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Atentado contra Trump é combustível para a extrema-direita

A extrema-direitalha “venceu” mais uma. Entramos em uma zona de um mundo mais sombrio.   Guardadas as devidas proporções, e a se confirmar a aparência de plausibilidade deste atentado contra Trump, estaríamos presenciando algo similar ao que representaram os atentados de 11 de setembro como virada de chave na estratégia global dos EUA. Nesta perspectiva, a vitória da facção mais extremista do establishment americano nos reserva um sombrio estado de exceção planetário que certamente afetará os rumos e os desdobramentos da atual disputa interna brasileira, para pior. O atentado contra Trump não muda o cenário das eleições americanas: ele já venceria sem esse evento. Mas é pólvora para extrema direita e afetará eleições mundo afora, incluindo as do Brasil em 2026, pois alimenta teorias estapafúrdias e reacende os ânimos dos extremistas.

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Project Veritas: Você sabe o que é?

O grupo conservador que profissionalizou a guerra de informação nos EUA James O’Keefe durante evento em 2015. PABLO MARTINEZ MONSIVAIS AP O mais recente alvo do ‘Project Veritas’ foi o jornal ‘The Washington Post’, que acusa a organização de criar um factoide sobre um senador republicano para deslegitimar a empresa Nada parece conter James O’Keefe em sua aversão pelo mundo progressista. Em 2009, ele se fez passar por um cafetão em um encontro com a organização social Acorn. No ano passado, tentou simular em um telefonema ser um húngaro se colocando à disposição para colaborar com a fundação do magnata George Soros, na órbita do Partido Democrata, mas não desligou o telefone direito e acabou revelando, sem saber, o próprio golpe. Agora, tudo indica que ele está por trás da tentativa de levar o jornal The Washington Post a publicar uma informação mentirosa ao noticiar o relato de uma suposta vítima de um falso affairesexual de Roy Moore, o candidato republicano ao Senado pelo Alabama, atacado por uma onda de acusações de assédio sexual. O’Keefe, de 33 anos, se apresenta como um “jornalista de guerrilha”. Ele encarna o princípio de que, para atacar os círculos progressistas, tudo é válido. O meio utilizado – a mentira – justifica esse fim, que ele chama de revelar a “corrupção e desonestidade”. É uma personalidade emergente no mundo da direita norte-americana sem complexos, que aposta na ruptura e na atuação antiestablishment, próxima do presidente Donald Trump. Não surpreende, portanto, o fato de que seu mentor tenha sido Andrew Breitbart, criador do site ultraconservador que leva o seu nome e que é hoje dirigido por Steve Bannon, figura de destaque na campanha eleitoral de Trump e de seus meses iniciais na Casa Branca. O Project Veritas, organização conservadora fundada por O’Keefe em 2010, promete investigações explosivas contra os grandes veículos de imprensa norte-americanos. Ele os define como “Pravda”, nome do jornal oficial da União Soviética. E promete desmascarar uma mina de supostas verdades. Além do Post, alguns de seus alvos foram a rádio NPR, a rede CNN e o jornal The New York Times. O último objetivo era aparentemente ajudar Moore, que Trump apoiou apesar das acusações sexuais contra ele, e tirar a legitimidade do Post, que divulgou as acusações que colocaram o político contra a parede. Uma mulher contatou o jornal alegando que manteve uma relação sexual com Moore em 1992, engravidou e abortou aos 15 anos. O jornal descobriu, no entanto, que a mulher havia mentido sobre sua identidade e, na segunda-feira, a viu entrando na sede do Project Veritas, em Nova York. Paralelamente, o Post divulgou um vídeo, feito com câmera escondida, do encontro entre essa mulher e uma repórter do jornal, que a pressionava a respeito das inconsistências de seu relato e perguntava o que a tinha levado a contar aquela história. O’Keefe evitou confirmar se a mulher trabalhava para sua organização. E contra-atacou a aparente descoberta de sua armação divulgando outro vídeo com câmera escondida em que um repórter do Post critica a linha editorial do jornal por sua dureza contra Trump. O jornalista disse que acreditava estar falando com estudantes. O’Keefe vive mergulhado em polêmica, sempre acusado de mentir e exagerar suas descobertas. Formado em Filosofia, ganhou fama em 2009 no caso da Acorn. Munido de uma câmera escondida, foi acompanhado de uma mulher, que disse ser uma prostituta menor de idade, a várias reuniões com a organização que ajuda pessoas de baixa renda. Ambos disseram buscar assessoria para aparentar que seria legal a prostituição de uma imigrante. E os trabalhadores lhes deram conselhos. Houve demissões e consequências políticas. A Câmara de Representantes cortou os recursos federais da Acorn, que acabou sendo dissolvida. Entretanto, o jovem acabou se desculpando por essas gravações e teve de pagar 100.000 dólares (320.000 reais) depois de ser processado por um funcionário da Acorn, que denunciou que não tinha dado autorização para ser gravado, como requer a lei da Califórnia. Os problemas legais se repetiram em 2010. O’Keefe foi detido por entrar com identidade falsa no gabinete de uma senadora democrata e condenado a três anos de liberdade condicional e uma multa. As irregularidades, no entanto, não frearam o jovem direitista. Muito pelo contrário. Em 2016, o Project Veritas recebeu 4,8 milhões de dólares em doações e tinha 38 funcionários. Em uma oferta de trabalho em seu site, buscam-se jornalistas dispostos a trabalhar disfarçados. Por ser uma organização sem fins lucrativos, não é obrigado a divulgar a identidade de seus doadores. Segundo o Post, um dos doadores em 2015 foi a fundação Trump, que doou 10.000 dólares. No ano passado, a campanha do republicano se beneficiou implicitamente do trabalho do Project Veritas. O chefe de uma organização próxima ao Partido Democrata renunciou depois que O’Keefe divulgou um vídeo em que falavam de supostos métodos para tentar incitar a violência em comícios de Trump. Joan Faus/ElPais

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O obscuro uso do Facebook e do Twitter como armas de manipulação política

