Arquivo

Cidadania Digital

A limitação de acesso à rede restringe a liberdade de informação Por Adriano Adoryan em 02/05/2016 na edição 901 Trabalho publicado originalmente na plataforma Medium sob o tituto Limitaram o acesso Você que está preocupado em ver séries no Netflix ou em jogar on line por horas, saiba que o assunto é bem mais sério do que isto! Em 1995 a Internet comercial chegou ao Brasil com a promessa de uma revolução: acabar com distâncias e barreiras e conectar todo o mundo. Estava inaugurada a era da informação! Toda a nossa vida poderia ser digitalizada e conectada. Vieram ondas de possibilidades, impulsionadas por maior velocidade de acesso, maiores capacidades de memória e processamento. Chat, email, blog, compartilhamento de arquivos, imagens, áudio, vídeo, mobilidade, jogos, aplicativos, redes sociais. Ano após ano as possibilidades aumentaram e novas formas de viver o digital surgiram.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A última revolução seria aquela da mudança da posse, para o acesso. Para que ter uma biblioteca digital em casa se seria possível hospedar tudo na nuvem e acessar a qualquer momento? Wikipedia, Gmail, Spotify, Netflix, Pandora, Office 360, DropBox, iCloud… Com maiores velocidades de acesso, não era mais preciso possuir, apenas conectar. Lá se foram 20 anos de Internet comercial no Brasil e neste início de 2016 a discussão é sobre a adoção do sistema de franquias de dados associada à contratação dos pacotes. Nas redes sociaise sites dedicados à comunicação, tecnologia e direitos do consumidor, pipocam textos, manifestos e imagens em defesa do direito de jogar online e consumir mais que 30 minutos diários de vídeo on line. Na última semana o Anonymous entrou na batalha e organizou ataquesao site da Agência Reguladora de Telecomunicações. De repente, uma geração de nativos digitais, criada para viver num mundo conectado, cujo limite fosse tão somente a velocidade de acesso, viu seu estilo de vida entrar em risco. Velocidade vs Quantidade No Brasil, quando uma empresa oferece uma determinada velocidade de acesso, na verdade trata-se da velocidade máxima que você poderá alcançar naquela conexão. Até uns anos, essa velocidade máxima contratada somente precisava estar disponível 10% disto para a conexão do cliente. Hoje são 40%. Ou seja, quem contratou um acesso de 2Mbps, na verdade levava 200Kbps e hoje conta com ao menos 800Kbps. Por outro lado, quanto maior a velocidade disponível, maior a quantidade de dados que pode ser trafegada. Então, se eu desejo usar minha internet para, além de trocar emails, falar em áudio e vídeo com minha família, ou jogar on line, ou manter todas as minhas fotos na nuvem… bom, para isso eu vou precisar de mais velocidade, pois a quantidade de dados a trafegar será maior. Comportamento on line O internauta da década de 1990, trocava emails 1 ou 2 vezes por dia, acessava algum portal de notícias para ler textos e eventualmente via fotos on line. No início dos anos 2000 esse mesmo internauta via imagens em abundância, compartilhava grandes arquivos em programas P2P (peer to peer) como Kazaa (principalmente álbuns musicais) e participava de salas de bate papo. Em 2005 os sites já disponibilizavam bibliotecas de áudio e vídeo para streaming e haviam experiências regulares de transmissões de vídeo em tempo real. Naquele mesmo ano surgiu oYou Tube criado por 2 estudantes para receber produções pessoais e deixa-las disponíveis na Internet para qualquer um. Em 2011 a Netflix, que surgiu como uma locadora virtual, contava com 23 milhões de assinantes para seu serviço de streaming de vídeos em território norteamericano. A turma da geração Z, passa mais de 3 horas por dia assistindo videos on line. Pesquisa realizada em 2015 pela Ericsson ConsumerLab, centro de pesquisas da dedicado a estudar o comportamento dos consumidores na internet e demais tecnologias de comunicação, fala de uma geração de nativos do streaming. Today, 20 percent of 16–19 year olds say they watch more than 3 hours of YouTube daily, compared to only 7 percent in 2011. The original internet generation does not follow this behavior and only 9 percent of today’s 30–34 year olds watch 3 hours or more of YouTube daily. Today’s teens are now streaming natives. In fact, 46 percent of them spend an hour or more on YouTube every day. (fonte: 10 hot consumer trends for 2016) Essa mudança nos hábitos de consumo somente foi possível pelo incremento da velocidade de acesso das redes, que permitiam entregar mais dados no mesmo intervalo de tempo. Ou seja, quem contrata mais velocidade de acesso o faz para poder trafegar maiores volumes de dados. Como as empresas ganham dinheiro? Tem uma cadeia enorme de negócios entre você se conectar à Internet e acessar, por exemplo, um vídeo. Alguém produziu aquele vídeo, outro alguém o disponibilizou numa plataforma, outro forneceu a tecnologia para guardar e organizar esse conteúdo. Você comprou um dispositivo capaz de acessar e reproduzir esse vídeo, pagou um provedor de Internet que te ligou a uma infraestrutura de rede para te entregar o conteúdo que você buscou. Ou seja, de forma muito simplista, o negócio de quem produz vídeos, só funciona se todos os outros funcionarem. Já as Telecoms (empresas de telecomunicações) só vão vender acessos de Internet, se houver algum motivo para você se conectar a ela, certo? E o mundo de hoje traz uma infinidade de motivos. Quanto mais motivos, mais velocidade você vai querer contratar (e mais dados irá trafegar). Mas vale lembrar que as 3 principais empresas de Telecomunicações no Brasil (Claro, Vivo e Oi) também vendem: – Telefonia fixa; – Telefonia móvel e; – TV por assinatura Na telefonia móvel a franquia de dados sempre foi a regra. A telefonia fixa cede cada vez mais lugar à telefonia móvel e aos aplicativos de comunicação. E na TV por assinatura, depois de uma década de crescimento, houve a primeira redução de assinantes no Brasil. Nos EUA, há alguns anos isto já acontece num movimento chamado de cord cutters, que é a redução dos pacotes ou cancelamento das assinaturas de TV em troca de banda

