Arquivo

A canoa das alianças de Dona Dilma

Em meio a “Jâniana” vassourada promovida por D. Dilma, a direção nacional do PT resolveu ficar de olho, e grande, nas alianças para as eleições municipais do ano que vem. Petistas avermelhados de vergonha procuram avaliar a conveniência de coligações não só com partidos de oposição ao governo, mas de aliados. O PR serve de referência para essa tomada de atitude. Um dirigente petista, sempre em off, revela a necessidade de “examinar” possíveis “circunstâncias negativas” nas alianças locais com partidos que integram a tal abstrata base de sustentação do governo, na realidade um desavergonhado balcão de negociatas. O Editor Foi a solidez da aliança da presidente Dilma Rousseff com o PMDB que derrubou Wagner Rossi da Agricultura e não o inverso. A carta do ex-ministro é cristalina. Vai no sentido oposto ao discurso com que o ex-ministro Alfredo Nascimento reassumiu sua cadeira no Senado. Enquanto o senador pelo PR acusou a presidente de abandoná-lo, Rossi isenta Dilma, a quem chama de “querida presidente”, de qualquer responsabilidade sobre sua saída, e faz votos por seu sucesso. Ao atribuir o desgaste aos interesses prejudicados pelas perspectivas eleitorais do PMDB em São Paulo o ex-ministro dá a exata medida da importância que o partido confere à aliança federal. A onda de denúncias contra si teria partido de quem não mais poderá “colocar o PMDB a reboque de seus desígnios” nas eleições paulistas. Mais do que as digitais insinuadas por Rossi, o que importa em sua declaração é a disposição do PMDB em manter uma aliança a salvo do assédio oposicionista. Desde que Orestes Quércia (1938-2010) candidatou-se pela última vez ao governo paulista em 1998, o PMDB tem sido sigla auxiliar dos tucanos no Estado como seu principal fornecedor de vices em eleições majoritárias. Com a morte de Quércia e a assunção de Temer ao comando do PMDB local, o partido resolveu ensaiar carreira solo com a candidatura do deputado federal Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo. Leiloada por petistas, Dilma é paparicada no Bandeirantes Como se trata de uma candidatura pemedebista, não poderia deixar de ter duas âncoras – o PT, com quem o partido já fez acordo de apoio mútuo no segundo turno, e a banda Geraldo Alckmin do PSDB, a quem Chalita deve sua ascensão na política paulista e com quem mantém relações estreitas.[ad#Retangulo – Anuncios – Duplo] Se Chalita enfrentar o ex-governador José Serra em 2012 na capital paulistana levará Alckmin a ter um amigo e um correligionário em campos opostos – situação ainda mais confortável do que a de Serra em 2008 quando, na condição de governador, assistiu Gilberto Kassab e Alckmin se confrontarem pela prefeitura paulistana. A desenvoltura do PMDB no Estado não está restrita à capital. Em entrevista a Vandson Lima, do Valor, o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Barros Munhoz (PSDB), apostou que o PMDB é a legenda que mais vai crescer no Estado em 2012. No partido que rebocou o PMDB paulista até aqui quem menos tem a ganhar com a desenvoltura dos aliados de Temer é Serra – o que não é suficiente para assegurar veracidade às insinuações feitas por Rossi. Ao sugerir que Serra é o pauteiro de sua demissão, o ex-ministro, além de ignorar seus próprios malfeitos, talvez tenha superdimensionado a capacidade de o ex-governador encontrar ressonância depois de uma campanha em que destroçou seu capital político. Tão ou mais eloquente que a sinuca eleitoral montada pelo PMDB paulista para os não alckmistas do PSDB é o feitio que vem adquirindo a gestão do governador em São Paulo. Poucos aliados da presidente no PT têm aderido de maneira tão incondicional aos programas federais quanto Alckmin. A acolhida que deu ontem a Dilma, com direito a abraço do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à entrada do Palácio dos Bandeirantes, foi apenas a parte mais visível dessa aproximação. Já no primeiro mês de governo Alckmin anunciou sua adesão às metas para acabar com a miséria. Depois promoveu a unificação dos programas sociais do Estado, tal como ocorreu no governo petista. Os programas de transferência de renda que haviam sido desidratados na gestão José Serra ganharam nova musculatura. Na educação, além de voltar atrás na política de bonificação dos professores por meta de desempenho, severamente criticada pelos petistas do setor, Alckmin também criou um programa de bolsa para universitários inspirado no Prouni. De uma só tacada aproximou-se de Dilma e afastou-se de Serra. A contrapartida da bolsa é a participação do estudante em atividades de fim de semana nas escolas públicas. O programa que as mantinha abertas sete dias por semana havia sido descontinuado por seu antecessor. Na habitação, Alckmin também enviou um projeto à Assembleia Legislativa que concede benefícios fiscais às construtoras contratadas pela estatal paulista do setor, a CDHU, a exemplo do que já faz o Minha Casa Minha Vida. No plano plurianual que acaba de apresentar, Alckmin resolveu incorporar o Índice de Responsabilidade Social. Criado pela Assembleia há 11 anos para mensurar os avanços alcançados pelo poder público na promoção do bem estar social, o índice atravessou dois governos de Alckmin sem que a gestão estadual lhe prestasse atenção. Foi a rota de aproximação com Dilma que levou o governador a resgatá-lo. O PPA também mantém a agressiva política de investimentos anunciada por Alckmin no início de seu governo. Justiça lhe seja feita, foi Serra quem ousou na expansão dos investimentos com o acordo, selado com Lula, que permitiu ampliar a margem de endividamento do Estado. Alckmin vai se beneficiar do acordo feito por seu antecessor para continuar a expandir o transporte metropolitano, marca do governo Serra, e aderir a bandeiras dilmistas, como o investimento no estádio do Corinthians e o trem bala. A acolhida calorosa que Dilma teve no Bandeirantes somada ao enfático apoio do PSD de Kassab contrasta com as manifestações petistas da semana. O ministro Paulo Bernardo, que tem 100% de seu orçamento familiar na folha de pagamentos do primeiro escalão federal, disse ao repórter Fernando Rodrigues (”Folha de São Paulo”) que a presidente, “se estiver bem”,