As manobras nas redes se tornam uma ameaça que os governos querem controlar A manipulação das redes sociais está afetando os processos políticos.Tudo mudou para sempre em 2 de novembro de 2010, sem que ninguém percebesse. O Facebook introduziu uma simples mensagem que surgia no feed de notícias de seus usuários. Uma janelinha que anunciava que seus amigos já tinham ido votar. Estavam em curso as eleições legislativas dos Estados Unidos e 60 milhões de eleitores vieram aquele teaser do Facebook. Cruzando dados de seus usuários com o registro eleitoral, a rede social calculou que acabaram indo votar 340.000 pessoas que teriam ficado em casa se não tivessem visto em suas páginas que seus amigos tinham passado pelas urnas.  Dois anos depois, quando Barack Obama tentava a reeleição, os cientistas do Facebook publicaram os resultados desse experimento político na revista Nature. Era a maneira de exibir os músculos diante dos potenciais anunciantes, o único modelo de negócio da empresa de Mark Zuckerberg, e que lhe rende mais de 9 bilhões de dólares por trimestre. É fácil imaginar o quanto devem ter crescido os bíceps do Facebook desde que mandou para as ruas centenas de milhares de eleitores há sete anos, quando nem sequer havia histórias patrocinadas. Há algumas semanas, o co-fundador do Twitter, Ev Williams, se desculpou pelo papel determinante que essa plataforma desempenhou na eleição de Donald Trump, ao ajudar a criar um “ecossistema de veículos de comunicação que se sustenta e prospera com base na atenção”. “Isso é o que nos torna mais burros e Donald Trump é um sintoma disso”, afirmou. “Citar os tuítes de Trump ou a última e mais estúpida coisa dita por qualquer candidato político ou por qualquer pessoa é uma maneira eficiente de explorar os instintos mais baixos das pessoas. E isso está contaminando o mundo inteiro”, declarou Williams. “Citar a coisa mais estúpida que qualquer político diga é uma maneira de explorar os instintos mais baixos das pessoas. Isso está contaminando o mundo inteiro”, declarou o fundador do Twitter Quando perguntaram a Zuckerberg se o Facebook tinha sido determinante na eleição de Trump, ele recusou a ideia dizendo ser uma “loucura” e algo “extremamente improvável”. No entanto, a própria rede social que ele dirige se vangloria de ser uma ferramenta política decisiva em seus “casos de sucesso” publicitários, atribuindo a si mesma um papel essencial nas vitórias de deputados norte-americanas ou na maioria absoluta dos conservadores britânicos em 2015. O certo é que é a própria equipe de Trump quem reconhece que cavalgou para a Casa Branca nas costas das redes sociais, aproveitando sua enorme capacidade de alcançar usuários tremendamente específicos com mensagens quase personalizadas. Como revelou uma representante da equipe digital de Trump à BBC, o Facebook, o Twitter, o YouTube e o Google tinham funcionários com escritórios próprios no quartel-general do republicano. “Eles nos ajudaram a utilizar essas plataformas da maneira mais eficaz possível. Quando você está injetando milhões e milhões de dólares nessas plataformas sociais [entre 70 e 85 milhões de dólares no caso do Facebook], recebe tratamento preferencial, com representantes que se certificam em satisfazer todas as nossas necessidades”. E nisso apareceram os russos A revelação de que o Facebook permitiu que, a partir de contas falsas ligadas a Moscou, fossem comprados anúncios pró-Trump no valor de 100.000 dólares colocou sobre a mesa o lado negro da plataforma de Zuckerberg. Encurralado pela opinião pública e pelo Congresso dos Estados Unidos, a empresa reconheceu que esses anúncios tinham alcançado 10 milhões de usuários. No entanto, um especialista da Universidade de Columbia, Jonathan Albright, calculou que o número real deve ser pelo menos o dobro, fora que grande parte de sua divulgação teria sido orgânica, ou seja, viralizando de maneira natural e não só por patrocínio. A resposta do Facebook? Apagar todo o rastro. E cortar o fluxo de informações para futuras investigações. “Nunca mais ele ou qualquer outro pesquisador poderá realizar o tipo de análise que fez dias antes”, publicou o The Washington Post há uma semana. “São dados de interesse público”, queixou-se Albright ao descobrir que o Facebook tinha fechado a última fresta pela qual os pesquisadores podiam espiar a realidade do que ocorre dentro da poderosa empresa. Esteban Moro, que também se dedica a buscar frestas entre as opacas paredes da rede social, critica a decisão da companhia de se fechar em vez de apostar na transparência para demonstrar vontade de mudar. “Por isso tentamos forçar que o Facebook nos permita ver que parte do sistema influi nos resultados problemáticos”, afirma esse pesquisador, que atualmente trabalha no Media Lab do MIT. “Não sabemos até que ponto a plataforma está projetada para reforçar esse tipo de comportamento”, afirma, em referência à divulgação de falsas informações politicamente interessadas. “Seus algoritmos são otimizados para favorecer a difusão da publicidade. Corrigir isso para evitar a propagação de desinformação vai contra o negócio”, explica Moro O Facebook anunciou que contará com quase 9.000 funcionários para editar conteúdos, o que muitos consideram um remendo em um problema que é estrutural. “Seus algoritmos estão otimizados para favorecer a difusão de publicidade. Corrigir isso para evitar a propagação de desinformação vai contra o negócio”, explica Moro. A publicidade, principal fonte de rendas do Facebook e do Google, demanda que passemos mais tempos conectados, interagindo e clicando. E para obter isso, essas plataformas desenvolvem algoritmos muito potentes que criaram um campo de batalha perfeito para as mentiras polícias, no qual proliferaram veículos que faturam alto viralizando falsidades e meia-verdades polariza “É imprescindível haver um processo de supervisão desses algoritmos para mitigar seu impacto. E necessitamos de mais pesquisa para conhecer sua influência”, reivindica Gemma Galdon, especialista no impacto social da tecnologia e diretora da consultoria Eticas. Galdon destaca a coincidência temporal de muitos fenômenos, como o efeito bolha das redes (ao fazer um usuário se isolar de opiniões diferentes da sua), o mal-estar social generalizado, a escala brutal na qual atuam essas plataformas, a opacidade dos algoritmos e o desaparecimento da confiança na imprensa. Juntos, esses fatos geraram “um desastre significativo”. Moro concorda que “muitas das coisas que estão ocorrendo na sociedade têm a ver com o que ocorre nas redes”. E

