensiva”, explicou à BBC Mundo Anna Feigenbaum, professora da Universidade de Bournemouth, na Inglaterra, que publicou um ensaio sobre a história do gás na revista The Atlantic. “A exceção para o uso pela polícia ocorre porque o gás não está sendo usado como uma arma, e sim como um agente de controle”, acrescentou. O uso do gás em protestos tem sido criticado porque seu uso indiscriminado pode provocar problemas de saúde nos manifestantes. Uma revisão de estudos sobre os efeitos do gás lacrimogênio publicada em 2016 no Annals of the New York Academy of Sciences diz que ele pode causar sérios danos nos pulmões, pele e olhos; crianças, mulheres e aqueles que já têm complicações nessas áreas do corpo têm riscos maiores de serem afetados. ‘A guerra dos químicos’ Há divergências entre os historiadores consultados pela BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, sobre quando exatamente o gás lacrimogênio foi usado pela primeira vez na Primeira Guerra, mas a maioria tende a apontar o mês de agosto de 1914, pouco depois do começo do conflito mundial. Unido fez simulações de lançamento de gás lacrimogêneo em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial – Direito de imagemGETTY IMAGES Doran Cart, curador do Museu Nacional da Primeira Guerra Mundial, em Kansas City, no Missouri, nos Estados Unidos, diz que embora não existam documentos oficiais sobre isso, os franceses podem ter usado granadas lacrimogêneas contra os alemães nesse mês. Isso porque a França vinha fazendo experimentos com os gases em anos anteriores. O “ponto de virada”, segundo o historiador, foi em 1915, quando gases começaram a ser testados com mais frequência, ainda que nem sempre de maneira efetiva. ‘Greve foi menor do que organizadores esperavam, mas maior do que governo gostaria’, diz cientista político Seu desenvolvimento fez parte de um esforço muito maior das potências para criar armas químicas, o que levou a Primeira Guerra Mundial a ser considerada “a guerra dos químicos”. Além dos lacrimogêneos, também foram usados agentes como o gás mostarda, o gás cloro, gás fosgênio, alguns dos quais causaram um “sofrimento agonizante” e quase cem mil mortes, segundo dados das Nações Unidas. Mulher em Nantes, no oeste da França, sofre os efeitos do gás lacrimogêneo durante um protesto contra a reforma trabalhista, em setembro de 2016 Direito de imagemGETTY IMAGES “Esses gases se converteram na personificação de todo o mal da Primeira Guerra Mundial”, afirmou à BBC Mundo o historiador Michael Neiberg, professor da Universidade da Guerra do Exército dos Estados Unidos, na Pensilvânia. Controle de distúrbios Poucos anos depois, em 1925, foi firmado o Protocolo de Genebra que, com limitações, proibiu o uso de armas químicas nas guerras. Na época, no entanto, já estavam sendo testados novos compostos químicos de gases lacrimogêneos e se buscava formas de convertê-los em ferramenta para uso rotineiro. Pela sua condição não letal, seu uso não provocava tanta resistência como o de outros gases. Manifestante em Caracas, na Venezuela, prestes a lançar uma lata de gás lacrimogêneo – Direito de imagemGETTY IMAGES Segundo Feigenbaum, poucos anos depois do armistício de 1918, várias cidades americanas e territórios ao redor do mundo começaram a comprar o gás, que foi usado em prisões, atos de greves e até em caixas-fortes de bancos para se evitar roubos. A guerra do Vietnã também ajudou a mudar a percepção sobre o gás lacrimogêneo; tanto o seu uso no Vietnã como nos Estados Unidos – para dispersar protestos – passaram a ser criticados. Para se distanciar das acusações de uso de armas químicas, Washington passou a se referir ao gás como um “agente para o controle de distúrbios”, um termo que passou a ser usado com frequeência cada vez maior, segundo um estudo publicado em 2013 na Yale Historical Review. A história da argentina que sobreviveu a três naufrágios desastrosos – incluindo o do Titanic No resto do mundo, o gás se tornou mais habitual e nos últimos anos foi usado com frequência em protestos diversos – como no Brasil, na Primavera Árabe, no Parque Gezi, em Istambul, na Venezuela e no Estado do Missouri (protestos contra a morte de negros pela polícia), nos EUA, só para citar alguns dos casos mais notórios. “Tornou-se algo de uso comum porque é uma maneira de dispersar uma multidão de maneira relativamente barata e fácil”, explica Feigenbaum. Em protesto na Praça de Tahrir, no Cairo, em novembro de 2011, os manifestantes foram dispersados com gás – Direito de imagemGETTY IMAGES A especialista diz que, se usado de maneira adequada, o gás não causa ferimentos com sangue e seus efeitos são normalmente superficiais, o que é benéfico do ponto de vista da polícia. Mas, para Feigenbaum, “a rua é o único lugar para onde podemos ir quando nos tiram o poder; se o ar é envenenado, estão tirando das pessoas a capacidade de protestar”. BBC