Leia mais »

Dilma e Obama têm problemas semelhantes

Até as pedras sabem que Dona Dilma está “numa sinuca de bico”. Ou no popular “ou dá ou desce” O PMDB não é PP. Agora se há alguém que entende de quebradeiras esse alguém é o sociólogo. Ninguém tão bem como ele soube amparar banqueiros e empresários falidos. A senilidade impede FHC de lembrar a bandalheira da privatização das teles? Ou o que teve que fazer para manter a governabilidade, com os mesmo Sarneys, Jucás, “et caterva”? Os quatro primeiros anos do Fernando foram de nenhum superávit primário, farra fiscal, câmbio controlado engolindo a empresa nacional, e corrida ao FMI para implorar US$ 41 bilhões para o Brasil não quebrar. Lula o outro farsante, jogou pra debaixo do tapete a maior quantidade de corrupção já vista nessa pobre e depauperada taba dos Tupiniquins. Quanto à corrupção todos estão nivelados por baixo. Com todos. Desde Cabral. O Editor FHC: o ‘dilema’ de Dilma é parecido com o de Obama “…Mal comparando, a presidenta Dilma está aprisionada em um dilema do gênero daquele que agarrou Obama E nós aqui nesta periferia gloriosa a quantas andamos? Longe do olho do furacão cantamos glória pelo que fizemos, pelo que de errado os outros fizeram e pelo que não fizemos, mas, pensamos, pouco importa, o vendaval do mundo varreu a riqueza de uma parte do globo para outra e nos beneficiou. Será que é assim mesmo? Será que a proeza de evitar as ondas do tsunami impede que a malignidade do resto do mundo nos alcance? Tenho minhas dúvidas. Falta-nos, como impuseram os reacionários americanos a Obama, uma agenda, mas que seja nova e não a desgastada do “clube do chá” americano. A nova agenda existe, está exposta cotidianamente pela mídia e não é propriedade de um partido ou de um governo. Mas onde está a argamassa, como o antigo ideal americano, para conter as divergências, o choque de interesses, e guiar-nos para um patamar mais seguro, mais próspero e mais coeso como nação?[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Mal comparando, a presidenta Dilma está aprisionada em um dilema do gênero daquele que agarrou Obama. Só que, se no caso americano a crise apareceu como econômica para depois se tornar política, em nosso caso ela surgiu como política, mas poderá se tornar econômica. Explico-me: a presidenta é herdeira de um sistema, como dizíamos no período do autoritarismo militar. Este funciona solidificando interesses do grande capital, das estatais, dos fundos de pensão, dos sindicatos e de um conjunto desordenado de atores políticos que passaram a se legitimar como se expressassem um presidencialismo de coalizão no qual troca-se governabilidade por favores, cargos e tudo mais que se junta a isso. Esta tendência não é nova. Ela foi-se constituindo à medida em que o capitalismo burocrático (ou de estado, ou como se o queira qualificar) amealhou apoios amplos entre sindicalistas, funcionários e empresários sedentos por contratos e passou a conviver com o capitalismo de mercado, mais competitivo. Na onda do crescimento econômico as acomodações foram se tornando mais fáceis, tanto entre interesses econômicos quanto políticos (incluindo-se neles os “fisiológicos” e a corrupção). No início parecia fenômeno normal das épocas de prosperidade capitalista que seria passageiro. Pouco a pouco se foi vendo que era mais do que isso: cada parte do sistema precisa da outra para funcionar e o próprio sistema necessita da anuência dos cooptáveis pelas bolsas e empregos de baixo salários e precisa de símbolos e de voz. Esta veio com o “predestinado”: o lulismo anestesiou qualquer crítica não só ao sistema mas a suas partes constitutivas. É neste ponto que o bicho pega. A presidenta é menos leniente com certas práticas condenáveis do sistema. Entretanto, quando começa a fazer uma faxina quebram-se as peças da engrenagem toda. Sem leniências e cumplicidades entre as várias partes, como obter apoios para a agenda necessária à modernização do país? E sem ela, como fazer frente à concorrência da China, à relativa desindustrialização, ou melhor, ‘desprodutividade’ da economia e como arbitrar entre interesses legítimos ou não dos que precisam de mais apoio do governo, advenham eles de setores populares ou empresariais? É cedo para prever o curso dessa história, que apenas começa. Mas não há dúvidas que para se desfazer da herança recebida será preciso não só ‘vontade política’ como, o que é tão difícil quanto, refazer os sistemas de alianças. É luta para Davis e, no caso, Golias é pai de Davi.” –>>aqui o texto integral do artigo de FHC Leandro Moraes/UOL