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Noam Chomsky – Estados Unidos são o país mais perigoso do mundo

Para o linguista, filósofo e intelectual norte-americano, Washington despreza todas as chances de acordo em conflitos globais explosivos. Que loucura fará o presidente Donald Trump, quando seu capital político se esgotar?Noam Chomsky: EUA estão literalmente sozinhos no mundo. A proliferação nuclear e as mudanças climáticas são hoje motivo de preocupação aguda, levada ao extremo em razão do governo  de Donald Trump, nos EUA. Nesta entrevista exclusiva para a Truthout, o intelectual dissidente Noam Chomsky debate a cobertura da mídia sobre esses temas, ressaltando as tensões dos EUA com a Rússia, o Irã e a Coreia do Norte, bem como o recente ataque aéreo dos EUA a uma base da Força Aérea da Síria.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”]   Como você vê a angustiante falta de debate, na mídia hegemônica, sobre mudanças climáticas e proliferação nuclear? Se você quiser aprender sobre armas nucleares e a razão pela qual esse tema não está sendo tratado, dê uma olhada na edição de 1º de março do Bulletin of the Atomic Scientists (Boletim dos Cientistas Atômicos), onde há um artigo absolutamente espetacular escrito por dois verdadeiros experts – Hans M. Kristensen e Ted Postol, do MIT (Massachussets Institute of Technology). Eles discutem os novos sistemas de direcionamento inventados no Programa de Modernização de Obama, agora em plena escalada com Trump, e que são extremamente perigosos. Afirmam, com base em informações disponíveis, que os sistemas de mísseis dos EUA foram de tal forma aperfeiçoados que agora são capazes de aniquilar instantaneamente o efeito de dissuasão da Rússia. É um enorme excesso, que acaba com a estabilidade nuclear – e, claro, os russos sabem disso. A implicação é que, se em algum momento os EUA sentirem-se ameaçados, serão levados a fazer um ataque preventivo – porque do contrário estão mortos, entende? E isso significa que todos estaremos mortos. Este é o fato mais importante de que se tem notícia em não sei quanto tempo. O New York Times e outras mídias mainstream mantiveram sua prática convencional de enaltecer o último ataque do Trump contra a Síria, mas continuaram lamentando-se porque essa doutrina de política exterior é improvisada. De certa forma, considerando as nomeações do seu gabinete, ele faz lembrar Bush filho, que escolheu alvos indefesos. Eles alegam estar lutando contra o terrorismo e a proliferação nuclear, mas parecem estar simplesmente piorando os problemas. Eles com certeza não estão lutando contra a proliferação nuclear. Bem, se quiserem mesmo fazer isso, há atitudes que podem tomar. O Irã, que na verdade nunca foi um problema, poderia ter sido resolvido há anos. Há um livro interessante do ex-embaixador brasileiro Celso Amorim. Em 2010, ele realizou um esforço conjunto com a Turquia para solucionar a questão do Irã. Ninguém, além dos Estados Unidos, considera que seja realmente um problema. Aqui nos EUA, é a pior ameaça da história da humanidade. Mas Brasil e Turquia conseguiram um acordo com o Irã em que, basicamente, o país entregaria seu urânio (pouco) enriquecido para a Turquia armazenar, e em troca as potências ocidentais (isto é, os EUA) lhe forneceriam tubos de gelo para usar em seus reatores de uso medicinal. Isso teria liquidado o assunto. Foi imediatamente rejeitado por Obama e Hillary Clinton. E a razão principal foi que não queriam ver ninguém mais envolvido no assunto. Supostamente, os norte-americanos é que deveríamos lidar com o problema – a mas isso não foi dito. A razão ostensiva foi de que Hillary estava prestes a pressionar o Conselho de Segurança da ONU para adotar novas sanções contra o Irã, e não queria que essa iniciativa fosse minada – o que mostra uma atitude voltada para a proliferação. O mesmo está acontecendo com a Coreia do Norte. [Recentemente] anunciaram mais ações ofensivas contra a Coreia do Norte. Misseis navais vão elevar o nível [do perigo], [mas] há uma opção diplomática? Sim, há. A Coreia do Norte e a China propuseram o que parece ser uma opção muito inteligente. A Coreia do Norte deveria acabar com o desenvolvimento de armas nucleares – manter o estoque como está, não fabricar mais – e, em troca, os EUA acabariam com essas manobras militares hostis na fronteira da Coreia do Norte – bombardeiros B52 com capacidade nuclear e por aí vai. Os EUA rejeitaram imediatamente a oferta. E a imprensa e todo o mundo disse [quase nada]… Esse programa de modernização é um exemplo muito claro de como o que importa não é a segurança. Não há nenhum ganho em segurança, mas destruição maciça da capacidade de dissuasão do adversário. A única consequência disso é provocar o risco de um ataque preventivo. E um ataque preventivo leva a um mundo de inverno nuclear. Sem contar que temos uma presença militar lá. Lembro que uma vez você disse algo sobre como a dissuasão não era para as armas nucleares, mas para a militarização da Coreia do Norte apontada para Seul e as Forças Armadas dos EUA. Se os EUA atacassem a Coreia do Norte, com certeza destruiriam aquele país – mas provavelmente a Coreia do Sul também seria exterminada. Eles concentraram artilharia apontada para Seul, e não há nada que se possa fazer respeito. Quanto às relações dos EUA com a Síria, há soluções políticas? A última vez que Medea Benjamin escreveu no Democracy Now!, ela dizia como há opções políticas que nunca foram tentadas para os EUA e a Síria. Houve sugestões em 2012. O embaixador russo nas Nações Unidas fez algumas propostas para um acordo político no qual Hafez Assad seria lentamente removido. O Ocidente a desconsiderou imediatamente, e não sabemos se ela era real, porque não veio do Kremlin, e era informal. Mas o fato é que todas essas propostas são imediatamente refutadas. E simplesmente não se sabe se são verdadeiras. É um pouco como o 11 de Setembro. Afinal, o Talibã sinalizou que poderia extraditar Osama bin Laden, mas os EUA não lhe deram ouvidos. Tinham de usar a força. Bem, uma das razões é que o Talibã pediu provas, e um dos problemas é que não apresentaram evidência alguma. Como as mudanças climáticas e as ciências climáticas