Leia mais »

O potencial revolucionário da cidadania digital

A forma como interagimos com nossos governos está mudando de forma extremamente rápida, graças às possibilidades abertas pelas novas tecnologias. A cada dia aparecem mais aplicativos e plataformas que oferecem novos canais de acesso a informação e de debate sobre políticas públicas. Marisa von Bülow ¹ Doutora em ciência política e professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Estuda as relações entre Internet e ativismo político e movimentos sociais nas Américas. Entre esses canais (muitos dos quais já foram objeto de discussão nesta coluna), estão aqueles que dão a oportunidade de votar em propostas de políticas públicas e em projetos de lei. Por exemplo, o aplicativo DemocraciaOS criou uma maneira fácil de votar e de comparar os resultados das votações online, feitas pelos internautas, com os resultados das votações realizadas pelos nossos representantes. Inspirados na experiência do DemocraciaOS, a página Euvoto.org transformou-se em um canal para que moradores de São Paulo registrem virtualmente sua opinião sobre alguns projetos em tramitação na Câmara Municipal. Os próprios vereadores apresentam um curto vídeo com a justificativa do projeto de sua autoria, que então é submetido a uma votação dos internautas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Há duas semanas, o governo federal lançou uma nova plataforma, a “Dialoga Brasil”, na qual os internautas são convidados a apresentar propostas para melhorar o funcionamento de alguns programas em áreas tão diversas como saúde, segurança pública, educação e redução da pobreza. Nessa mesma plataforma também é possível votar em propostas feitas por outros usuários, criando assim uma espécie de banco de propostas de políticas públicas. A facilidade para participar é a marca dessas iniciativas. Basta preencher um cadastro e, em poucos cliques, acessar a informação e votar. Por exemplo, uma das propostas mais bem votadas na plataforma Dialoga Brasil é a que sugere que dados de programas federais como o Bolsa Família sejam disponibilizados. É o acesso à participação gerando mais demanda de transparência. Todas essas iniciativas são muito positivas, especialmente se vistas como complemento de um conjunto amplo de possibilidades de participação que incluem fóruns presenciais como Conselhos de políticas públicas e Conferências de políticas públicas. No entanto, a realização plena do potencial da cidadania digital esbarra em alguns obstáculos importantes. Em primeiro lugar, o mais óbvio: o problema do acesso ao mundo digital, tema já tratado anteriormente nesta coluna. Metade das residências brasileiras ainda não tem acesso à Internet. Isso significa que existe o risco dessas plataformas digitais reproduzirem a assimetria que já existe offline, ou seja, que continuem participando os que na verdade já participam. Ou que participem tão poucos que, na prática, tornam-se canais inócuos. Mas outros obstáculos também existem e talvez possam ser mais facilmente contornáveis. Por exemplo, as plataformas de votação em geral são muito limitadas em termos do que os internautas podem propor. São dadas a eles opções previamente definidas. Seria interessante, por exemplo, que a plataforma Dialoga Brasil abrisse espaço para a sugestão de outros programas e políticas públicas, indo além dos que são listados pelos administradores do site. Assim, os internautas teriam maior poder para colocar temas na agenda. Outra sugestão é incluir um espaço de apresentação de opiniões e comentários. Por exemplo, que a autora das propostas possa apresentar uma breve justificativa. Isso permitiria que os demais participantes tomassem uma decisão favorável ou contrária de forma mais consciente. Em resumo, a ideia é incluir maneiras de dar maior poder aos usuários das plataformas na decisão sobre o que é discutido e como a discussão é feita. Mas talvez o obstáculo mais importante para que se alcance o potencial dessas plataformas tenha a ver com o que acontece após a participação. Esses canais criam a expectativa de que o diálogo político está sendo ampliado, de que os cidadãos passam a ter um poder que não tinham antes. No entanto, não há nenhuma garantia de que a participação terá qualquer tipo de impacto, e o entusiasmo inicial pode rapidamente transformar-se em frustração e em apatia. Para diminuir esse risco, os administradores de plataformas de votação devem ser muito explícitos quanto ao que é possível esperar da participação. No caso de canais oficiais (como o Dialoga Brasil), talvez fosse possível adicionar alguns compromissos que sirvam de incentivo para a participação. Por exemplo, que as propostas mais votadas terão uma resposta por escrito dos gestores da área. O Partido de la Red, criado na Argentina em 2012, tem feito campanha prometendo que os representantes que eventualmente sejam eleitos seguirão o que for decidido nas votações virtuais, por meio do DemocraciaOS. Outras iniciativas similares estão sendo implementadas em vários lugares do mundo. Mas para que estas realmente representem uma transição para um tipo diferente de representação é preciso que todos os cidadãos tenham acesso (de qualidade) à Internet. Enquanto isso não acontecer, ainda estaremos longe de aproveitar o potencial revolucionário da cidadania digital. ¹ Marisa von Bülow escreve às quartas-feiras no blog do Noblat

Leia mais »