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USA: O mundo em meio a uma corrida nuclear

O governo de Barack Obama tem um projeto de US$ 1 trilhão para modernizar o arsenal nuclear do país.  Planos de fabricar um novo míssil nuclear de longo alcance (LRSO) estão sendo criticados (Foto: Wikipedia) Há 25 anos, telespectadores do mundo inteiro assistiram à exibição da tecnologia de mísseis de cruzeiro dos Estados Unidos. Enquanto os jornalistas escreviam suas reportagens no teto do hotel Al Rashid em Bagdá, os mísseis Tomahawk surgiram na tela percorrendo as ruas da cidade em seu caminho para atingir alvos com uma precisão fantástica.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Fabricado no auge da Guerra Fria como um míssil nuclear, que podia carregar uma ogiva nuclear ou uma carga explosiva comum, o míssil Tomahawk tem estado na vanguarda da maioria dos ataques aéreos dos EUA desde a primeira Guerra do Golfo. No entanto, os planos de fabricar um novo míssil nuclear de longo alcance (LRSO), antes que os antigos sejam retirados de circulação em 2030, como parte do projeto do governo Obama de renovar o complexo nuclear obsoleto do país e expandir a produção de armas nucleares nos próximos 30 anos com um custo de $1 trilhão, estão sendo criticados. William Perry, secretário de Defesa de 1994 a 1997, encarregado do projeto do míssil de cruzeiro no Pentágono no final da década de 1970, e Andrew Weber, secretário-adjunto de Defesa responsável pelos programas de defesa nuclear, química e biológica de 2009 a 2014, causaram surpresa em outubro ao defender o cancelamento dos planos de fabricar mil mísseis nucleares. Esse cancelamento representaria uma economia de US$25 bilhões ao país. Segundo Perry e Weber, os mísseis nucleares de cruzeiro são “armas desestabilizadoras”, porque os inimigos em potencial não conseguem distinguir se estão sendo atacados com uma carga explosiva convencional ou com uma ogiva nuclear. O fato de não produzirmos o LRSO, disseram, “não diminuirá o enorme poder de dissuasão nuclear dos EUA”. Especialistas em controles de armas receiam que as justificativas do Pentágono para a fabricação de novos mísseis e da nova bomba atômica extremamente precisa, sugerem que as doutrinas da Guerra Fria, controversas na época, como o aumento do controle e do limite das guerras nucleares, estão sendo retomadas. Hillary Clinton, que em geral tem uma postura mais incisiva e enérgica do que Barack Obama, ao lhe perguntarem em Iowa qual era sua opinião sobre o projeto de US$1 trilhão para modernizar o arsenal nuclear americano respondeu, “Bem, ouvi comentários. Vou procurar me informar com mais detalhes. Mas para mim não faz sentido”. A observação da Sra. Clinton traiu a pressão que tem sofrido por parte do candidato democrata de esquerda e seu rival nas pesquisas de intenções de votos, Bernie Sanders. Mas muitos democratas decepcionaram-se por Obama não ter se mantido fiel ao projeto de um mundo sem armas nucleares, como descreveu no discurso em Praga no ano de 2009, que lhe ajudou a ganhar o prêmio Nobel da Paz, talvez uma escolha um pouco prematura. Fonte: Opinião&Notícia

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Economia: Os 10 países que mais compram armas pesadas (e de quem)