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“Misturar o verdadeiro e o falso é típico das ditaduras”

Um dos mais finos analistas de política internacional, Roger Cohen, converteu-se em correspondente estrangeiro em seu próprio país, em observador atônito da ‘era Trump’ Nas páginas do The New York Times, Roger Cohen (Londres, 1955), é um dos colunistas mais influentes dos Estados Unidos. Em suas memórias, The Girl from Human Street (A garota de Human street), conta a história de sua família, que começa na Lituânia. Todos os que não fugiram foram assassinados pelos nazistas. Sua história passa pela África do Sul e pelo Reino Unido e é marcada pela tolerância e pela ideia de que somente a generosidade de outros países que abriram suas fronteiras permitiu sua existência. Uma frase do historiador britânico Simon Schama, que citou em uma de suas últimas colunas, resume seu pensamento sobre a presidência de Donald Trump: “A indiferença para com a verdade e a mentira é uma das condições prévias do fascismo. Quando a verdade morre, também cai a liberdade”. Cohen visitou Madri recentemente, convidado pela Fundação Rafael del Pino, onde deu uma conferência.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Pergunta. Seus familiares conseguiram sobreviver porque puderam se tornar refugiados. O que o senhor sente diante da política de imigração de Donald Trump? Resposta. Venho de uma família que teve de emigrar a cada geração, da Lituânia, da África do Sul… Estou indignado, é desnecessário. Não há nenhuma evidência de que algum cidadão dos países vetados tenha cometido um ato terrorista com perda de vidas nos EUA nos últimos anos. Durante toda a campanha, vimos que Donald Trump, com Steve Bannon por trás, é antimuçulmano. Vimos isso com essa medida, estimulada por preconceitos. A forma como foi adotada provocou caos e justa indignação não só entre aqueles que não puderam entrar nos EUA, apesar de terem visto, mas em todo o mundo. É injustificável. P. Podemos entender a história do século XX, e inclusive a do século XIX, sem a imigração em massa de milhões de pessoas em todo o mundo? R. Os Estados Unidos são uma ideia, e uma parte importante dessa ideia é que é um país de imigrantes. Trump é um retrógrado. Todo movimento populista precisa de um mito do passado (“que a América volte a ser grande de novo”), e um inimigo, que para Trump são os mexicanos e os muçulmanos. Ele está tomando um caminho muito perigoso, o do medo. Dito isso, ele ganhou e foi capaz de intuir algo está acontecendo, captar o medo, a ansiedade em relação à precariedade econômica, o ressentimento, o sentimento de que as elites agiram com total impunidade no crash de 2008. E, como no caso do Brexit, baseou-se em mentiras, não há outra palavra para isso. Existe uma percepção de que a democracia não protege todos… P. O senhor fez uma reportagem sobre os campos em que estão confinados os refugiados que tentam chegar à Austrália, lugares terríveis. Acredita que na crítica às medidas de Trump há alguma hipocrisia, muitos países fazem o mesmo sem o dizer? R. Estamos diante de um problema real: vivemos o momento com mais refugiados desde 1945 e a capacidade das democracias ocidentais para absorver centenas de milhares de pessoas é limitada. A Alemanha não foi hipócrita, acolheu quase um milhão de refugiados. É necessário que as pessoas sejam tratadas com justiça e humanidade, de acordo com a Convenção sobre os Refugiados. No caso da Austrália, não é assim em absoluto. Há mais de três anos, milhares de pessoas, seres humanos, estão apodrecendo em duas ilhas remotas. Muitas delas estão doentes, outras estão traumatizadas, é algo terrível. Nos EUA, o fato de que o presidente use esse tipo de preconceito contra os muçulmanos, uma população total de 1,1 bilhão de pessoas no mundo, pode ter consequências muito graves. P. Qual é a diferença entre a pós-verdade e as mentiras que dizem muitos presidentes e políticos de todo o mundo como, por exemplo, as mentiras de George W. Bush que deram a base para a invasão do Iraque? R. Existe uma diferença. Trump diz coisas, como o ataque fictício na Suécia, que por um lado são ridículas, mas por outro são perigosas. A palavra do presidente dos EUA é algo que durante 75 anos ajudou a manter a segurança global, era crível, mas não é mais. É verdade que a invasão do Iraque foi baseada em mentiras. Mas agora o presidente norte-americano acusa o The New York Times e o The Washington Post, dois pilares da República, de divulgar notícias falsas, estamos entrando num mundo onde dois mais dois são cinco. Misturar o verdadeiro e o falso é um problema muito sério porque é uma característica fundamental das ditaduras. No final, a única verdade é a voz do líder, que é o que Trump se considera. Devemos ter muito cuidado com os paralelismos históricos, mas, ao mesmo tempo, não podemos ignorar o que aconteceu nos anos trinta. Temos Steve Bannon, o homem da sombra, dizendo que “a imprensa deveria fechar a boca”. Acho que os meios de comunicação têm de fazer seu trabalho: responsabilizar o poder e testemunhar os acontecimentos. Isso é mais sério, porque há um ataque premeditado e total contra a verdade. Está sendo criado um ambiente em que a verdade e a mentira são intercambiáveis. “Existe um problema muito grande nos EUA, é um país dividido e os seguidores de Trump não se importam com o que o ‘The New York Times’ diz” P. Em seu livro, o senhor escreve: “As verdades são muitas e em todas as guerras se luta pela memória”. Podemos chegar a esse estado? Mesmo que não haja guerra, o senhor acredita que estamos, na Europa e nos EUA, diante de partes em conflito com memórias diferentes? R. Cobri guerras no Líbano, na Bósnia e cada lado tem sua verdade e sua memória, que é sempre fluida e manipulável pelos líderes nacionalistas. François Mitterrand costumava dizer que “o nacionalismo é a guerra”. O nacionalismo levado a certo ponto representa sempre a guerra e esse é o triunfo da UE.