Leia mais »

Economia brasileira se dá bem em meio à insensatez global

Os brasileiros, que no passado não ficavam alheios às crises econômicas, viram-se repentinamente na invejável posição de espectadores das insanidades do mundo desenvolvido. Na TV brasileira, em programas de entrevistas sobre temas atuais, fervilham há semanas, discussões sobre os problemas que estão varrendo a Europa e os EUA – do impasse em Washington em torno do teto de endividamento americano à crise financeira grega e o escândalo envolvendo o “News of the World”, no Reino Unido. Dilma Rousseff, a presidente do Brasil, pareceu resumir, na semana passada, as percepções brasileiras sobre um mundo exterior enlouquecido, ao descrever a crise da dívida nos EUA e na Europa como “insanidade”. A incapacidade política do mundo desenvolvido em encontrar soluções para seus problemas, segundo ela, representa uma “ameaça” à economia mundial. Mercado emergente em dificuldades, uma década atrás, o Brasil é hoje um cenário de estabilidade macroeconômica e política, em comparação com seu antes arrogante parceiro setentrional e com as antigas potências coloniais europeias. Não só o Brasil é agora um credor dos EUA, com US$ 327 bilhões em reservas de moeda estrangeira em junho, como também a economia está crescendo e o desemprego registra uma baixa recorde. Mas, com o mundo desenvolvido exibindo tendências antes associadas a mercados emergentes, o desafio, para o Brasil, está em como administrar seu êxito. O país não pode se dar ao luxo de complacência diante da tarefa ainda difícil de escapar da “armadilha de renda média” em que sua economia ficou presa durante décadas.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] A ruptura positiva, para a economia brasileira, veio na década de 90, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso implementou políticas destinadas a estabilizar os preços ao consumidor e o câmbio. Seu sucessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, manteve o foco na estabilidade macroeconômica e, ao mesmo tempo, expandiu programas sociais para melhorar a qualidade de vida dos mais pobres. Os resultados foram notáveis. O crescimento econômico brasileiro registrou uma média de 4% ao ano durante os últimos oito anos e quase 49 milhões de brasileiros foram alçados às classes média ou alta. O Brasil também mostrou-se relativamente responsável no enfrentamento de desafios. Seu sucesso econômico atraiu uma enxurrada de dinheiro de estagnados mercados desenvolvidos, elevando a taxa de câmbio da moeda brasileira, o real, em relação ao dólar, ameaçando a competitividade da indústria local. O Brasil tem reagido com a denominada “guerra cambial” – controles de capital e monetários – visando conter essa valorização. Mas o Brasil, predominantemente, tem resistido às pressões da indústria nacional no sentido de tomar medidas extremas, impondo, em vez disso, um complexo sistema de taxação destinado a desencorajar os fluxos de capital especulativo de curto prazo. No front fiscal, durante a campanha presidencial no ano passado, Dilma posicionou-se contra uma enxurrada de gastos, defendendo o enxugamento da proposta de Orçamento para este ano. O Banco Central também tomou a difícil decisão política de elevar as taxas básicas de juros, já altas, no Brasil, por cinco vezes, neste ano, para 12,5%, para reprimir um surto inflacionário. O BC acoplou essas medidas a outras, destinadas a frear o crescimento rápido do crédito, que alguns analistas temem ser insustentável. No front político, Dilma está limpando a corrupção no Ministério dos Transportes, demitindo autoridades alinhadas com um partido político parceiro da coligação de seu PT. Seus problemas políticos têm sido interpretadas pela opinião pública como uma “limpeza de primavera” por uma presidente recém-eleita. Nada disso significa que o Brasil não tenha seus próprios problemas. Um mercado de trabalho apertado, um sistema de ensino fraco e escassez de trabalhadores qualificados estão provocando altas de salários, ao mesmo tempo em que uma infraestrutura deficiente vem pressionando os custos para cima. Os níveis de endividamento das famílias estão parecendo insustentáveis para os endividados que vivem um boom de crédito. O Brasil precisa ter cuidado para não enterrar sua nova classe média sob tanta dívida que, quando chegar a próxima crise de desaquecimento econômico, eles voltem a submergir na pobreza. Os custos de tocar negócios continuam proibitivos, em parte por causa dos altos impostos e dos custos trabalhistas. Embora os preços das commodities tenham subido, os volumes de exportações não cresceram. O Brasil tem usado as receitas inesperadas do boom de commodities para incrementar o volume de suas importações. O Brasil pode sentir-se orgulhoso de si próprio. Mas terá de manter-se vigilante para assegurar que não plante as sementes da próxima crise durante o atual período de prosperidade. Joe Leahy | Financial Times/VALOR (Tradução de Sergio Blum)

