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No escuro e sem dinheiro, Venezuela adota novo fuso horário

Para poupar energia, governo Maduro manda adiantar os relógios 30 minutos. Diante do avanço da oposição, mudança pode simbolizar o início do fim do socialismo bolivariano. Há anos venezuelanos têm que conviver com apagões “Estou cheio de esperança, os sinais apontam em direção a mudanças”, diz Leopoldo López numa mensagem lida por sua mãe, Antonieta Mendonza, durante manifestação pública em Caracas. O referendo para revogação do mandato do presidente Nicolás Maduro é o caminho para sair da crise”, prossegue o líder oposicionista mais conhecido da Venezuela – o mais tardar desde sua controversa prisão em fevereiro de 2014.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Nos últimos dias, mais de 1,5 milhão de venezuelanos apoiaram um abaixo-assinado reivindicando o referendo revogatório. López também participou com sua assinatura graças a Antonieta, que contrabandeou a lista para dentro e para fora do presídio onde seu filho é mantido. Nos próximos dias, as listas de assinaturas serão avaliadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Caso o parecer seja positivo, poderá ser realizada uma votação sobre a eventual deposição de Maduro. Depois de mais essa vitória da oposição, que já vencera as eleições parlamentares em dezembro de 2015, os relógios batem diferente na Venezuela – e não só politicamente, mas também literalmente, pois o país adiantou os relógios 30 minutos na madrugada deste domingo (01/05). A decisão, anunciada em meados de abril, faz parte de um pacote de medidas para fazer frente à escassez de eletricidade. Venezuela à beira do colapso econômico O tempo corre contra a Revolução Bolivariana proclamada pelo carismático Hugo Chávez, ao ser eleito presidente em dezembro 1998. Pois, 17 anos depois, o país com as maiores reservas de petróleo do mundo se encontra à beira do abismo econômico e político. “O aquário que tem sido o regime venezuelano nestes anos pode se assemelhar a um ‘show de horrores’”, escreve o comentarista Isaac Nahón Serfaty na edição para a América Latina do jornal espanhol El País. “O país tem assistido a um espetáculo de governo em que se degradam as instituições, não se respeitam as leis, faz-se apologia do crime, os governantes se contradizem, falam mal e ocasionalmente expressam uma ignorância e um nível de incompetência aterradores.” Serfaty está entre os 1,5 milhão de venezuelanos que deixaram o país desde que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) assumiu o poder. O perito em comunicações renunciou a seu posto na católica Universidade Andrés Bello, em Caracas, e leciona atualmente na Universidade de Ottawa, no Canadá. O “show de horrores” chavista transformou o dia a dia dos 30 milhões que permaneceram num verdadeiro cenário da desgraça, prossegue Serfaty. Sua “lista de calamidades”, manifestando uma “degradação social acelerada”, inclui “linchamentos, saques, delinquência desbragada, roubos de fundos públicos, contrabando, mercado negro, falta de medicamentos e alimentos, filas intermináveis para obter produtos básicos”. “Esta revolução ficará escrita na lixeira da história”, diz cartaz de manifestante anti-Maduro Sem dinheiro para imprimir dinheiro A carência é generalizada no país sul-americano, já que todos os produtos necessários têm que ser importados do exterior. Contudo, desde a queda dos preços do petróleo a crise se agravou sensivelmente. No momento, Caracas não dispõe mais de divisas suficientes para assegurar o abastecimento básico da população. Futuramente os venezuelanos vão ter de abrir mão até mesmo de sua tão estimada cerveja. Na sexta-feira passada a maior cervejaria do país, a Empresas Polar, suspendeu a produção. Num comunicado público, ela culpa o Banco Central por não liberar divisas para a importação do malte de cevada. Uma carta de meados de abril vazada para a imprensa demonstra a gravidade da situação: nela, a impressora de cédulas inglesa De La Rue cobra do Banco Central venezuelano 71 milhões de dólares em contas atrasadas. A demanda por numerário na Venezuela é tremenda: com uma taxa de inflação estimada em 700% para este ano, o país enfrenta a maior desvalorização monetária do mundo. E agora passará também a ser a primeira nação do mundo que não tem dinheiro para imprimir dinheiro. Artigo em falta: Banco Central de Caracas sem dinheiro para financiar impressão de cédulas Escuro simbólico? A coisa não para por aí: devido à crônica insuficiência de energia, a população agora também ficará no escuro. À medida que os níveis de água no reservatório Simón Bolívar vão caindo perigosamente, o abastecimento de eletricidade está cada vez mais próximo do colapso total. O resultado são apagões frequentes em todo o país e medidas de racionamento drásticas. Em 10 dos 24 estados venezuelanos a energia é diariamente cortada durante várias horas. O funcionalismo público só funciona dois dias por semana, e às sextas-feiras as escolas suspenderam as aulas. Rodrigo Blanco Calderón professou a decepção com seu país no romance “A noite” “Já desde 2010 a energia é racionada. Para mim, isso é o sintoma visível do completo fracasso do assim chamado socialismo bolivariano do século 21”, declarou o autor Rodrigo Blanco Calderón, em entrevista à DW. Num romance significativamente intitulado The night, ele reflete sobre as horas negras de seu país natal. Para o escritor, os apagões foram provas precoces da leviandade dos governos do ex-presidente Hugo Chávez e de seu sucessor, Nicolás Maduro. “Mas eles sabiam utilizar essa leviandade: desse modo nós, venezuelanos, devíamos ir nos acostumando à economia da precariedade e ao caos”, analisa Calderón. A Venezuela está no escuro: a adoção de um novo fuso horário neste domingo pouco alterará esse fato. Mas a contagem regressiva para o fim da era do socialismo bolivariano começou. O último a sair nem vai precisar apagar a luz. DW

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Sindicatos argentinos mostram seu poder com grande manifestação contra Macri