Prontos para a briga. São 153 os países no mundo (ou 75% do total) que importaram alguma quantidade de grandes armas entre 2010 e 2014. No entanto, os 5 principais responderam por um terço do volume total, com liderança da Índia. Os números foram divulgados ontem pelo Stockholm International Peace Research Institute. Com o desenvolvimento de uma indústria de armas própria, a China tem conseguido diminuir brutalmente sua importação, mas segue em terceiro. Ela também aparece no ranking de maiores exportadores, assim como os Estados Unidos. Em comparação com o período anterior, as importações cresceram 45% na África e 37% na Ásia e Oceania. Na Europa, caíram 36%. Veja a seguir os 10 maiores importadores de grandes armas entre 2010 e 2014 – incluindo equipamento militar como aviões e navios – e quais são os 3 principais fornecedores de cada um: 1. Índia Reuters Parceiros Parcela das importações 1 Rússia 70% 2 Estados Unidos 12% 3 Israel 7% 2. Arábia Saudita Riyadh March 26, 2014 Membros das forças especiais da Arábia Saudita treinam em Darma. (26/3/2014) Parceiros Parcela das importações 1 Reino Unido 36% 2 Estados Unidos 35% 3 França 6% 3. China Mark Ralston/AFP Avião militar exposto na China: Pequim reforça continuamente o gasto de Defesa, que subiu 11,2% em 2012 e 10,7% em 2013 Parceiros Parcela das importações 1 Rússia 61% 2 França 16% 3 Ucrânia 3% 4. Emirados Árabes Unidos Petra News Agency/Reuters Parceiros Parcela das importações 1 Estados Unidos 58% 2 França 9% 3 Rússia 9% 5. Paquistão AFP Soldados fazem uma operação contra militantes do taleban no Paquistão Parceiros Parcela das importações 1 China 51% 2 Estados Unidos 30% 3 Suécia 5% 6. Austrália Exército da Austrália / Wikimedia Commons Parceiros Parcela das importações 1 Estados Unidos 68% 2 Espanha 19% 3 França 6% 7. Turquia Mustafa Ozer/AFP Helicóptero militar turco sobrevoa a região de Hakkari, perto da fronteira com o Iraque Parceiros Parcela das importações 1 Estados Unidos 58% 2 Coreia do Sul 13% 3 Espanha 8% 8. Estados Unidos Lockheed Martin Parceiros Parcela das importações 1 Alemanha 18% 2 Reino Unido 15% 3 Canadá 13% 9. Coreia do Sul AFP / Kim Jae-Hwan Tanques sul-coreanos avançam durante as manobras militares conjuntas com os Estados Unidos Parceiros Parcela das importações 1 Estados Unidos 89% 2 Alemanha 5% 3 Suécia 2% 10. Singapura Wikimedia Commons Parceiros Parcela das importações 1 Estados Unidos 71% 2 Alemanha 10% 3 Suécia 6% Fonte:Exame

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EUA veem indício de fabricação e uso de armas químicas pelo ‘EI’ na Síria e no Iraque