Leia mais »

Petista se opõe a Lula e defende prévias

Líder do governo Dilma, Vaccarezza diz que estatuto do PT obriga a realização de primárias quando há dois ou mais pré-candidatos. Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prega internamente que o PT evite realizar prévias para as eleições municipais de 2012, o líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou ontem que o estatuto da sigla prevê a realização de consulta primária quando a legenda tiver mais de um nome para a disputa. À noite, em evento em São Paulo, Lula defendeu a tradição do PT de realizar prévias para definir candidatos. “Eu que propus a criação de prévias no PT”, disse o ex-presidente, ao chegar ao Clube Monte Líbano, na zona sul da capital, onde foi homenageado pelo setor imobiliário como personalidade do ano. No entanto, como o Estado mostrou ontem, Lula já está trabalhando para evitar as prévias na escolha dos candidatos petistas nas disputas de 2012. O ex-presidente avalia que o modelo com voto dos filiados deixa sequelas na disputa e mais atrapalha do que ajuda o partido na campanha eleitoral. Para Vaccarezza, Lula tem agido em busca de uma “melhor solução” ao pregar o acordo na escolha das candidaturas, mas lembrou que o próprio ex-presidente disputou prévias em 2002. “Se tiver dois candidatos, o estatuto define que vai haver prévias”, disse Vaccarezza. “O Lula está defendendo uma melhor solução para o partido, que seria chegarmos a um acordo. Mas ele mesmo já disputou prévias.” Para Vaccarezza, ainda é cedo para definir o nome do PT para a sucessão da Prefeitura. Lula, por sua vez, já defendeu publicamente a candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad. O ex-presidente acredita que um nome novo na disputa terá mais chance de reconduzir o PT ao governo municipal – o partido venceu as eleições em 1988 e 2000.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] A hoje senadora Marta Suplicy já pôs seu nome à disposição do partido, assim como os deputados Carlos Zarattini e Jilmar Tatto e o senador Eduardo Suplicy, que na semana passada também saiu em defesa das prévias no PT. Além desses pré-candidatos, o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, é defendido por setores do PT como melhor opção para a Prefeitura. A avaliação é de que, em eventuais prévias, Mercadante seria o favorito. Mas o ministro não se colocou publicamente na disputa e, antes de tomar uma decisão, pretende consultar a presidente Dilma Rousseff e Lula. Conciliação. Enquanto busca consenso dentro do PT para as eleições, o ex-presidente ouviu de empresários do setor imobiliário, como Romeu Chap Chap, uma proposta de “conciliação nacional” e reconhecimento dos “feitos heroicos” dos governos passados – do regime militar às gestões de Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula. No evento de ontem à noite, o petista discursou por 20 minutos, agradeceu a homenagem e afirmou que, ao assumir o governo, o País tinha um crescimento econômico limitado. “Há mais de 25 anos, o Brasil estava preparado para não crescer.” E destacou o bom momento da construção civil: “As chances foram criadas para quem quer construir e quiser vender”. Daiene Cardoso, Gustavo Uribe e Roldão Arruda/O Estado de S.Paulo

Leia mais »

Sigilo de documentos: decreto existe desde FHC

FHC repisa: assinou decreto do sigilo eterno sem ler Pouca gente menciona, mas a encrenca do sigilo eterno dos documentos oficiais nasceu na presidência de Fernando Henrique Cardoso. Quando, de raro em raro, alguém lhe esfrega o assunto no nariz, o ex-presidente repete: assinou o decreto desavisadamente. Nesta quinta (30), de passagem pelo Senado, onde degustou uma homenagem pelos 80 anos, FHC foi reinquirido sobre o tema. Repisou: “Fiz sem tomar conhecimento…” “…Foi no último dia do mandato, tinha uma pilha de documentos e eu só vi dois anos depois. O que é isso? Mandei reconstituir para saber o que era”. Ou seja: o acaso, quando combinado com o descaso, pode levar ao ‘historicídio’. Para sorte do Brasil, FHC não assina cheques como rubricava decretos. A imagem de um ex-presidente pedindo esmolas na esquina seria constrangedora. blog Josias de Souza

Leia mais »