Se existe algo que diferencia a Argentina do resto da América Latina e até mesmo da Europa, é a enorme força de seus sindicatos. Marcha das cinco centrais sindicais da Argentina. Ricardo Ceppi Líderes eternos, polêmicos, com passados obscuros, há 30 anos chefiando suas centrais, como Hugo Moyano, líder dos caminhoneiros. São tão fortes que todos os governos se aproximam deles. É o que fez Mauricio Macri assim que chegou ao poder. Mas as boas relações iniciais de Macri com os sindicalistas acabaram. Os sindicatos peronistas, historicamente divididos (só a CGT, o mais importante, tem três versões, a CGT Azopardo, CGT Oficial, CGT Azul e Branca) se uniram temporariamente para realizar uma exibição de força em uma grande manifestação contra Macri com milhares de trabalhadores nas ruas.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] MAIS INFORMAÇÕES Macri sofre a primeira derrota no Parlamento Argentina paga os 9,3 bilhões de dólares que devia aos fundos abutre Macri anuncia medidas sociais para conter protestos contra o ajuste ‘Tarifaço’ faz aprovação de Mauricio Macri cair mais de 10 pontos desde dezembro Obama admite que EUA “demoraram a defender os direitos humanos” na América Latina Protestam pelas demissões de funcionários públicos – o Executivo admite 20.000 – pela destruição dos empregos que começa a ocorrer no setor privado – o Governo nega – e os aumentos de tarifas em transporte, luz, gás, e a inflação disparada. Mas são movidos principalmente por um motivo político: lembrar Macri do que ele já sabia; que governar a Argentina não é nada fácil e eles estão ali para contestar o poder. Buenos Aires ficou completamente parada com sindicalistas vindos de todas as províncias. A batalha de poder entre o Governo e os sindicatos peronistas acaba de começar. Não quiseram fazer uma greve, que poderia fracassar porque existe muita divisão sindical enquanto Macri ainda conserva muito apoio popular. Mas os sindicatos e a oposição perceberam que o humor da sociedade começa a mudar, e por isso prepararam essa exibição de força que, mais do que uma declaração de guerra, é um aviso. Ao mesmo tempo em que uma lei antidemissões era aprovada no Senado, que irá proibi-las durante seis meses – se também for aprovada na Câmara dos Deputados Macri será obrigado a vetá-la – os sindicatos mobilizavam as ruas. Tudo coordenado. E também pensado para tomar o controle da oposição a Macri e não deixar todo esse espaço a Cristina Kirchner, que estava começando a lutar para ser a líder dos protestos. “Nunca existiu uma lua-de-mel do sindicalismo com Macri. Existiam expectativas”, afirmou Hugo Yasky, rodeado de apoiadores, também eterno líder da CTA dos trabalhadores. “Agora pedimos a ele que aprove a lei antidemissões. Macri aprovou medidas para todos, menos aos trabalhadores. Espero que caiam os tampões que o presidente tem nos ouvidos. Macri falou sobre respeitar a independência dos poderes, se não cumprir com a palavra e vetar a lei respaldada pelas cinco centrais sindicais vamos dobrar a aposta”, disse. O líder da outra CTA, Pablo Micheli, inimigo eterno de Yasky, estava no mesmo lugar com a mesma mensagem: “Essa união é para defender os trabalhadores. É preciso que nos juntemos para impedir esse enorme ajuste que está aumentando as tarifas, diminuindo os salários. O presidente diz que a inflação irá baixar, mas na realidade a economia vai de mal a pior. Isso não é um problema de fé. Se Macri vetar a lei antidemissões vamos direto a uma paralisação nacional”, ameaçou. Macri deve lidar com um fardo muito importante. Nenhum presidente não peronista conseguiu terminar seu mandato desde o retorno da democracia em 1983. O radical Raúl Alfonsín sofreu 13 greves gerais e acabou adiantando as eleições e dando lugar ao peronista Carlos Menem em 1989. Fernando de la Rúa também sofreu a oposição dos sindicatos peronistas e acabou saindo de helicóptero da Casa Rosada em dezembro de 2001. Quando um peronista está no poder quase não ocorrem greves. Macri está convencido de que ele é diferente. E há pouco tempo parecia intocável. Um mês atrás recebeu Barack Obama, conseguiu a aprovação do pacto dos fundos abutres no Congresso, e o mundo o aplaudia. Agora o sindicalismo, uma de suas principais inquietações, tenta enfraquecê-lo. A maioria dos sindicalistas admite que Macri não estava no céu há um mês e não está no inferno agora. Se for observada de certa distância, a situação argentina oscila muito, mas com linha de continuidade: se Macri conseguir resolver os problemas econômicos, parar a inflação, atrair investimentos e criar empregos, os sindicatos se submeterão ao seu poder. Se os problemas econômicos persistirem, agravados pela situação do Brasil, os sindicalistas atacarão cada vez mais forte. É a lógica que sempre moveu o poder na Argentina, onde ninguém sabe quanto os governos podem durar. Tudo na marcha se refere a essa longa tradição de luta nas ruas. Do clássico cheiro de choripán (tradicional sanduíche argentino) e os bumbos de toda concentração peronista, até o cenário, muito planejado: de um lado, as letras da CGT, o grande sindicato, com a foto do general Perón. Do outro, as letras da CTA, outro dos grandes – também dividido – e a foto de Evita Perón. 70 anos depois da primeira vitória eleitoral do peronismo esse movimento, agora fora do poder, continua reivindicando sua força. Mas está dividido como sempre, e esse foi o ponto fundamental para a vitória de Macri e para que consiga governar. As duríssimas guerras internas do peronismo têm uma longa história de violência. O líder da CGT em 1973, José Ignacio Rucci, foi assassinado em plena rua por membros dos Montoneros, uma organização político-militar argentina e guerrilha urbana. Agora as divisões não chegam a tanto, mas persistem, por isso é tão significativo que todos tenham se unido contra Macri. Enquanto os sindicalistas exibiam seu poder e Moyano avisava Macri – “o tempo está acabando”, disse mostrando sua impaciência – o presidente respondeu em um ato em Tucumán, no norte do país. Primeiro lhes mostrou respeito: “todo mundo tem o direito de se expressar”.