Uma autoridade americana disse à BBC que os Estados Unidos já identificaram pelo menos quatro ocasiões em que o grupo autodenominado “Estado Islâmico” usou gás mostarda em ataques na Síria e no Iraque. De acordo com ele, o governo americano está cada vez mais convicto de que o grupo radical está produzindo e usando armas químicas. Segundo a fonte, o chamado gás mostarda – que, em temperatura ambiente, é líquido – está sendo usado na forma de pó. Na fronteira entre Turquia e Síria, o repórter da BBC Ian Pannell encontrou indícios que sustentam essa afirmação. Leia mais: BBC mostra destruição na Síria que refugiados deixam para trás OS EUA acreditam que o grupo tem uma célula dedicada a construir essas armas e está provavelmente adicionando-as a explosivos convencionais, como morteiros.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] “Eles estão usando mostarda”, disse a autoridade americana. “Sabemos que estão. Vimos eles fazendo isso em pelo menos quatro situações diferentes nos dois lados da fronteira, no Iraque e na Síria.” Quando essa armas explodem, a poeira de gás mostarda causa bolhas em quem está exposto a ela. Leia mais: ‘Espetáculo de cadáveres em praias europeias’ era previsto, diz brasileiro da ONU Militantes do ‘Estado Islâmico” controlam grandes partes do território da Síria e do Iraque – Image copyright AP O que é o agente mostarda? O termo “gás mostarda” costuma ser usado para descrever o agente, mas ele é líquido em temperatura ambiente. Ás vezes, ele tem cheiro – como alho, cebola e mostarda -, às vezes não. Pode ser amarelo claro ou marrom. As pessoas podem ser expostas através de contato pela pele, olhos e respiração, se ele for lançado no ar como vapor. Se estive em estado líquido ou sólido, além do contato com a pele pode haver consumo. A substância causa bolhas na pele e nas mucosas. Apesar de a exposição ao gás não costumar ser fatal, não há tratamento ou antídoto, o que significa que ele precisa ser removido do corpo completamente. A autoridade disse que a inteligência americana acredita que a explicação mais plausível para o uso deste tipo de arma é que os militantes estejam fabricando o gás mostarda. “Avaliamos que eles têm uma pequena célula ativa de pesquisa em armas químicas e que estão se esforçando nisso”, disse. A autoridade disse que não é difícil aprender a fabricar gás mostarda. Leia mais: ‘Que diferença faz morrer na Síria ou no mar?’, diz refugiado que tentou nadar até a Grécia É pouco provável que militantes tenham encontrado o agente químico no Iraque, de acordo com ele, porque o Exército americano provavelmente teria descoberto durante o período em que manteve presença ostensiva no país. A fonte também praticamente descartam a hipótese de os militantes terem roubado os químicos do governo da Síria antes que o regime fosse forçado a a entregá-las, após ameaça de ataques aéreos americanos em 2013. Contato com gás mostarda pode causar irritação nos olhos e bolhas na pele. Image copyright Getty Oficialmente, o governo dos EUA continua dizendo que investiga as denúncias de uso de armas químicas no Iraque e na Síria, mas a fonte disse à BBC que muitas agências de inteligência agora acreditam que há evidências suficientes para confirmar as denúncias. A fonte pediu para não ser identificada porque não está autorizada a falar sobre isso oficialmente. Acordo A Síria deveria ser um local livre de armas químicas após um acordo feito com apoio da ONU. O governo do país entregou mais de 1.180 toneladas de agentes tóxicos e químicos para a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ). O processo começou em outubro de 2013 e terminou em junho do ano passado. Mais de 200 mil pessoas morreram de que o início da guerra civil na Síria, após protestos antigoverno no início de 2011. Uma pequena parcela teria morrido devido ao uso de armas químicas. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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Refugiados, desconhecido drama global