Drogas: preconceitos e demandas

Droga: demanda e preconceitos por José Serra –> blog Durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995/2002), ocupei o ministério da Saúde por quase quatro anos. Com o apoio do presidente, além de reforçar bastante as ações que estavam em andamento, promovemos algumas inovações – entre estas, a ofensiva no combate ao tabagismo no país. Proibimos a propaganda de tabaco, sempre enganosa; impusemos fotos de advertência nos maços de cigarros; fizemos campanhas de esclarecimento nas TVs e nas rádios; fizemos, enfim, uma mobilização que contou com o apoio da imprensa porque a causa, obviamente, era boa; dizia respeito ao bem comum e à saúde dos brasileiros. Não há números precisos, mas boas indicações de que o crescimento do consumo de cigarros foi desacelerado. Tornou-se mais difícil para a indústria do fumo recrutar clientes entre os jovens. Mais do que isso: desenvolveu-se uma espécie de consciência social a respeito dos perigos desse vício para a saúde. Posteriormente, quando governador de São Paulo, fiz aprovar a lei que proíbe o fumo em recintos públicos fechados, incluindo bares e restaurantes. Tanto já havia aquela consciência que a medida foi rapidamente bem sucedida e se disseminou por todo o país. Faço essa memória com o propósito de insistir na necessidade de uma forte e amplíssima campanha educacional contra o consumo de drogas. No Brasil, há cerca de 1 milhão de pessoas, especialmente as mais jovens, usuárias do crack ou óxi, drogas que as levam à decadência e à morte, além do sofrimento e degradação que impõem às suas famílias. Você quer ter uma ideia mais concreta sobre essa realidade? Leia a reportagem “As Mães Reféns do Crack”, publicada nesta semana pela revista Veja. A luta contra as drogas exige cortar tanto a oferta como a demanda desses produtos. No Brasil, porém, a exemplo de outros países, as ações estão mais concentradas do lado da oferta, que deve, sim, ser combatida. Mas faltam ações decididas do lado da demanda, criando-se uma consciência maior, principalmente entre os jovens, sobre a natureza terrível da dependência química. Falando com clareza: é preciso estigmatizar não o consumidor do crack, mas o consumo do crack. Para isso tudo, é preciso ter lucidez, convicção e vontade política a respeito do assunto – atributos que parecem escassos nos órgãos federais competentes. Trata-se da mesma escassez que compromete as ações de tratamento e recuperação dos dependentes químicos, outro capítulo essencial da batalha contra as drogas — que, no Brasil, é ainda incipiente. Além de complexas, tais ações têm sido também dificultadas, por incrível que pareça, por estranho preconceito ideológico. Lembro-me da inauguração de uma clínica de tratamento e recuperação, criada pelo governo de São Paulo, localizada num município cuja prefeitura é do PT: o próprio prefeito criticou a iniciativa. Diga-se de passagem, o ministério da Saúde não repassou recursos do SUS para essa e outras clínicas, nem tampouco para as comunidades terapêuticas de todo o Brasil. PS – Sobre a mencionada clínica, vale a pena ler a matéria do jornalista Roberto Pompeu na revista Piauí http://bit.ly/piauirobertopompeu

Leia mais »

Dilma não foi responsável por crise, diz FHC

Ex-presidente disse ainda que é cedo para julgar como será o trabalho da nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta sexta-feira, 10, que a presidente Dilma Rousseff não foi responsável pela recente crise que resultou na queda de Antonio Palocci, da Casa Civil, e o remanejamento de ministérios com a ida de Ideli Salvatti para as Relações Institucionais e de Luiz Sérgio para a Pesca. “Era melhor não ter perdido (um ministro-chefe), mas a presidente não é responsável por isso. Acontece”, afirmou durante um jantar de comemoração de seus 80 anos, na Sala São Paulo, na capital paulista. Fernando Henrique disse ainda que é cedo para julgar como será o trabalho da ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, que assumirá o cargo na segunda-feira, 13. “Não conheço a Ideli e é cedo para julgar. Como eu fui presidente, eu sei como é isso. A gente tem que esperar que as coisas aconteçam. Eu ficava muito irritado quando julgavam minhas intenções, o que eu iria fazer, vamos esperar um pouquinho”, disse. Battisti Sobre a permanência do ex-ativista italiano Cesare Battisti no Brasil, FHC disse que se fosse presidente não teria tomado a mesma decisão que o também ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou. “Eu não discuto decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), mas se eu, se fosse presidente, não teria concordado. Mas, enfim, o Supremo declarou que o presidente é quem resolve e então está resolvido”, comentou. O ex-presidente também evitou criticar seus colegas de partido que não apoiam a descriminalização das drogas. “Não acho que isso seja uma questão partidária, e é bom que não seja discutido no âmbito dos partidos. Tem que ser debatido pela sociedade, não estou cobrando isso de líder nenhum”, ressaltou. Ele afirmou ainda que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não pode comparecer ao evento porque está em viagem ao México. A festa do ex-presidente está sendo realizada na Sala São Paulo, no centro da capital, e reúne aproximadamente 500 convidados, entre políticos, artistas, ex-integrantes de seu governo e ministros do STF. Anne Warth e Gustavo Uribe/Agência Estado