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Trump age conforme o prometido em palanque

Trump abre caminho para deportação maciça de imigrantes irregulares Donald Trump nesta segunda-feira MIKE THEILER / POOL EFE Governo dos EUA pretende expulsar quase todos que estejam há menos de três anos no país Donald Trump abriu o caminho para as deportações maciças. As novas diretrizes do departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos, divulgadas nesta terça-feira, enterram de vez o legado de Barack Obama e amplificam a perseguição a quase todos os imigrantes irregulares (ainda sem documentos) que vivem no país.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Não se trata apenas de que os funcionários atuais ampliem as suas atribuições ou da contratação de 15.000 novos agentes. O centro da nova ofensiva migratória está na possibilidade de executar a expulsão imediata de praticamente todos os que estão há menos de três anos no país. Trata-se de uma virada radical. O país que se tornou grande a partir da imigração agora dá as costas a 11 milhões de sem-documentos, metade deles mexicanos. Até agora, o objetivo prioritário dos agentes era deter todos aqueles que tivessem cometido algum crime grave. Com as novas diretrizes, o foco se amplia e os casos que não se enquadram nelas se reduzem a “exceções extremamente limitadas”. “Todos que não cumprem as leis de imigração podem estar sujeitos aos novos procedimentos, incluindo a expulsão dos Estados Unidos”, afirma a nova diretriz. Também será restringida a prática de outorgar liberdade condicional para os que forem detidos. “Esta medida será usada excepcionalmente e apenas nos casos em que, após minucioso estudo das circunstâncias, se a considere necessária por razões de ordem humanitária ou por conta um benefício público significativo”, determina a nova norma. O objetivo, agora, é devolver os imigrantes o quanto antes aos seus países de origem. Para isso, quebram-se os entraves que havia para a realização do processo judicial de expulsão imediata. Esta modalidade era aplicada até hoje aos imigrantes que tivessem passado menos de duas semanas no país e estivessem a não mais do que 160 quilômetros da fronteira. Com a nova diretriz, os limites geográficos são anulados e sua aplicação passa ase estender para todos aqueles que estiverem há até dois anos em território norte-americano. Ficam de fora apenas os menores de idade, os pensionistas que têm asilo e aqueles que puderem comprovar a legalidade de sua situação como imigrante. Neste plano, o grande alvo é o México. O Governo de Trump considera prioritário garantir a sua fronteira do sul. Para isso, está realizando em caráter de urgência a busca de fundos para “projetar, construir e manter o muro”. Nessa mesma direção, ele abriu um processo para “identificar e quantificar todas as fontes diretas ou indiretas de ajuda federal e de assistência ao Governo mexicano”. A finalidade dessa iniciativa é conhecer qual é a quantia que o país vizinho recebe de Washington e usá-la para forçar o México a pagar o muro, um dos princípios defendidos pelo presidente dos Estados Unidos. Fica fora desses planos, segundo os textos, o programa criado por Obama para proteger os dreamers, como são chamados os menores escolarizados que entraram nos EUA sem documentos. Um sistema que permitiu a outorga de licença de trabalho para 750.000 imigrantes e com o qual o próprio Trump reconheceu, em tom melodramático, que seria complicado acabar. “A situação desses menores é muito difícil para mim, muito… Porque eu gosto de todas essas crianças; eu mesmo tenho filhos e netos, e acho muito, muito difícil fazer nesse caso o que a lei determina. E todos sabem que a legislação é muito dura”, disse o presidente na semana passada. Juan Martinez

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O desenhista que transforma as declarações de Trump em HQ