Retrato da globalização totalitária: número de perseguidos dobrou em dez anos, e chega a 60 milhões. Esqueça as visões pré-concebidas: 86% deles não buscam refúgio na Europa ou EUA, mas nos países do Sul. O fenômeno das migrações forçadas sempre esteve presente na história mundial, quer oriundo de desequilíbrios sociais e econômicos, como fome e calamidade natural, quer ocasionado por guerras e opressões. Na maioria das vezes, indivíduos nessas circunstâncias são obrigados a deixar o próprio país para buscar proteção em território estrangeiro, e frequentemente, para salvar a própria vida. O direito internacional contempla uma categoria específica de migrante forçado, o refugiado, que deve conter elementos conceituais bem determinados. Vale lembrar que este número cresce exponencialmente. De acordo com o último relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados — Acnur (Tendências Globais), são quase 60 milhões de pessoas (59,5 milhões) em fuga devido a guerras, conflitos e perseguições. Há dez anos, este número era de 37,5 milhões. Na Europa, esta realidade intensificou-se a partir da Primavera Árabe. Desde então, com a chegada dos sírios e libaneses, este número aumentou de forma massiva. Nos dias de hoje, uma imagem que remete automaticamente à questão são os sucessivos naufrágios no Mediterrâneo. Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), mais de 1.750 pessoas morreram na tentativa de cruzar o mar e chegar à Europa no ano de 2014; número 30 vezes maior do que o apurado no mesmo período do ano anterior1. Ainda, conforme relatório da ONU, desde 2000 mais de 22 mil pessoas morreram tentando ingressar no continente europeu”. A desumanização do migrante e o desprezo generalizado à sua figura colaboram para agravar uma crise humanitária sem precedentes. Coincidência ou não, a Europa só recebe 10% deste “mar de gente”, 86% dos refugiados encontra asilo nos países de “terceiro mundo”. O Líbano, a Turquia e Jordânia acolhem mais refugiados do que os 28 países da União Europeia juntos. Em 2014 a Turquia tornou-se o país que mais acolhe refugiados no mundo, com 1,59 milhão de sírios. Mesmo que a Itália, sobretudo a ilha de Lampedusa, sirva como principal ponto de entrada da região, grande parte das demandas de refúgio são feitas na Alemanha e Suécia. Como analisa o jornalista Pedro Estevam Serrano, o continente dos direitos humanos, que a partir da Revolução Francesa introduziu um arcabouço de direitos fundamentais do homem, “nega ao imigrante (sobretudo ao africano e ao árabe) a humanidade que automaticamente lhe transferia o direito ao acolhimento”. Quase sempre, a problemática carrega consigo uma expectativa que não muda com o passar dos anos: a de um lugar melhor para se viver. Este não é o único fator que permanece imutável, os dois lados da moeda também continuam os mesmos: de um lado, políticas migratórias cada vez mais rígidas; do outro, a mercantilização de um produto potencial: a venda de um sonho. Muitos pagam a partir de 500 dólares a traficantes por lugares em barcos “quase tão superlotados e mortais quanto os navios negreiros do passado”, e somente cerca de 10% destes deslocados chega à Europa. Mas este não é o único mar de refugiados. As dramáticas jornadas marítimas ocorrem também no Golfo do Áden, no Mar Vermelho e no Sudeste da Ásia. Um dos fatores que determinou este aumento em grande escala foi sim a guerra da Síria, que começou em 2011 e desde então é tida como o “maior evento individual causador de deslocamento no mundo”. No entanto, o relatório do ACNUR revela que a tendência é a mesma em todos os continentes, sem exceção. A situação é alarmante: hoje, mostra o documento, um em cada 122 indivíduos é refugiado, deslocado interno ou solicitante de refúgio. Na hipótese do número representar a população de um país, seria a 24° nação mais populosa do mundo. Somente no continente africano, oito países se encontram em situação de conflito: Costa do Marfim, República Centro Africana, Líbia, Mali, nordeste da Nigéria, República Democrática do Congo, Sudão do Sul e Burundi. Em termos de deslocamento forçado, a Europa precede o ranking com aumento de 51%. A Ásia assume a segunda posição registrando um crescimento de 31%, seguida pelo Oriente Médio e norte da África com 19%. Na sequência, África Subsaariana e Áméricas com um aumento de 17 e 12% respectivamente. Arsène Bolouvi, da Anistia Internacional, esclarece que fatores como as vendas de armas, o controle dos recursos, as tramas multinacionais e os governos autoritários apoiados pela França, por exemplo, interferem diretamente nas condições de vida dos migrantes forçados e na decorrente fuga destes indivíduos de circunstâncias de perigo, fome e guerra. A conjuntura política e econômica de regiões como a do Magreb e da África subsaariana estão relacionadas ao vinculo desequilibrado mantido com as ex-colônias10. Não seria então, mais uma das armadilhas da geopolítica, uma vez que o mesmo Estado que patrocina as guerras promove intervenções “humanitárias” e enrijece fronteiras e políticas para refrear um êxodo descontrolado? Além disso, a própria política exterior e comercial dos países do Norte acarreta a emigração dos países do Sul. Como bem lembrava o sociólogo franco-argelino Abdelmalek Sayad “a imigração é antes de tudo uma emigração”. Será que essa situação não passa de um “efeito boomerang” causado pela consolidação da histórica, porém atual, divisão internacional do trabalho? Isso não seria somente um sintoma, proveniente de uma causa muito mais ampla e complexa? As causas das migrações forçadas envolvem um debate ideológico delicado e exaustivo, uma vez que preconiza a existência de imperfeições no sistema econômico e social que a “maioria da classe política e midiática aceita como fato”. Na Ásia, um episódio no mês de maio “jogou os holofotes” ao Mar de Andamão, evidenciando como o fenômeno de migrações forçadas possui proporções significativas nesta parte do globo. Cerca de 350 imigrantes vindos do Mianmar, da minoria muçulmana Rohingya, permaneceram à deriva em um barco de pesca que foi impedido de entrar na Tailândia. Em entrevista à Reuters, Puttichat Akhachan alegou que a entrada no país foi negada, mas que alimento e água foram

