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Governos que enganam a si mesmos

O problema endêmico da quantificação e manipulação estatística de dados nas economias centralizadas. Funcionários sabem que seus empregos (e às vezes suas vidas) dependem de atingir essas metas e, assim, os números são alterados (Foto: Wikimedia) No final da década de 1980, Mikhail Gorbachev tentou corajosamente recuperar a economia da antiga União Soviética, bastante deteriorada em comparação com a situação econômica dos países ocidentais. Mas como Robert Service revelou em seu livro The End of the Cold War: 1985-1991, nem mesmo Gorbachev percebeu o estado tão crítico da economia soviética. Service teve acesso aos registros das reuniões do Politburo. A partir da leitura desses documentos ficou evidente que os números oficiais das despesas com defesa em proporção ao PIB haviam sido subestimados. Em geral, as estatísticas não eram confiáveis.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Em determinada ocasião, os negociantes de armas soviéticos tentaram fazer um acordo com Ronald Reagan e descobriram constrangidos que não sabiam quantos mísseis nucleares o país tinha. Esse problema é endêmico em  países com economias centralizadas. Os governos estabelecem metas no seu escalão superior; os burocratas e funcionários do partido sabem que seus empregos (e às vezes suas vidas) dependem de atingir essas metas e, assim, os números são alterados para cumpri-las. Além disso, quase sempre as metas estão erradas. No final da década de 1980, a maioria dos países ocidentais substituiu a economia baseada na produção industrial por uma concentração maior no setor de serviços, mas a antiga União Soviética continuou obcecada com a produção de ferro e aço. O colapso dos preços da energia expôs os problemas reais da economia. Gorbachev não estava disposto a dar ajuda financeira aos países comunistas do Leste Europeu,  nem para seu mérito eterno, de fazer uma intervenção militar para apoiá-los. Por fim, os cidadãos desses países conseguiram depor seus governantes. A Argentina e a Venezuela são exemplos recentes da manipulação de dados econômicos. No caso da Argentina, o governo Kirchner alterou sistematicamente os índices da inflação. A Venezuela, um país com grandes reservas de petróleo, administrou tão mal a economia que agora enfrenta um enorme déficit orçamentário, uma inflação galopante e a falta de produtos básicos de consumo nas prateleiras dos supermercados. E os que tentaram mostrar os números reais foram acusados de ajudar os especuladores estrangeiros. The Economist-Self-deluding governments

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