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França tenta barrar acordo comercial entre União Europeia e o Mercosul

A França está tentando barrar as negociações para um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, o bloco que reúne Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai (além da Venezuela, que não participa das negociações) e que representa mais de 80% do PIB da América do Sul, segundo apontam vários membros da UE e confirma a Comissão Europeia. Colheita de soja no Estado do Paraná, no Brasil. ANP  A troca de ofertas, que representa o início da negociação formal, está marcada para a segunda semana de maio, mas a França já pediu que o encontro seja adiado até que se conclua um estudo sobre o impacto que as concessões neste ou em outros acordos comerciais teriam sobre o setor agrícola da União.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A França, que conseguiu o apoio de mais 12 países da União Europeia (Polônia, Áustria, Grécia, Irlanda, Hungria, Romênia, Lituânia, Estônia, Letônia, Chipre, Eslovênia e Luxemburgo), opõe-se aos demais membros, liderados por Espanha, Alemanha, Itália, Portugal, Reino Unido e Suécia. Em carta dirigida à Comissão no dia 7 de abril, o bloco liderado por Paris advertiu que a proposta ao Mercosul afeta “produtos sensíveis” e que seria considerada uma “provocação” pelos agricultores europeus. O presidente francês, François Hollande, expressou seu apoio a essa negociação em uma recente visita a Uruguai e Argentina, no fim de fevereiro. Mas o conflito com os agricultores – que inclui novos ataques contra caminhões carregados de vinho espanhol – poderia obrigar o Executivo francês a manter uma posição mais defensiva, apesar das promessas do presidente. MAIS INFORMAÇÕES Mercosul marca reunião urgente para discutir crise no Brasil Brasil-Argentina: hora de recuperar o tempo perdido A Comissão espera que a situação não se complique mais. Vários países protestaram através dos ministros de Agricultura, mas ao mesmo tempo “o Conselho deu um mandato negociador com um amplíssimo apoio”, aponta um porta-voz. “Não serão eliminadas as tarifas em todos os produtos, mas se trata de um acordo de base ampla, não só agrícola, e o objetivo é encontrar um enfoque ambicioso e equilibrado, que permita seguir adiante e, ao mesmo tempo, leve em conta as diferentes sensibilidades que se tornaram evidentes ao longo deste processo”, diz a mesma fonte. O objetivo de Paris não é só retardar a troca de ofertas, mas também excluir os contingentes tarifários no setor agrícola, em que os países sul-americanos são mais competitivos. Fontes diplomáticas espanholas temem que a negociação fracasse se a tese francesa prevalecer: o acordo perderia atrativo para os países sul-americanos, que baseiam suas exportações à UE em produtos básicos ou semifaturados. O que se sabe até agora é que algumas das exigências de Paris podem ser acatadas: o consumo de carne bovina chega a 7,8 milhões de toneladas, mas a proposta da Comissão poderia incluir um máximo de 78.000 toneladas: apenas 1%. A decisão final cabe à Comissão, que deve ouvir a opinião dos Estados membros e não consegue fechar um acordo que já demora vários anos. Em 27 de novembro, os ministros do Comércio dos 28 países da UE deram luz verde para o início das negociações, apesar da oposição da França, que alegou que a oferta do Mercosul só cobria 87% das linhas tarifárias e não 89% como se exigia. “Ficou claro que uma ampla maioria de Estados quer essa troca de ofertas e confiemos que a Comissão tomará a decisão correta”, declarou o secretário de Estado de Comércio espanhol, Jaime García-Legaz. As negociações entre UE e Mercosul emperraram em 2012 e só se falou em retomá-las em junho do ano passado, na Cúpula UE-CELAC (Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe) em Bruxelas. A chegada ao poder do novo presidente argentino, Mauricio Macri, firme partidário do acordo, deu um impulso decisivo às negociações. Depois de perder a batalha na reunião de responsáveis pelo Comércio, a França manobrou através dos ministros da Agricultura, segundo as fontes consultadas, com o objetivo não só de adiar a troca de ofertas, como também de excluir os contingentes tarifários no setor agrícola, o que significa um retrocesso em relação à proposta apresentada pela UE em 2004. Por enquanto, conseguiu que seja realizado o estudo sobre o impacto na agricultura europeia não só das negociações com o Mercosul, mas também do recente acordo com o Canadá ou do que se negocia com os Estados Unidos (TTIP), previsto para setembro. A Espanha receia que, se a negociação for barrada agora, vai se perder uma oportunidade de ouro e a América do Sul pode ficar desvinculada das grandes áreas de livre comércio que se estão configurando em torno dos acordos que a UE e os Estados Unidos negociam entre si e com os países do Pacífico. Claudi Perez e Miguel Gonsalez/El País

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Por que o fujimorismo continua tendo apoio no Peru?