Leia mais »

A maconha e a inusitada comemoração dos 80 anos de FHC

A maconha e a inusitada comemoração dos 80 anos de FHC ¹ É inusitado um senhor comemorar seus oitenta anos defendendo a regularização da maconha. Quase impensável, dada a correlação entre quanto mais idoso mais conservador. Inusitado Fernando Henrique. Como se não bastasse o lançamento do filme Quebrando Tabu em São Paulo, ontem, lança de novo, segunda no Rio. No meio da semana vai a Nova York. Entregará ao Secretário Geral das Nações Unidas relatório com esta exata sugestão: é preciso que cada país deixe de ter medo e enfrente e regularize o plantio, o uso, a cura e o controle da maconha. E de outras drogas. Este inusitado aniversário pode ser explicado. O aniversariante é político profissional. Como candidato a cargos políticos majoritários dificilmente poderia tocar no tema da maconha. Tema polêmico. Divide o eleitorado. Candidatos em geral fogem de temas que dividem. Preferem temas que agreguem. Somem votos. Temas como aborto, direitos homossexuais, maconha são temas fantasmas. Assustam eleitores. Famílias têm medo. Qualquer pesquisa de opinião hoje no Brasil mostra que a maioria do eleitor é contra a legalização do aborto, o reconhecimento dos direitos homossexuais, ou a regularização da maconha. Não é por menos que a Presidente Dilma já se declarou de antemão conservadora nestes temas. Ser conservador culturalmente é ainda politicamente cauteloso.[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] Mas há vida política além do voto. A vocação de participar dos destinos da polis, seu país, seu mundo, em geral toma conta do corpo e alma do político. Não o deixa nem aos oitenta anos. Sem precisar agradar o eleitor no curto prazo, o político pode arriscar outro caminho: o de estar certo antes do tempo. Estar certo antes do tempo é a única saída possível. É não se abdicar. A comemoração inusitada também se explica porque antes do político, veio o sociólogo. Especialista não em dizer como a sociedade deveria ser. Mas como a sociedade de fato é. Nem se assusta nem pode ter medo dos fatos. A atual política de combate ao tráfico de drogas não diminuiu o consumo, não impede a destruição dos jovens, nem a vertiginosa ascensão política e financeira dos traficantes nas cidades. É retumbante fracasso. Não se obtêm resultados diferentes, insistindo nas mesmas políticas. Mudar é preciso. A inusitada comemoração se explica. Baseia-se em três constatações: a continuação da vocação política sem depender do eleitor, a evidência de que a atual política é fracasso retumbante, e a necessidade da sociedade não se paralisar. E mudar. ¹ Joaquim Falcão/blog do Noblat

Leia mais »