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Uma nova guerra imperialista parece cada vez mais perto

A contenda na Ucrânia entre a Rússia e as potências capitalistas ocidentais, USA à frente, parece perto de transbordar para um conflito interimperialista que já há tempos se anuncia. Conflito este que, historicamente, se prenuncia como o desaguadouro natural das insanáveis contradições que apertam o nó no pescoço do grande capital monopolista em profunda crise. No limite do tensionamento, estas contradições atiçam, atiram e compelem os blocos de poder globais ao choque retumbante da guerra. Tropas ianques desembarcam em base militar polonesa O USA intenta mover tropas e equipamento militar pesado para a Polônia, Romênia, Letônia, Lituânia, Bulgária e Estônia, justamente os países que o ex-secretário de defesa ianque Donald Rumsfeld chamou uma vez cinicamente de “Nova Europa”, ou seja, nações do Leste Europeu que outrora integraram o “bloco soviético”, e que, agora, Washington vai, pouco a pouco, integrando à Otan justamente para montar um cerco à Rússia, potência militar que representa o obstáculo de porte à estratégia de dominação planetária do USA e de seus monopólios — único caminho vislumbrando pela grande burguesia ianque para tentar mitigar a crise que lhe corrói as estruturas desde a década de 1970.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] São pelo menos cinco mil soldados, peças de artilharia e tanques a serem posicionados de frente para a Rússia e prontos para o combate. No último dia 14 de junho, os ministros da defesa da Lituânia e da Polônia confirmaram publicamente o aval à chegada de tropas do USA, sendo que aquele último esteve pessoalmente em Washington dias antes para discutir o assunto. Quem hoje ocupa o cargo que já foi de Rumsfeld, Ash Carter, falou, em discurso feito no último 22 de junho em Berlim, que o governo russo está tentando recriar a Guerra Fria, e que o USA e seus sócios (“aliados” é a palavra que se usa) não vão deixar Moscou “nos arrastar de volta ao passado”. Ele estava em Berlim para acompanhar a formação de uma força militar de intervenção rápida da Otan, criada em meio a todo este rufar de tambores. Um dia antes, 21 de junho, o mesmo Carter dissera que o USA está se preparando militarmente para o caso de o rompimento com a Rússia “ir além do rompimento com Putin”. Nos dias subsequentes, o secretário de defesa ianque subiria a bordo de um navio de guerra do USA estacionado em águas territoriais estonianas para “supervisionar” exercícios militares da Otan no mar Báltico, uma ostensiva provocação à Rússia que contou com nada menos que 50 navios de guerra e 5.600 militares de 17 países da Otan. No mesmo dia em que Ash Carter falava da iminência da guerra em Berlim, a União Europeia anunciava o prolongamento das sanções à Rússia até 2016, enquanto a Rússia se preparava, em “reciprocidade”, a estender até igual data a proibição à compra de alimentos de países da Europa. A Rússia reagiu ao anúncio de movimento de tropas e equipamento militar pesado da Otan no Leste Europeu dizendo que este é “o mais agressivo passo do Pentágono e da Otan desde a Guerra Fria”, que vai mover tropas e aparato bélico para reforçar sua fronteira ocidental e que pretende fechar o ano de 2015 com seu arsenal reforçado por 40 novos mísseis balísticos intercontinentais e com sua estrutura de defesa incrementada por um novo radar de detecção de alvos aéreos. Antes disso, em discurso proferido em meados de junho durante o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, Putin afirmou que a saída do USA do Tratado de Mísseis Antibalísticos entre os dois países (abandonado por Washington há quase 15 anos, em 2001, quando a nova estratégia de dominação global pelo imperialismo foi posta em marcha, na sequência dos “atentados” do 11 de setembro), empurra a Rússia para uma “nova rodada de corrida armamentista”. O USA abandonou este tratado porque ele impunha aos seus signatários a contenção do uso de sistemas BMD, sigla em inglês para Defesa de Mísseis Balísticos. São precisamente os sistemas BMD que compõem grande parte da chamada “Abordagem Adaptativa” para a Europa, cuja segunda fase será concluída ainda em 2015 com a instalação de um sistema desse tipo na Romênia. Por Hugo R.C. Souza – via a nova democracia/Tribuna da Imprensa