A candidata de centro-direita Keiko Fujimori venceu o primeiro turno das eleições presidenciais no Peru, segundo apontam os primeiros resultados. Keiko Fujimori se apresenta como candidata pela segunda vez pelo partido Força Popular – Image copyright AFP Com dois quintos dos votos computados, Fujimori somava 39% dos votos e caminhava para enfrentar Pedro Kuczynski, um ex-economista do Banco Mundial, em um segundo turno em junho. Kuczynski somava 24% dos votos, enquanto a candidata de esquerda Veronika Mendoza tinha 17%. Keiko Fujimori, 40 anos, filha do ex-presidente do Peru Alberto Fujimori (governou entre 1990-2000), diz que enfrentar o crime será sua prioridade caso seja eleita.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Ela tem apoio de setores da população que creditam a seu pai a derrota do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso. Mas outros peruanos rejeitam qualquer nome associado ao ex-presidente, que hoje cumpre pena de 25 anos de prisão por ter autorizado a ação de grupos de extermínio contra civis durante sua ação contra a guerrilha. Alberto Fujimori está preso cumprindo pena de 25 anos por corrupção e violação de direitos humanos. Image copyright AP   Keiko se apresenta como candidata pela segunda vez pelo partido Força Popular. Embora busque marcar distância em relação ao pai, sua aspiração inevitavelmente acaba associada à gestão de Alberto Fujimori. O sobrenome atrai tanto simpatizantes como detratores. Por que o fujimorismo continua tendo tanta força no Peru? A candidata de direita desperta paixões sobretudo em setores populares, que atribuem a seu pai o fim do terrorismo e da crise econômica que o país enfrentou nos anos 1980. Mas também gera forte rejeição entre aqueles que não esquecem porque o ex-presidente está na cadeia. A insegurança aumentou no Peru e há setores da população que acreditam que Keiko seja a mais preparada para lidar com esse problema, apontam analistas. Image copyright Getty Os opositores de Alberto Fujimori apontam que ele foi um líder autoritário que abusou das instituições para se manter no poder e que fugiu para o Japão por um caso de corrupção sem precedentes no país. Ele foi condenado em 2009 pelas chacinas de Barrios Altos (1991) e La Cantuta (1992), onde 25 pessoas morreram por ação de um grupo militar à paisana, e pelo sequestro de um jornalista e de um empresário em 1992. Keiko Fujimori promete não cometer os “erros” do governo do pai, porém seu discurso desperta suspeita em alguns setores. Especialistas dizem ainda que ela poderá enfrentar dificuldades no segundo turno. Imagem própria Para especialistas consultados pela BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, o voto antifujimorista no segundo turno deverá se concentrar em Pedro Pablo Kuczynski. Isso porque embora a filha do ex-presidente tenha defendido o respeito aos direitos humanos na campanha, há quem considere isso insuficiente para dissociá-la da herança do pai. Quando Alberto Fujimori (à esq.) se divorciou da mulher, a filha Keiko Fujimori (dir.) exerceu as funções de primeira-dama – Image copyright AP “É muito difícil limpar a imagem”, aponta o peruano Carlos Manuel Indacochea, professor de Relações Internacionais da Universidade George Washington (EUA). “Sempre que se faz uma barganha moral crimes são chamados de erros. Mas o fujimorismo não cometeu erros; as malas de dinheiro que Fujimori enviou ao Japão com seu cunhado embaixador não foram um erro”, completa. “É muito fácil dizer coisas, mas para que as pessoas acreditem em você é preciso sofrer, pagar um preço. Ela deveria ter enfrentado o pai, suportado a saída de alguns membros históricos do partido. Isso não ocorreu, então muita gente não acredita nela”, diz Peter Levitsky, professor de Governo da Universidade de Harvard (EUA), que no ano passado convidou Keiko para uma conferência aberta com alunos. Levitsky diz que as acusações de corrupção, violação de direitos humanos e de apoio a um “regime autoritário” não são contra ela, mas seu partido, porém ela “jamais rompeu com a sigla”. Michael Shifter, presidente do centro de análise política Diálogo Interamericano e especialista em Peru, afirma que Keiko é uma figura com “certa habilidade política, que esteve no Congresso e construiu uma base de apoio, mas tem seu limite”. Na reta final da campanha houve protestos de rua contra Keiko Fujimori, coordenados por movimentos sociais e de direitos humanos Mesmo que ela tenha um discurso mais aberto como candidata, Shifter diz ser preciso levar em conta quem está próximo da candidata. “Muita gente de sua equipe era da equipe de seu pai, e isso gera resistências em setores da sociedade que possuem más lembranças dos anos de violações aos direitos humanos, corrupção e de um ambiente muito polarizado”. Simpatizantes em redes sociais defendem Keiko. “São jovens cujos pais contaram a verdade sobre os anos de terrorismo e que o presidente que teve a coragem para acabar com isso foi o pai de Keiko, por isso a seguem fielmente e são o pilar em que ela se apoia”, escreveu René Dulanto na página de Facebook “Jóvens com Keiko”. Favoritismo Apesar das ressalvas, Keiko venceu o primeiro turno após liderar com folga as pesquisas. Quais são as razões? “Primeiro porque não havia muitas opções e seus rivais foram piores do que ela”, diz Peter Levitsky. “Os partidos que já foram autoritários normalmente não têm maioria, mas conservam certo nível de apoio na sociedade que serve como piso eleitoral. Muitas vezes mantêm redes que ajudam na organização, e o fujimorismo é assim.” Alguns peruanos atribuem a recuperação econômica e o fim do terrorismo ao governo de Alberto Fujimori – Image copyrightReuters Levitsky atribui o “êxito relativo do fujimorismo” ao “colapso” do restante dos partidos e ao fato de Keiko ser uma “candidata de talento”. “Não é muito carismática, mas é disciplinada, trabalha, aprende e é uma boa política”, afirma o especialista. Indulto ao pai Um dos temas que levantam mais suspeitas no eleitorado contra Keiko é a possibilidade de que conceda indulto a seu pai. A candidata já disse que deixará a questão com o Judiciário. “O problema é que ninguém no Peru acredita que o poder judicial seja independente”, afirma Levitsky. Caso vença as eleições, Keiko Fujimori enfrentará

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Alimentos: Agrotóxicos: o veneno que o Brasil ainda te incentiva a consumir