Documentário traz ex-presidentes para a discussão sobre uso de drogas

Descriminalização é defendida no filme ‘Quebrando o tabu’. Assunto está em evidência devido às manifestações favoráveis ao tema. No intuito de debater – e defender – a descriminalização do uso de drogas e a regulação do uso da maconha no Brasil, um documentário, que será lançado nesta semana, traz depoimentos de cinco ex-presidentes que reconhecem ter falhado nas políticas de combate aos entorpecentes. O filme “Quebrando o tabu”, que estreia nesta semana, traz o ex-presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, e seus colegas de profissão do México, Ernesto Zedillo, da Colômbia, César Gaviria, e dos Estados Unidos, Jimmy Carter e Bill Clinton, para comentar o assunto, que está em evidência no país nos últimos dias. A pauta voltou a ter destaque entre as autoridades nacionais devido às manifestações realizadas em diversas cidades do país a respeito do tema. O evento de mais evidência foi a ‘Marcha da Maconha’, passeata que aconteceu em São Paulo no dia 21 de maio e que acabou em confusão e prisões. A Justiça havia proibido o ato devido à apologia ao uso de drogas, considerado crime, e a polícia combateu os manifestantes com bomba de efeito moral, balas de borracha e efetuou nove detenções. No último sábado (28), uma nova marcha aconteceu, desta vez após acordo da organização com a polícia para que não fosse feita apologia às drogas. A Marcha da Liberdade reuniu 2 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. A discussão liderada pelo ex-presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que está prestes a completar 80 anos, ele afirma querer ‘colocar a mão neste vespeiro’ “As pessoas não têm coragem de quebrar o tabu e dizer: vamos discutir a questão”, afirmou. Perguntado sobre o motivo pelo qual não foi implementado em seu governo, Fernando Henrique Cardoso responde: “Primeiro porque eu não tinha a consciência que tenho hoje. Segundo que eu também achava que a repressão era o caminho”. Fracasso[ad#Retangulo – Anuncios – Direita] No filme, os políticos concluem que a guerra mundial contra as drogas, iniciada há 40 anos, é uma guerra fracassada. Bilhões de dólares são gastos no mundo inteiro, mas o consumo cresce e cresce o poder do tráfico, espalhando a violência. As armas constantemente recolhidas dos traficantes no Rio de Janeiro são a prova de que a polícia trabalha ‘enxugando gelo’ e é preciso ir além das apreensões de drogas e do combate aos traficantes. “Um ponto central é questionar a lógica de guerra, não é defender o uso da droga. É apenas sugerir pensar se não tem jeitos mais inteligentes e mais eficientes de lidar com esse assunto”, diz o diretor do filme, Fernando Andrade. No Brasil, a maconha é a droga mais difundida. Consumida por 80% dos usuários de drogas; 5% da população adulta. Mas especialistas questionam se ela é tão inofensiva a ponto de ser legalizada. “Não há droga inofensiva. Qualquer coisa depende da dose, da sensibilidade do individuo. Agora, entre as drogas usadas sem finalidade médica para fins de divertimento, para fins de recreação, a maconha é bastante segura”, afirma o professor Elisaldo Carlini, estudioso do tema e representante do Brasil nas comissões de drogas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das Nações Unidas. “Defendo totalmente a descriminalização”, diz Carlini. Com uma experiência de 35 anos, o professor Ronaldo Laranjeira discorda de Carlini. Ele alerta que, entre outros males, a maconha pode desencadear psicoses. “Não basta você simplesmente tirar o crime da questão das drogas. Você precisa oferecer uma série de outras ações. Isso nós não temos”. Na lista das drogas mais perigosas publicada na revista médica “Lancet”, respeitada no mundo inteiro, a maconha aparece em 11º lugar, bem atrás do álcool e até mesmo do cigarro, que são vendidos legalmente. “Álcool é mais letal do que maconha. Não se diz isso, mas é. Pelo menos os dados mostram isso. Então, temos que discutir e referenciar, regular o que pode e o que não pode”, disse Ronaldo Laranjeira. Regulação Regular não é o mesmo que legalizar. E foi isso que Fernando Henrique Cardoso descobriu indo para a Holanda. Lá a maconha é vendida em cafés. Mas o governo não legalizou o uso indiscriminado. A regulamentação determina que o usuário não pode consumir nas ruas, nem vender fora dos cafés; nos locais determinados, fuma-se maconha sem repressão policial. “Na Holanda é muito interessante. Eles não têm curiosidade pela maconha, porque é livre”, disse Fernando Henrique Cardoso. O consumo de maconha é tolerado e, mesmo assim, vem caindo. Desde 2006 a lei brasileira já trocou a prisão por penas alternativas para quem é pego com drogas e é considerado usuário, não traficante. “Como a droga é criminalizada, é um crime você possuir a droga. Não vão dez pessoas comprar se uma pode comprar e dividir entre as dez. E o menino que usa droga percebe que, dessa maneira, também se ele vender um pouquinho mais caro, a dele sai de graça”, afirmou o médico Dráuzio Varella, que também está no documentário. Outro tema questionado no Brasil é sobre a estrutura existente para tratar seus dependentes. “Essas pessoas ficam perambulando pelo sistema de saúde ou perambulando, literalmente, pelas ruas, no caso dos usuários de crack. E você fica desassistindo ativamente essa população”, comenta Ronaldo Laranjeira. O Ministério da Saúde já fez as contas do que falta para tratar dependentes químicos: 3.500 leitos hospitalares, 900 casas de acolhimento e 150 consultórios de rua, para chegar às cracolândias, por exemplo. Mas a previsão é atingir essa meta só em 2014. “Como ministro da Saúde, tenho opinião como ministro. Exatamente isso: nós do Sistema Único de Saúde (SUS) precisamos reorganizar essa rede e ampliá-la rede para acolher usuários de drogas, sejam lícitas ou ilícitas”, disse o ministro da saúde, Alexandre Padilha. Redução de danos Na Suíça e na Holanda, existem projetos chamados de redução de danos: dependentes de drogas pesadas, como heroína, recebem do governo a droga e agulhas limpas. “É terrível ver isso. Mas você vê também que ali está um doente, não um criminoso”, constata Fernando Henrique Cardoso. De

Leia mais »