Frases do novo presidente se misturam a personagens célebres para parodiá-lo Capa de ‘X-Men’ com Trump. R. SIKORYAK Os quadrinhos já têm sua resposta ao governo de Donald Trump – e ela é muito divertida. Quem inaugurou essa tendência, poucos dias depois da vitória eleitoral do magnata, foi o espanhol Pablo Ríos, que contava dias atrás ao EL PAÍS que escreveu sua sátira de 44 páginas em apenas um mês: “Eu já sabia que ele ia ganhar”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Duplo”] Mas um dos pontos de vista mais originais veio do ilustrador Robert Sikoryak, que teve a ideia de misturar personagens históricos das HQs com as declarações mais célebres e impertinentes do presidente. O que começou como uma brincadeira na Internet está a ponto de virar um contrato com uma editora. R. SIKORYAK “Precisava responder por mim mesmo a Trump. Não sabia se meus leitores gostariam, achei que talvez estivessem cansados de ouvir as declarações dele, mas precisava fazer isso. Não sei se temos a responsabilidade de responder, mas todos temos o direito”, explica Sikoryak por email, dias depois do discurso de Meryl Streep ao presidente no Globo de Ouro. A ideia deste ilustrador, especialista em adaptar histórias de literatura clássica e poesia para os quadrinhos, era simples: pegar as declarações mais famosas de Trump e colocá-las em algumas das capas mais reconhecíveis na história das HQs. “Tive a ideia antes das eleições. Trump dizia as coisas mais loucas, e queria catalogá-las. Quando virou presidente-eleito, vi que era uma necessidade.”  As capas são todas paródicas, mas as palavras, por mais exageradas que pareçam, são literais. Trump luta como Magneto contra a Patrulha X: “Vamos ganhar tanto que talvez nos cansemos de ganhar, e vocês nos dirão: ‘Vocês ganham muito’”. Em outra confronta o Ligeirinho: “Quando o México manda sua gente, não são os melhores. Trazem drogas, crime e estupradores”. É que, embora na sua boca pareçam as palavras de um tonitruante vilão, Sikoryak buscava realismo, mesmo que o projeto tivesse sido criado quase como uma brincadeira para seu tumblr pessoal. “Meu processo sempre envolve muita documentação. Recordava muitas declarações, mas procurei os documentos literais, e, de passagem, encontrei muitas outras. Só queria utilizar o que ele disse, não seus tuítes, e só o que havia dito durante as eleições. Não queria pôr nada alheio na sua boca. Então não há nada anterior a 2015. Quanto às HQs, voltei à minha própria coleção. O mais difícil era unir as frases com as capas certas. Isso foi um trabalho duro.” Trump em ‘Iron Man’.Sikoryak, que publicou em papel de forma independente 16 das capas em preto e branco, já recebeu uma oferta de uma editora para expandir seu trabalho. Ele se considera parte de uma linhagem da paródia polícia nos EUA. “Eu me lembrava de ter visto algumas paródias anti-Obama chamadas Tea Party Comics. Não estava nada de acordo com o que diziam, mas eram chamativas e apaixonantes. Essa foi a inspiração”, reconhece o autor. “A sátira é algo que os quadrinhos fazem muito bem, e temos uma grande tradição graças a revistas como a MAD, na qual algumas das minhas ilustrações foram publicadas.”  Mas Trump não é novo nos gibis. Famoso há décadas, em várias ocasiões já virou personagem de HQ, e não só em paródias. Em 1988, sua incipiente carreira política o levava a aparecer nas páginas da Iron Man 227; um ano mais tarde, a DC se inspirava na capa do seu livro mais famoso, TheArt of the Deal, para criar a biografia do vilão Lex Luthor; e em 2008 ele ameaçava denunciar Luke Cage. Em julho de 2016, a Marvel, que em 2008 incluiu Obama como presidente no seu universo, com direito a uma capa, se atreveu a transformar Trump em um de seus vilões mais extravagantes e exagerados, o cabeçudo MODOK, enquanto a Deadpool se apropriava do seu famoso penteado numa das suas capas, e isso que o executivo-chefe da editora, o desconhecido Ike Perlmutter, foi um dos grandes doadores da campanha presidencial. Certamente não é a última vez que o vemos assim nos próximos anos. “Estou convencido de que o que acontece agora no mundo real irá se transferir também ao mundo dos quadrinhos”, sentencia Sikoryak, recordando outras alegorias, como quando o Capitão América enfrentou uma espécie do Nixon malvado depois do Watergate. Ruiz Jimenes/ElPais

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Os negócios de Trump na América Latina

Candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos tem empreendimentos com seu nome no Brasil, no Panamá, no Uruguai e planeja entrar na Argentina; “a coisa que faço melhor é construir”, diz Trump. Agência Efe A Torre Trump do Panamá tem formato de vela. Rodeada por edifícios na radiante Punta Pacífica, na capital do país, simula o efeito de navegar sobre o oceano. Taxistas, vizinhos e homens de negócio a conhecem como El Trom, a Torre Trom, o Hotel Trom. Essa vela de 70 andares, 284 metros de altura e 250 mil metros quadrados se encontra em disputa.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Em julho de 2015, os proprietários dos apartamentos demitiram a empresa de Donald Trump, presidenciável republicano para a eleição deste ano nos Estados Unidos, da administração do consórcio da torre em que funcionam, além de residências, o Hotel Trump – ainda controlado pelas organizações Trump – , o cassino Sun International e outros empreendimentos menores. Trump tem empreendimentos com seu nome no Brasil, no Panamá, no Uruguai e planeja entrar na Argentina Os proprietários do edifício, representados por um grupo de diretores, justificaram sua decisão pelos supostos erros da administração Trump: pagar bônus sem permissão, colocar gastos do hotel como despesas do edifício, se exceder em gastos do orçamento e ocultar informações do consórcio. Em novembro de 2015, Donald Trump apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC), uma ação de US$ 75 milhões contra os proprietários do edifício panamenho, já que considera injustas a demissão do administrador e a perda de controle da gestão. As duas partes agora precisam conviver e compartilhar os espaços comuns: as cinco piscinas com vista para o mar, o ginásio, os restaurantes, os 37 elevadores, o hall central, as lojas. A crise no Panamá chegou ao noticiário e teve impacto na campanha presidencial dos Estados Unidos. Um dos argumentos do candidato republicano tem sido que sua condição de “criador de negócios em nível global” – segundo ele, 85% dos seus empreendimentos estão fora dos EUA – ajudaria no desenho da política exterior americana. Em um artigo sobre os empreendimentos conflitantes de Trump, a Bloomberg assinalou que, no Canadá e na Turquia, seus sócios comerciais querem tirá-lo do comando e, na Escócia e na Irlanda, seus negócios dão prejuízo, ainda que ele diga o contrário. Na semana passada, às vésperas da Olimpíada, foi inaugurado um Hotel Trump no Rio de Janeiro, onde ele planeja ainda construir cinco torres para escritórios que valerão US$ 1,8 bilhão (leia a reportagem completa). Em Punta del Este, o edifício residencial está em plena construção, e esses mesmos investidores pretendem erguer a partir de 2017 uma torre de escritórios em Buenos Aires que marcará o ingresso oficial da marca Trump na Argentina. Em todos os casos, os desenvolvedores locais pagam para usar a marca de Trump. A corporação recebe um pagamento inicial e comissões de vendas (que vão de 5% a 13%), administra os hotéis e fiscaliza para que se cumpram todos os procedimentos de construção. Trump procura o respaldo dos governos locais mediante declarações públicas e benefícios fiscais ou isenções. No caso de Punta del Este, conseguiu alguns metros a mais de altura para a construção do heliporto do edifício. No hotel do Rio, conseguiu benefícios associados aos Jogos Olímpicos 2016 O Império Trump nos Panama Papers Para esta investigação foram consultados os Panamá Papers, documentos municipais de Punta del Este e registros de tribunais no Rio de Janeiro e Panamá. Foram visitados os três empreendimentos Trump e entrevistadas mais de 30 pessoas entre corretores, arquitetos, desenvolvedores, funcionários públicos e judiciais, além de empregados de Trump. A investigação descobriu que a corporação Trump aparece ligada a 32 empresas offshore, entre elas o Trump Ocean Club do Panamá (como se chama também a torre que inclui o edifício, o hotel e o cassino). A revelação está nos Panamá Papers, uma base de dados administrada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês) com milhões de e-mails, imagens e documentos em formatos diversos que estavam em posse do escritório jurídico Mossack Fonseca, entre 1977 e 2015. A lista traz milhares de empresas de fachada, fundações e fundos criados em 21 paraísos fiscais ao redor do mundo. Quando o escândalo veio à tona, cerca de 11 milhões de documentos confidenciais foram vazados, revelando a forma como algumas das pessoas mais ricas e poderosas do mundo – incluindo diversos chefes de Estado – usam paraísos fiscais. A posse de contas offshore em si não é ilegal, desde que declarada ao Fisco. Mas o sistema muitas vezes serve para ocultar fortunas, evadir impostos ou lavar dinheiro obtido por meio de corrupção. As informações exclusivas deste texto revelam que o império Trump tem ligação com 32 empresas offshore, entre elas o Trump Ocean Club do Panamá, empreendimento que incluí edifício, hotel e cassino. No caso brasileiro, um dos cogestores e investidores das Trump Towers Rio, o grupo Salamanca, aparece em várias sociedades nas Ilhas Virgens. Além disso, o próprio Donald Trump aparece nos Panamá Papers: mencionado 3.540 vezes, somente uma pequena parte corresponde a suas 32 empresas offshore, já que vendeu a marca a um número considerável de investidores. Trom, você está demitido A Torre Trump do Panamá foi o primeiro investimento de Trump na América Latina. A ideia surgiu em 2003 durante o concurso Miss Universo (uma das franquias do chamado “império Trump”). Segundo a revista Forbes, a empresa responsável, Newland International Properties, fez um pagamento inicial de US$ 1,2 milhão e logo depois cobriu diferentes porcentagens pela venda de apartamentos, royalties e aluguéis de espaços comerciais. Em 2013, a Newland International Properties, majoritariamente composta por acionistas colombianos, declarou falência para negociar sua dívida. Ainda que a falência tenha afetado os montantes de Trump, de acordo com documentos judiciais aos quais o Chequeado teve acesso, o pagamento para Trump se manteve entre US$ 32 milhões e US$ 55 milhões. Os passivos da Newland, em março de 2016, eram de US$ 147 milhões, uma pequena melhora frente aos US$ 150,5 milhões em dezembro de 2015, segundo o último relatório