Brasil permite uso de pesticidas proibidos em outros países e exonera os impostos dessas substâncias. Plantação de morangos em Brasília. Mary Leal Agência Brasília O morango vermelho e carnudo e o espinafre verde-escuro de folhas largas comprados na feira podem conter, além de nutrientes, doses altas demais de resíduos químicos. Estamos em 2016 e no Brasil ainda se consomem frutas, verduras e legumes que cresceram sob os borrifos de pesticidas que lá fora já foram banidos há anos. A quantidade de agrotóxicos ingerida no Brasil é tão alta, que o país está na liderança do consumo mundial desde 2008. A boa notícia, é que naquele mesmo ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) iniciou a reavaliação de 14 pesticidas que podem apresentar riscos à saúde. A má notícia é que até agora os estudos não terminaram.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A essa morosidade somam-se incentivos fiscais. O Governo brasileiro concede redução de 60% do ICMS (imposto relativo à circulação de mercadorias), isenção total do PIS/COFINS (contribuições para a Seguridade Social) e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) à produção e comércio dos pesticidas, segundo listou João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). O que resta de imposto sobre os agrotóxicos representam, segundo Olenike, 22% do valor do produto. “Para se ter uma ideia, no caso dos medicamentos, que não são isentos de impostos, 34% do valor final são tributos”, diz. Recentemente, o consumo de agrotóxicos esteve novamente no centro da discussão. A apresentadora Bela Gil, que tem mais de 590.000 seguidores no Facebook, liderou um movimento para que a população se mostrasse contrária ao uso do carbofurano, substância usada em pesticidas em lavouras de algodão, feijão, banana, arroz e milho. Isso ocorreu quando a Anvisa colocou em seu site uma consulta pública sobre essa substância. Antes de Bela Gil publicar um texto engajando seus seguidores, o resultado se mostrava favorável à continuação do uso desse agrotóxico. Mas em poucas horas, a apresentadora conseguiu reverter o resultado da consulta, mostrando que os brasileiros querem que essa substância seja proibida também no Brasil, assim como já é em países como Estados Unidos, Canadá e em toda a União Europeia. Por e-mail, a chefe de cozinha adepta da culinária natureba disse por que liderou a campanha. “Já existem estudos revelando a toxicidade e os perigos do carbofurano”, disse. “Essa substância é cancerígena, desregula o sistema endócrino em qualquer dose relevante e afeta o sistema reprodutor”. Na bula do produto consta a informação de que essa substância é “muito perigosa ao meio ambiente e altamente tóxica para aves”. Orienta o usuário a não entrar nas lavouras que receberam o produto por até 24 horas após a aplicação “a menos que se use roupas protetoras”. 2,4-D E A POLÊMICA DO ‘AGENTE LARANJA’ Há exatos dez anos, desde 2006, a Anvisa está reavaliando os riscos à saúde que o herbicida 2,4-D pode causar. De nome estranho, essa substância era uma das que formavam o chamado Agente Laranja, uma química que foi amplamente utilizada pelas Forças Armadas norte-americanas durante a guerra do Vietnã. Seu uso, naquele momento, era para destruir plantações agrícolas que eram usadas como esconderijo pelos inimigos. Mas, segundo a Cruz Vermelha, cerca de 150.000 crianças nasceram com malformação congênita em consequência dessa substância. Os Estados Unidos contestam esse número. Por meio de nota, a Anvisa afirmou que o parecer técnico de reavaliação do 2,4-D foi recentemente finalizado e deverá ser disponibilizado para consulta pública no portal da Anvisa nos próximos meses. A consulta pública faz parte do processo de reavaliação das 14 substâncias realizado pela Anvisa (veja o quadro abaixo). Desde o início dos estudos, em 2008, seis pesticidas foram banidos e dois foram autorizados a permanecer no mercado sob algumas restrições. Resta a conclusão dos estudos de outras seis substâncias – dentre elas o carbofurano. O glifosato, usado para proteger lavouras de milho e pasto, e que no ano passado foi considerado cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde, também está nesta lista que aguarda conclusões. A demora para finalizar essa reavaliação fez o Ministério Público entrar com uma ação, em junho do ano passado, pedindo maior agilidade no processo. Na época, a Justiça acatou o pedido e estabeleceu um prazo de 90 dias para que todos os estudos fossem concluídos. Mas o setor do agronegócio também se moveu. O Sindicato Nacional das Indústrias de Defesa Vegetal (Sindivag) entrou com um recurso alegando que o prazo não era suficiente. Em nota, o Sindivag afirmou ser “favorável ao procedimento de reavaliação”, mas que “o prazo concedido para conclusão da reavaliação não era suficiente para que fossem adotados todos os procedimentos previstos nas normas vigentes”. O processo está agora na Justiça Federal, que informou não haver prazo para o julgamento. Fonte: Anvisa Apesar da demora, as reavaliações dos agrotóxicos são um passo importante para a discussão do consumo dessas substâncias no Brasil. “A consulta pública da Anvisa sobre o carbofurano foi importante para que o órgão e os especialistas envolvidos obtivessem conhecimento do que a população pensa”, diz Bela Gil. “A Anvisa pode se sentir mais inclinada a tomada de decisão de realmente banir esse agrotóxico”. MAIS INFORMAÇÕES OMS: Carne processada e embutidos aumentam risco de câncer A agricultura salva novamente a economia brasileira Câmara aprova lei que dispensa símbolo da transgenia em rótulos Se você compra comida orgânica, isto é o que você precisa saber Para Wanderlei Pignati, professor de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a lentidão desse processo ocorre porque há uma forte pressão de setores interessados na comercialização dessas substâncias. “As empresas querem fazer acordo, mas não deveria caber recurso”, diz. “Queremos proibir todos os [agrotóxicos] que são proibidos na União Europeia”, afirma. “Por que aqui são consumidos livremente? Somos mais fortes que eles e podemos aguentar, por acaso?”. Segundo João Olenike, do IBPT, os agrotóxicos deveriam ter altos tributos, e não ser isentos. “Existe uma coisa chamada extra-fiscalidade, que significa que, além da arrecadação, o tributo tem também uma função social”, explica.

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Conheça Verónika Mendoza, a candidata da esquerda que defende o fim do ciclo neoliberal no Peru