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A AL QAEDA, o FacaBook e os EUA

Ao longo do tempo, na tentativa de proteger seus interesses – usando o anticomunismo e outros pretextos como a “defesa da democracia” e da “civilização ocidental” – os Estados Unidos nunca hesitaram em abrir, sempre que quiseram, por arrogância ou estupidez, suas pequenas caixas de Pandora. Na Segunda Guerra Mundial, parte da elite estadunidense, abertamente hitlerista – celebridades como o aviador Charles Lindbergh e o magnata da indústria automobilística Henry Ford nunca esconderam sua simpatia pelo nazismo – só tomou posição contra o Eixo quando foi obrigada a isso com o ataque-surpresa da Marinha Imperial Japonesa a Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941. Antes, durante a Guerra Civil Espanhola, o “establishment” anglo-saxão, incluindo a Grã Bretanha, já havia percebido, extasiado, que não havia nada melhor que o fascismo para massacrar comunistas e esquerdistas. E fechara os olhos, complacentemente, para os ataques das tropas italianas mandadas por Mussolini e da aviação nazista contra milhares de mulheres, idosos e crianças desarmadas, em cidades como Guernica, Madrid e Barcelona. GUERRAS INÚTEIS Agora, depois da Coréia, do Vietnam, de dezenas de intervenções e golpes na África, Ásia e América Latina, das invasões do Iraque e do Afeganistão – guerras inúteis em que perderam trilhões de dólares e milhares de soldados, e das quais saíram sem atingir seu objetivo de estabilizar no poder regimes fantoches – os EUA abriram, mais uma vez, com a “Primavera Árabe”, sua Caixa de Pandora.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Ao insuflar pela internet, e com agentes infiltrados, a derrubada de governos seculares, em países com diferentes etnias e culturas, os norte-americanos e os países que se colocaram a seu serviço, como a Espanha, não destroçaram, apenas, estas nações, com guerras civis, doenças, destruição, centenas de milhares de refugiados, assassinatos, estupros, abusos e tortura. Eles também abriram caminho, na Tunísia, na Líbia, no Egito, no Sudão e na Síria, para o ressurgimento e a ascensão de um novo fundamentalismo islâmico, que almeja não só tomar o controle nesses países, mas também atingir, com eficácia, o coração do Ocidente. Dessa vez, no lugar de usar bombas, os radicais muçulmanos estão preferindo usar o feitiço contra o feiticeiro. A mesma internet – e o mesmo Facebook – utilizada para ajudar a parir uma “primavera” cujo retrato mais cruel é o de crianças sírias comendo cães para não sucumbir à fome, está sendo usada, agora, pela Al Qaeda, para converter e recrutar centenas de jovens ocidentais para lutar, em nome de Alá, nos escombros do Oriente Médio, contra o governo sírio. Alguns já morreram, como a norte-americana Nicole Mansfield, de 33 anos (foto), atingida em um tiroteio com dois outros ocidentais. Outros estão sendo rastreados e presos, em sua volta aos EUA, como afirmou, há poucos dias, em um depoimento em Washington, o diretor do FBI James Comey. Mauro Santayana/Tribuna da Imprensa

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Saara e Afeganistão

Sei não. Quer dizer, penso que sei. Pelo andar da carruagem quer dizer dos beduino$, o Saara equatorial caminha para ser um novo Afeganistão. Haverá petróleo sob as escaldantes areias? Divaga Zé Bêdêu, o derradeiro abestado crédulo da Praça do Ferreira em Fortaleza. A angelical criatura acredita até que o senador boiadeiro é vítima de campanha insidiosas de adversários políticos. [ad#Retangulo – Anuncios – Duplo]

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