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Três razões que podem fazer Hillary Clinton perder a eleição nos EUA

Hillary Clinton já entrou para a história como a primeira mulher a disputar a Presidência dos Estados Unidos por um dos dois grandes partidos do país. Hillary Clinton durante discurso na Califórnia, em junho de 2016 Image copyrightAFP Por outro lado, ela tem pelo menos três grandes obstáculos a superar para que se consagre vencedora das eleições americanas. 1 – O adversário Donald Trump, que chega embalado Quando o empresário Donald Trump se lançou candidato, no ano passado, foi encarado como uma grande piada. Mas a campanha de Trump ganhou fôlego, desbancou todos os adversários no Partido Republicano e, principalmente, atraiu muitos adeptos que acreditam na principal promessa do empresário: “Faça a América grandiosa novamente”.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Trump chega embalado para a disputa com Hillary que, segundo analistas, não tem uma mensagem tão clara e direta quanto a do adversário. “Mais fortes juntos”, mote da campanha da democrata, ainda não colou. Durante visita à Escócia em 2015, Trump usa boné com principal mote de sua campanha: “Faça a América grandiosa novamente” Image copyrightJAN KRUGER/GETTY IMAGES “As pessoas querem saber quais são as ideias dos candidatos para mover o país adiante, mas não querem se perder em detalhes”, afirma Doug Hattawat, assessor sênior da campanha de Hillary em 2008, quando ela disputou as prévias com Barack Obama. 2 – A própria Hillary Clinton, que coleciona antipatia até entre democratas A experiência como ex-senadora e ex-secretária de Estado dos EUA conta pontos a favor, mas também atrai rejeição. Hillary enfrenta resistência de muita gente e não é uma unanimidade, nem mesmo entre os democratas. Um dos pontos mais controversos da biografia de Hillary foi seu uso de um servidor privado para trocar e-mails confidenciais com auxiliares quando era chefe da diplomacia do governo Barack Obama, entre 2009 e 2013. Críticos dizem que a atitude dela pôs em risco a segurança do país, já que o servidor privado era mais vulnerável a ataques de hackers. Após analisar o caso, o FBI (a polícia federal americana) disse que Hillary foi “exremamente imprudente”, mas o órgão não sugeriu que ela fosse denunciada judicialmente. A candidata reconheceu o erro e se desculpou. Hillary também é criticada por sua atuação frente ao atentado que matou quatro americanos – incluindo o embaixador Chris Stevens – no consulado dos EUA em Benghazi (Líbia), em 2012. Opositores afirmam que ela ignorou alertas sobre os riscos de ataques ao edifício. Hillary ganha abraço do presidente Barack Obama durante evento na Filadélfia, quando aceitou a nomeação do Partido Democrata Image copyrightREUTERS/JIM YOUN A resposta do Departamento do Estado ao atentado também foi criticada: inicialmente, o órgão divulgou que o incidente havia sido parcialmente motivado pelo lançamento de um filme anti-islã, embora o próprio governo tivesse informações de que se tratava de um “ataque terrorista”. Hillary assumiu a responsabilidade pelo episódio, mas disse que nunca recebeu qualquer pedido para aumentar a segurança da unidade em Benghazi. Para Antonio Villaraigosa, também integrante da campanha de Hillary em 2008, a democrata precisará de uma “dose extra de autenticidade”. “Há uma insatisfação grande das pessoas com os políticos em geral e com as instituições. Por isso, ela será desafiada a mostrar que não é um político como outro qualquer. “Se olhar as pesquisas, ela tinha popularidade alta quando não estava concorrendo, mas os números caíram quando começou a disputa”, observa Marjorie Margolies, sogra da filha de Hillary, que é próxima da candidata e acredita ter uma explicação para esse fenômeno: “Ela passa a impressão de estar sempre por dentro do assunto em questão, e isso causa um descomforto em muita gente, em particular entre aqueles que não gostam de mulheres sabichonas”. 3 – O histórico das eleições, que raramente dá três vitórias consecutivas para o mesmo partido A alternância de poder é uma das principais cartacterísticas do sistema político dos EUA. Um mesmo partido dificilmente consegue ganhar três eleições seguidas. A última vez que isso aconteceu foi em 1988, com a vitória do republicado George Bush (1989-1993), que substitui Ronald Regan (1981-1989). Bush, contudo, não se reelegeu. Quem venceu as eleições em 1992 foi o marido de Hillary, Bill Clinton. Cerimônia de posse de George H. W. Bush, que assumiu o comando dos EUA no lugar do colega de partido Ronald Regan em 1989 Image copyrightAP PHOTO/BOB DAUGHERTY Mark Penn, um dos estrategistas de Hillary em 2008, diz que o resultado das eleições nos EUA será definido pelos cerca de 20% do eleitorado que permanecem sem um nome favorito para presidir o país. O futuro dos EUA, para Penn, está mas mãos desses indecisos. “Muitas pessoas não gostam de nenhum dos candidatos, eles vão decidir as eleições”. BBC