Entre as propostas defendidas pela candidata franco-peruana para o país estão mudar a Constituição neoliberal de 1993 e implementar reformas econômicas e sociais de caráter progressista, com maior presença do Estado na economia. Agência Efe Entre as propostas defendidas pela candidata franco-peruana para o país estão mudar a Constituição neoliberal de 1993 e implementar reformas econômicas e sociais de caráter progressista, com maior presença do Estado na economia Se Verónika Mendoza, nascida em 9 de dezembro de 1980, fosse um mês mais nova, teria que esperar até 2021 para se candidatar à presidência do Peru por não cumprir a idade mínima legal para postular a vaga. Ela cumpriu os 35 anos exigidos apenas um mês antes de vencer o prazo de inscrição no JNE (Júri Nacional de Eleições), após ganhar as prévias, na qual venceu, inclusive, o ex-sacerdote Marco Arana, líder do Terra e Liberdade, principal partido da coalização Frente Ampla.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Se cumprir o objetivo de ganhar a disputa pela Presidência do Peru, Verónika Mendoza será a chefe de Estado mais jovem da história do país, recorde mantido atualmente por um de seus rivais, o neoliberal Alan García, que chegou ao cargo em 1985, quando ela tinha cinco anos. Verónika fez uma campanha de poucos recursos e surpreendeu ao vencer as prévias da Frente Ampla Entre as propostas defendidas por ela para o Peru estão mudar a Constituição neoliberal de 1993 e implementar reformas econômicas e sociais de caráter progressista, com maior presença do Estado na economia, poder de decisão sobre a exploração dos recursos naturais, luta contra a corrupção e maior participação cidadã na política. Leia também sobre as eleições no Peru: Ollanta Humala traiu projeto nacionalista, diz candidata de esquerda à Presidência do Peru Verónika Mendoza, da Frente Ampla, é a candidata em ascensão na disputa presidencial peruana A arremetida de Verónika Mendoza Entrevista: Candidata da esquerda à presidência do Peru é alvo de guerra suja dos meios de comunicação, diz deputado Duas mulheres disputam as eleições no Peru Feridas da ditadura Fujimori voltam a sangrar no Peru O Peru na reta final das eleições Nascida na cidade de Cusco — histórica capital do império Inca —, filha de mãe francesa, Gabrielle Frisch, e pai peruano, Marcelino Mendoza, tem ambas as nacionalidades. Estudou Psicologia, Educação e Antropologia na França e, como escreveu em uma autobiografia de 2011, a permanência em Paris “não só contribuiu com minha formação acadêmica, mas também e principalmente com a minha consciência política”. Surpreendentemente, foi no país europeu que Mendoza aprendeu a falar quéchua. Peru: A um mês da eleição presidencial, Justiça impugna 2 candidatos; Fujimori é beneficiada Para ativistas, leis antiterrorismo criadas por pressão internacional criminalizam movimentos sociais na América Latina Justiça decide pela manutenção de Keiko Fujimori nas eleições presidenciais do Peru “A vida política dinâmica e associativa francesa me enriqueceu muito e assim compreendi que sem lutas não há vitórias, que o bem-estar social nunca é um presente das elites, mas uma conquista do povo organizado”, escreveu em sua autobiografia. “Apropriei-me da história política de meus pais: meu pai foi militante da Esquerda Unida e fundador do SUTEP (sindicato dos professores); minha mãe foi militante do Partido Socialista Unificado Francês e partícipe da revolução cultural, social e política de Maio de 1968”, contou. Em 2004, se integrou na França a um núcleo de peruanos em apoio ao nascente Partido Nacionalista, do hoje presidente Ollanta Humala, no qual desempenhou diversas funções no âmbito das relações internacionais. Em 2011 foi eleita parlamentar, representando Cusco. Agência Efe Apoiadores de Verónika no encerramento de campanha realizado na última quinta-feira (07/04) em Lima Entretanto, em junho de 2012 renunciou ao Partido Nacionalista por divergências políticas, devido à repressão de um protesto ambientalista dos moradores da província cusquenha de Espinar. Ela se integrou à bancada da coalizão parlamentar Frente Ampla-Ação Popular, que faz oposição a Humala. Já em 2015, formou o grupo Sembrar, que a promoveu na eleição interna para a candidatura da Frente Ampla à presidência, ganhando de forma inesperada, pois o favorito era o ex-sacerdote Arana. Com uma campanha modesta, percorreu o país e recebeu, no trecho final da disputa, um apoio crescente. Segundo dados do Instituto Datum divulgados em 2 de abril, oito dias antes das eleições, Verónika tem 14,8% das intenções de voto e está tecnicamente empatada com Pedro Pablo Kuczynski (do “Peruanos por el Kambio”), com chances reais de disputar o segundo turno com Keiko Fujimori — filha do ex-ditador Alberto Fujimori —, que lidera as pesquisas com 36,1% de preferência dos eleitores.   Texto publicado originalmente pela Prensa Latina

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Eleições no Peru: Sob protestos, filha de ex-ditador peruano lidera eleições presidenciais

Mesmo com manifestações que levaram 50 mil peruanos às ruas, Keiko Fujimori lidera as intenções de voto para as eleições no próximo domingo, 10. Keiko Fujimori lidera as intenções de voto com 33% (Foto: Wikimedia)  A candidata à presidência do Peru Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, lidera as pesquisas para o primeiro turno das eleições que ocorrerão no próximo domingo, 10, mesmo com os protestos que levaram mais de 50 mil pessoas às ruas do país na última terça-feira, 5. As manifestações que ocorreram na capital Lima e em outras 20 cidades pelo país evidenciam o receio de parte da população peruana de que uma possível administração de Keiko remeta às políticas consideradas autoritárias do mandato de seu pai (entre 1990 e 2000), conhecido pelo “autogolpe” em 1992 que fechou o Congresso.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] Os manifestantes levaram às ruas cartazes que diziam “fujimorismo nunca mais” e “não a Keiko”. É a segunda vez que Keiko se candidata à presidência do país. Após uma primeira campanha fracassada, ela, atualmente, lidera as intenções de voto com 33%, abrindo uma vantagem confortável sobre os concorrentes. O economista conservador Pedro Paulo Kuczynski (conhecido como PPK) é o segundo nas intenções de voto, com 16%, e a esquerdista Veronika Mendoza tem 15%. Apesar da vantagem da candidata, especialistas acreditam que a eleição deve ir para segundo turno, devido ao alto índice de rejeição de Keiko, cerca de 52%. Fujimorismo O governo de Alberto Fujimori ficou conhecido por suas medidas autoritárias, por condenações e mortes extrajudiciais e pela corrupção. A organização não-governamental Transparência Internacional calcula que tenham sido desviados cerca de US$ 600 milhões dos cofres públicos durante a administração de Fujimori. Keiko , tentando atingir um outro grupo de eleitores, adotou uma estratégia diferente nestas eleições. Ao contrário de anos anteriores, ela adotou um discurso mais flexível e não tão atado às bandeiras defendidas por seu pai. Desse modo, Keiko diz reconhecer falhas na administração de seu pai, criticando por exemplo, o fechamento do Congresso e o abuso de direitos humanos. Ela chegou a declarar ser a favor da união civil entre homossexuais e do aborto em situações de risco para grávidas. No entanto, mesmo com as críticas e manifestações contra a candidata, há camadas que apoiam um possível mandato fujimorista. “São as populações dos Andes, sempre esquecidas, que se lembram de Fujimori como o único que foi até lá e construiu uma ponte, uma escola. Por outro lado, está o alto empresariado do país, que se beneficiou de suas políticas de abertura econômica. O desafio de Keiko é conquistar quem está no meio”, afirma José Carlos Paredes, biógrafo de Keiko Fujimori. Fontes: Washington Post-Disgraced leader’s daughter leads Folha de S. Paulo-Sob protesto, filha do ex-ditador Fujimori é favorita na eleição no Peru