Brasil: Política externa e a oposição

A polêmica despertada pelo artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre “O Papel da Oposição”, no último número da revista Interesse Nacional, eclipsou, por seu alcance, uma outra interessante polêmica publicada no mesmo número da publicação, sobre assunto aparentemente de interesse mais restrito, a política externa brasileira. De um lado, o assessor internacional das presidências Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, Marco Aurélio Garcia. De outro, o ex-ministro de Relações Exteriores de FHC, Luiz Felipe Lampreia. Em ambos os textos, o tema é a mudança da política externa, com Dilma. “As mudanças existem e existirão por duas razões”, diz Garcia: porque o mundo enfrentado por Dilma é diferente do encontrado por Lula, em suas vantagens e nas responsabilidades que exige; e porque “toda política externa tem de conviver com uma certa imprevisibilidade”, refletida em surpresas como a revolta do mundo árabe. Expressa já no fim do artigo, a declaração de mudanças na política externa não faz menção à propalada centralidade da defesa dos direitos humanos no Itamaraty da nova presidência – posta em questão, aliás, na visita de Dilma à China, em que foi um não-assunto o sumiço dado pelas autoridades chinesas a elementos potencialmente perturbadores nesses tempos de ebulição árabe, o mais famoso dos quais é o artista Ai Weiwei, preso, incomunicável, sob alegação de crimes econômicos. Mundo enfrentado por Dilma é diferente do de Lula, diz Garcia A referência a mudanças, feita pelo mesmo Marco Aurélio Garcia que as desdenhava no começo do governo atual, parece um tributo à presidente que se esforça – com êxito – para mostrar que não é mera continuadora de Lula. O restante do artigo, porém, feito por um assessor palaciano que, ao contrário de rumores desejosos, ainda exerce forte influência sobre as definições de política externa, mostra traços fortes da continuidade. Garcia dedica boa parte do texto a demolir a crítica mal informada que atribui a uma inédita “ideologização” da política externa os pecados da diplomacia lulista. Visões distintas do que seria o “interesse nacional” sempre existiram de sobra na atuação externa brasileira, e não poderia ser de outro modo, como mostra Garcia, citando exemplos de figuras brilhantes que politizaram a diplomacia, de Oswaldo Aranha a Fernando Henrique Cardoso. Sem tratar da acusação de que, sob Lula, o Brasil opinou excessivamente nos processos eleitorais dos países vizinhos, Garcia justifica, com argumentos consistentes, a razão da prioridade para o entorno regional. A “balcanização” da América do Sul, sua fragmentação resistente aos discursos de unidade, é atribuída, por ele, à falta de maior integração física e energética – uma prioridade cada vez mais evidente nos planos externos de Dilma. Ao lado da defesa do multilateralismo e da lembrança do papel fundamental dos chamados países do Sul para a recuperação econômica, Garcia classifica as críticas à ação de Lula em questões como o Irã e Oriente Médio como defesa de uma “reserva de mercado” dos países ricos. Ataca, porém, como anacrônica a análise que vê, nessas ações, indícios de “terceiro-mundismo”. A coincidência do artigo do assessor com a do ex-chanceler de FHC não mostra exatamente um debate. Às preocupações quase conceituais de Garcia, Lampreia contrapõe uma listagem do que considera a herança “das mais negativas” recebidas por Dilma em matéria de política externa, e uma detalhada e provocativa agenda de mudanças – quase uma pauta para a oposição, que tem tido atuação superficial nesse debate. Lampreia, ativo crítico do governo Lula, subestima a ação brasileira na acomodação de conflitos entre Venezuela e Colômbia, mas acerta ao criticar duramente a timidez da ação brasileira em conflitos regionais como o da Argentina e Uruguai em torno das “papeleras” uruguaias que geraram bloqueio de vias por argentinos alegando ameaças ambientais. Os gestos públicos a ditadores e líderes polêmicos como Mahmoud Ahmadinejad “são iniciativas gratuitas que nos tiram credibilidade”, aponta o ex-ministro – e a ausência de ações semelhantes por parte de Dilma parece lhe dar razão. Sem a polêmica que caracterizou o artigo de FHC, Lampreia também sugere rumos à oposição, que vem agindo reativamente nos temas diplomáticos. Ao reconhecer prioridade ao Mercosul, ele defende a ênfase em seu aspecto comercial, reivindicando, no entanto uma “certa flexibilidade”, que dê aos países autonomia em negociações comerciais. Aparentemente, sugere a consolidação do bloco como área de livre comércio e abandono, pelo menos temporário, das pretensões à união aduaneira que nunca foi. Lampreia também cobra um “papel mais ativo nos conflitos regionais” por parte da diplomacia brasileira. Mostrando-se sabedor dos motivos que orientam a cautela nesse assunto – o medo de ser visto como “imperialista” é o maior deles -, o diplomata diz que o esforço brasileiro não precisaria ser “singular”, e poderia ocorrer em combinação com outros governos da região. Uma cobrança válida, quando se recorda que o governo Lula não pôs, na discussão entre Uruguai e Argentina, uma fração do empenho dedicado aos temas do Oriente Médio. É uma pena que esses e os muitos outros temas tocados pelos dois artigos na revista não tenham a atenção merecida, e sejam postos em segundo plano não só pelo “povão” mencionado polemicamente por FHC na mesma edição. Seria louvável se os interessados não deixassem morrer as discussões levantadas por Garcia e Lampreia, no blablabla maniqueísta que, infelizmente, parece imperar em boa parte das discussões sobre a política externa brasileira. Sergio Leo/Valor E-mail sergio.leo@valor.com.br

Leia mais »