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Wikileaks: O verdadeiro Assange

Ao divulgar e-mails do Partido Democrata em um momento crucial para Hillary Clinton, WikiLeaks mostra que interesse público não é prioridade. Em abril de 2010, o WikiLeaks surgiu para o mundo. A entidade, que divulga documentos governamentais e de empresas recebidos anonimamente, publicou um vídeo que mostrava pilotos americanos matando dois jornalistas da agência Reuters. Confundiram câmeras com armas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Foi o início de inúmeros vazamentos que documentaram abusos de poder americano no Iraque. A entidade ficou, desde então, num espaço ambíguo entre o jornalismo e o ativismo, representado por seu misterioso fundador, Julian Assange. Esta semana, a ambiguidade se foi. O Wikileaks não é uma entidade jornalística. Embora a organização de Assange só tenha se tornado conhecida em 2010, sua fundação ocorreu em 2006. O objetivo, desde o início, era construir uma plataforma tecnológica segura para que pessoas pudessem vazar documentos de forma anônima. Lentamente, foi trazendo informações à tona. Dados sobre a fortuna de um ditador africano aqui, um escândalo político peruano ali. Nem todo documento vazado é de interesse público. Às vezes, o vazamento pode pôr em risco a vida de pessoas. Ou propiciar o rompimento diplomático de países. Pesar interesse público e consequências é, muitas vezes, um duro dilema ético enfrentado por redações em todo o mundo. Num momento inicial, o WikiLeaks construiu laços com empresas jornalísticas como “Guardian” e “New York Times”. Ao invés de tornar público o grande lote, abriu para que repórteres e editores pudessem escolher o que fazia sentido publicar. Sempre houve desconforto com Julian Assange. Um hacker australiano que vive no Reino Unido há anos, se, por um lado, recebeu prêmios importantes como o de Mídia da Anistia Internacional, por outro, pesam contra ele fortes acusações. Entre elas a do abuso sexual de duas mulheres, na Suécia. Ele nega culpa. Mas porque seria extraditado para o julgamento, em agosto de 2012 meteu-se na embaixada do Equador em Londres e, de lá, nunca mais saiu. O grupo de Prisões Arbitrárias da ONU acusa Suécia e Reino Unido de violarem seus direitos ao não permitirem que ele deixe o país. No último fim de semana, o WikiLeaks trouxe à tona inúmeros documentos que mostram as trocas de mensagens entre pessoas da cúpula do Partido Democrata. Provam, sem sombra de dúvidas, que o comando partidário trabalhou pela campanha de Hillary Clinton contra a de Bernie Sanders. Não é ilegal, mas é antiético. O partido deveria ter ficado neutro. Pela primeira vez, o WikiLeaks fez a divulgação sem parceiros da imprensa tradicional. E, neste ponto, não há qualquer problema. O problema é outro: embora já tivesse os documentos há semanas, Assange escolheu o momento em que poderia causar mais dano a Hillary. Justamente o ponto em que ela precisava consolidar o apoio de Sanders para a disputa nacional, contra Donald Trump. O critério jornalístico é simples: se é de interesse público, publica-se. Escolher a data para causar impacto positivo ou negativo a uma candidatura não é jornalismo. É política partidária. Piora. Os documentos, segundo uma empresa de segurança contratada pelo Partido Democrata, foram obtidos por hábeis hackers russos. Em geral, quando hackers russos fazem ataques a grupos políticos ou governos, o fazem por ordem do Kremlin. Do presidente Vladimir Putin. Não é possível afirmar que os hackers estivessem a mando de Putin. Mas é bastante provável. Trump tem laços de negócios com Putin. E, na quarta-feira, inacreditavelmente pediu publicamente que Putin lançasse seus hackers contra Hillary. Assange não gosta de Hillary. Ela era secretária de Estado quando ele vazou os documentos sobre o Iraque. Ela pediu sua prisão. Calha de seus interesses, os de Putin e os de Trump serem os mesmos. E calha de ele ter feito uma escolha. A prioridade do WikiLeaks não é o interesse público. Por Pedro Dória

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