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Literatura desaparecida: 40 anos do Golpe Militar na Argentina

“Escribe mientras sea posible. Escribe cuando sea imposible. Ama el silencio.” — Miguel Ángel Bustos, desaparecido em 1976. Cronica de Ricardo Domeneck ¹ Há 40 anos, ocorria o Golpe Militar na Argentina, que deixaria ainda mais mortos e desaparecidos pelo continente latino-americano. No Brasil, estávamos no décimo-segundo ano da ditadura militar – aquela que alguns no país hoje ainda insistem em tratar com nostalgia. Aquelas imagens das Mães da Praça de Maio permanecem como alguns dos atos de coragem e desobediência civil exemplares em nosso continente. Há alguns dias, descobri o trabalho do fotógrafo argentino Gustavo Germano. Em sua série “Ausencias”, com uma estratégia ético-estética simples e eficiente em seu soco na boca de nosso estômago, o fotógrafo refaz fotos de amigos e famílias dos anos 1960 e 70, deixando vago o local onde seus entes queridos desaparecidos deveriam estar, não tivessem sido sequestrados por um regime assassino. Sendo este um blog dedicado à literatura, gostaria de tomar o dia de hoje, no entanto, para chamar a atenção dos leitores a um outo projeto bastante comovente em nosso país vizinho, capitaneado pelo poeta e jurista Julián Axat, nascido em Buenos Aires naquele fatídico ano de 1976. Ele próprio filho de desaparecidos, tem se dedicado com afinco em manter viva a memória das milhares de vítimas da Junta Militar argentina. Em sua coleção “Detectives Salvajes”, que toma o título do romance de Roberto Bolaño (1953-2003), Axat vem publicando a literatura deixada por escritores que desapareceram pelas valas comuns, desertos e o oceano que banha nossa parte do mundo-cão. A ditadura tocou vários escritores do país, como o grande Juan Gelman, que passou anos em busca da neta. Em 1995, quase uma década antes de poder finalmente abraçá-la, escreveu uma carta que começava assim: “Dentro de seis meses cumplirás 19 años. Habrás nacido algún día de octubre de 1976 en un campo de concentración.” É a história de tantas famílias latino-americanas. Graças aos esforços de Julián Axat, pude descobrir dois jovens escritores que desapareceram na noite escura do continente: Miguel Ángel Bustos, desaparecido em 1976, e Carlos Aiub, desaparecido em 1977, o ano em que nasci. Abro este pequeno texto em homenagem a todos os desaparecidos e sobreviventes do país vizinho com uma citação de Bustos. Permitam-me encerrá-lo com alguns versos de Aiub, sussurrando que sim, alguns de nós nos lembramos e, ao mesmo tempo, NUNCA MAIS. “temer el dolor como cuando siempre la forma del dolor y de la muerte empezás también a imaginarla y temés temés también tu olvido o algo así el qué pensarán de vos si te recordarán si tu nombre bautizará algo o servirá para algo temer el final que no te deje ver el final la victoria viste las cosas nuevas que buscás el nuevo sueño chiquitín continuado temer todo eso y entonces si temer la muerte que se puede venir y no la deseás y te aferrás a la vida con todo porque querés vivir simplemente para ver cuando al final la vida viva el nuevo dolor lo pensás más tarde.” (Carlos Aiub, desaparecido em 1977) ¹ Ricardo Domeneck nasceu em Bebedouro, em São Paulo, mas vive em Berlim desde 2002. Lançou os livros “Carta aos anfíbios” (Bem-Te-Vi, 2005), “a cadela sem Logos” (Cosac Naify/7Letras, 2007), “Sons: Arranjo: Garganta” (Cosac Naify/7Letras, 2009), “Cigarros na cama” (Berinjela, 2011) e “Ciclo do amante substituível” (7Letras, 2012). É coeditor das revistas Modo de Usar & Co. e Hilda. A editora Verlagshaus J. Frank, de Berlim, publicou em 2013 uma coletânea de seus poemas.

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O papel dos militares na América Latina

As Forças Armadas perderam influência após os golpes do século XX e países da região não sabem o que fazer com seus militares. Brasil é um dos países que tem colaborado mais com as missões de paz da ONU (Foto: Wikipédia) Tanques nas ruas fizeram parte da política da América Latina durante boa parte do século XX, mas hoje é difícil imaginar as Forças Armadas retomando o poder. Em uma região livre de guerras, os governos latino-americanos ainda não resolveram como empregar seus militares. As Forças Armadas perderam influência política rapidamente nas últimas décadas. Em apenas dois países – Venezuela e Cuba – militares continuam a desempenhar um papel político importante.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] O atual presidente de Cuba, Raul Castro, foi durante muitos anos o general mais poderoso do país, e as Forças Armadas ainda controlam pelo menos metade da economia cubana. Leia também: Motivos para apoiar a desmilitarização da Polícia Militar no Brasil Na Venezuela, Chávez transformou o exército em uma filial do seu movimento político. Sob seu sucessor, Nicolás Maduro, oficiais militares mantêm muitos cargos no governo, e as Forças Armadas construíram um império de negócios. Mas há sinais de que o exército está recuando para uma posição mais institucional. A principal ameaça à segurança da região é o crime organizado. Vários governos enviam tropas para combater traficantes e outros criminosos comuns. Mal preparados para a tarefa, eles muitas vezes acabam matando inocentes. Os militares também estão respondendo a catástrofes naturais, que estão acontecendo com mais frequência devido às mudanças climáticas. Há, também, missões de paz da ONU, com as quais a região está colaborando mais. Mas os exércitos estão inchados demais para esse papel limitado. O crescimento econômico acelerado da década de 2000 inflou orçamentos de defesa. Para reforçar sua imagem de potência mundial, o Brasil embarcou numa farra de gastos que incluiu a compra de submarinos e caças sofisticados. Agora, seu orçamento está pressionado. Os latino-americanos querem policiais mais bem equipados e remunerados. Já é tempo de um ajuste das prioridades e das despesas na área da segurança Fontes: The Economist – Of soldiers and citizens

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América Latina vive o fim da era dourada da esquerda no poder

A derrota de Evo Morales no referendo boliviano, a quem muitos viam como o último moicano da esquerda bolivariana, marca uma mudança de ciclo evidente na América Latina, que começou com a vitória de Mauricio Macri na Argentina. Maduro conversa com Morales e Correa, em uma reunião na Bolívia. Fot: Jorge Abrego/efe MAIS INFORMAÇÕES PF investiga se o presidente do Peru, Ollanta Humala, recebeu propina da Odebrecht Evo Morales atribui sua derrota à “guerra suja” e às redes sociais Lava Jato ganha alcance internacional com João Santana e Odebrecht Depois de anos de grande crescimento e inclusão social, a crise econômica e uma sociedade latino-americana nova, com gerações exigentes que demandam mais e melhor democracia e não toleram a corrupção nem o poder absoluto, estão derrubando um a um quase todos os Governos da região.[ad name=”Retangulo – Anuncios – Direita”] A Argentina viveu o início do eixo bolivariano, com a reunião de Mar del Plata de 2005, que marcou uma década de afastamento dos EUA e de políticas contrárias à ortodoxia econômica. O país austral também marcou o final, com a derrota do kirchnerismo em novembro passado, depois de 12 anos no poder. Só três semanas depois foi a vez das eleições na Venezuela, que representaram o princípio do fim do chavismo no poder com a conquista de dois terços do Parlamento pela oposição. Agora a Bolívia também diz não à continuidade de Morales depois de 2019. O presidente equatoriano, Rafael Correa, também com problemas, anunciou que não tentará a reeleição em 2017.  E em poucas semanas, em abril, o Peru deve concluir o ciclo com a saída de cena de Ollanta Humala e o provável regresso de um Fujimori ao poder. O Brasil, por outro lado, vive uma crise política econômica e política permanente, e o Partido dos Trabalhadores, que governa o país há quase 13 anos, corre sérios riscos de não fazer um sucessor para a presidenta Dilma Rousseff em 2018, quando o ex-presidente Lula, que governou o país de 2003 a 2010, poderia se candidatar novamente. Mas, denúncias de corrupção ininterruptas na mídia que atingem o próprio Lula e outros membros do partido, além de uma recessão que já entra no seu segundo ano, reduzem as chances de que esse intento seja bem-sucedido. Algo parece evidente: na América Latina há correntes de fundo. Nos anos noventa triunfou o liberalismo. O início do século XXI chegou com um forte grito anti-neoliberal. Agora há uma guinada à direita? Ninguém parece corroborar com essa tese. Os dados indicam, na verdade, que os cidadãos latino-americanos, sobretudo as novas gerações, depois de conseguir uma maior inclusão social e um aumento da classe média, querem mais, e se tornaram muito críticos com o poder. Reconhecem as conquistas de seus Governos mas não se conformam. Morales, por exemplo, tem boa avaliação, poderia ganhar as eleições, mas quando esta semana perguntou-se se a população lhe permitiria mais uma reeleição, a ideia foi rechaçada com 51,3%. Querem mudança. Na Argentina, aconteceu algo parecido. Cristina Fernández de Kirchner tinha uma alta avaliação, mas, quando quis mudar a Constituição para poder continuar, perdeu em 2013 as eleições intermediárias, propostas quase como um plebiscito. Os dados indicam, na verdade, que os cidadãos latino-americanos, sobretudo as novas gerações, depois de conseguir uma maior inclusão social e um aumento da classe média, querem mais, e se tornaram muito críticos com o poder. Contra a corrupção Em todos os países há uma linha comum: os protestos exigem maior transparência, luta contra a corrupção e uma troca geracional. A Bolívia foi o país com maior crescimento econômico do eixo bolivariano. No entanto, como aconteceu a seus correligionários, diante do enfrentamento da economia e do surgimento de casos de corrupção, optou por defender-se recorrendo a um discurso do qual os cidadãos parecem já cansados: uma conspiração orquestrada pelos EUA. O fim da década dourada das matérias-primas também tem muito a ver com esta mudança de ciclo. As economias latino-americanas cresceram, entre 2003 e 2012, acima de 4%, segundo dados da CEPAL. Desde os anos sessenta, a região não registrou um período tão intenso. No entanto, as previsões do Fundo Monetário Internacional destacam que a economia latino-americana acabará 2016 com uma recessão do 0,3%. A queda das matérias-primas é a principal causa. Entre 2011 e 2015, a queda dos preços dos metais e da energia (petróleo, gás e carvão) foi de quase 50%, segundo a CEPAL. Só em 2015, os produtos energéticos caíram 24%. Estes anos de bonança e Governos de esquerda mudaram muitas coisas no continente. Durante a década de ouro, entre 2002 e 2012, os níveis de pobreza caíram de 44% para 29%, enquanto que os de pobreza extrema diminuíram de 19,5% para 11,5%, com um aumento considerável das classes médias. Também houve um aumento notável do gasto público. E isso implicou em inclusão social. Uma amostra: entre 1999 e 2011, segundo a Unesco, o nível de escolarização inicial passou de 55% a 75%. No entanto, os cidadãos não se conformam. Querem mais e melhor. E tudo indica que quase nenhum Governo ficará em pé diante desta onda. El País

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